O governo de Castelo Branco deixou atrás de si desânimo e
ranger de dentes. Poucos ainda criam que de fato se tratava de um democrata e
liberal. Antes de deixar o posto ainda editou mais um Ato Institucional, de nº
2. Este visava a reverter o quadro eleitoral após a derrota dos candidatos
afeitos ao governos nos estados de Minas Gerais e da Guanabara, em 1965.
O que antes parecia grassar com a ditadura agora se revestia
de todos os seus caracteres: milhares foram cassados (no total, mais de 3.500
pessoas foram vitimadas por tais arbitrariedades), políticos eleitos foram
depostos, o recesso foi posto em recesso, partidos foram extintos, governadores
e presidente passariam a concorrer em eleições indiretas e muito mais.
Como se abrisse a Caixa de Pandora, Castelo Branco perdeu o
controle até mesmo sobre sua sucessão: teve de aceitar a candidatura de Costa e
Silva, imposta pelo regime.
No campo das medidas legais, Castelo Branco promulgou uma
nova Constituição, uma nova Lei de Imprensa e uma nova Lei de Segurança
Nacional. O Congresso que restou após os expurgos não ofereceu resistência a
nenhuma delas.
Quando das eleições legislativas de 1966, encenou-se o triste
espetáculo mambembe no qual dois partidos apenas disputaram o pleito: Aliança
Renovadora Nacional, a infame ARENA, e o Movimento Democrático Brasileiro
(MDB). Impossível alcançar legitimidade política: os votos brancos e nulos
bateram todos os recordes anteriores.
E assim se encerrava o primeiro governo pós-golpe. Não demonstrava
quaisquer ares daquele movimento que, pouco tempo antes, arrebatara multidões
contra um governo impopular.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Ditadura Militar, Esquerdas e Sociedades”
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