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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

COMO CRISTO CONQUISTOU A EUROPA


O Império romano viveu seu auge nos séculos I e II. Depois disso se iniciou sua derrocada, até 476 d.C., com a deposição do imperador Rômulo Augusto.

O milênio seguinte seria chamado de Idade Média, em geral encarado como um retrocesso da civilização. Foi também a época em que o cristianismo se expandiu e se consolidou em todo o continente. Após a queda do Império, a Europa perdeu sua unidade econômica, política e militar; mas a unidade cultural foi garantida pelo Cristianismo. A conversão se deu sobre cada um dos povos que habitavam a região: as tribos germânicas, cujos ataques abalaram as fronteiras do Império, foram convertidas no século V; os visigodos, entre 382 e 395 d.C.; os ostrogodos, entre 456 e 472 d.C.; os lombardos, entre 488 e 505 d.C.; os borgonheses, entre 412 e 436 d.C.; os vândalos, entre 409 e 417 d.C.

Assim foram formados os reinos cristãos que pululariam o continente.

Bispos, pertencentes a famílias de aristocratas, governavam cidades e aldeias a partir de suas catedrais. Arcebispos partilharam o território cristão conforme a estrutura administrativa do Império: dioceses. No século VI, o arcebispo de Roma recebeu uma denominação específica: Papa.

O poder da Igreja se expressava pela cobrança do dízimo, pelo fato de suas terras não serem divididas entre herdeiros e pelo quase monopólio da escrita. Era ela quem fornecia os escribas que transcreviam para o papel, tanto leis quanto a história da origem dos mais diversos povos: em geral, elas ganharam um novo final, com direito a conversão e promessas de um futura feliz, do alto da nova fé.

Mas a mudança para o cristianismo demoraria bastante para se consolidar. São Bonifácio viveu entreveros com os anglo-saxões, pois tanto os católicos quanto os pagãos “recusam-se a ter esposas legítimas e continuam a viver na luxúria e no adultério à maneira dos cavalos rinchantes e dos asnos zurrantes.”

O rei Etelbado, em 756 d.C., continuava a praguejar contra os costumes anglo-saxões: “O vosso desprezo pelo matrimônio legal, se fora por causa da castidade, seria louvável; mas uma vez que vos chafurdais na luxúria e até em adultério com freiras, é vergonhoso e condenável. Ouvimos dizer que quase todos os nobres da Mércia seguem o vosso exemplo, abandonam suas esposas legitimas e vivem numa intimidade culposa com adúlteras e freiras.”  

Os pecados eram muitos, freqüentes e a necessidade de confessá-los era condição básica para o perdão. Poucos confessavam pecados como roubo, feitiçaria etc. Mas todos cometiam pecados da carne e o assunto sexo passou a ser o mais disputado dos confessionários. Dever-se-ia confessar tudo: sonhos, pensamentos, masturbações, posições sexuais, infidelidades. As penitências eram definidas pelos próprios padres – passar um ano a pão e água era uma das mais comuns.

Mas a necessidade de se homogeneizarem os “castigos” levou à elaboração dos penitenciais: manuais que traziam penas preestabelecidas para diversos pecados. O mais famoso foi o penitencial de Cummeans, do século VII. Ele dispunha, por exemplo que: aquele que pecar com um animal deverá cumprir penitência por um ano; se pecar consio mesmo, deverá cumprir três períodos de 40 dias; se for com um garoto de 15 anos, cumprirá por 40 dias; aquele que corromper sua mãe deverá cumprir penitência por três anos, com exílio perpétuo; aqueles que cometerem sodomia deverão cumprir penitência por sete anos; coito interfemural, pena de 2 anos; pecar pensando em fornicação, mesmo não a realizando, pena de um ano; mas se for atacado por pensamentos arrebatadores sobre sexo, pena de sete dias; polução na cama levaria imediatamente a pessoa a levantar-se, ajoelhar-se e cantar nove salmos, além de passar o dia seguinte a pão e água; se um leigo que desonrar a mulher ou a filha virgem de seu vizinho deverá cumprir penitência por um ano a pão e água, sem sua própria mulher... E muito mais.   

Somando todas as datas em que os cônjuges estavam proibidos de ter relações sexuais, chegava-se a 91 dia por ano (sem levar em conta os períodos de menstruação). E a fornicação (sexo fora do casamento) era considerada pecado mais grave do que o homicídios, segundo um penitencial do século XV.
Para aqueles que precisavam de um incentivo a mais para ir se confessar com um padre, contavam-se nos sermões histórias tenebrosas de filhos de casais que não se confessavam, nascidas com defeitos ou com lepra.

Esse tipo de ameaça era necessário. Afinal, a conversão nunca vinha sem resistência. Pr exemplo, no dia 14 de janeiro, diversas cidades francesas comemoravam a Festa do Asno, e que uma jovem se fantasiava de Virgem Maria, fingindo fugir do Egito. Lá chegando, um jumento que a acompanhara ficava a ouvir a missa, ao lado do altar. Havia também a Festa dos Loucos, em que se fazia piada da alta hierarquia eclesiástica.

Sem dúvidas a perseguição da Igreja aos pecados da carne deu origem a um cinismo desmedido e ao deboche mal disfarçado.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”

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