No dia 1º de abril, o Império Romano ficava mais agitado.
Enquanto as matronas, mães de família respeitáveis, renovavam seus votos à deus
Vênus Verticordia, as prostitutas invadiam os banhos romanos à busca de
clientes. Essas mulheres acendiam incensos em nome da deusa Fortuna Virilis.
Para Roma afluíam pessoas de todas as partes, em busca do
sucesso: astrólogos, sacerdotes, artistas, gladiadores... cafetões e
prostitutas.
O comércio de sexo tinha muitas prestadoras “possíveis”:
escravas sexuais, prostitutas livres, cortesãs.
Os locais onde ocorriam os “serviços” eram muitos e
variados. Um dos mais conhecidos eram os labirintos do bairro de Suburra. As
arcadas de teatros, circos e estádios eram também bastante concorridas: arco em
latim é chamado de fornix; daí o termo fornicação.
Pelas ruas de Roma podia-se cruzar com as “scorta erratica” –
atualmente chamadas de vagabundas, putas. Eram prostitutas clandestinas, sem
autorização e sem local para receber seus clientes.
Nas tavernas, todas as mulheres eram consideradas
prostitutas: as copae (garçonetes), as ambubiae (cantoras), as citharistae
(harpistas), cimbalistrae (tocadoras de címbalo), dentre outras. Eram muito
baratas, daí serem chamadas genericamente de “blitidae”, nome de uma bebida barata
e de péssima qualidade.
Os banhos públicos romanos eram dos locais mais freqüentados
na cidade. Era onde se relaxa, conversava. No início eram separados em
masculinos e femininos. Mas logo prostitutas passaram a freqüentar os banhos
masculinos com tal assiduidade que se instalaram cubículos individuais. Ali
eram realizadas massagens à base de óleos aromáticos, muitas vezes terminando
em sexo oral, a cargo das “fellatrices” – profissionais que deram origem à palavra
felação.
As prostitutas oficiais realizavam seus encontros em “lupanares”
– covis das lobas, hoje conhecidos como puteiros. Esses locais deveriam ser
identificados e as garotas ficavam nuas, à espera dos clientes. Eram bem
adornadas com o espírito do negócio: estátuas e murais eróticos, luminárias em
formato de órgãos sexuais. A qualidade das instalações variava conforme o
bairro onde se localizavam.
Ao se deixar a cidade, deperavam-se mais prostitutas diante
de si. Algumas ocupavam pequenas construções de pedra, dentro de moinhos de
trigo: chamavam-se aelicariae (ou garotas do moinho). As vendedoras de
pãezinhos em formato de pênis e vagina dentro dos templos de Vênus e Príapo
também recebiam esse nome.
Os bosques eram habitados pelas lupae (lobas). Elas emitiam
uivos para atrair clientes. À noite, os cemitérios eram invadidos pelas “bustuariae”:
de dia trabalhavam como carpideiras, mulheres pagas para chorar em enterros; à
noite, recebiam seus clientes sobre os túmulos.
As prostitutas, durante muito tempo, trabalharam sem
qualquer regulamentação. O imperador Augusto, no entanto, instituiu um registro
compulsório. Agora elas deveriam informar nome, idade, local de nascimento e
pagar uma taxa para emissão da licença. A partir de então recebiam o nome de “meretrices”,
que significa merecedoras.
Aquelas que não procedessem ao registro eram chamadas de “prostibulae”,
ou prostitutas. Esse nome se deve ao fato de que ficavam em frente aos “stabulum”,
locais edificados para acomodar cavalos (estábulos), mas transformados em
puteiros (tavernas) de baixíssimo nível.
Com o tempo surgiu outro tipo de prostituta, que se
prostituía para viver melhor, embora já tivessem uma fonte de renda razoável.
Eram chamadas de cortesãs e algumas, de fato, viveram em meio a muita
abundância.
Eram elegantes e muito caras. Eram parte da ambiente aristocrático
do império. Elas conseguiam um nível de independência impensável a uma matrona.
A atriz Volúmnia Citéris fazia espetáculos de strip tease, cantava e era amante
do general Marco Antônio e de Bruto, senador que assassinou Júlio César. A
cortesã Flora foi amante do senador Pompeu.
As cortesãs não vestiam as volumosas vestes típicas das
matronas, mas sedas translúcidas e leves. Maquiavam-se logo pela manhã, com o
auxílio de escravas. Começavam limpando o creme da noite anterior. Depois,
passavam para o cabelo. Aplicavam loções para dar brilho, mais claro ou mais
avermelhado, dependendo da moda em voga. Seguia-se uma sessão de aplicação de perfumes,
trazidos da Arábia, terminando com uma espécie de babyliss da antiguidade: peça
de ferro quente usada para moldar os cachos. Caso quisessem, poderiam usar uma
peruca de cabelos importados da Índia.
Passavam então para o rosto, tratado com cremes à base de
cevada, chifre de cervos ou mel. Finalizavam a sessão de embelezamento com sombra
de antimônio, pó de chumbo branco e tintas as mais variadas.
Por fim, jóias.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”
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