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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

OS HEBREUS E A INVENÇÃO DO PECADO E DA CULPA


A região localizada entre o vale do rio Nilo e a Mesopotâmia era um imenso deserto. Mas havia um pequeno trecho de terras férteis, banhadas pelo rio Jordão. A área não compreendia mais do que 80 km de largura por 450 km de comprimento. Porém sua localização estratégica a tornou bastante cobiçada pelos povos no seu entorno.

Por volta do século XI a.C., essa região foi habitada por tribos que viviam de maneira bastante autônoma, mas eram unidas por uma mesma crença acerca de seus ancestrais. Cada tribo tinha suas próprias terras, suas próprias plantações, suas próprias criações de cabras e ovelhas, mas em termos de defesa se comportavam como uma confederação. Chamavam-se hebreus, ancestrais dos judeus.

Criaram seu próprio sistema legal. Porém sob uma crença que não existia até então: leis religiosas, proferidas por um Deus supremo. Seguir à risca tais leis era essencial, pois seu descumprimento sujeitava todo o povo à ira de Deus. Todos deveriam ser “puros”, livres e pecado.

As leis religiosas estavam espalhadas por livros diversos. Pentateuco, Êxodo, exibem leis de aspecto civil. Mas quando se chega ao Levítico, lêem-se leis que regram a vida privada. E essas leis foram moldando um povo com aspectos próprios, distintos dos demais povos à sua volta.

Seus livros sagrados faziam menção a todos os aspectos da vida do hebreu: regras de vestimenta, modo de fazer negócios, tratamentos de saúde etc. As leis religiosas adentravam em todos os assuntos. Especial obsessão se via com relação à alimentação e ao sêmen.

Se uma mulher desse à luz um bebê, tornava-se impura por sete dias se nascesse um menino e duas semanas se fosse menina; quem menstruasse, seria impura por sete dias; se ela se deitasse com um homem estando menstruada, ambos deveriam ser expulsos do seu povo; se um homem ejaculasse deitado com uma mulher, deveria se lavar e só deixaria de ser impuro no final do dia; a impureza atingia também quem ejaculasse sem a presença de uma mulher.

O homossexualismo, que não era crime nem no Egito nem na Mesopotâmia, era agora detestado pelo Deus dos judeus, conforme o Levítico apregoa. O marido poderia ter mais de uma esposa – isso não era pecado -, mas não se aceitava a relação extramarital: o esposo e a esposa alheios eram proibidos aos demais. Também se chegou à minúcia de vedar o sexo com animais.

A pena para o adultério era o estrangulamento do casal adúltero em público. Se um homem se deitasse com uma menina prometida a outro, ambos deveriam ser apedrejados até a morte em frente ao portão da cidade – é o que diz o Deuteronômio.

A penalização da masturbação feminina recebeu o nome de “onanismo”, em razão de Onã, irmão de Er e filhos de Judá. Conta o Gênesis que após a morte de Er, Judá ordenou que Onã engravidasse a viúva do irmão. O filho seria da linhagem de Er, não de Onã. Revoltado com a condição, Onã jogava no chão seu sêmen após cada coito. Quando Deus descobriu, matou Onã.

Obviamente tantas regras criadas sem que se tivesse uma idéia clara de sua gravidade – como proibir o consumo de camarão - levou ao cometimento incessante de pecados. Não cometer atos franqueados aos povos ao seu redor criou uma impressão de superioridade moral. Mas a carne é fraca – e as leis eram muitas e complexas: assim, nasceu a sombra da culpa, da qual somos todos herdeiros.        


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”

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