Após a expulsão dos holandeses de Pernambuco, os bávaros foram
para as Antilhas, região que conhecemos como Caribe. Levaram consigo técnicas
de produção de cana de açúcar e o domínio absoluto da distribuição no grande
mercado consumidor: a Europa.
No Caribe deram início a plantações enormes e muito
eficientes. A enxurrada de açúcar nos mercados consumidores levou à depreciação
do produto. Com isso, os monocultores do nordeste perderam sua galinha dos ovos
de ouro e chegou ao fim o ciclo de riquezas incomensuráveis que proporcionadas
pela detenção do quase monopólio que detinham.
Mais ou menos nessa mesma época, em 1695, na região das
cidades mineiras de Sabará e Caeté, o bandeirante Borba Gato encontrou uma
quantidade razoável de ouro. Os quarenta anos seguintes seriam marcados pela
descoberta vultosa de ouro, diamante em Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso.
Chamam a essa fase de Ciclo do Ouro.
Com a miragem da riqueza trouxe consigo uma leva migratória
até então inédita. Segundo Boris Fausto, no século XVIII aportaram no Brasil
mais de 600 mil portugueses. Havia ainda o movimento migratório interno, que
trouxe gente de toda parte do território.
O resultado foi um desequilíbrio abissal entre o número de
homens e de mulheres. Somente iam para as Minas homens, de espírito
aventureiro, desacompanhados ou, no máximo, na companhia de alguns escravos. A
proporção chegou a incômodos 35:1.
Após a inevitável fome dos primeiros dias, quando não havia
qualquer infraestrutura para receber a multidão que afluía, as cidades da
região desenvolveram pequenas economias de subsistência: alambiques, fazendas
de porcos e gado, comércio, tropeiros.
Muitas mulheres trabalhavam nessas atividades. Eram comuns
as mulheres alforriadas que trabalhavam em barraquinhas ou penduravam um
tabuleiro em si e vendiam: doces, bolos, frutos, hortaliças, queijos, leite,
tecidos, instrumentos de trabalho, bebidas, fumo e sabões. Chamavam-nas de “negras
do tabuleiro”.
Havia também as tabernas locais, chamadas quitandas, aonde
homens iam para beber. Cerca de 70% delas pertenciam a mulheres, em Vila Rica
(atual Ouro Preto).
O fato é: homens demais juntos deram início a uma demanda
incontida por sexo rápido e fácil e essa demanda gerou sua oferta: a maior
parte das mulheres daquelas regiões se lançou à prostituição.
No caso das quitandas, as proprietárias ofereciam mulheres a
seus clientes. As hospedarias em estradas e nas cidades faziam o mesmo.
Mulheres muito pobres ofereciam suas casas como se motel fossem: pagava-se pelo
encontro. Muitas “negras do tabuleiro” faziam outros serviços além de venderem
seus petiscos. As igrejas da região também serviram ao mesmo propósito.
A pobreza reinante levava muitas mães prostituírem suas
filhas, homens exploravam enteadas, cunhadas e até mesmo esposas. Tudo servia
ao propósito de aumentar a renda familiar numa região reconhecida pela carestia
exorbitante.
Os prostíbulos eram chamados “casas de alcouce” e as
prostitutas mais famosas atendiam por apelidos como: Rabada, Cachoeira e
Foguete. Outras histórias davam conta de uma tal Maria Franca, que explorava sexualmente
suas três escravas, como uma cafetina. O mesmo fazia um tal Manuel da Silva, de
Itaubira. Este dizia em voz alta que queria que seus escravos se tornassem
mulheres, pois elas lhe rendiam mais dinheiro. A negra alforriada Justa de
Sampaio também explorava suas escravas, recebendo clientes em sua própria casa.
As índias não escapavam e eram igualmente recolhidas ao meretrício.
Chamadas de “carijós” e “bastardas”, encontravam-se essas mulheres em casas de
tolerância de toda a região das minas – sozinhas ou ao lado das filhas. Minas
era seguramente o grande centro de prostituição de toda a colônia.
Entre as classes mais pobres, o casamento não era o ato de
união mais comum: o concubinato era a regra. Ou seja, pessoas que viviam vidas
tão instáveis fugiam das regras eternas do matrimônio.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”
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