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segunda-feira, 29 de maio de 2017

PEDRO ÁLVARES CABRAL – DO BRASIL ÀS ÍNDIAS, UMA VIDA DE CONQUISTAS


Segundo filho de Fernão Cabral, Pedro não poderia usar o sobrenome de família nobre Cabral (esse privilégio era reservado ao filho mais velho). Deveria se chamar Pedr`Àlvarez de Gouveia, por volta de 1500. Somente após a morte do irmão mais velho, 1516, passou a poder assinar Cabral.

Nascera em 1468 ou 1469 em Belmonte, pequeníssima aldeia de algumas centenas de pessoas. Sua mãe era herdeira rica da região.

Por volta de 1478, com 10 anos mais ou menos, foi enviado à Corte de Lisboa para receber sua educação, própria dos nobres (cultura geral, como usar armas e como se comportar em cerimoniais). Aos 16 era fidalgo de D. João II e recebia 1.000 réis por mês e tinha direito a moradia. Aos 18, recebeu esporas de cavaleiro e passou a  receber a tença de 26 mil réis.

Lutando no Marrocos, Pedro contraiu malária, doença cujas seqüelas o acompanhariam até o túmulo.
Sua experiência no norte da África o permitiu realizar o trajeto náutico e adquirir alguma experiência no mar. Era sua única prova no mar antes de ser agraciado com o comando da expedição caríssima que passaria por terras brasileiras.

Essa expedição contou a com a participação dos melhores marujos portugueses. Sem dúvidas seu comando se devia muito mais a sua capacidade de liderança, competência, prudência, coragem...

A expedição sob a batuta de Cabral era  maior da história de Portugal até então. Sua missão mais relevante seria estabelecer relações permanentes com o Samorim de Calicute, instalar naquele lugar uma feitoria permanente e dar início a uma rica corrente de negócios.

Portugal pretendia assim pôr fim ao monopólio comercial de Veneza, Gênova e Florença – controladoras do comércio de especiarias – e dos mercadores árabes. Os fluxos comerciais que tomaram corpo ao longo de toda a Idade Média mostravam que não seria possível aos europeus viverem sem as especiarias do Oriente.
Até então essas mercadorias eram transportadas até Constantinopla por camelos. Outro caminho possível era transportá-las por meio de navios árabes da Índia e da China até portos no Egito. Dali, galeras venezianas e genovesas levavam as especiarias até portos do Mediterrâneo (alguns faziam o frete até o norte da Europa).

Esse comércio fez de Veneza a nação mais rica da Europa. Os produtos mais disputados eram: perfumes, condimentos, vinhos especiais, incenso e drogas medicinais.Os lucros eram inigualáveis.

Contudo, em 1453 chegou o fim daquele arranjo comercial internacional. Os turcos tomaram Constantinopla e fecharam a rota até então utilizada.

Importante recordar que a viagem de Cabral fora precedida pela de Vasco da Gama, em 1498, cujo objetivo era abrir o caminho até a região asiática tão desejada. Vasco fora convocado para comandar a esquadra para as Índias, mas recusou-se em face de problemas de saúde.

Pedro tinha 32 anos apenas, mas deveria possuir qualidades excepcionais que o alçaram a líder de empreendimento. Em geral, o capitão das expedições era um nobre e detinha a palavra final em decisões de grande relevo. Mas quem mandava no dia a dia era o piloto principal da frota, quem detinha as decisões de fundo técnico. A esquadra cabralina contava com os melhores pilotos e comandantes que existiam em Portugal.

Portugal nessa época era um pequeno reino cuja população não passava de 1,1 milhão de pessoas. Apesar de diminuto, esse reino havia realizado conquistas fabulosas: em 1415, tomara Cauta, no atual Marrocos. Tentaram manter todo o país sob seu guarda-chuvas, mas era impossível, haja vista os recursos humanos insuficientes. Passaram então a controlar portos estratégicos ao longo da costa africana. Dali,enviavam a Portugal: ouro, marfim, escravos e pimenta. Não era mais necessário cruzar o Saara para realizar esse transporte.

A almejada rota comercial para o Oriente foi um projeto pessoal do infante d. Henrique. O choque causado pelo sucesso de Colombo foi enorme, mas amenizado pelo Tratado de Tordesilhas, que impôs sua linha demarcatória a 370 léguas de Cabo Verde, em vez das 100 propostas inicialmente. De fato, nenhuma linha foi respeitada pelos dois países.

Com o acordo, Portugal ganhava o direito de navegar livremente pelo Atlântico Sul e mantinha suas possessões, já conquistadas: São Jorge da Mina, na Guiné (rico exportador de ouro) e entrepostos na costa ocidental africana, que serviam aos propósitos do rico comerciante lisboeta Fernão Gomes.

Em 1495, morreu D. João II, o Perfeito, provavelmente envenenado. Foi sucedido por D. Manoel, o Venturoso, que reuniu notáveis, buscando saber se seria melhor parar as expedições e concentrar-se nas riquezas que já fluíam para o país; ou continuar com a meta indiana.

A resposta dos conselheiros foi para que mantivesse a busca pelas Índias, mas alguns ajustes deveriam ser feitos: melhores embarcações, que superassem o cabo das Tormentas (passaram a construir caravelas com proas mais altas e menores calados, podendo assim se defender de ondas muito altas, mantendo a capacidade de entrar em enseadas mais rasas).

A expedição de Vasco da Gama havia avaliado previamente as defesas militares de Calicute e previra dificuldades diplomáticas, religiosas e comerciais na região. Percebeu hostilidades vindas de mercadores árabes, bastante incomodados com aqueles europeus recém-chegados, que costumavam ser seus clientes, agora pretendendo abrir concorrência.

A expedição de Cabral partiu com 13 navios e cerca de 1.500 homens. Deveram selar um acordo com o Samorim, fundar uma feitoria nos arredores da cidade e iniciar uma corrente comercial contínua. Sob essa perspectiva, Cabral foi mal sucedido. Quando aportou em Calicute, sua frota se reduzira a menos da metade da configuração inicial.

Vendo suas negociações com o Samorim empacadas (os árabes fizeram de tudo para afundar os planos portugueses), Cabral tomou a decisão de bombardear Calicute. Parte da cidade foi arrasada e muitos consideram essa atitude um grave erro do comandante.    

Portugal sofreu também com espionagens. O famoso mapa de Cantino trazia informações guardadas como segredo de Estado em Lisboa. Provavelmente foram contrabandeadas.

(Continua)


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

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