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quinta-feira, 20 de abril de 2017

PLANO COHEN E O AI-5 DO ESTADO NOVO


A Constituição de 1934 trouxe alguma esperança de que anos sob uma verdadeira democracia estavam por vir. A Lei Eleitoral de 1932, por exemplo, introduzia o voto feminino e o direito de votar a partir dos 18 anos. Além disso, a nova Carta adotava o voto secreto; houve a criação da Justiça Eleitoral e da Justiça do Trabalho; determinou a nacionalização dos recursos naturais e de instituições financeiras; restringia o mercado de trabalho de estrangeiros no país; proibia o trabalho infantil e discriminações salariais; regulamentava o trabalho em fábricas e no campo. É patente a inspiração liberal lado a lado com medidas bastante autoritárias, de cunho claramente fascista – note-se que na década de 1930 a democracia se encontrava desacreditada em quase todo o mundo.

A Constituição de 1934 abriu caminho também para anos de centralização do poder nas mãos do chefe do Executivo. Por exemplo, a Carta não previa o cargo de vice-presidente. As ausências do presidente eram supridas pelo Presidente da Câmara dos Deputados.

O ambiente político estava agitado e caminhando para uma polarização perigosa. A direita era representada pelos fascistas da AIB – Ação Integralista Brasileira, liderados por Plínio Salgado. A esquerda era representada pelos comunistas da ANL – Aliança Nacional Libertadora, cujo líder era Luis Carlos Prestes, com patrocínio soviético. No curto prazo, estes últimos eram de longe a maior ameaça.

A medida perseguida pelo governo Vargas foi buscar o controle dos meios de comunicação estatal. Em 4 de abril de 1935 entrava em cena a Lei de Segurança Nacional. Em 13 de julho, a ANL foi fechada e alguns de seus membros foram presos. Em 22 de julho, entrava no o programa de rádio “A Hora do Brasil” (só anos depois foi rebatizado para “A Voz do Brasil”). Foi o mais poderoso instrumento de propaganda estatal até a chegada da TV, nos anos 1950.

A ANL reagiu. Cria-se até então que seria possível uma revolução comunista no Brasil. No ano de 1935, em datas e cidades diversas, estourou a Intentona, ou Levante, Vermelho, com a inesperada adesão de diversos Regimentos de Infantaria, de agrupamentos da Vila Militar e da Escola de Aviação. Surpreendentemente, até o Prefeito do Rio de Janeiro, Pedro Ernesto, foi preso, acusado de colaborar com os comunistas.

Após a decretação do Estado de Sítio, aprovado pelo Congresso por 172 votos a 32, o Levante foi contido e debelado. A lista de presos, acusados de comunistas, durante este breve “McCartismo tupiniquim” incluía Graciliano Ramos, jornalista e escritor de obras memoráveis, como São Bernardo.   

Também de triste memória foi a deportação de Olga Benário Prestes à Alemanha. Grávida e procurada pela temida Gestapo, acusada de participar de agitações comunistas em Munique, Olga foi encontrada num imóvel no bairro do Meier, Rio de Janeiro. Após dar à luz Anita, na prisão feminina para a qual foi encaminhada, morreu no campo de extermínio de Bernburg. Todos os presos durante a Intentona foram condenados pelo Tribunal de Segurança Nacional.

Getúlio pretendia também reduzir a força que os estados ainda tinham na Federação. Para tanto, conseguiu fazer passar uma medida que restringia o potencial bélico permitido às forças estaduais e sua subordinação irrestrita ao Exército.

A primeira eleição direta após a nova Carta foi marcada para ocorrer 1938 e, creia-se, sem o nome de Vargas dentre os candidatos. Era inevitável a sensação de que havia algo estranho no ar...

No dia 30 de setembro de 1937, anunciava-se que Getúlio e seu Ministro da Guerra, o futuro presidente Eurico Gaspar Dutra, haviam “descoberto” uma carta que “comprovava” o planejamento de ações que visavam a uma revolução comunista no país: chamaram de Plano Cohen. Após “investigações”, declarou-se que os autores da tal carta eram membros da Internacional Comunista. Assinava o documento Bela Cohen, ou Kun. Endereçava-se a seus agentes infiltrados no Brasil.

Getúlio usou seu aparelho de propaganda a seu favor. Leu trechos da tal carta para as massas, por meio de “A Hora do Brasil”. No mesmo dia o Congresso suspendeu garantias constitucionais e decretou estado de guerra. Forças Armadas entraram em estado de alerta, os integralistas foram prestar apoio ao governo no Palácio do Catete. Em 10 de novembro de 1937, foi revogada a Carta de 1934.

Em seu lugar, foi promulgada a Constituição de 1937, que estava pronta desde 1936, de autoria de Francisco Campos, intelectual de cores autoritárias e fascistas.

Apelidada de Polaca, fazendo referência à Constituição polonesa do ditador Josef Pilsudski, a nova Carta inaugurava a ditadura descarada do Estado Novo.  


Rubem L. de F. Auto

Fonte: Livro “Dossiê Getúlio Vargas”  


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