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sexta-feira, 19 de maio de 2017

SIMPLÍCIO PINTO: AS DESVENTURAS DE UM BANDIDO NA CAPITANIA DO RIO DE JANEIRO


A cidade do Rio de Janeiro, em meados do século XVII, vivia apavorada com um soldado desertor chamado Simplício Pinto. Ao lado dos comparsas, praticava assassinatos e outros crimes. Não vivia constantemente escondido. Pelo contrário, aparecia volta e meia na frente da população, enquanto as autoridades fingiam não o ver. Praticava um crime e logo acorria à mata mais próxima. Perseguido, nunca era alcançado.

As pessoas comentavam que Simplício não fora ainda capturado por incompetência das autoridades. Todos torciam para que a captura ocorresse logo e o bandido fosse enforcado, de modo a servir de exemplo aos demais.

Mameluco, Simplício era natural de São Paulo, filho de um branco com uma índia. Iniciou uma carreira no Exército, mas foi logo flagrando cometendo crimes. Foi preso, mas escapou e começou uma série de assaltos em estradas interioranas. Casou-se com Maria Correia.

Um novo governador da capitania do Rio de Janeiro, Tomé Correia de Alvarenga, ouvindo o clamor popular, resolveu que iria capturar o mameluco fora-da-lei a todo custo. E o passado de crimes do bandido já apontava uma provável condenação à morte.

Após ordenar que uma tropa vasculhasse subúrbios, estradas e matas da cidade, o governador e a população testemunharam alegremente o retorno dos soldados, trazendo consigo, presos, Simplício e seus comparsas.

Populares revoltados, pretendendo fazer “justiça com as próprias mãos”, provocaram medidas de reforço da guarda da cela de Simplício.    

As leis da época exigiam que a Justiça do Rio de Janeiro abrisse o processo, ouvisse testemunhas e réus e, posteriormente, enviasse todo o material a Salavador, para que o Tribunal da Relação concluísse o julgamento. A pena de morte, na forca, somente poderia ser decretada por aquele Tribunal. Tratava-se de processo demorado, portanto inadequado para um caso que mexia tanto com os brios dos cidadãos.

O governador Tomé tomou então a decisão de processar todo o julgamento na cidade do Rio de Janeiro. Assim justificou sua decisão ao Rei: baseada na evidência de delitos que “foram mais patentes, movidos de zelo de justiça, do serviço de Deus e de Sua Majestade, das queixas gerais do povo e grande merecimento das culpas, acomodando-se ao regimento, condenamos este delinqüente à morte natural, a qual padeceu na forca em lugar público desta cidade.”

O Ouvidor-Geral, João Velho de Azevedo, opôs um regimento ao governador, que julgou conter pontos que dificultariam sobremaneira a condenação de Simplício. Tomé respondeu que seria a “ruína para este povo pela ousadia das muitas pessoas, que nele há sem cabedal, principalmente destes mamelucos que com facilidade cometem qualquer grave crime e se recolhem aos grandes matos do recôncavo aonde são criados.”

Finalizado processo e posterior condenação, Tomé Alvarenga e os juízes solicitaram que o Rei ratificasse todos os atos praticados, de forma a não serem contestados futuramente.

Infelizmente, o problema identificado por Tomé era mais profundo do que se supunha...


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

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