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quinta-feira, 25 de maio de 2017

PÁSCOA ANTUNES, MULATA E SENHORA DE ENGENHO


Mulata natural da cidade do Rio de Janeiro, Páscoa Antunes era mulher solteira e sócia do filho e do genro no Engenho Nossa Senhora do Bonsucesso, no ano de 1767.

Seu registro de batismo foi realizado na igreja de Nossa Senhora do Loreto, no bairro de Jacarepaguá, em 1692. Consta no mesmo que era filha da ex-escrava solteira Maria Antunes, africana, e de pai “incógnito”.
Aos 23 anos, a formosa mulata teve uma filha, Florência, em novembro de 1715. Nessa época, Páscoa morava na casa do senhor de engenho coronel João Aires de Aguirre, na freguesia de Santiago de Inhaúma. Era casado, mas não teve filhos desse matrimônio.

Nessa mesma casa, Páscoa deu à luz mais três filhos. Nenhum trazia o nome do pai em sua certidão.

A hipótese de que as crianças fossem filhos de João é fortalecida pelo seu pedido em testamento: que um de seus engenhos fosse vendido por valor abaixo do mercado a seu sobrinho e a dois filhos de Páscoa Antunes. Alguns documentos dos filhos de Páscoa falam claramente em herança deixada pelo pai: João Aires de Aguirre.

Florência se casou com Inácio de Almeida Sampaio, em 1739, mineiro vindo ainda criança ao Rio. Filho bastardo de senhores de engenho da região de Jacarepaguá. Os Sampaio de Almeida representavam uma linhagem iniciada com a vinda do avó, da Bahia, para ajudar na expulsão dos franceses do Rio de Janeiro.

Em 1756, a família de Páscoa tinha acumulado recursos para arrematar em hasta pública um engenho de açúcar, na freguesia de Santiago de Inhaúma, por 26 mil cruzados. Como já tinha idade avançada, doou sua parte ao filho Félix.

Contudo, este filho era indesejado pelos demais, especialmente Inácio de Almeida. Mesmo proibido por sentença do juiz de fora  de freqüentar a propriedade, Felix foi visitar sua mão, ocasião em que foi recolhido preso na cadeia pública da Relação.  

Livrou-se ao assinar compromisso de nunca mais pisar no engenho.

Páscoa, como uma boa mãe, revoltou-se com aquela situação. Denunciou o litígio ao Conselho Ultramarino e pediu permissão para vender sua parte ao filho Felix. Evidentemente tantos traumas levaram embora sua saúde. Instituiu seu testamento em janeiro de 1779 e faleceu em março do mesmo ano.

Dos bens que deixara, 600 mil réis (preço de um bom imóvel na cidade) foram gastos em missas pela sua alma e de seus familiares. Doou ainda 6 mil e 400 réis às igrejas de Inhaúma e Jacarepaguá.

Declarou que seu filho Custódio devia-lhe 250 mil-réis e tinha dois escravos pertencentes a ela. Deveria Custódio dar conta da dívida e dos escravos aos demais filhos.  

Páscoa não chegou e exibir o mesmo sucesso de Chica da Silva, mas teve um destino bem melhor do que o das demais mulheres de sua etnia.  


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

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