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quarta-feira, 26 de abril de 2017

DITADOR OU PRESIDENTE ? O CATETE TEM UM NOVO VELHO RESIDENTE


O ano de 1950 é marcado por uma triste memória: o Maracanazzo. A derrota do selecionado brasileiro para o uruguaio em pleno Maracanã, inaugurado apenas três meses antes, por 2 X 1 de virada, deixou o país em clima fúnebre.

Mas aquele ano também marcou uma das eleições mais importantes da história do país. Getúlio Vargas disputava com o brigadeiro Eduardo Gomes sua chance de retornar ao Catete, agora pela via democrática do voto. Vargas venceu de goleada, reafirmando o poder que exercia sobre as massas. Era o candidato do povo: havia eleito Dutra nas eleições anteriores, fora eleito para o Senado e agora recebia uma chuva de votos para presidente.

Na reta final, a vantagem do candidato do PTB era de tal monta avassaladora que o PSD, cujo candidato era Cristiano Machado, abandonou seu candidato e fechou coligação com o PTB, levando assim ainda mais votos para Vargas.

A derrotada UDN não conseguia engolir o resultado apurado nas urnas. Não criam ser possível que o velho ditador, afastado do poder há cinco anos, pudesse nadas de braçada na democracia daquela forma. Parecia imbatível. Um verdadeiro símbolo que pairava acima dos demais mortais. Uma pessoa que enfeitiçava as pessoas de tal forma que arrastava multidões, embalava o trabalhador a caminho do trabalho, fazia pessoas pobres e sofridas sorrirem.

Mas a UDN queria reverter o resultado, e a via possível era a Judicial. A Legislação Eleitoral do período era dúbia no que tocava à quantidade de votos necessária para a vitória. A UDN fez um requerimento ao TSE, mas este foi indeferido. De qualquer maneira, em meio a tais debates surgia um novo nome na política nacional: Carlos Frederico Werneck de Lacerda, ou Carlos Lacerda, o Corvo. Jornalista e proprietário do jornal Tribuna da Imprensa, deputado federal pela UDN, Lacerda se notabilizou pelos textos raivosos, quase insandecidos, fazendo uso de expressões que chamaríamos e “linguagem do ódio”. Fazia uso freqüente de “denúncias” de corrupção, nunca provadas, e de expressões como “mar de lama”, por meio das quais tentava prejudicar desafetos e beneficiar aliados.   

Foi dele uma famosa declaração dada em 1º de junho de 1950, quando ainda tentava barrar a candidatura de Vargas:

“O senhor Getúlio Vargas não deve ser candidato à presidência. Se candidato, não deve ser eleito. Se eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer À revolução para impedi-lo de governar.”

Essas forças golpistas marcariam o retorno de Vargas com instabilidade política e crises numerosas, do primeiro ao último dia do “velho” no Catete. Desejava-se, literalmente, impedi-lo de governar, tirá-lo do cargo e substituí-lo. As forças ocultas não descansariam.

O PIB brasileiro passou a ser medido desde 1947, durante o governo Dutra. De fato, foi registrado crescimento significativo até 1950, mas esse resultado foi acompanhado pela inflação crescente (já batia nos 60%).

Para o cargo de vice, foi eleito (eram eleições à parte) João Café Filho.

O gabinete Vargas trazia nomes da década de 1930. O general Pedro Aurélio de Góis Monteiro para chefiar as Forças Armadas; João Neves da Fontoura para Relações Exteriores; Francisco Negrão de Lima para a Justiça; Horácio Lafer para a Fazenda e Danton Coelho, defensor do sindicalismo, para o Trabalho.
A primeira crise surgiu com a nomeação do Ministro da Guerra, cuja escolha inicial recaiu sobre o general-de-divisão Newton Estillac Leal, representante da ala nacionalista das Forças Armadas. Os milicos de posição contrária iniciaram uma crise nos quartéis, que levaria à troca do nome do Ministro por três vezes, em curto espaço de tempo.

No campo econômico, Vargas publicou leis acerca dos crimes contra a economia popular, regulamentou a remessa de lucros ao exterior. Após, foi criado o BNDE, o Banco do Nordeste e o Instituto Brasileiro do Café.

Mas a polêmica mais importante surgiria no âmbito do debate que havia se iniciado no governo anterior. Naqueles anos, ficou famosa a “Questão do Petróleo”. O lema “O petróleo é nosso” estava relacionado à eventual criação da Petrobras.

O projeto de criação da estatal foi encaminhado ao Congresso Nacional em 6 de dezembro de 1951. Após inúmeros ataques e defesas ao polêmico projeto, em outubro de 1953 o governo editou a Lei n. 2.004, de criação da Petrobras. A fiscalização da companhia era exercida pelo Conselho Nacional do Petróleo.

O monopólio da exploração, pesquisa, refino e comercialização de petróleo, gás natural e seus derivados estavam nas mãos da nova estatal. Essa situação somente seria alterada em meados da década de 1990, no governo FHC. Distribuição e revenda permaneciam atividades abertas à concorrência.

Pouco a pouco, Vargas instaurava uma democracia quase direta com o povo. Entretanto, ao passo que sua popularidade aumentava, somada às suas medidas para tributar remessas de lucros e aumentar o valor do salário-mínimo, que sofria com a inflação acumulada, os ataques vindos da oposição ficavam mais violentos.
Em junho de 1953, Vargas substituiu seu Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio. O novo ocupante do cargo era conterrâneo de São Borja, partidário do PTB, bacharel em direito e deputado federal: João Belchior Marques Goulart, o Jango.

Era evidente que Jango era o favorito de Vargas para sucedê-lo na vida pública. Mas a medida tomada por Jango inviabilizaria quase totalmente os planos da dupla. Em fevereiro de 1954, Jango autorizou o reajuste do salário mínimo em astronômicos 100%. Esse foi o estopim para uma crise política de tirar o fôlego.

Os primeiros a manifestarem descontentamento foram os militares. Setenta e nove coronéis assinaram o “Manifesto dos Coronéis”. Um dos nomes a aderirem a esse documento foi o de Golbery do Couto e Silva, um dos arquitetos do Golpe de 1964.

Jango pediu exoneração do cargo em 23 de fevereiro.

Quanto à mídia, todos eram oposição a Vargas, exceto o jornal Última Hora, de Samuel Weiner, que era acusado de chapa branca e de ser sustentado com dinheiro do Banco do Brasil.   

Enfim, apesar da popularidade, Vargas retornou ao poder para ver um Brasil bastante diferente daquele que governara até 1945.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Dossiê Getúlio Vargas”   

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