Ao longo do século XVIII, os carmelitas do Rio de Janeiro
foram responsáveis por diversos conflitos e transtornos que afligiram os
moradores da cidade.
Um desses conflitos ocorreu por ocasião do Capítulo de 14 de
abril de 1742, quando o frei Francisco das Chagas foi eleito para o cargo de
provincial da Ordem. O grupo de oposição destituiu o eleito e o prendeu na
cadeia do convento.
Coube ao governador Gomes Freire de Andrade tomar medidas
enérgicas para sanar a confusão que tomou conta do Convento do Carmo. Conseguiu
a libertação de Francisco das Chagas e abriu uma devassa para apurar as
responsabilidades dos envolvidos.
Foram condenados ao “extermínio” – transferência ou degredo
para outro convento ou hospício localizado fora da cidade do Rio de Janeiro –
diversos frades. Os responsáveis foram apurados em número de 13 frades. O
iniciador da confusão foi o frei e ex-provincial Manuel da Fonseca. Foi condenado
à prisão, mas foi perdoado após pedido de misericórdia. Frei Filipe da Madre de
Deus foi condenado a um ano de cárcere, privação de voz e lugar para sempre e
degredado por seis anos em Ilha Grande. O ex-prior frei José de Santa Ana,
acusado de tentativa de homicídio contra Francisco das Chagas, foi condenado a
dois anos no cárcere, privado de voz e lugar para sempre e degredado para São
Paulo por oito anos.
Um segundo episódio causou igual tensão no Convento do
Carmo. A ocasião foi a reforma da Ordem, comandada pelo bispo do Rio de Janeiro
dom José Justiniano Mascarenhas, com apoio do vice-rei dom Luís de Vasconcelos.
O processo se iniciou em 1781 e durou quase dois anos. A cisão interna criou
dois grupos. Um deles era liderado pelo frei Bernardo de Vasconcelos. O outro,
pelo frei Inocêncio do Desterro Barros.
Diante dos resultados pífios, foi decretada outra devassa,
em 1785. Desta resultaram presos os dois líderes citados.
O relatório produzido foi bastante duro com os carmelitas.
Os adjetivos mais elogiosos tratavam os poucos frades dignos dele como “moderados
de costumes” e dedicados à religião. Por outro lado, estes eram também acusados
de ignorantes, ineptos ou velhos e doentes demais para influenciarem os mais
jovens. A maioria foi considerada indigna de pertencer à Ordem, que deveria ser
um exemplo para a sociedade.
O bispo do Rio de Janeiro, nomeado reformador oficial da
Ordem, estabeleceu as novas regras a serem observadas pelos carmelitas. Eram 36
itens e ainda traziam a nomeação dos responsáveis pelas aulas e os horários das
mesmas.
Agora, os carmelitas deveriam “começar o silêncio” – isto é,
ir dormir – às 22h; deveriam acordar às 3h45min. Às 4 horas da manhã, deveriam
recitar Matinas e Laudes do Ofício: Summa Mane Dien.
Essas ordens deram origem a muitos protestos. Diziam que as
ordens eram nada menos que revanche contra a Ordem. Frei Salvador Machado de
Santa Rosa conseguiu autorização régia para mudar de Ordem.
Acusaram também o bispo por torturar, prender e espancar o
frei Francisco Brites.
Conde de Resende, após ler a missiva que fazia as denúncias
acima, solicitou que o prior do Convento do Carmo fornecesse esclarecimentos.
Após ouvirem-se várias testemunhas, as denúncias foram confirmadas e até se
apresentaram mais detalhes da fúria do bispo contra os frades.
Os episódios acima, além de muitos outros, trouxeram enormes
prejuízos à Ordem, no Rio de Janeiro. Não foram poucos os que desistiram de
seguir uma vida religiosa, após terem contato com a realidade cruel que reinava
dentro de seus muros.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro
Colonial”
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