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terça-feira, 30 de maio de 2017

ESTÁCIO DE SÁ – PORQUE NÃO FALAMOS FRANCÊS


A história demonstra que a cidade do Rio de Janeiro nasceu francesa (se desconsiderarmos os índios tamoios, que habitavam a região, claro). É comprovada a efêmera existência da cidade de Henryville, fundada por Villegagnon no início de 1556, na praia do Flamengo.

Era a capital da pretendida colônia da França Antártica e só durou quatro anos.

Na verdade, houve um início de colônia, na Ilha do Governador, fundada por Américo Vespúcio (ou Amerigo Vespucci) por volta de 1504, com o fim de viabilizar exportações para Portugal de madeiras de pau-brasil retirados da região, mas essa já é outra história...

De fato, a cidade denominada São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada a 1º de março de 1565, aos pés do morro do Pão de Açúcar (chamado de Pot-Au-Beurre, ou pote de manteiga, pelos franceses), no atual bairro da Urca. Mas essa construção teve um objetivo: expulsar os franceses de Henryville, localizada a alguns poucos quilômetros de distância.

Essa aglomeração urbana européia inédita na Baía da Guanabara foi destruída por Mem de Sá e seus soldados, em março de 1560. Henryville ficava às margens do rio Carioca, atualmente subterrâneo.

Em 1567, derrotados os franceses, Mem de Sá ordenou a transferência da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro da Urca para as adjacências do morro do Castelo, região central da cidade, mais seguro contra invasões estrangeiras. Vale notar que Estácio falecera durante as batalhas contra os franceses, atingido no rosto por uma flecha envenenada.

Quando Mem de Sá empreendeu seus assaltos, Henryville deveria contar com cerca de 500 pessoas (100 a 200 franceses). Já a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, quando de sua transferência para o Castelo, deveria contar com 200 portugueses, mais ou menos – e muitos indígenas, claro.

O homem responsável por inscrever o nome de Estácio de Sá nos livros foi o padre José de Anchieta, presente nas disputas de 1560. Ele testemunhou a dedicação de Estácio que, dizia, nunca descansava, nem de dia nem de noite. Estácio devia contar pouco mais de 20 anos quando aqui chegou. Era sobrinho do governador-geral Mem de Sá.

A disputa em torno do sítio carioca se estendeu por mais de 22 meses de lutas incessantes, com franceses e tamoios ombreados contra os indesejados portugueses.

Estácio retribuiu o esforço de seus soldados distribuindo sesmarias. Foram 50, aos melhores deles. Estácio também criou a Câmara Municipal, o brasão da cidade, nomeou administradores públicos (incluindo judiciário), nomeou religiosos e fundou o colégio jesuíta.

A aventura do fundador do Rio de Janeiro começou ainda em 1560, em Lisboa, quando foi posto à frente de uma esquadra de dois galeões, enviados para expulsar os franceses do forte Coligny, na Baía da Guanabara. Após preparativos, saíram de Salvador (sede da capital do Brasil na época), passaram pelo Espírito Santos, onde foram saudados pelo cacique Arariboia, e chegaram ao Rio.

A chegada à Guanabara foi agraciada com uma chuva de flechas lançadas do morro da Glória (chamado de Mont Henry pelos franceses, e de Uruçu-Mirim, pelos índios), onde franceses e tamoios se entricheiravam. Percebendo que estava em desvantagem, tomou rumo de São Vicente, em busca de reforços.

Retornou em 1564, aportou sorrateiramente aos pés do morro do Pão de Açúcar e se instalaram junto ao morro Cara de Cão.

Em 1567, após receber ainda mais reforços, sentiu a supremacia necessária para destruir Henryville. O ataque foi fulminante, mas o capitão-mor foi ferido no rosto por uma flecha envenenada. Convalesceu por mais de um mês, antes de morrer. Tinha pouco mais de 25 anos (não se sabe ainda hoje sua data exata de nascimento).

Seus restos mortais foram depositados na igreja de São Sebastião, no bairro da Tijuca.       

As comemorações dos aniversários da cidade costumam lembrar um episódio conhecido como batalha das canoas. Trata-se de um ataque de franceses e tamoios, ocorrido apenas após seis dias da fundação da cidade. Conta-se que os portugueses deixaram as areias da praia vermelhas de tanto sangue derramado.

Em 1965, o governador Carlos Lacerda inaugurou uma pequena pirâmide na praia do Flamengo em homenagem ao fundador da cidade.  


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias Depois da Glória: Ensaios sobre personalidades e episódios controversos da história do Brasil”     

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