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segunda-feira, 29 de maio de 2017

PEDRO ÁLVARES CABRAL – DO BRASIL ÀS ÍNDIAS, UMA VIDA DE CONQUISTAS


(Continuação)

Dizer-se que Pedro Álvares Cabral tenha descoberto o Brasil é um erro de há muito ressaltado. 

Navegadores franceses e espanhóis já haviam navegado pela foz do rio Amazonas, além de terem percorrido boa parte do nordeste. Por sua vez, a Portugal interessava esconder a existência de terras ao sul do Equador, dentro de seu quinhão definido por Tordesilhas.

A missão de relatar minuciosamente aquelas terras coube a Pero Vaz de Caminha. Pelo menos é o que se depreende ao se ler a missiva do escrivão. A ansiedade com que aguardava o relato era tamanha, que o comandante mandou de volta imediatamente uma nau com a carta do escrivão, para informar logo o Rei acerca das terras incógnitas sob seu domínio, embora a frota de Cabral já tivesse perdido uma embarcação ainda no início da jornada.

Após sua missão em Terra Brasilis, Cabral e sua frota apontaram suas proas para o Cabo da Boa Esperança, dando início à mais longa viagem da história registrada até então sem que se visse terra.

A 24 ou 25 de maio, a frota enfrentou uma tormenta dantesca, que vitimou quatro embarcações. É o que registra a publicação “O Piloto Anônimo”, espécie de diário de bordo dessa expedição.

Após contornar o Cabo da Boa Esperança (ou da Tormenta), mais um acidente. Três embarcações desapareceram, tendo duas delas retornada ao comboio após algum tempo. A restante foi reencontrada na viagem de retorno a Portugal. Por isso retornou vazia.

As seis naus chegaram a Melinde, único porto em que não enfrentaram ataques. O rei local ofereceu grande quantidade de laranja, para sarar os marinheiros atacados com escorbuto. Em Agediva, Goa, puderam descansar e reparar suas caravelas. Já estavam ao lado da península indiana.

Cabral e frota aportaram em Calicute a 13 de setembro de 1500. Saudou o Samorim com uma salva de tiros.

No dia seguinte, Cabral autorizou o desembarque dos indianos, levados a Portugal por Vasco da Gama, em regresso. O desembarque total dependeu de mais alguns dias de negociação.

Os comerciantes árabes tudo fizeram que pudesse dificultar o carregamento de especiarias. Cinquenta dos lusitanos trabalharam na construção de feitorias nos arredores de Calicute, em área cedida pelo Samorim.
A revolta dos árabes dói tamanha que a construção foi invadida por uma turba que vitimou cerca de cinqüenta portugueses, dentre ele Pero Vaz de Caminha, além de franciscanos, lá presentes com a intenção de catequizar povos locais. Vinte conseguiram escapar do ataque.

Por saber quem eram os responsáveis por aquela tragédia, Cabral mandou incendiar todos os navios árabes no porto e matar todos os tripulantes.

O comandante também exigiu que o Samorim apresentasse desculpas e oferecesse compensações dentro de 24 horas. Lembre-se que as negociações em Calicute já superavam três meses.

Diante da ausência de manifestação do Samorim, ficou claro ao comandante português que ele estava envolvido no incidente. Em 17 de dezembro, durante todo o dia, canhões portugueses bombardearam a cidade, destruindo-a completamente.

Vingança feita, carregaram três naus com especiarias e as despacharam imediatamente para Portugal. As duas caravelas menores aportariam em alguma localidade amistosa da Índia, onde seriam carregadas de especiarias e, posteriormente, retornariam a casa.

Calicute hoje se chama Koshikode, na costa de Malabar. Por séculos os portugueses teriam sua imagem prejudicada pelos acontecimentos descritos.

Experiência diversa tiveram os portugueses em Cochim, cidade inimiga de Calicute. Lá passaram o Natal a carregar suas naus com pimenta, drogas e gengibre. Estacionaram ainda em Cananor, onde se supriram de canela. Também foram informados da movimentação do Samorim no sentido de contra-atacar os portugueses com uma frota de setenta navios. Em 16 de janeiro, Cabral ordenou o retorno a Portugal.
Ainda durante a viagem de retorno, uma das naus encalhou próxima a Melinde. Tiveram de queimar a embarcação.

O saldo final foi: mais de mil tripulantes mortos, nenhum acordo comercial firmado e carregamentos de especiarias muito abaixo do esperado. Mas houve muito para se comemorar.

O prestígio de Portugal na Europa alcançou a estratosfera. Os primeiros grandes carregamentos começaram a chegar a Lisboa em 1503. A política empreendida por Portugal, no sentido de controlar pequenas feitorias, de maneira a viabilizar um fluxo comercial internacional de grandes proporções, parecia estar correta.

A presença portuguesa na Índia foi consolidada por Afonso de Albuquerque (tio da primeira e futura esposa de Cabral). A primeira metade do século XVI viu Portugal tomar o posto d nação mais rica da Europa. A mesma política lusitana foi copiada por Holandeses e Ingleses que, no século XVII, com resultados espetaculares. Somente após, a política colonial de ocupação se tornou padrão.

A recepção a Cabral em Lisboa foi algo próximo de fria. Um dos motivos foi o fato de a caravela Annunziata ter desembarcado quase um mês antes da capitânia. Portanto os lusitanos já sabiam das boas novas. As naus mais carregadas adentraram o Tejo em 21 de julho de 1501.

Quanto às especiarias, a venda do carregamento pagou as embarcações perdidas e rendeu lucros equivalentes ao dobro do investimento total. Cabral recebeu 10 mil ducados, caixas de pimenta, tudo livre de impostos. Deveria apenas recolher o dízimo ao mosteiro de Belém.             

Mas nem tudo isso afastou uma maldita fama que Cabral adquiriu: “Não é bem afortunado nas coisas do mar”, nas palavras do rei D. Manuel. Essa imagem era capaz de afundar a carreira de qualquer navegador...
Casou-se Cabral com D. Isabel em 1503, tiveram vários filhos, dentre eles Fernão Álvares Cabral, futuro embaixador português na França.

Cabral faleceu em sua quinta, em Santarém. Isabel foi nomeada posteriormente camareira-mor da infanta D. Maria.

Cabral e Isabel foram enterrados no mesmo túmulo, na igreja de Nossa Senhora da Graça em Santarém.
Curioso foi o destino de Vasco da Gama. Ao regressar de sua segunda viagem à Índia, um navio de nome Miri, lotado de peregrinos árabes em direção a Meca afundou. Esse fato teve péssima repercussão na Europa. Vasco também foi criticado pelo bombardeio a Calicute, também considerado um erro.

Cabral pôde apenas acompanhar esses fatos, de longe, lamentando sua má sorte no mar...
      

Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

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