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segunda-feira, 10 de abril de 2017

SUÉCIA: COMO ENFRENTAR A CORRUPÇÃO DE MANEIRA SÉRIA


Trechos do livro “Suécia: um país sem excelências e mordomias”, de Cláudia Wallin.

“Na Suécia do século XVIII e início do século XIX, não eram poucos os cidadãos que caminhavam na contramão da moralidade. Mas a partir de 1840, havia sido posto em marcha um processo que lançaria as bases de uma sólida e duradoura cultura de honestidade no país.

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A tarefa pela frente era ciclópica: no Reino da Suécia daquela época, subornos eram abundantes, as relações e contatos privilegiados com a corte do rei eram mais importantes do que as leis, a nobreza tinha precedência no loteamento de cargos nos tribunais e no setor público, oficiais militares e servidores públicos compravam e vendiam posições.
Nem a escancarada incompetência para o exercício de um cargo era argumento válido para afastar uma autoridade. Também era comum, entre os servidores públicos, receber renda de terras e propriedades associadas à posição que ocupavam. Além disso, o acesso às universidades era em grande parte baseado em contatos pessoais privilegiados. A situação nas faculdades de Direito nesse período é descrita por historiadores como “um verdadeiro lamaçal intelectual e organizacional”, que durou até as primeiras décadas do século XIX.
A primeira providência foi reformar o setor público para a criação de uma estrutura weberiana, em que os servidores públicos passaram a ser recrutados com base em critérios de mérito e competência técnica, em concursos abertos e regulamentados por um conjunto de regras universais. Esta reforma foi implementada entre 1860 e 1875, e foi dramática.
A nova moral exigida dos funcionários públicos, no trato com os cidadãos, o critério da imparcialidade. Agir de forma imparcial demandava tratar todos de forma igualitária, sem distinções, e com respeito e atenção. Sem privilegiar, como na velha ordem, relações e interesses pessoais.

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“A velha noção de que o cargo público era uma espécie de propriedade começava a desaparecer”, escreveu em 1896 o historiador Emil Hildbrand, chefe do Arquivo Nacional Sueco à época.

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Em 1842, a reforma do sistema escolar criou o ensino obrigatório e gratuito para todos. Em 1845, o direito do governo de confiscar jornais foi abolido, dando origem a um vívido debate na mídia sobre os atos do poder. No mesmo ano, foi abolida a supremacia da aristocracia na ocupação de altos postos da burocracia estatal. Em 1862, um revitalizado código criminal estabeleceu uma nova lei para punir a má conduta no exercício de cargos públicos. Em 1863, foi aprovada a reforma do ensino universitário. Em 1866, teve início uma ampla reforma parlamentar. Em 1876, uma abrangente reorganização da burocracia nacional foi conduzida. A lista de reformas era extensa.
Foi uma metamorfose de valores. A Suécia construía, assim, uma sociedade caracterizada pela qualidade do governo e a confiança nas instituições democráticas. Todos podiam constatar que o velho e corrupto sistema de antes estava moribundo: tinha os dias contados.

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No fim do século XIX, segundo estudiosos suecos e estrangeiros, a corrupção política havia sido praticamente erradicada na Suécia em nível nacional.

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Como dia Rothstein, sabe-se que ser o único honesto no “jogo podre” de um sistema corrupto não resolve a questão da corrupção. Em um sistema profundamente corrupto, cita o estudo, a necessidade de oferecer e exigir suborno torna-se de tal forma impregnada no “mapa mental” das pessoas que acaba tornando-se uma instituição informal na sociedade. Quando se é parado pela polícia, quando se pede um alvará para abrir um restaurante ou quando se busca um emprego no setor público, pagar suborno ou agir de forma ilegal é o procedimento padrão em um sistema corrupto.      

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Rothstein diz que um fator importante deve ser realçado: embora a corrupção tenha características culturais, ela não é culturalmente determinada. Como exemplo, ele cita os casos de Hong Kong e Cingapura. Um estudo conduzido pelo cientista Hilton Root demonstra, segundo ele, que o extraordinário crescimento econômico alcançado por estas sociedade teve como pré-requisito uma bem sucedida luta contra a corrupção iniciada na década de 1970.

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- A corrupção endêmica não é uma falha que pode ser corrigida com um ajuste técnico ou um empurrão político. Ela é a forma como um sistema funciona, e está profundamente entranhada nas regras e expectativas da vida social e política. Para reduzir a corrupção a níveis menos destrutivos -  e mantê-lo em tal patamar – é necessária uma reforma revolucionária das instituição.”



Rubem L. de F. Auto 

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