A região localizada entre o vale do rio Nilo e a Mesopotâmia
era um imenso deserto. Mas havia um pequeno trecho de terras férteis, banhadas
pelo rio Jordão. A área não compreendia mais do que 80 km de largura por 450 km
de comprimento. Porém sua localização estratégica a tornou bastante cobiçada
pelos povos no seu entorno.
Por volta do século XI a.C., essa região foi habitada por
tribos que viviam de maneira bastante autônoma, mas eram unidas por uma mesma
crença acerca de seus ancestrais. Cada tribo tinha suas próprias terras, suas
próprias plantações, suas próprias criações de cabras e ovelhas, mas em termos
de defesa se comportavam como uma confederação. Chamavam-se hebreus, ancestrais
dos judeus.
Criaram seu próprio sistema legal. Porém sob uma crença que
não existia até então: leis religiosas, proferidas por um Deus supremo. Seguir
à risca tais leis era essencial, pois seu descumprimento sujeitava todo o povo
à ira de Deus. Todos deveriam ser “puros”, livres e pecado.
As leis religiosas estavam espalhadas por livros diversos. Pentateuco,
Êxodo, exibem leis de aspecto civil. Mas quando se chega ao Levítico, lêem-se
leis que regram a vida privada. E essas leis foram moldando um povo com aspectos
próprios, distintos dos demais povos à sua volta.
Seus livros sagrados faziam menção a todos os aspectos da
vida do hebreu: regras de vestimenta, modo de fazer negócios, tratamentos de
saúde etc. As leis religiosas adentravam em todos os assuntos. Especial
obsessão se via com relação à alimentação e ao sêmen.
Se uma mulher desse à luz um bebê, tornava-se impura por
sete dias se nascesse um menino e duas semanas se fosse menina; quem
menstruasse, seria impura por sete dias; se ela se deitasse com um homem
estando menstruada, ambos deveriam ser expulsos do seu povo; se um homem
ejaculasse deitado com uma mulher, deveria se lavar e só deixaria de ser impuro
no final do dia; a impureza atingia também quem ejaculasse sem a presença de
uma mulher.
O homossexualismo, que não era crime nem no Egito nem na
Mesopotâmia, era agora detestado pelo Deus dos judeus, conforme o Levítico apregoa.
O marido poderia ter mais de uma esposa – isso não era pecado -, mas não se
aceitava a relação extramarital: o esposo e a esposa alheios eram proibidos aos
demais. Também se chegou à minúcia de vedar o sexo com animais.
A pena para o adultério era o estrangulamento do casal
adúltero em público. Se um homem se deitasse com uma menina prometida a outro,
ambos deveriam ser apedrejados até a morte em frente ao portão da cidade – é o
que diz o Deuteronômio.
A penalização da masturbação feminina recebeu o nome de “onanismo”,
em razão de Onã, irmão de Er e filhos de Judá. Conta o Gênesis que após a morte
de Er, Judá ordenou que Onã engravidasse a viúva do irmão. O filho seria da
linhagem de Er, não de Onã. Revoltado com a condição, Onã jogava no chão seu
sêmen após cada coito. Quando Deus descobriu, matou Onã.
Obviamente tantas regras criadas sem que se tivesse uma idéia
clara de sua gravidade – como proibir o consumo de camarão - levou ao
cometimento incessante de pecados. Não cometer atos franqueados aos povos ao
seu redor criou uma impressão de superioridade moral. Mas a carne é fraca – e as
leis eram muitas e complexas: assim, nasceu a sombra da culpa, da qual somos
todos herdeiros.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”
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