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terça-feira, 23 de maio de 2017

CARMELITAS – ORDEM RELIGIOSA DOS FANFARRÕES


Ao longo do século XVIII, os carmelitas do Rio de Janeiro foram responsáveis por diversos conflitos e transtornos que afligiram os moradores da cidade.

Um desses conflitos ocorreu por ocasião do Capítulo de 14 de abril de 1742, quando o frei Francisco das Chagas foi eleito para o cargo de provincial da Ordem. O grupo de oposição destituiu o eleito e o prendeu na cadeia do convento.

Coube ao governador Gomes Freire de Andrade tomar medidas enérgicas para sanar a confusão que tomou conta do Convento do Carmo. Conseguiu a libertação de Francisco das Chagas e abriu uma devassa para apurar as responsabilidades dos envolvidos.

Foram condenados ao “extermínio” – transferência ou degredo para outro convento ou hospício localizado fora da cidade do Rio de Janeiro – diversos frades. Os responsáveis foram apurados em número de 13 frades. O iniciador da confusão foi o frei e ex-provincial Manuel da Fonseca. Foi condenado à prisão, mas foi perdoado após pedido de misericórdia. Frei Filipe da Madre de Deus foi condenado a um ano de cárcere, privação de voz e lugar para sempre e degredado por seis anos em Ilha Grande. O ex-prior frei José de Santa Ana, acusado de tentativa de homicídio contra Francisco das Chagas, foi condenado a dois anos no cárcere, privado de voz e lugar para sempre e degredado para São Paulo por oito anos.

Um segundo episódio causou igual tensão no Convento do Carmo. A ocasião foi a reforma da Ordem, comandada pelo bispo do Rio de Janeiro dom José Justiniano Mascarenhas, com apoio do vice-rei dom Luís de Vasconcelos. O processo se iniciou em 1781 e durou quase dois anos. A cisão interna criou dois grupos. Um deles era liderado pelo frei Bernardo de Vasconcelos. O outro, pelo frei Inocêncio do Desterro Barros.

Diante dos resultados pífios, foi decretada outra devassa, em 1785. Desta resultaram presos os dois líderes citados.

O relatório produzido foi bastante duro com os carmelitas. Os adjetivos mais elogiosos tratavam os poucos frades dignos dele como “moderados de costumes” e dedicados à religião. Por outro lado, estes eram também acusados de ignorantes, ineptos ou velhos e doentes demais para influenciarem os mais jovens. A maioria foi considerada indigna de pertencer à Ordem, que deveria ser um exemplo para a sociedade.

O bispo do Rio de Janeiro, nomeado reformador oficial da Ordem, estabeleceu as novas regras a serem observadas pelos carmelitas. Eram 36 itens e ainda traziam a nomeação dos responsáveis pelas aulas e os horários das mesmas.

Agora, os carmelitas deveriam “começar o silêncio” – isto é, ir dormir – às 22h; deveriam acordar às 3h45min. Às 4 horas da manhã, deveriam recitar Matinas e Laudes do Ofício: Summa Mane Dien.

Essas ordens deram origem a muitos protestos. Diziam que as ordens eram nada menos que revanche contra a Ordem. Frei Salvador Machado de Santa Rosa conseguiu autorização régia para mudar de Ordem.
Acusaram também o bispo por torturar, prender e espancar o frei Francisco Brites.

Conde de Resende, após ler a missiva que fazia as denúncias acima, solicitou que o prior do Convento do Carmo fornecesse esclarecimentos. Após ouvirem-se várias testemunhas, as denúncias foram confirmadas e até se apresentaram mais detalhes da fúria do bispo contra os frades.

Os episódios acima, além de muitos outros, trouxeram enormes prejuízos à Ordem, no Rio de Janeiro. Não foram poucos os que desistiram de seguir uma vida religiosa, após terem contato com a realidade cruel que reinava dentro de seus muros.       


Rubem L. de F. Auto

Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”    


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