O grande navegador genovês, por estranho que possa parecer
nos nossos dias, não falava italiano, apenas o dialeto genovês. Era fluente em
espanhol (dialetos castelhano e andaluz), e deveria arranhar no português
(viveu em Portugal por algum tempo). Na verdade, Colombo deveria falar uma
espécie de mistura de genovês, castelhano e português.
Curiosidade: o navegador possuía um olfato extraordinário –
fareja terra a quilômetros de distância.
Seu sonho de chegar às Índias deveria ter sido aventado
desde a juventude. Visitas a Constantinopla e à costa turca da Iônia,
assistindo a caranás de especiarias do Oriente, teriam despertado essa vontade
de lá chegar excluindo intermediários.
Colombo carregou por muito tempo a pecha de ter iniciado a
escravidão nas Américas – primeiro com índios, depois com negros africanos. Mas
o tráfico de escravos só se iniciou muito tempo após suas viagens – só em
meados do século XVI. Em sua primeira viagem, em 1492, havia na tripulação
quatro estrangeiros: dois genoveses, um português e um negro, Juan Moro, que
percebia o mesmo soldo que os demais.
Mas Colombo era homem rico, e como tal possuía escravos. Em
sua segunda viagem, Colombo enviou centenas de indígenas para a Espanha, como
escravos. Os reis católicos convocaram uma comissão de teólogos, para avaliarem
a possibilidade de escravizá-los.
A crueldade contra as populações ameríndias também não foi
uma marca do período de Colombo. Os capitães e governadores portugueses nas
Índias não ficaram muito atrás de Cortez ou Pizarro. Utilizavam o mesmo método.
Martim Afonso de Souza, vice-rei das Índias entre 1542 e 1545, usou muito do
expediente. A corrupção também esteve sempre presente.
Os bombardeios contra Calicute, por Vasco da Gama e Cabral,
foram apenas o começo da barbárie.
Afonso de Albuquerque, criador do fugaz império português,
certa feita mandou cortar as orelhas e narizes de todos os prisioneiros, para
que fossem cobertos de sangue dar a notícia da chegada dos portugueses.
Saqueou-se desmesuradamente as Índias, mas dominá-la
inteiramente seria um feito além das possibilidades lusas. Quando Portugal caiu
aos pés da Espanha, em 1580, o país viu-se em meio a guerras contra Holanda e
Inglaterra. Foram expulsos rapidamente das índias.
Os Holandeses herdaram quase tudo o que era português
naquela região. O império desabou espetacularmente. Restaram alguns enclaves:
Goa, Damão, Diu, Timor e Macau. Resistiram até meados do século XX nessa
condição.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: Livro “Histórias Depois da Glória: Ensaios sobre personalidades
e episódios controversos da história do Brasil”
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