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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

D. SEBASTIÃO, O REI QUE SONHAVA E MORRIA




A morte de D. João III levaria ao trono outro João, filho do primeiro. O problema é o João-filho morreu antes do João-pai, aos 16 anos, mais uma vítima da peste. Mas teve tempo de deixar um herdeiro, D. Sebastião, havido com uma princesa espanhola, nascido menos de um ano após a morte do pai.

D. Sebastião herdou o trono português aos três anos. Sua avó foi a regente até sua maioridade. Sucedeu-a um cardeal, D. Henrique, seu tio-avô.

Logo surgiu um obstáculo: as Cortes de Lisboa se opuseram à ideia de ter um rei educado por uma espanhola. Nomearam um tutor: um padre jesuíta, com a missão de formar um rei português de verdade, que praticasse costumes portugueses, que se vestisse como um português, que montasse a cavalo como um português, que falasse como um português...

Para preservar o Tesouro durante algum tempo, D. Sebastião foi isolado da corte num palácio medieval do outro lado da cidade; assim evitariam que ele contraísse dívidas ou ordenasse despesas. Sebastião foi uma criança doente. Cresceu crendo que apenas exercícios físicos extenuantes poderiam vencer seus males. Sebastião preferia os treinos militares. Cresceu vendo-se como um “marechal de Cristo contra o islamismo”.
Assumiu o trono aos 14 anos, em 1568. Em poucos meses já havia se desentendido com os ministros escolhidos pelo cardeal Regente. Substituiu-os por ministros mais jovens.

Fascinado pela história de seu país e de seu povo, levou seus ministros até a Casa Rela de Avis, no Mosteiro de Alcobaça. Mandou abrir os túmulos de seus antepassados e os homenageou. Seguiu até Évora, onde assistiu a uma sessão de imolação de hereges na fogueira.

Essa última passagem o fez receber a inspiração necessária para partir em direção ao reino herege do Marrocos. Para tanto, era necessário dinheiro. Sebastião mandou vender proteção real a judeus e outros hereges, protegendo-os da fogueira. Também pegou dinheiro emprestado com o banqueiro alemão Conrad Roth. A garantia seriam os lucros futuros provenientes dessa expedição de pilhagem à portuguesa.

Sebastião recebeu o apoio do aventureiro inglês Sir Thomas Stukeley e sua frota de soldados de infantaria e arqueiros.

Contando apenas 24 anos, Sebastião se encheu de confiança e força. Seus 500 navios transportando 24 mil pessoas e inúmeros recursos mais partiram para o Marrocos em busca da glória de Deus e de mais riquezas, que permitissem a Portugal ter um futuro tão brilhante quanto foi seu passado – e usando-se das mesmas práticas da época de Ceuta: o roubo, a pilhagem.

Ao desembarcarem em Arzila foram informados de que o emir já os aguardava, e tinha à sua disposição um exército realmente gigantesco. Era agosto de 1578. Ambos os exércitos se encontraram após os portugueses marcharem 5 dias sob calor escaldante, sem água e estando exaustos. Assim encontraram as forças muçulmanas, com mais do dobro do efetivo do inimigo. Só a cavalaria do emir de Marrocos era dez vezes mais numerosa do que a de Sebastião.

Em poucas horas mais de 15 mil soldados portugueses já haviam sucumbido. D. Sebastião e Thomas Stukeley estavam entre as vítimas. Aqueles que seguiam a expedição, em geral não soldados mas desejando viver no Marrocos após sua eventual conquista, forma vendidos como escravos. Menos de mil conseguiram retornar.

D. Henrique assumiu o trono. Morreu logo depois, sem que se tivesse casado.
Diante desse vacou, D. Filipe de Espanha enviou um pequeno exército a Lisboa. O reino, atônito, rendeu-se. Portugal era, agora, espanhol.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “A primeira aldeia global”

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