A morte de D. João III levaria ao trono outro João, filho do
primeiro. O problema é o João-filho morreu antes do João-pai, aos 16 anos, mais
uma vítima da peste. Mas teve tempo de deixar um herdeiro, D. Sebastião, havido
com uma princesa espanhola, nascido menos de um ano após a morte do pai.
D. Sebastião herdou o trono português aos três anos. Sua avó
foi a regente até sua maioridade. Sucedeu-a um cardeal, D. Henrique, seu
tio-avô.
Logo surgiu um obstáculo: as Cortes de Lisboa se opuseram à ideia
de ter um rei educado por uma espanhola. Nomearam um tutor: um padre jesuíta,
com a missão de formar um rei português de verdade, que praticasse costumes
portugueses, que se vestisse como um português, que montasse a cavalo como um
português, que falasse como um português...
Para preservar o Tesouro durante algum tempo, D. Sebastião
foi isolado da corte num palácio medieval do outro lado da cidade; assim
evitariam que ele contraísse dívidas ou ordenasse despesas. Sebastião foi uma
criança doente. Cresceu crendo que apenas exercícios físicos extenuantes
poderiam vencer seus males. Sebastião preferia os treinos militares. Cresceu
vendo-se como um “marechal de Cristo contra o islamismo”.
Assumiu o trono aos 14 anos, em 1568. Em poucos meses já
havia se desentendido com os ministros escolhidos pelo cardeal Regente.
Substituiu-os por ministros mais jovens.
Fascinado pela história de seu país e de seu povo, levou
seus ministros até a Casa Rela de Avis, no Mosteiro de Alcobaça. Mandou abrir
os túmulos de seus antepassados e os homenageou. Seguiu até Évora, onde
assistiu a uma sessão de imolação de hereges na fogueira.
Essa última passagem o fez receber a inspiração necessária
para partir em direção ao reino herege do Marrocos. Para tanto, era necessário
dinheiro. Sebastião mandou vender proteção real a judeus e outros hereges,
protegendo-os da fogueira. Também pegou dinheiro emprestado com o banqueiro
alemão Conrad Roth. A garantia seriam os lucros futuros provenientes dessa
expedição de pilhagem à portuguesa.
Sebastião recebeu o apoio do aventureiro inglês Sir Thomas
Stukeley e sua frota de soldados de infantaria e arqueiros.
Contando apenas 24 anos, Sebastião se encheu de confiança e
força. Seus 500 navios transportando 24 mil pessoas e inúmeros recursos mais
partiram para o Marrocos em busca da glória de Deus e de mais riquezas, que
permitissem a Portugal ter um futuro tão brilhante quanto foi seu passado – e usando-se
das mesmas práticas da época de Ceuta: o roubo, a pilhagem.
Ao desembarcarem em Arzila foram informados de que o emir já
os aguardava, e tinha à sua disposição um exército realmente gigantesco. Era
agosto de 1578. Ambos os exércitos se encontraram após os portugueses marcharem
5 dias sob calor escaldante, sem água e estando exaustos. Assim encontraram as
forças muçulmanas, com mais do dobro do efetivo do inimigo. Só a cavalaria do
emir de Marrocos era dez vezes mais numerosa do que a de Sebastião.
Em poucas horas mais de 15 mil soldados portugueses já
haviam sucumbido. D. Sebastião e Thomas Stukeley estavam entre as vítimas. Aqueles
que seguiam a expedição, em geral não soldados mas desejando viver no Marrocos
após sua eventual conquista, forma vendidos como escravos. Menos de mil
conseguiram retornar.
D. Henrique assumiu o trono. Morreu logo depois, sem que se
tivesse casado.
Diante desse vacou, D. Filipe de Espanha enviou um pequeno
exército a Lisboa. O reino, atônito, rendeu-se. Portugal era, agora, espanhol.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “A primeira aldeia global”
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