Pesquisar as postagens

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

LUXÚRIA NA HISTÓRIA – O HOMEM E A PUTARIA, DESDE SEMPRE


Nós e os homens das cavernas temos muito em comum. Uma característica que compartilhamos atualmente é o número de filhos. Dificilmente os homens caçadores coletores tinham mais do que 2 filhos. Eram bocas demais para alimentar.

Mas, por volta de 10 mil a.C., os humanos entraram no Neolítico, com o desenvolvimento da agricultura no Oriente Próximo (Iraque e Jordânia). Logo após, espalhou-se pelos vales dos rios Amarelo (China), Nilo (Egito), Indo e Ganges (Índia) e nas Américas.

Com o aumento do fornecimento de alimentos – e conseqüente redução das mortes violentas -, aumentou o número de filhos por mulheres, a expectativa de vida e se reduziram as mortes de recém-nascidos.
A partir daqui é possível falar em revolução sexual que, contudo, reduziu a liberdade sexual.

Se os caçadores-coletores viam seus filhos como bocas a alimentar, o homem agricultor passou a vê-los como braços para o trabalho. Já as filhas, eram moedas de troca para alianças inter-familiares. Se os homens do Paleolítico buscavam demonstrar às fêmeas sua superioridade física, sua capacidade de caçar e seu vigor frente aos demais, no Neolítico houve uma mudança completa: agora o homem estava preso a uma comunidade sedentária, a laços de lealdade e de fidelidade, às trocas de presentes e dotes. Isto é, o homem agora estava casado.    

O casamento surgiu, portanto, descolado das noções de amor e de tesão (frutos evolutivos que nos guiaram até às portas do Neolítico). O interesse do casal passou a se subordinar aos interesses da família estendida. Pessoas não se casavam, mas as próprias famílias. O que guiava a escolha era a preservação do patrimônio.
Com o tempo, as alianças de sangue se tornaram alianças políticas, como as dinastias européias. Não havia problema no fato e um homem fazer sexo com prostitutas ou amantes – se fosse rico, poderia até acumular mais de uma esposa -, desde que o casamento restasse intacto.

O Código de Hamurabi, em vigor na Mesopotânia a partir de 1750 a.C., prescrevia:
“Art. 129. Se a esposa de alguém for surpreendida em flagrante com outro homem, ambos devem ser amarrados e jogados dentro d`água, mas o marido pode perdoar a sua esposa, assim como o rei perdoa a seus escravos.

Art. 130. Se um homem violar a esposa (prometida ou esposa-criança) de outro homem, o violador deverá será condenado à morte, mas a esposa estará isenta de qualquer culpa.”

Por volta de 4 mil a.C., o casamento alcançou outro patamar na história da humanidade. Nesse período surgiu a escrita, conseqüência do aumento dos excedentes alimentares alcançado por povos da Mesopotâmia. As elites políticas passaram a controlar a armazenagem desses excedentes e a cobrar tributos sobre ela. Assim, não mais produziam alimentos, tinham acesso a alimentos e ainda se dedicavam integralmente à política... Esperava-se deles a construção de obras públicas que ajudassem a aumentar ainda mais a produção de alimentos: sistemas de irrigação, represamento de rios...

Com o surgimento de centros urbanos, sacerdotes realizavam a contabilidade dos silos dos templos, onde se estocavam os grãos. O progresso levou à criação de rotas comerciais ligando diversas cidades da Mesopotâmia, que se estenderam até Anatólia (atual Turquia) e com o Egito, Arábia, Pérsia e Índia.
Com o poder do Rei, surgiu a lei escrita. E dentre as primeiras leis, surgiam aquelas que regulavam o casamento. E a grande preocupação não era o comportamento sexual, mas o filho bastardo. A outra preocupação era garantir o acesso exclusivo do marido à vagina da esposa.

As regras sexuais na Mesopotâmia eram bastante liberais. Podia-se transar livremente antes do casamento. Heródoto chega a falar das mulheres em idade núbil da Babilônia, que eram levadas a locais de leilão públicos e vendidas a quem desse o melhor lance e se comprometesse a desposá-las. As mais belas, claro, eram arrematadas pelos mais ricos.

Os mesopotâmios não criam em céu ou inferno. O bom comportamento na Terra não era pré-requisito para a salvação após a morte. Eram pessoas afeitas à música tocada por harpas, flautas, tambores, trompas, címbalos e tamborins. Adoravam uma boa cerveja, especialmente se compartilhada numa enorme jarra, cada qual com seu canudo.

Também não havia restrição ao sexo entre homens. Transar entre amigos ou estuprar um escravo não eram crimes e nem prejudicavam o casamento de ninguém. Eram comuns homens jovens que se pintavam, cacheavam o cabelo, perfumavam-se, passavam rouge nas bochechas, usavam colares, braceletes, anéis, brincos. Em geral, entretinham outros homens. Somente não se aceitava quem espalhasse rumores de que alguém se deixava penetrar regularmente por outro homem... Também não se aceitava que se estuprassem pessoas da mesma classe social.

Já a realidade feminina não era tão liberal. O casamento era arranjado pelos pais e o noivo deveria oferecer um presente à família da noiva, enquanto esta última deveria oferecer um dote à contraparte. A partir dali a noiva deveria ser monogâmica. O código de leis sumério Ur-Nammu (2100 a.C.) já previa a pena de morte à mulher casada que seduzisse outro homem. Por curiosidade, se um homem estuprasse a escrava deveria pagar uma pequena multa, apenas.

A preocupação com a procriação também era grande. Caso a mulher não desse filhos ao marido, este poderia recorrer a uma segunda esposa. Poderia, de outra maneira, recorrer aos serviços de uma escrava sexual. Se a escrava tivesse filhos e resolvesse competir com a esposa, poderia ser feita escrava. Se quisesse rivalizar com a esposa sem que tivesse tido filhos, poderia ser vendida.

A cidade de Assíria, um pouco mais ao norte, parece ter desenvolvido um apreço especial pela virgindade. Se um homem desonrasse uma menina, poderia ser morto. Alternativamente, o pai da menina violada poderia mover um processo contra o estuprador e requerer uma indenização (equivalente a três vezes o dote da menina). A pena ao estuprador também poderia ser fazê-lo se casar com a vítima. Além disso, o pai da menina estuprada ganhava o direito de estuprar a mulher do estuprador.

Apesar dessas leis todas, elas não tinham muito que ver com moralidade, pecado, culpa. Isso somente surgiria com os povos hebreus. O foco na Mesopotâmia eram linhagem e herança. Outro ponto relevante na Mesopotâmia era a prostituição, encarada como instituição quase sagrada.        

Os mesopotâmios tinham um extenso panteão de divindades: da irrigação, da terra, do sol, da tempestade etc. Casa qual tinha seu suntuoso templo, onde recebiam fortunas em oferendas: gado bovino, gado caprino e ovino, pombo, frango, pato, oeixe, tâmara, figo, pepino, manteiga, óleo e bolo eram os prediletos.

Os deuses gostavam de comida, mas também de música e de mulheres. Pais ofereciam suas filhas aos deuses, de bom grado. Cada templo, portanto, tinha sua esposa e servas. Segundo Heródoto, filhas também eram ofertadas a estrangeiros, no templo da deusa Vênus, em troca de uma oferta de dinheiro, que se tornava imediantamente sagrada. Enfileiravam-se nuas, enquanto o estrangeiro escolhia aquela que mais lhe agradava. Era uma cerimônia freqüentada por garotas de todas as classes sociais. Após a cerimônia, buscavam um casamento e a fidelidade ao marido passava a ser a regra. Segundo Heródoto, as mais bonitas logo se desimcumbiam, enquanto as mais feias chegavam a esperar semanas por um estrangeiro que as escolhesse...

Rituais semelhantes foram descobertos no Chipre, Síria, Fenícia, Lídia e Armênia pelo antropólogo britânico James Frazer. A deusa babilônia Ishtar, filha da lua, tornou-se Ísis no Egito, Afrodite na Grécia e Vênus em Roma.

Ishtar era defensora das prostitutas e das mães. Era também chamada de “A Virgem”, “Mãe Virgem” ou “Virgem Sagrada”. Era muito representada como uma mulher barbada e as sessões em sua homenagem geralmente envolviam sexo. Ishtar também era deusa da guerra, quando procurava esmagar os infiéis.

O Egito antigo era bastante liberal no que concernia ao comportamento feminino. Andavam desacompanhadas, trabalhavam no comércio, comiam e bebiam em público, podiam ter bens e aliená-los. Exerceram quase todas as atividades, incluindo as faraós – Cleópatra VII foi a mais conhecida.

Os gregos, misóginos como eram, ficaram impressionados com essa cultura de igualdade entre os sexos. Até as heranças passavam de mãe para filha. Daí o grande número de homens que se casavam com as irmãs.

A poligamia era aceita, mas as condições exigiam que esse alguém fosse muito rico – como o faraó. Seu harém tinha mulheres que recebia de doação, de nobres e de estrangeiros. Heródoto contava uma piada, dizendo que Quéops lançou a própria filha à prostituição, para angariar os recursos para terminar sua grande pirâmide. A menina teria solicitado a cada visitante que a trouxesse uma pedra. Ao final, suas pedras foram suficientes para erguer outra pirâmide, um pouco menor do que a primeira.

Uma obra erótica egípcia muito famosa é o Papiro Erótico de Turim (de cerca de 1150 a.C.) Trata-se de uma série de vinhetas com cenas sexuais. Em doze vinhetas, um homem calvo, barbudo, baixinho e barrigudo exibe um pênis incrivelmente avantajado. Tenta enfiar na vagina da mulher, mas só uma parte adentra a esposa. Ela está vestindo apenas uma cinta, um colar e uma tiara. Praticam uma série de posições sexuais diversas: numa, a mulher é penetrada apoiada numa charrete; noutra, é penetrada na diagonal, segundo uma das pernas no ar; posição de frango assado sentada num banco. Cansado, o homem se esconde debaixo da cama, mas logo a sessão pornográfica se reinicia.

O sexo era valorizado, a ponto de os egípcios tratarem a questão da beleza com seriedade. Foram desenterrados: estojos de maquiagem, espelhos, navalhas, pentes, ciaxas de cosméticos... Rouge no rosto e nos lábios, unhas coloridas, óleos sobre a pele, olhos pintados, tudo isso era parte da sociedade egípcia.
Ricos eram enterrados pintados e enfeitados. As casas erram aromatizadas com incenso e mirra. Vestidos com bordados e franjas substituíram os saiotes unissex. Joias como coroas, colares, peitorais, braceletes, pulseiras, tornozeleiras, anéis, brincos, medalhões e pendentes eram comuns.

Para os gregos, os egípcios seriam para sempre o símbolo de riqueza e ostentação.    


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”

Nenhum comentário:

Postar um comentário