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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

FERNÃO MENDES PINTO – O MARCO POLO PORTUGUÊS


Quando se decidiu pelo regresso a Portugal, Afonso de Albuquerque mandou que se embarcassem no seu navio-almirante, Flor do Mar, todo o seu espólio e todos os produtos destinados ao rei de Portugal, D. Manuel I. Dentre os bens destinados ao monarca, estavam: duas réplicas, em tamanho real, de elefantes-bebês, feitas em prata maciça e incrustadas com jóias, quatro estátuas de leões de ouro, cheias de perfumes exóticos, além do trono do rei de Malaca, incrustado de jóias.

O navio-almirante estava tão lotado de mercadorias que mal se mantinha acima da linha d`água. Terminou por afundar próximo a costa da Sumatra. A tripulação se salvou por meio de jangadas salva-vidas.

A título de curiosidade, a famosíssima casa de leilões Sotheby`s avaliou todo aquele carregamento destinado a D. Manuel em 2,5 bilhões de dólares. Não foram poucos os que tentaram encontrá-lo, até mesmo por meio de imagens de satélites. Até hoje Malásia e Indonésia disputam sua posse, caso o achem.

A perda de Malaca foi uma grande derrota para o árabes. Esta era a porta de entrada do Extremo Oriente: ilhas Molucas, ilhas das Espaciarias, China e Japão era alcançados após a passagem por Malaca.

Embaixadores portugueses enviados à Birmânia e à Tailândia tinham como objetivo o estabelecimento de relações diplomáticas e comerciais. Historiadores australianos crêem que os primeiros europeus a pisarem no que seria aquele país eram portugueses saídos de Malaca. Descendentes de portugueses são encontrados ainda hoje no Sri Lanka, Formosa (Tailândia), Bengala, Macau e Malaca.

Nessa última cidade se desenrolou o enredo em torno de Fernão Mendes Pinto: aventureiro feito mercador e que viveu façanhas tão extraordinárias que seu relato, feito livro e publicado no início do século XVII vendeu tanto quanto Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Intitulado “Peregrinações”, foi traduzido para seis línguas européias, teve sete edições espanholas, duas em alemão e holandês e três em inglês e francês.

Na costa da Etiópia, Mendes foi feito prisioneiro por tropas turcas. Foi levado até o sul da Arábia, onde foi vendido como escravo, num leilão, a um muçulmano grego. Tratado de forma cruel, ameaçou se suicidar. Seu proprietário então vendeu a um mercador judeu, que o devolveu aos portugueses, em Ormuz, não sem antes cobrar um valor de resgate.

Foi forçado a se alistar na Marinha, tomou parte em uma série de conflitos contra os turcos e, então, fugiu para Malaca. Lá, foi nomeado embaixador nos reinos da Samatra, dentre outros.

Ainda na Malásia, encontrou-se com outros portugueses e decidiram por tornarem-se piratas. Atacaram uma série de navios mouros no golfo de Tonquim.

Incansável, Mendes Pinto navegou para o norte e chegou à China e à Coréia. Após naufragar próximo da costa da China, foi preso e condenado a um ano de trabalhos forçados. Foi enviado para trabalhar na construção da Grande Muralha.

Ainda cumprindo sua pena, Mendes viu a invasão de hordas de tártaros que invadiram a China. Capturado, ensinou os tártaros a tomarem de assalto um forte de pedra. Gratos, os invasores o libertaram.

Mendes Pinto ainda sustentava ter sido o primeiro europeu a pisar em solo japonês. Também foi conselheiro íntimo de São Francisco Xavier. Também foi o primeiro a levar armas de fogo até o Japão.

Por descrever histórias tão extraordinárias, Mendes era considerado um mentiroso, uma espécie de Quixote. No entanto, os próprios japoneses consideravam seus relatos bastante factíveis.

Passados os muitos anos, Fernão Mendes Pinto é considerado um herói popular. Suas histórias se tornaram livros, peças de teatro e poemas épicos, além de ter rendido um filme. No local de seu desembarque foi construído um parque temático.    

Até relatos que todos julgavam fantasiosos em meio a fatos verdadeiros, hoje são considerados a mais pura realidade, como ter sido nomeado general mercenário e comandante do exército do rei da Birmânia. Seu relato acerca de uma corte suntuosamente rica, hoje, crê-se ter sido a corte do dalai-lama, em Lassa.
Mendes Pinto embarcou num navio, certa feita, em Guangdong, com destino a Malaca. No caminho foi surpreendido por uma tempestade e naufragou, próximo à costa do Japão. Teve de caçar animais selvagens para ter o que comer. Os habitantes locais ficaram aterrorizados com o fato de que, quando o português apoiava um enorme cano sobre os ombros e apertava um gatilho, um clarão se formava e um pássaro quase sempre caía do céu, morto.

Foi recebido pelo governador local. Mendes levou a ele seu mosquete. Foi a primeira vez que os japoneses viram uma arma de fogo. E o momento foi perfeito, pois o país se encontrava em meio a uma guerra civil.
Mendes Pinto fez uma segunda visita ao Japão. Desta feita, quando já estava prestes a zarpar de volta, viu um jovem fugindo correndo em disparada, fugindo de algumas pessoas mais velhas. Mendes Pinto o empurrou para seu navio e o salvou. O jovem depois explicou que fugia dos senhores por causa da enorme serie de delitos que cometera. Chamava-se Anjiro. Mendes explicou-lhe que sua religião contava com o sacramento da confissão e posterior absolvição. Mendes o levou até São Francisco Xavier.

Xavier estava muito decepcionado com seu povo. Via em Malaca, sua nova residência após deixar Goa, um povo largado aos pecados: autoridades aceitavam subornos, muitos mercadores mantinham haréns.
São Francisco ouviu e perdoou Anjiro. Este ensinou aos portugueses elementos essenciais da língua e da cultura japonesa. Para São Francisco foi o suficiente. Em carta a El Rey:

“Sua Majestade envia para aqui determinações que ninguém cumpre. Sei bem o que aqui se passa. Não tenho esperanças de que o cristianismo se consiga impor aqui. Já gastei demasiado tempo e não quero gastar mais. Vou para o Japão. Ali encontrei pagãos dcom mentes abertas e novas idéias sobre Deus e a humanidade.”


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “A primeira aldeia global”   

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