A história demonstra que a cidade do Rio de Janeiro nasceu
francesa (se desconsiderarmos os índios tamoios, que habitavam a região,
claro). É comprovada a efêmera existência da cidade de Henryville, fundada por
Villegagnon no início de 1556, na praia do Flamengo.
Era a capital da pretendida colônia da França Antártica e só
durou quatro anos.
Na verdade, houve um início de colônia, na Ilha do
Governador, fundada por Américo Vespúcio (ou Amerigo Vespucci) por volta de 1504,
com o fim de viabilizar exportações para Portugal de madeiras de pau-brasil
retirados da região, mas essa já é outra história...
De fato, a cidade denominada São Sebastião do Rio de Janeiro
foi fundada a 1º de março de 1565, aos pés do morro do Pão de Açúcar (chamado
de Pot-Au-Beurre, ou pote de manteiga, pelos franceses), no atual bairro da
Urca. Mas essa construção teve um objetivo: expulsar os franceses de
Henryville, localizada a alguns poucos quilômetros de distância.
Essa aglomeração urbana européia inédita na Baía da
Guanabara foi destruída por Mem de Sá e seus soldados, em março de 1560.
Henryville ficava às margens do rio Carioca, atualmente subterrâneo.
Em 1567, derrotados os franceses, Mem de Sá ordenou a
transferência da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro da Urca para as adjacências
do morro do Castelo, região central da cidade, mais seguro contra invasões
estrangeiras. Vale notar que Estácio falecera durante as batalhas contra os
franceses, atingido no rosto por uma flecha envenenada.
Quando Mem de Sá empreendeu seus assaltos, Henryville
deveria contar com cerca de 500 pessoas (100 a 200 franceses). Já a cidade de
São Sebastião do Rio de Janeiro, quando de sua transferência para o Castelo,
deveria contar com 200 portugueses, mais ou menos – e muitos indígenas, claro.
O homem responsável por inscrever o nome de Estácio de Sá
nos livros foi o padre José de Anchieta, presente nas disputas de 1560. Ele
testemunhou a dedicação de Estácio que, dizia, nunca descansava, nem de dia nem
de noite. Estácio devia contar pouco mais de 20 anos quando aqui chegou. Era
sobrinho do governador-geral Mem de Sá.
A disputa em torno do sítio carioca se estendeu por mais de
22 meses de lutas incessantes, com franceses e tamoios ombreados contra os
indesejados portugueses.
Estácio retribuiu o esforço de seus soldados distribuindo
sesmarias. Foram 50, aos melhores deles. Estácio também criou a Câmara Municipal,
o brasão da cidade, nomeou administradores públicos (incluindo judiciário),
nomeou religiosos e fundou o colégio jesuíta.
A aventura do fundador do Rio de Janeiro começou ainda em
1560, em Lisboa, quando foi posto à frente de uma esquadra de dois galeões,
enviados para expulsar os franceses do forte Coligny, na Baía da Guanabara. Após
preparativos, saíram de Salvador (sede da capital do Brasil na época), passaram
pelo Espírito Santos, onde foram saudados pelo cacique Arariboia, e chegaram ao
Rio.
A chegada à Guanabara foi agraciada com uma chuva de flechas
lançadas do morro da Glória (chamado de Mont Henry pelos franceses, e de
Uruçu-Mirim, pelos índios), onde franceses e tamoios se entricheiravam.
Percebendo que estava em desvantagem, tomou rumo de São Vicente, em busca de
reforços.
Retornou em 1564, aportou sorrateiramente aos pés do morro
do Pão de Açúcar e se instalaram junto ao morro Cara de Cão.
Em 1567, após receber ainda mais reforços, sentiu a
supremacia necessária para destruir Henryville. O ataque foi fulminante, mas o capitão-mor
foi ferido no rosto por uma flecha envenenada. Convalesceu por mais de um mês,
antes de morrer. Tinha pouco mais de 25 anos (não se sabe ainda hoje sua data
exata de nascimento).
Seus restos mortais foram depositados na igreja de São
Sebastião, no bairro da Tijuca.
As comemorações dos aniversários da cidade costumam lembrar
um episódio conhecido como batalha das canoas. Trata-se de um ataque de
franceses e tamoios, ocorrido apenas após seis dias da fundação da cidade.
Conta-se que os portugueses deixaram as areias da praia vermelhas de tanto
sangue derramado.
Em 1965, o governador Carlos Lacerda inaugurou uma pequena
pirâmide na praia do Flamengo em homenagem ao fundador da cidade.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: Livro “Histórias Depois da Glória: Ensaios sobre
personalidades e episódios controversos da história do Brasil”
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