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quarta-feira, 31 de maio de 2017

BEZERRA DA SILVA E A ORIGEM DO LADRÃO BRASILEIRO


https://www.letras.mus.br/bezerra-da-silva/350651/

É Ladrão Que Não Acaba Mais
Bezerra da Silva
 
Quando Cabral aqui chegou
E semeou sua semente
Naturalmente começou
A lapidação do ambiente...

Resumindo: tudo começou com expoliação! Roubo sem preocupação com o futuro.

Roubaram o ouro
Roubaram o pau
Prá ficar legal
Ainda tiraram o couro
Do povo
Desta terra original...

Objetos do roubo: ouro, pau-brasil e escravos índios e africanos.

E só deixaram
A má semente
Presente de Grego
Que logo se proliferou
E originou a nossa gente...

Efeito colateral do roubo: os brasileiros! Cresceram a partir do roubo, como as plantas, da semente.

É ladrão que não acaba mais
Tem ladrão que não acaba mais
Você vê ladrão
Quando olha prá frente
Você vê ladrão
Quando olha prá trás...(2x)

A terra é fértil. Plantando, tudo nela dá!

Hiiiiiii!
A terra boa
Mas o povo
Continua escravizado
Os direitos são os mesmos
Desde os séculos passados
O Marajá
Ele só anda engravatado
Não trabalha, não faz nada
Mas tá sempre
Endinheirado...

Uma pequena e cabível crítica ao modo como os negros são encarados pela sociedade: basicamente a mesma coisa desde o século XIX.
Claro, não poderia faltar o ladrão das “elites”! Usa sua influência para arrumar um jeito de ser sustentado por dinheiro público, embora nada produza.

E se entrar no supermercado
Você é roubado!
E se andar despreocupado
Você é roubado!
E se pegar o bonde errado
Você é roubado!
E também se votar prá deputado
Você é roubado!
Certo!

Nada como Bezerra... J
Tudo é roubo: empresas protegidas da concorrência por corrupção, que cobram muito mais caro do que o jsuto, pivetes, eleições... Tudo tem uma dose de roubo.

Tem sempre 171 armando fria
Tem ladrão lá no congresso
Na quitanda e padaria
Ladrão que rouba de noite
Ladrão que rouba de dia
Dentro da delegacia
Ninguém entendia
A maior confusão
O doutor delegado
Grampeou todo mundo
Porque o ladrão
Roubou outro ladrão

Resumindo: o país termina em roubo generalizado! Prende logo todo mundo.
E ainda repete! J

É ladrão que não acaba mais
Tem ladrão que não acaba mais
Você vê ladrão
Quando olha prá frente
Você vê ladrão
Quando olha prá trás...(2x)

Quando Cabral aqui chegou
E semeou sua semente
Naturalmente começou
A lapidação do ambiente...

Roubaram o ouro
Roubaram o pau
Prá ficar legal
Ainda tiraram o couro
Do povo
Desta terra original...

E só deixaram
A má semente
Presente de Grego
Que logo se proliferou
E originou a nossa gente...

É ladrão que não acaba mais
Tem ladrão que não acaba mais
Você vê ladrão
Quando olha prá frente
Você vê ladrão

Quando olha prá trás...(4x)


VILLEGAGNON E O SONHO DA FRANÇA NAS AMÉRICAS – PARTE 2


(Continuação)

O Brasil, mais especificamente a região que conhecemos como Brasil, era comentado em França desde muitos anos antes de Villegagnon.

Em 1488, Jean Cousin teria descoberto a foz do rio amazonas. Poucos anos mais tarde, Jean Ango levou para seu país madeiras, frutos tropicais e alguns índios.

O próprio Villegagnon esteve no Brasil, em Cabo Frio, em 1554. Além de levantar informações sobre as defesas portuguesas, inclusive sobre o péssimo relacionamento entre portugueses e tamoios, levou vários índios tupinambás e tabajaras para a França. Tais índios encenaram festas e torneios em Rouen, em 1550, em homenagem a Henrique II.

Em 1554, o rei se decidiu por patrocinar uma frota em direção ao Brasil. A participação estatal era pequena, mas armadores de Dieppe resolveram investir na expedição.

Para recrutar seus homens, Villegagnon empreendeu um tour pelas prisões francesas, prometendo a libertação caso se juntassem. Recrutou cerca de 600 pessoas, o que conformava uma grande expedição, para os padrões daquela época.

O contato em terra seria realizado por meio de um índio tabajara, casado com uma francesa, levado com a função de intérprete. Chegaram a Búzios em 14 de agosto de 1555.

Adentrando na Baía da Guanabara, escolheram uma ilhota onde construíram uma fortificação. Batizaram-na Forte Coligny. Essa ilha foi batizada pelos portugueses como Villegagnon.

Enquanto cuidava de achar fontes confiáveis de água doce, mandou erguer uma povoação no continente, batizada de Henryville. Localizava-se entre o morro da Glória e a praia do Flamengo.

Uma das medidas tomada pelo comandante francês foi criar alianças com os índios tupinambás. Tornou-se inclusive amigo pessoal do cacique Cunhambebe.

Detalhes da povoação francesa podem ser vistos nos mapas de André Thevet, de 1556.
Também em 1556 prepararam-se plantações de mandioca, legumes e hortaliças, fertilizadas com algas marinhas, como se fazia no Mediterrâneo. Os produtos brasileiros eram disputadíssimos nas feiras francesas.
Em 1557, o rei francês decretou taxação de 20 “sous” por tonelada sobre os navios que partiam de Henryville carregados de mercadorias.

Além dos problemas financeiros causados pela ausência de investimentos relevantes da coroa na nova colônia, Villegagnon sofreu com o comportamento repreensível dos soldados em relação às índias locais. Villegagnon exigia que eles se casassem com as índias para poderem balizar o relacionamento. Surgiu assim a primeira rebelião.

Ao mesmo tempo, surgiam na França os primeiros impasses decorrentes de disputas religiosas. Coligny resolveu tornar a França Antártica um refúgio para os protestantes calvinistas. A primeira leva aportou no Rio em 1557.

Villegagnon desejava cultivar com eles um bom relacionamento. Instituiu na França Antártica a liberdade de culto, mas ainda assim enfrentou muitos problemas.

Inicialmente, os protestantes se mostraram inábeis na catequização dos índios. Mais que isso: tentaram converter Villegagnon. Não demoraram a surgir rusgas entre o comandante e os protestantes.

As rusgas se mantiveram na Europa, quando alguns pastores retornaram para casa, insatisfeitos com o período em Henryville. Calvino passou a se referir a Villegagnon como o “Caim da América”.

De qualquer forma, Henrique II se preocupou com os boatos espalhados pelos protestantes e chamou seu comandante para fornecer algumas explicações. Villegagnon embarcou para a França em maio de 1559, numa nau rodeado por pau-brasil, jacarandá, acaju, plantas medicinais, animais e 50 índios tupinambás. Escreveu até um dicionário francês-tupi.

O ambiente na França estava de ponta-cabeça. Henrique II falecera. Coligny, o primeiro-ministro, era agora seu inimigo declarado. Foi salvo por Maria Stuart, agora esposa do novo rei, Francisco II. Ela não esquecera o feito heróico dos tempos da Escócia.

Quanto aos índios transportados na nau do comandante, dois concluíram estudos universitários e se tornaram funcionários da Coroa. Outro dos índios se tornou responsável pelos jardins de Fontainebleu.
Portugal não estava alheio às movimentações francesas na costa fluminense. Quando soube do retorno de Villegagnon à França, o governador-geral Mem de Sá percebeu que era a hora ideal para um contra-ataque.

O Reino era governado pela rainha regente Dª Catarina – D. Sebastião era ainda uma criança. Convencida por Mem de Sá, Catarina mandou preparar a frota. Em novembro de 1559, aportavam na Bahia. Tratavam-se de 26 navios, artilharia pesada, munição quase ilimitada e mais de 2 mil homens, sob o comando de Bartolomeu Vasconcelos da Cunha.

Em 21 de janeiro de 1560 tentaram um ataque surpresa contra a ilhota fortificada francesa na Guanabara. Perceberam então, atônitos, que a construção francesa era quase inexpugnável. Vinte e um navios atirando línguas de fogo incessantemente não foram suficientes para derrotar o inimigo.

Mem de Sá então declinou do plano de bombardear até vencer. Resolveu desembarcar seus homens e tomar Henryville à mão. A cidadela foi destruída e seus habitantes – franceses e índios -, mortos. Os franceses remanescentes no forte o abandonaram e se embrenharam pelas matas.

A artilharia francesa foi transportada a Lisboa e lá exibida como troféu. Ainda hoje está à mostra num museu.

Informado sobre o triste fim do seu empreendimento (Villegagnon investiu uma fortuna do próprio bolso no seu sonho tropical), o comandante francês desistiu de tramar um contra-ataque e apresentou ao embaixador de Portugal em Paris um pedido de indenização pelas perdas sofridas. Talvez com o fito de pôr um ponto final naquela história, Portugal acedeu: 3 mil ducados. Villegagnon aceitou e encerrou a aventura tropical.
Franceses remanescentes ainda permaneceram na região, quando Estácio de Sá atacou o lócus e tomou o morro da Glória. Essa batalha vitimou o próprio Estácio.

Findo o conflito, quatro naus levaram embora quase todos os soldados franceses. Os últimos, que optaram por viver entre os tupinambás, só deixaram o Brasil em 1603.

No ano de 2000, historiadores e jornalistas brasileiros, em visita ao governador da época, Antony Garotinho, solicitou permissão para colocar um busto de Villegagnon na praia do Flamengo, em frente ao rio Carioca, local onde se situava Henryville. O governador negou a a utorização, pois homenageava um homem que matou um monte de calvinistas.

Dez anos depois, evangélicos cariocas propuseram a troca do nome da ilha de Villegagnon para ilha de Tamandaré. Após consulta pela Câmara Municipal ao Ministério da Marinha, esta se opôs à absurda e descabida proposta.        


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias Depois da Glória: Ensaios sobre personalidades e episódios controversos da história do Brasil”     

VILLEGAGNON E O SONHO DA FRANÇA NAS AMÉRICAS – PARTE 1


A vida de intrépidas aventuras de Nicolau Durand de Villegagnon começou após completar 21 anos, em 1531, e ser admitido na Ordem de Malta.  

Em 1540, após ser enviado a Veneza, participou de uma missão estranhíssima. Francisco I, rei católico da França, celebrou aliança com Suleiman, rei turco muçulmano, para se defender de Carlos V, sacro imperador romano-germânico e católico. Villegagnon recebeu uma missão de incentivar Suleiman a invadir a Áustria, no coração da Europa.     

Esse ambiente estava conturbado por causa da posição dúbia da Igreja, ora apoiando Carlos, ora apoiando Francisco.

Após entregar a Francisco I as plantas das principais fortalezas do ducado de Milão, que já aparecera no radar de Francisco I como futuro alvo, Villegagnon caiu nas graças do rei francês.

Villegagnon também foi enviado à Argélia, para acompanhar o desempenho do exército de Carlos V na Argélia. Essa guerra era importante para a França, que era atacada por navios árabes, que chegavam a usar o porto de Toulon para reabastecimento.

Em 1542, retornou a Paris, onde se encontrou com Francisco I e descreveu sua experiência em Argel.
Com a morte de Francisco, assumiu o trono francês Henrique II, que também nutria simpatias por Villegagnon. Este novo rei delegou-lhe uma delicada missão: expulsar os piratas ingleses que tanto atacavam a costa da Bretanha. Em poucos dias, Villegagnon afundou cinco navios ingleses, pondo fim à pirataria local.

Outro episódio histórico envolvendo Villegagnon foi o seqüestro de Maria Stuart. Filha de Jaime V, rei da Escócia, ainda recém-nascida herdara a coroa do pai. Henrique VIII, rei inglês, logo iniciou tratativas para que a nova rainha escocesa desposasse seu filho, Eduardo, também infante. Henrique VIII considerava essa união de coroas fulcral para o futuro da Inglaterra.

O grande problema nessa trama era de fundo religioso: os escoceses eram católicos, portanto apoiados por França, Espanha e Roma; a Inglaterra era protestante anglicana, portanto inimiga de todos esses países citados.  

A mão de Maria, Maria de Guise, não queria que a filha se casasse com protestante algum. Escondeu a filha e esperou um posicionamento da França. A resposta foi surpreendente: Maria deveria se tornar futura rainha da França, acumulando-a com a coroa francesa. O esposo de Maria seria Francisco, futuro Francisco II, filho de Henrique II.

Após ter ciência da trama, a marinha inglesa foi posta em ação, com a missão de não deixar a pequena Maria Stuart sair da Escócia.

Coube à França contra-atacar: Villegagnon foi incumbido de raptar a futura rainha da França. E o fez com desenvoltura.

Deixou a França com quatro galeras, Seus remadores eram todos presidiários: foram escolhidos os que pareciam odiar mais os britânicos e a eles foi prometida a liberdade.

A expedição contava com mais de 6 mil homens. Uma tropa desembarcou em Leith, mas era apenas um ataque falso, visando atrair a atenção dos ingleses. A Villegagnon coube contornar a ilha pelo norte e subir a foz do rio Clyde. Em direção à fortaleza de Dumbarton, onde estava Maria. Despistou soldados ingleses e retornou pelo mesmo caminho.

Em 13 de agosto de 1548, a pequenina rainha de duas nações desembarcou em Brest, e encaminhada à companhia de Henrique II, em Paris, sua futura casa.

Os ingleses foram humilhados por aquele homem de apenas 38 anos. Esses feitos, dentre outras vitórias espetaculares contra a marinha inglesa, levaram à assinatura de um tratado de paz com a Inglaterra, que devolveu a cidade de Boulogne à França.

Aos 42 anos, Villegagnon foi nomeado vice-almirante francês e recebeu a missão de fortificar o porto de Brest. Também usou o novo cargo para sugerir a conquista da ilha de Córsega, até então genovesa, para que a França pudesse sonhar dominar o Mediterrâneo no futuro. Vale notar que dessa ilhota saiu Napoleão, futuro imperador francês.

Ainda em Brest, Villegagnon teve conhecimento sobre a costa brasileira e suas possibilidades comerciais. Pouco tempo depois, o vice-almirante estava cumprindo uma missão secreta em terras tupiniquins.

Em 1554, aportava em Cabo Frio, conheceu os índios tamoios, informou-se sobre os navios de patrulha portugueses, e preparou a futura missão de colonização francesa.

Essa futura colônia se chamaria França Antártica, mas teve sua história intensamente prejudicada por causa dos conflitos religiosos que assolaram a França. Um dos principais personagens envolvidos nesses conflitos chamava-se Jean Cauvin, o Calvino (ou João Calvino, em português).

Após se mudar para Basiléia, na Suíça, Calvino fundou sua primeira igreja reformista. Em 1536, transferiu-se para Genebra, também chamada de Roma protestante.

O ponto explorado por Calvino na sua tese protestante girava acerca da eucaristia. Ele não acreditava na presença divina nesse rito e deixou seu ponto explícito no livre Tratado da Ceia.

A partir de 1555, a França se dividiu entre católicos e huguenotes (cuja maioria era calvinista). O almirante Coligny, espécie de primeiro-ministro da França, era o porta-voz dos protestantes.

A expedição para o Brasil partiu em 1554, com Villegagnon no comando. Armadores do porto de Dieppe deram apoio, tendo em vista as possibilidades comerciais que poderia abrir. O segredo era essencial, para que não se despertasse a atenção do embaixador português em Paris.

Os curto período de quatro anos de existência da França Antártica viu a chegada de inúmeros navios mercantes franceses, que despachavam para a França produtos diversos, especialmente pau-brasil.

Mas Villegagnon via possibilidades de ganhos imediatos por meio de ataques a galeões espanhóis e portugueses, que regressavam do Extremo Oriente, carregados de especiarias.

(Continua)
  
   
Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias Depois da Glória: Ensaios sobre personalidades e episódios controversos da história do Brasil”     

terça-feira, 30 de maio de 2017

JOVELINA PÉROLA NEGRA E A VIOLÊNCIA URBANA – CATATAU


Letra da música Catatau:


Catatau, chegou legal no vidigal
Ia haver uma blitz naquele local
(catatau, catatau, catatau)

Catatau, como veremos, é aparentemente um morador de alguma comunidade , talvez do próprio morro do Vidigal. Chegou para visitar alguém, ou à sua própria casa, naquela comunidade.
Chegou pouco antes de uma invasão policial, ou de uma operação da PM no morro.

Catatau, chegou legal no vidigal
Ia haver uma blitz naquele local
(o malandro)

O malandro pinoteou,
Pouco antes da hora que a justa chegou
Por onde está, por onde andou ?
Ninguem dedou,
Por onde está, por onde andou ?
Ninguem dedou.

Essa segunda estrofe esclarece: a PM estava atrás de alguém, provavelmente com mandado de prisão expedido. Fica claro que os moradores defendem o procurado, não denunciando onde está escondido.

De repente no beco da grande favela
Um vulto surgiu na viela
O soldado deu voz de prisão, com decisão
O soldado deu voz de prisão, com decisão
O soldado deu voz de prisão, com decisão.
(do outro lado)

Em dado instante, o nosso amigo Catatau surgiu numa das infinitas vielas existentes em qualquer favela. Talvez por estar escuro, talvez por não saber exatamente quem estava procurando, o policial dá voz de prisão.

Do outro lado, nego desempregado
Bastante desesperado, se rende correndo e cai
Do outro lado, nego desempregado
Bastante desesperado, se rende correndo e cai.

Esse evento dá início a um tumulto, as pessoas entram em polvorosa e os bandidos correm da "dura". Interessante notar que a letra chama as pessoas desesperadas de “desempregados”, não de bandidos, o que desvenda uma  crítica de fundo social.

Mais caiu com a mão na cabeça
Para que ninguem esqueça
O quanto pediu clemência
E não foi ouvido, por causa da violência
Que fez chorar o soldado
Que muito mau orientado, não pode evitar o mal
E nem a sorte daquele inocente lá do vidigal
Que fez chorar o soldado
Que muito mal orientado, não pode evitar o mal
E nem a sorte daquele inocente lá do vidigal.

Detalhe fúnebre, a vítima caiu na posição em que se encontrava: mãos na cabeça. Fica claro que quem o matou foi o policial. Porém parece ter sido uma morte involuntária, pois o policial chora ao perceber que não deveria ter feito o que fez.
A letra faz ainda uma crítica ao treinamento policial, colocando esse fator como um dos causadores da tragédia no morro do Vidigal.



Rubem L. de F. Auto

ESTÁCIO DE SÁ – PORQUE NÃO FALAMOS FRANCÊS


A história demonstra que a cidade do Rio de Janeiro nasceu francesa (se desconsiderarmos os índios tamoios, que habitavam a região, claro). É comprovada a efêmera existência da cidade de Henryville, fundada por Villegagnon no início de 1556, na praia do Flamengo.

Era a capital da pretendida colônia da França Antártica e só durou quatro anos.

Na verdade, houve um início de colônia, na Ilha do Governador, fundada por Américo Vespúcio (ou Amerigo Vespucci) por volta de 1504, com o fim de viabilizar exportações para Portugal de madeiras de pau-brasil retirados da região, mas essa já é outra história...

De fato, a cidade denominada São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada a 1º de março de 1565, aos pés do morro do Pão de Açúcar (chamado de Pot-Au-Beurre, ou pote de manteiga, pelos franceses), no atual bairro da Urca. Mas essa construção teve um objetivo: expulsar os franceses de Henryville, localizada a alguns poucos quilômetros de distância.

Essa aglomeração urbana européia inédita na Baía da Guanabara foi destruída por Mem de Sá e seus soldados, em março de 1560. Henryville ficava às margens do rio Carioca, atualmente subterrâneo.

Em 1567, derrotados os franceses, Mem de Sá ordenou a transferência da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro da Urca para as adjacências do morro do Castelo, região central da cidade, mais seguro contra invasões estrangeiras. Vale notar que Estácio falecera durante as batalhas contra os franceses, atingido no rosto por uma flecha envenenada.

Quando Mem de Sá empreendeu seus assaltos, Henryville deveria contar com cerca de 500 pessoas (100 a 200 franceses). Já a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, quando de sua transferência para o Castelo, deveria contar com 200 portugueses, mais ou menos – e muitos indígenas, claro.

O homem responsável por inscrever o nome de Estácio de Sá nos livros foi o padre José de Anchieta, presente nas disputas de 1560. Ele testemunhou a dedicação de Estácio que, dizia, nunca descansava, nem de dia nem de noite. Estácio devia contar pouco mais de 20 anos quando aqui chegou. Era sobrinho do governador-geral Mem de Sá.

A disputa em torno do sítio carioca se estendeu por mais de 22 meses de lutas incessantes, com franceses e tamoios ombreados contra os indesejados portugueses.

Estácio retribuiu o esforço de seus soldados distribuindo sesmarias. Foram 50, aos melhores deles. Estácio também criou a Câmara Municipal, o brasão da cidade, nomeou administradores públicos (incluindo judiciário), nomeou religiosos e fundou o colégio jesuíta.

A aventura do fundador do Rio de Janeiro começou ainda em 1560, em Lisboa, quando foi posto à frente de uma esquadra de dois galeões, enviados para expulsar os franceses do forte Coligny, na Baía da Guanabara. Após preparativos, saíram de Salvador (sede da capital do Brasil na época), passaram pelo Espírito Santos, onde foram saudados pelo cacique Arariboia, e chegaram ao Rio.

A chegada à Guanabara foi agraciada com uma chuva de flechas lançadas do morro da Glória (chamado de Mont Henry pelos franceses, e de Uruçu-Mirim, pelos índios), onde franceses e tamoios se entricheiravam. Percebendo que estava em desvantagem, tomou rumo de São Vicente, em busca de reforços.

Retornou em 1564, aportou sorrateiramente aos pés do morro do Pão de Açúcar e se instalaram junto ao morro Cara de Cão.

Em 1567, após receber ainda mais reforços, sentiu a supremacia necessária para destruir Henryville. O ataque foi fulminante, mas o capitão-mor foi ferido no rosto por uma flecha envenenada. Convalesceu por mais de um mês, antes de morrer. Tinha pouco mais de 25 anos (não se sabe ainda hoje sua data exata de nascimento).

Seus restos mortais foram depositados na igreja de São Sebastião, no bairro da Tijuca.       

As comemorações dos aniversários da cidade costumam lembrar um episódio conhecido como batalha das canoas. Trata-se de um ataque de franceses e tamoios, ocorrido apenas após seis dias da fundação da cidade. Conta-se que os portugueses deixaram as areias da praia vermelhas de tanto sangue derramado.

Em 1965, o governador Carlos Lacerda inaugurou uma pequena pirâmide na praia do Flamengo em homenagem ao fundador da cidade.  


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias Depois da Glória: Ensaios sobre personalidades e episódios controversos da história do Brasil”     

segunda-feira, 29 de maio de 2017

COLOMBO – O HOMEM E SEUS CONFLITOS


O grande navegador genovês, por estranho que possa parecer nos nossos dias, não falava italiano, apenas o dialeto genovês. Era fluente em espanhol (dialetos castelhano e andaluz), e deveria arranhar no português (viveu em Portugal por algum tempo). Na verdade, Colombo deveria falar uma espécie de mistura de genovês, castelhano e português.

Curiosidade: o navegador possuía um olfato extraordinário – fareja terra a quilômetros de distância.
Seu sonho de chegar às Índias deveria ter sido aventado desde a juventude. Visitas a Constantinopla e à costa turca da Iônia, assistindo a caranás de especiarias do Oriente, teriam despertado essa vontade de lá chegar excluindo intermediários.

Colombo carregou por muito tempo a pecha de ter iniciado a escravidão nas Américas – primeiro com índios, depois com negros africanos. Mas o tráfico de escravos só se iniciou muito tempo após suas viagens – só em meados do século XVI. Em sua primeira viagem, em 1492, havia na tripulação quatro estrangeiros: dois genoveses, um português e um negro, Juan Moro, que percebia o mesmo soldo que os demais.

Mas Colombo era homem rico, e como tal possuía escravos. Em sua segunda viagem, Colombo enviou centenas de indígenas para a Espanha, como escravos. Os reis católicos convocaram uma comissão de teólogos, para avaliarem a possibilidade de escravizá-los.

A crueldade contra as populações ameríndias também não foi uma marca do período de Colombo. Os capitães e governadores portugueses nas Índias não ficaram muito atrás de Cortez ou Pizarro. Utilizavam o mesmo método. Martim Afonso de Souza, vice-rei das Índias entre 1542 e 1545, usou muito do expediente. A corrupção também esteve sempre presente.

Os bombardeios contra Calicute, por Vasco da Gama e Cabral, foram apenas o começo da barbárie.

Afonso de Albuquerque, criador do fugaz império português, certa feita mandou cortar as orelhas e narizes de todos os prisioneiros, para que fossem cobertos de sangue dar a notícia da chegada dos portugueses.
Saqueou-se desmesuradamente as Índias, mas dominá-la inteiramente seria um feito além das possibilidades lusas. Quando Portugal caiu aos pés da Espanha, em 1580, o país viu-se em meio a guerras contra Holanda e Inglaterra. Foram expulsos rapidamente das índias.

Os Holandeses herdaram quase tudo o que era português naquela região. O império desabou espetacularmente. Restaram alguns enclaves: Goa, Damão, Diu, Timor e Macau. Resistiram até meados do século XX nessa condição.  


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias Depois da Glória: Ensaios sobre personalidades e episódios controversos da história do Brasil”     

PEDRO ÁLVARES CABRAL – DO BRASIL ÀS ÍNDIAS, UMA VIDA DE CONQUISTAS


(Continuação)

Dizer-se que Pedro Álvares Cabral tenha descoberto o Brasil é um erro de há muito ressaltado. 

Navegadores franceses e espanhóis já haviam navegado pela foz do rio Amazonas, além de terem percorrido boa parte do nordeste. Por sua vez, a Portugal interessava esconder a existência de terras ao sul do Equador, dentro de seu quinhão definido por Tordesilhas.

A missão de relatar minuciosamente aquelas terras coube a Pero Vaz de Caminha. Pelo menos é o que se depreende ao se ler a missiva do escrivão. A ansiedade com que aguardava o relato era tamanha, que o comandante mandou de volta imediatamente uma nau com a carta do escrivão, para informar logo o Rei acerca das terras incógnitas sob seu domínio, embora a frota de Cabral já tivesse perdido uma embarcação ainda no início da jornada.

Após sua missão em Terra Brasilis, Cabral e sua frota apontaram suas proas para o Cabo da Boa Esperança, dando início à mais longa viagem da história registrada até então sem que se visse terra.

A 24 ou 25 de maio, a frota enfrentou uma tormenta dantesca, que vitimou quatro embarcações. É o que registra a publicação “O Piloto Anônimo”, espécie de diário de bordo dessa expedição.

Após contornar o Cabo da Boa Esperança (ou da Tormenta), mais um acidente. Três embarcações desapareceram, tendo duas delas retornada ao comboio após algum tempo. A restante foi reencontrada na viagem de retorno a Portugal. Por isso retornou vazia.

As seis naus chegaram a Melinde, único porto em que não enfrentaram ataques. O rei local ofereceu grande quantidade de laranja, para sarar os marinheiros atacados com escorbuto. Em Agediva, Goa, puderam descansar e reparar suas caravelas. Já estavam ao lado da península indiana.

Cabral e frota aportaram em Calicute a 13 de setembro de 1500. Saudou o Samorim com uma salva de tiros.

No dia seguinte, Cabral autorizou o desembarque dos indianos, levados a Portugal por Vasco da Gama, em regresso. O desembarque total dependeu de mais alguns dias de negociação.

Os comerciantes árabes tudo fizeram que pudesse dificultar o carregamento de especiarias. Cinquenta dos lusitanos trabalharam na construção de feitorias nos arredores de Calicute, em área cedida pelo Samorim.
A revolta dos árabes dói tamanha que a construção foi invadida por uma turba que vitimou cerca de cinqüenta portugueses, dentre ele Pero Vaz de Caminha, além de franciscanos, lá presentes com a intenção de catequizar povos locais. Vinte conseguiram escapar do ataque.

Por saber quem eram os responsáveis por aquela tragédia, Cabral mandou incendiar todos os navios árabes no porto e matar todos os tripulantes.

O comandante também exigiu que o Samorim apresentasse desculpas e oferecesse compensações dentro de 24 horas. Lembre-se que as negociações em Calicute já superavam três meses.

Diante da ausência de manifestação do Samorim, ficou claro ao comandante português que ele estava envolvido no incidente. Em 17 de dezembro, durante todo o dia, canhões portugueses bombardearam a cidade, destruindo-a completamente.

Vingança feita, carregaram três naus com especiarias e as despacharam imediatamente para Portugal. As duas caravelas menores aportariam em alguma localidade amistosa da Índia, onde seriam carregadas de especiarias e, posteriormente, retornariam a casa.

Calicute hoje se chama Koshikode, na costa de Malabar. Por séculos os portugueses teriam sua imagem prejudicada pelos acontecimentos descritos.

Experiência diversa tiveram os portugueses em Cochim, cidade inimiga de Calicute. Lá passaram o Natal a carregar suas naus com pimenta, drogas e gengibre. Estacionaram ainda em Cananor, onde se supriram de canela. Também foram informados da movimentação do Samorim no sentido de contra-atacar os portugueses com uma frota de setenta navios. Em 16 de janeiro, Cabral ordenou o retorno a Portugal.
Ainda durante a viagem de retorno, uma das naus encalhou próxima a Melinde. Tiveram de queimar a embarcação.

O saldo final foi: mais de mil tripulantes mortos, nenhum acordo comercial firmado e carregamentos de especiarias muito abaixo do esperado. Mas houve muito para se comemorar.

O prestígio de Portugal na Europa alcançou a estratosfera. Os primeiros grandes carregamentos começaram a chegar a Lisboa em 1503. A política empreendida por Portugal, no sentido de controlar pequenas feitorias, de maneira a viabilizar um fluxo comercial internacional de grandes proporções, parecia estar correta.

A presença portuguesa na Índia foi consolidada por Afonso de Albuquerque (tio da primeira e futura esposa de Cabral). A primeira metade do século XVI viu Portugal tomar o posto d nação mais rica da Europa. A mesma política lusitana foi copiada por Holandeses e Ingleses que, no século XVII, com resultados espetaculares. Somente após, a política colonial de ocupação se tornou padrão.

A recepção a Cabral em Lisboa foi algo próximo de fria. Um dos motivos foi o fato de a caravela Annunziata ter desembarcado quase um mês antes da capitânia. Portanto os lusitanos já sabiam das boas novas. As naus mais carregadas adentraram o Tejo em 21 de julho de 1501.

Quanto às especiarias, a venda do carregamento pagou as embarcações perdidas e rendeu lucros equivalentes ao dobro do investimento total. Cabral recebeu 10 mil ducados, caixas de pimenta, tudo livre de impostos. Deveria apenas recolher o dízimo ao mosteiro de Belém.             

Mas nem tudo isso afastou uma maldita fama que Cabral adquiriu: “Não é bem afortunado nas coisas do mar”, nas palavras do rei D. Manuel. Essa imagem era capaz de afundar a carreira de qualquer navegador...
Casou-se Cabral com D. Isabel em 1503, tiveram vários filhos, dentre eles Fernão Álvares Cabral, futuro embaixador português na França.

Cabral faleceu em sua quinta, em Santarém. Isabel foi nomeada posteriormente camareira-mor da infanta D. Maria.

Cabral e Isabel foram enterrados no mesmo túmulo, na igreja de Nossa Senhora da Graça em Santarém.
Curioso foi o destino de Vasco da Gama. Ao regressar de sua segunda viagem à Índia, um navio de nome Miri, lotado de peregrinos árabes em direção a Meca afundou. Esse fato teve péssima repercussão na Europa. Vasco também foi criticado pelo bombardeio a Calicute, também considerado um erro.

Cabral pôde apenas acompanhar esses fatos, de longe, lamentando sua má sorte no mar...
      

Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

PEDRO ÁLVARES CABRAL – DO BRASIL ÀS ÍNDIAS, UMA VIDA DE CONQUISTAS


Segundo filho de Fernão Cabral, Pedro não poderia usar o sobrenome de família nobre Cabral (esse privilégio era reservado ao filho mais velho). Deveria se chamar Pedr`Àlvarez de Gouveia, por volta de 1500. Somente após a morte do irmão mais velho, 1516, passou a poder assinar Cabral.

Nascera em 1468 ou 1469 em Belmonte, pequeníssima aldeia de algumas centenas de pessoas. Sua mãe era herdeira rica da região.

Por volta de 1478, com 10 anos mais ou menos, foi enviado à Corte de Lisboa para receber sua educação, própria dos nobres (cultura geral, como usar armas e como se comportar em cerimoniais). Aos 16 era fidalgo de D. João II e recebia 1.000 réis por mês e tinha direito a moradia. Aos 18, recebeu esporas de cavaleiro e passou a  receber a tença de 26 mil réis.

Lutando no Marrocos, Pedro contraiu malária, doença cujas seqüelas o acompanhariam até o túmulo.
Sua experiência no norte da África o permitiu realizar o trajeto náutico e adquirir alguma experiência no mar. Era sua única prova no mar antes de ser agraciado com o comando da expedição caríssima que passaria por terras brasileiras.

Essa expedição contou a com a participação dos melhores marujos portugueses. Sem dúvidas seu comando se devia muito mais a sua capacidade de liderança, competência, prudência, coragem...

A expedição sob a batuta de Cabral era  maior da história de Portugal até então. Sua missão mais relevante seria estabelecer relações permanentes com o Samorim de Calicute, instalar naquele lugar uma feitoria permanente e dar início a uma rica corrente de negócios.

Portugal pretendia assim pôr fim ao monopólio comercial de Veneza, Gênova e Florença – controladoras do comércio de especiarias – e dos mercadores árabes. Os fluxos comerciais que tomaram corpo ao longo de toda a Idade Média mostravam que não seria possível aos europeus viverem sem as especiarias do Oriente.
Até então essas mercadorias eram transportadas até Constantinopla por camelos. Outro caminho possível era transportá-las por meio de navios árabes da Índia e da China até portos no Egito. Dali, galeras venezianas e genovesas levavam as especiarias até portos do Mediterrâneo (alguns faziam o frete até o norte da Europa).

Esse comércio fez de Veneza a nação mais rica da Europa. Os produtos mais disputados eram: perfumes, condimentos, vinhos especiais, incenso e drogas medicinais.Os lucros eram inigualáveis.

Contudo, em 1453 chegou o fim daquele arranjo comercial internacional. Os turcos tomaram Constantinopla e fecharam a rota até então utilizada.

Importante recordar que a viagem de Cabral fora precedida pela de Vasco da Gama, em 1498, cujo objetivo era abrir o caminho até a região asiática tão desejada. Vasco fora convocado para comandar a esquadra para as Índias, mas recusou-se em face de problemas de saúde.

Pedro tinha 32 anos apenas, mas deveria possuir qualidades excepcionais que o alçaram a líder de empreendimento. Em geral, o capitão das expedições era um nobre e detinha a palavra final em decisões de grande relevo. Mas quem mandava no dia a dia era o piloto principal da frota, quem detinha as decisões de fundo técnico. A esquadra cabralina contava com os melhores pilotos e comandantes que existiam em Portugal.

Portugal nessa época era um pequeno reino cuja população não passava de 1,1 milhão de pessoas. Apesar de diminuto, esse reino havia realizado conquistas fabulosas: em 1415, tomara Cauta, no atual Marrocos. Tentaram manter todo o país sob seu guarda-chuvas, mas era impossível, haja vista os recursos humanos insuficientes. Passaram então a controlar portos estratégicos ao longo da costa africana. Dali,enviavam a Portugal: ouro, marfim, escravos e pimenta. Não era mais necessário cruzar o Saara para realizar esse transporte.

A almejada rota comercial para o Oriente foi um projeto pessoal do infante d. Henrique. O choque causado pelo sucesso de Colombo foi enorme, mas amenizado pelo Tratado de Tordesilhas, que impôs sua linha demarcatória a 370 léguas de Cabo Verde, em vez das 100 propostas inicialmente. De fato, nenhuma linha foi respeitada pelos dois países.

Com o acordo, Portugal ganhava o direito de navegar livremente pelo Atlântico Sul e mantinha suas possessões, já conquistadas: São Jorge da Mina, na Guiné (rico exportador de ouro) e entrepostos na costa ocidental africana, que serviam aos propósitos do rico comerciante lisboeta Fernão Gomes.

Em 1495, morreu D. João II, o Perfeito, provavelmente envenenado. Foi sucedido por D. Manoel, o Venturoso, que reuniu notáveis, buscando saber se seria melhor parar as expedições e concentrar-se nas riquezas que já fluíam para o país; ou continuar com a meta indiana.

A resposta dos conselheiros foi para que mantivesse a busca pelas Índias, mas alguns ajustes deveriam ser feitos: melhores embarcações, que superassem o cabo das Tormentas (passaram a construir caravelas com proas mais altas e menores calados, podendo assim se defender de ondas muito altas, mantendo a capacidade de entrar em enseadas mais rasas).

A expedição de Vasco da Gama havia avaliado previamente as defesas militares de Calicute e previra dificuldades diplomáticas, religiosas e comerciais na região. Percebeu hostilidades vindas de mercadores árabes, bastante incomodados com aqueles europeus recém-chegados, que costumavam ser seus clientes, agora pretendendo abrir concorrência.

A expedição de Cabral partiu com 13 navios e cerca de 1.500 homens. Deveram selar um acordo com o Samorim, fundar uma feitoria nos arredores da cidade e iniciar uma corrente comercial contínua. Sob essa perspectiva, Cabral foi mal sucedido. Quando aportou em Calicute, sua frota se reduzira a menos da metade da configuração inicial.

Vendo suas negociações com o Samorim empacadas (os árabes fizeram de tudo para afundar os planos portugueses), Cabral tomou a decisão de bombardear Calicute. Parte da cidade foi arrasada e muitos consideram essa atitude um grave erro do comandante.    

Portugal sofreu também com espionagens. O famoso mapa de Cantino trazia informações guardadas como segredo de Estado em Lisboa. Provavelmente foram contrabandeadas.

(Continua)


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

sexta-feira, 26 de maio de 2017

A PRIVATIZAÇÃO DA FAZENDA DE SANTA CRUZ E O FIM DA ALDEIA INDÍGENA DE ITAGUAÍ


Embora protegidos por lei, no século XIX um índio poderia ser feito escravo caso fosse derrotado em “guerra justa”. Após a chegada da família Real, em 1808, o príncipe regente decretou guerra contra os índios botocudos de Minas Gerais. Muitos deles foram ameaçados com a escravidão.

Os dóceis que assumissem a religião católica e a viver em aldeias, permaneciam sob a proteção do Rei. Eram reconhecidos como cidadão e, em tese, poderiam assumir qualquer cargo público.

Em geral, a Coroa provia terras de área de 2 léguas quadradas com o fim de conformar patrimônio da aldeia. Era normalmente dada a quem tivesse escravos e recursos suficientes para montar um engenho de açúcar.

Entretanto, não foi isso que ocorreu na Aldeia de Itaguaí. Como se localizava na Fazenda de Santa Cruz, icônica propriedade da Companhia de Jesus, não foram doadas sesmarias. As áreas indígenas deveria ser doadas pela própria Companhia.

Após a expulsão dos jesuítas do Reino, em 1759, suas propriedades passaram à Coroa. Somente quando a Coroa resolveu por privatizar o eficiente engenho estatal de Itaguaí, no fim do século XVIII, percebeu-se que a doação não havia sido realizada.

O resultado dessa omissão foi que os índios lá residentes poderiam ser expulsos sem direito a indenização. Foi exatamente esse cenário que o capitão-mor da aldeia, Jose Pires Tavares, denunciou à rainha Don Maria I, em carta de 1785. Invasores de terras ameaçavam constantemente os índios. O capitão-mor chegou a descrever o conluio entre autoridades e particulares, interessados na expulsão dos índios.

A resposta de Dona Maria I foi favorável aos invasores, pois recomendou que procurassem outro local para erguer sua aldeia, onde contariam com o auxílio estatal. Os índios insistiram e disseram que permaneceriam onde já estavam.

Uma delegação de índios e índias foi despachada para o Rio, onde conseguiram audiência com o vice-rei. Após imploraram apoio à sua causa, foram aprisionados na fortaleza da Ilha das Cobras. Foram quase duas semanas no cárcere.

O ouvidor geral manteve a decisão régia: os índios poderiam ir aonde quisessem, desde que pelo menos a 10 léguas da Fazenda de Santa Cruz.

Passo seguinte, os índios foram presos por soldados e escravos sob o comando do inspetor Manuel Joaquim da Silva e Castro. Foram levados cativos para a Aldeia de Mangaratiba.

José Pires Tavares conseguiu fugir, procurou amigos e conseguiu viajar para Lisboa, em busca de ajuda.
No Rio, autoridades confeccionaram um parecer totalmente desfavorável à causa indígena. Foram qualificados como: bêbados, ladrões e preguiçosos; as índias eram prostitutas, dadas a se deitarem com boiadeiros e soldados que passavam pelas aldeias... Por fim, sugeriam sua transferência para as Aldeias de Mangaratiba ou José Del-Rei.

Por fim, o parecer tratava da questão da titularidade das terras (desfavorável aos índios) e procurava desqualificar o capitão-mor, ao anexar documentos de transferência de propriedade rural, acusando-o de estar interessado apenas em se apossar de terras, torná-las sítios e vendê-las posteriormente.

Esse litígio tomou um rumo totalmente diverso após a chegada do novo vice-rei, conde de Resende. Este era contrário à privatização da Fazenda de Santa Cruz. Preferia que o Estado a explorasse melhor.

O novo vice-rei, portanto, construiu dois engenhos para a produção de açúcar: Itaguai e Piai. Também ergueu uma fábrica de farinha de mandioca. Reativou os currais (havia 17 no total) e diversificou a produção agrícola: milho, feijão, mandioca, anil, café e arroz.

O resultado foram olhares ainda mais ambiciosos em direção à Fazenda. Choveram propostas de compra daquelas terras. Um dos argumentos, ainda hoje repetido à exaustão pelos privatistas, era que o Estado não saberia gerir propriedades rurais... justamente quem a criou!

Por incrível que pareça, tais argumentos tiveram efeito sobre a Fazenda Real, que mandou avaliar a propriedade. No entanto a venda deveria ser precedida de parecer do vice-rei, que foi totalmente contrário à operação. Argumentou que a Fazenda era lucrativa e especialmente importante para fornecer alimentos aos contingentes militares, podendo-se assim evitar os preços especulativos praticados no mercado.  Fez notar ainda a importâncias da madeira de lei existente na Fazenda, como matéria-prima para a construção de embarcações.

Continuando em suas linhas, o conde de Resende desferiu ainda críticas às avaliações feitas pelos peritos. Pareciam a ele bastante coniventes com os interesses dos compradores, posto serem exageradamente baixos.

Resultado: enquanto o conde aqui esteve, a Fazenda esteve protegida, assim como os índios em seu interior.

No entanto o mandato do conde terminou em 1801. Em 1804, a venda foi concluída e os índios, expulsos para uma conservatória (espécie de reserva indígena, sob responsabilidade de um juiz).
  

Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

CLARA NUNES – NÃO SEJA UM NEGRO PAI JOÃO


Trecho da letra da música “Coisa da Antiga”:

(...)
Hoje o olhar de mamãe marejou só marejou
Quando se lembrou do velho, o meu bisavô
Disse que ele foi escravo mas não se entregou à escravidão
Sempre vivia fugindo e arrumando confusão

Disse pra mim que essa história do meu bisavô, negro fujão
Devia servir de exemplo a "esses nego pai João"
Disse afinal que o que é de verdade

Ninguém mais hoje liga
Isso é coisa da antiga
Oi na tina
(...)


https://www.letras.mus.br/clara-nunes/121206/

A GUERRA CONTRA O QUILOMBO DE CABO FRIO


Em 1805 foi preso no armazém de Manuel Ferreira de Santana o preto Domingos. Estava comprando pólvora e chumbo. A suspeita se devia à ocorrência de diversos crimes em Cabo Frio , e ao fato de que diversos quilombolas estavam atacando engenhos, fazendas e pessoas nas estradas.

Após preso, confessou: era quilombola e estava levando aquelas encomendas à sua gente, que se escondia num quilombo, que contava com rei e rainha. Indicou também sua localização.

Quanto ao crime misterioso, Domingos revelou uma trama bem complexa. Disse que foi Manuel Ferreira quem pediu ao rei do quilombo, o preto Joaquim, que eliminasse o filho do soldado Miguel da Silva. Dizia que se tratava de sujeito desaforado e que o traía com outro homem. A recompensa ao bando seria a manutenção do comércio regular com eles.

Os quilombolas delegaram a tarefa a Geremias. Certa noite, entraram no quintal de Miguel da Silva e espantaram suas galinhas. O jovem abriu a porta de sua casa para saber o que estava ocorrendo, quando foi fuzilado. No entanto, o morto foi o pai, não o filho conquistador.

O comandante do regimento, Feliciano José Victorino de Souza fez, então, seus dois primeiros prisioneiros: o preto Domingos e o mandante, Manuel Ferreira de Santana. Foram enviados à Corte, para demais providências.

Feliciano empreendeu guerra contra o quilombo. Fez diversos presos, todos enviados à Capital. Alguns foram presos quando tentavam assaltar o engenho do capitão Antônio Gonçalves. Seis quilombolas conseguiram fugir.

Joaquim, conhecido como rei entre so quilombolas, foi morto numa por seus próprios súditos.

Após inquiridos, os prisioneiros confessaram que Miguel da Silva fora morto por Geremias e Domingos. Confessaram também que tinham matado outros quilombolas, além do rei Joaquim.

A rainha Maria, Geremias, Pedro e mais um tanto de quilombolas foram enviados à “Sala” do vice-rei.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

O ALFAIATE VERSUS O SEU SENHOR – A ALFORRIA PODE CUSTAR MUITO CARO


O pardo Antônio Francisco Granjeiro trabalhava para seu senhor, o capitão Joaquim Vicente dos Reis, na profissão de alfaiate. Habilidoso, trabalhando “nas horas vagas do dia e da noite”, com o apoio da esposa, conseguiu finalmente o dinheiro necessário para pagar sua alforria. Seria finalmente livre e poderia viver do produto do seu trabalho, que tão bem realizava.

Recolheu suas economias, procurou seu senhor e fez a proposta, propondo-se a pagar o valor que o capitão determinasse! Mas a história que se seguiu saiu bastante diferente do que imaginara.

O capitão Joaquim Vicente dos Reis era indecentemente rico. Declarou possuir, em 1799: quatro engenhos (produzia açúcar e aguardente), curral de gado com 43 mil metros quadrados, 900 escravos (na verdade eram mais de 2 mil), 17 imóveis (16 alugados). A capela do engenho era reconhecida para celebrações oficiais. Foi um dos maiores doadores de dinheiro para que Portugal enfrentasse diversas guerras européias, em fins do século XVIII. Era um súdito de “alto coturno” na Corte.

Porém, segundo seus empregados e escravos, Reis era um homem mal, cruel mesmo. Nas suas terras fazia valer suas leis. Construiu um pelourinho em frente à sua capela, onde demonstrava toda a sua brutalidade contra aqueles que julgava indisciplinados. Diversos morreram nesse local.

Após ser denunciado ao vice-rei, Reis foi obrigado a destruir seu pelourinho privado. Mas Granjeiro não parou de espancar seus escravos. Fazia-o do mesmo jeito, no mesmo lugar.

Esses eram os atores da disputa que se seguiu.

A lei da época garantia a liberdade ao escravo que pudesse pagá-la. Mas o capitão Reis não pretendia concedê-la assim tão facilmente – se havia uma coisa de que ele não precisava em maior monta era de dinheiro. Como represália, Reis confeccionou um documento pelo qual doava o escravo alfaiate à Santa Casa de Misericórdia... de Luanda, em Angola!

Percebendo que a demora nos procedimentos de libertação estavam muito morosos, Granjeiro procurou a Justiça, quando foi preso e embarcado compulsoriamente para o seu destino africano.

No entanto, ao aportar em Salvador para uma breve escala, Granjeiro conseguiu fugir do navio e embarcou noutro, que ia para Lisboa. Conseguiu audiência com o príncipe regente D. João, explicou a S. M. os percalços por que passava no Brasil, e obteve sucesso. Aviso régio de 1798 determinava que o conde de Resende avaliasse o valor justo de Granjeiro, para que este efetuasse o pagamento e obtivesse sua tão desejada liberdade.        

Determinou-se também a expedição de seu passaporte: “Manda a Rainha Nossa Senhora que se não ponha impedimento algum a passar para a Bahia, e dali com sua família para o Rio de Janeiro – Antônio Francisco Granjeiro.”

Granjeiro foi avaliado em 153 mil e 600 réis. Pagou tal valor e teve sua sonhada carta de alforria expedida.
Capitão Joaquim não o perdoaria! Só pretendia parar quando fizesse Granejrio retornar ao cativeiro.
Reis fez o juiz ordinário de Campos prender Granjeiro e abrir imediatamente um processo contra ele “para averiguação” das “denúncias” de Reis contra o ex-escravo.

As denuncias acusavam Granjeiro de: ser briguento, desacato, não atender com presteza e cordialidade às ordens recebidas, desordeiro e de omitir à Rainha o fato de que fora doado à Santa Casa de Misericórdia de Luanda. E ainda o acusava de ser fujão.

Não foi difícil a um homem tão poderoso juntar um número significativo de “testemunhas” que corroborassem tudo o que falara.

Preso na cadeia pública do Rio e estando seu processo tramitando no Tribunal da Relação, Granjeiro solicitou averiguar com diversos tabeliães do Rio se havia qualquer registro de ato que o desabonasse. As respostas todas o favoreciam.

Indicou ainda os nomes de sete testemunhas de defesa. Todas inocentavam Granjeiro.

Em face de tantas ilegalidades processuais, Granjeiro solicitou a extinção do processo e o alvará de soltura. O ouvidor e o corregedor da Comarca, desembargador José Albano Fragoso, encerrou o processo, mas não deu o despacho de soltura.

Em Lisboa, a rainha ouviu o Conselho Ultramarino, revogou os atos processuais anteriores, mas confirmou a doação de Granjeiro à Santa Casa de Misericórdia angolana.

Ainda vivendo seu inferno, Granjeiro escreveu a Dom João suplicando que retornasse à sua família.
Seja como for, os atos processuais passaram a ser cada vez mais esparsos. O último, solicita parecer ao conselheiro chanceler da Relação do Rio.

O final da história, ainda é um mistério...
    

Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

quinta-feira, 25 de maio de 2017

SOCIEDADE ESCRAVISTA BRASILEIRA E SUAS IDIOSSINCRASIAS


O regime escravista vigiu no Brasil até 13 de maio de 1888. Extinguiu-se consigo a imagem mal disfarçada do bom cristão, que servia apenas para criar castas de pessoas livres ou não.

Nos séculos XVI e XVII os escravos eram principalmente índios “bravios”, “incivilizados”. O Papa, ao lado dos monarcas ibéricos, acordaram que os índios deveriam permanecer livres. Passaram a ser substituídos por escravos africanos. Além de serem vistos como uma raça diferente dos europeus caucasóides, tiveram a infelicidade de preteritamente terem sido feitos escravos, ainda no distante continente negro, onde eram adquiridos mediante escambo. Isto é, era uma situação mais reconfortante para suas almas atormentadas pela culpa de converterem índios livres em mão de obra forçada.

O comércio de escravos florescia a olhos vistos na cidade do Rio de Janeiro. Em 1583, o governador Salvador Correia de Sá instituiu uma taxa incidente sobre cada escravo posto à venda pelo negociante João Gutierrez Valério.

A concentração cada vez maior de pessoas livres e escravos deu origem a uma sociedade em permanente conflito. Um constante pé de guerra que contagiou a política, a economia, as manifestações culturais e a ética.

Os escravos eram classificados em função de vários fatores. O recém-chegado era referido como escravo-novo. Caso ainda não fosse batizado nem tivesse nome português, era chamado de boçal. A outra classificação dependia do seu porto de embarque na África: moleque de angola, moça de Moçambique, mulher de guiné etc.

Caso se se tratasse de escravo batizado, capaz de se comunicar em português e detivesse alguma habilidade, chamavam-no ladino.

Os escravos nascidos no Brasil eram classificados como crioulos. Os descendentes de negro com branco eram os pardos. Se o pardo tivesse filho com preto, nascia um cabra (homem ou mulher). O filho de pardo com branco era o mulato.

Aos nomes dos escravos ou forros (escravos libertos), acrescentavam-se essas categorias. Mães forras davam à luz filhos livres. Tal qualidade era acrescida a seu nome: Manuel, pardo livre; Anastácia, crioula livre.

Os donos dos escravos eram obrigados a fornecer alimentação, vestuário, abrigo, cuidados caso adoecesse, facultar a religião católica, prover cuidados em sua velhice e, claro, enterrá-lo como um cristão.

A alforria poderia ser alcançada de três maneiras diferentes: gratuita, condicional ou onerosa. A onerosa poderia ser paga mediante dinheiro, trabalho, troca por outro escravo etc.

A alforria deveria ser registrada em cartório, fazendo-se contar no documento a qualidade do senhor, como adquirira o escravo agora liberto, a identificação do ex-escravo e sua qualificação (nome, origem-cor, idade e profissão). Também deveria constar o tipo de alforria realizada, declaração do ex-proprietário, deixando claro que o fazia por livre vontade.

Cerca de 63% das cartas de alforria concedidas o foram a mulheres. Seus filhos já nasceriam livres, independente da condição do pai.

As fugas eram poucas e geralmente o fugitivo procurava uma comunidade no estilo quilombola. Os escravos fugidos eram também chamados de calhambolas, mocambos, quilombolas.

O campeão dos quilombos foi o de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas. Sobreviveu por mais de 100 anos. Após ser derrotado em 1687, o bandeirantes Domingos Jorge Velho conseguiu finalmente destruí-lo dez anos mais tarde.    

As senzalas eram meticulosamente pensadas para que não se trouxessem muitos escravos de uma só nação. Preferiam que viessem de nações inimigas.

Em 25 de julho de 1710, o governador do Rio de Janeiro Francisco de Castro Morais nomeou Antônio de Souza para combater os negros fugidos. Palmares e os vários quilombos surgidos em Minas Gerais assustavam as autoridades da capitania do Rio.

Há referências a quilombos no Rio já em 1625. Os fugidos que praticavam assaltos nas estadas do recôncavo da cidade foram objeto de discussões exacerbadas na Câmara de Vereadores, em 1648.
 O governador Sebastião do Castro Caldas, por volta de 1696, enviou tropas, comandadas pelo capitão Roque Fernandes, para combater um quilombo. Um dos quilombolas morreu no enfrentamento e seu dono protestou, entrando na Justiça e acusando Roque de agir criminosa e deliberadamente. O dono do escravo venceu o litígio e o capitão foi preso.

O governador seguinte achou a situação absurda e protestou ao Rei. A resposta veio na forma da Lei dos Quilombos. Agora, se o quilombola resistisse, poderia ser morto. O capitão foi solto. O novo governador ordenou que a cabeça dos quilombolas mortos fossem a ele enviadas, para exibição pública.

Os quilombos mais numerosos localizavam-se em Bacaxá, onde se defendiam à base de arcos e flechas. Por volta de 1805, foram desbaratados os de Cabo Frio.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

PÁSCOA ANTUNES, MULATA E SENHORA DE ENGENHO


Mulata natural da cidade do Rio de Janeiro, Páscoa Antunes era mulher solteira e sócia do filho e do genro no Engenho Nossa Senhora do Bonsucesso, no ano de 1767.

Seu registro de batismo foi realizado na igreja de Nossa Senhora do Loreto, no bairro de Jacarepaguá, em 1692. Consta no mesmo que era filha da ex-escrava solteira Maria Antunes, africana, e de pai “incógnito”.
Aos 23 anos, a formosa mulata teve uma filha, Florência, em novembro de 1715. Nessa época, Páscoa morava na casa do senhor de engenho coronel João Aires de Aguirre, na freguesia de Santiago de Inhaúma. Era casado, mas não teve filhos desse matrimônio.

Nessa mesma casa, Páscoa deu à luz mais três filhos. Nenhum trazia o nome do pai em sua certidão.

A hipótese de que as crianças fossem filhos de João é fortalecida pelo seu pedido em testamento: que um de seus engenhos fosse vendido por valor abaixo do mercado a seu sobrinho e a dois filhos de Páscoa Antunes. Alguns documentos dos filhos de Páscoa falam claramente em herança deixada pelo pai: João Aires de Aguirre.

Florência se casou com Inácio de Almeida Sampaio, em 1739, mineiro vindo ainda criança ao Rio. Filho bastardo de senhores de engenho da região de Jacarepaguá. Os Sampaio de Almeida representavam uma linhagem iniciada com a vinda do avó, da Bahia, para ajudar na expulsão dos franceses do Rio de Janeiro.

Em 1756, a família de Páscoa tinha acumulado recursos para arrematar em hasta pública um engenho de açúcar, na freguesia de Santiago de Inhaúma, por 26 mil cruzados. Como já tinha idade avançada, doou sua parte ao filho Félix.

Contudo, este filho era indesejado pelos demais, especialmente Inácio de Almeida. Mesmo proibido por sentença do juiz de fora  de freqüentar a propriedade, Felix foi visitar sua mão, ocasião em que foi recolhido preso na cadeia pública da Relação.  

Livrou-se ao assinar compromisso de nunca mais pisar no engenho.

Páscoa, como uma boa mãe, revoltou-se com aquela situação. Denunciou o litígio ao Conselho Ultramarino e pediu permissão para vender sua parte ao filho Felix. Evidentemente tantos traumas levaram embora sua saúde. Instituiu seu testamento em janeiro de 1779 e faleceu em março do mesmo ano.

Dos bens que deixara, 600 mil réis (preço de um bom imóvel na cidade) foram gastos em missas pela sua alma e de seus familiares. Doou ainda 6 mil e 400 réis às igrejas de Inhaúma e Jacarepaguá.

Declarou que seu filho Custódio devia-lhe 250 mil-réis e tinha dois escravos pertencentes a ela. Deveria Custódio dar conta da dívida e dos escravos aos demais filhos.  

Páscoa não chegou e exibir o mesmo sucesso de Chica da Silva, mas teve um destino bem melhor do que o das demais mulheres de sua etnia.  


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

A MULATA E O BOÊMIO - O RIO DE JANEIRO, COMO SEMPRE FOI...


Dono de engenho na região de Angra dos Reis, o capitão-mor João Pimenta de Carvalho e sua família representavam a elite local. Ricos, sonhavam que seu filho mais novo, Pedro Pimenta de Carvalho, abraçasse a vida sacerdotal e se tornasse o pároco da Igreja matriz da vila de Angra.

Concluídos os estudos de primeiras letras, seus pais o encaminharam para o Seminário de Nossa Senhora da Lapa do Desterro, localizado no atual bairro da Lapa.

Foi com muita tristeza que seus pais receberam a notícia de que o filho Pedro havia abandonado os estudos de seminarista e gastava a mesada que seus pais lhe enviavam com as “fadistas”. A boemia era o seu lugar.
Suspensa a mesada Pedro conseguiu se manter na cidade após obter emprego como escrevente de cartório. Viva na pobreza e teve de vender os poucos bens que possuía.

Boêmio, faleceu jovem, com cerca de 40 anos de idade.

Após sua morte, descobriu-se que as duas filhas bastardas tidas com a parda Anna Quaresma teriam direito a parte no espólio dos pais de Pedro, que também tinham falecido. No momento da abertura do inventário, soube-se que tanto Anna Quaresma quanto uma das filhas também estavam mortas. A herdeira única era a mulata Inácia Tereza, que logo solicitou o reconhecimento de filiação e sua conseqüente qualificação como herdeira. Tratava-se da pequena fortuna de 1/7 do patrimônio de pessoas riquíssimas.

Em defesa de seus interesses, Inácia declarou que seus pais viveram “por muito tempo ilícita amizade, sendo ambos solteiros, livres e desimpedidos, sem parentesco e nem impedimento para poderem casar.”

No entanto, os filhos oficiais e herdeiros já qualificados não queriam ver aquela mulata abocanhando parte do patrimônio de seus pais. Em defesa de seu pleito, declararam que a relação de Pedro com Anna Quaresma era contestável, acusando-a de ser prostituta, tendo, portanto relação com diversos homens.

A contrarrazão sagaz argumentava que “suposto seja parda, era quando conceber a autora (Inácia Tereza), ainda rapariga (jovem) de pouca idade, sem nota no seu procedimento, de sorte que o pai Pedro Pimenta foi quem a desonestou”.  Além disso, Anna não “teve relação com outro homem algum” durante o período em que se relacionaram.

Quanto ao argumento de que Pedro não a sustentava, não a vestia nem tinha a levado à casa dos pais, replicou-se que Pedro era um jovem estudante que “só comia e vestia aquilo que o pai lhe mandava da roça.”

Inácia teve ainda o providencial reforço dos testemunhos de 13 moradores da vila de Angra dos Reis. O cuidado despendido na escolha das testemunhas era elogiável. A mais nova tinha 41 anos, enquanto a mais velha contava 81 anos de idade. Portanto eram contemporâneas da época em quem os jovens se relacionaram.

Concluídos os autos, Inácia teve reconhecido seu direito ao naco da herança em litígio.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”    


quarta-feira, 24 de maio de 2017

O CASAMENTO DA VIÚVA E A MORTE DO CAIXEIRO


Um evento deixou a cidade do Rio de Janeiro em polvorosa. Don Bárbara Barreto iria se casar pela segunda vez. Era viúva do poderoso capitão Antônio de Moura, ex-provedor da Fazenda Real.

O noivo da vez se chamava Amaro Fernandes, caixeiro, pobre e filho de plebeus, era natural de Braga, Portugal. Como se isso não bastasse, Amaro tinha menos de 25 anos, enquanto Bárbara contava 66.
Outra fonte de comentários maliciosos foi o fato de a cerimônia ter sido bastante apressada, tendo-se dispensado ao noivo a apresentação de certidão de batismo e comprovação de solteiro. Essa pendência só sanada com o pagamento de fiança e declaração de testemunhas.

A família de Dona Bárbara foi absolutamente contra o matrimônio. Sua filha, Catarina de Moura, era a mais indignada de todas.  

Finalmente, a cerimônia ocorreu em 14 de julho de 1724.

Logo após, sem maiores explicações ou razão aparente, Amaro foi preso e jogado na medieval e imunda cadeia pública.

A saída encontrada por Amaro foi escrever ao príncipe regente, suplicando-lhe ajuda e denunciando o absurdo por que passava.

Em 7 de dezembro de 1725, chagou a misericordiosa missiva de dom João que, em nome da rainha, mandava que o governador Luís Vahia Monteiro soltasse imediatamente Amaro e convocar todas as pessoas que Amaro listara como possíveis autores da arbitrariedade.

Os principais nomes apontados por Amaro era os familiares de sua esposa: Julião Rangel, escrivão da Câmara de Vereadores, e Sebastião de Sampaio Sande. Todos foram comunicados de que Amaro agora se encontrava sob proteção real.

O ódio mortal contra Amaro não respeitou sua condição de protegido da Príncipe e este foi alvo de mais um atentado. Recebeu vários tiros. Um deles o atingiu, mas Amaro sobreviveu.

Mais uma vez Amaro denunciou o ocorrido em carta, desta vez endereçada ao governador.
Em resposta, Vahia Monteiro mandou que o ouvidor geral coletasse as assinaturas das pessoas apontadas pelo denunciante.

Cerca de 20 dias após a ordem do governador, um bando invadiu a fazenda onde se encontrava Amaro, ainda convalescendo da última agressão, e, armados de facas e catanas, matou Amaro, além de retalhar seu corpo e membros.

O governador se enfureceu com o juiz de fora, criticando seu trabalho de apuração desde as primeiras tentativas de assassinar de Amaro.

Vahia enviou o sargento-mor Pedro de Azambuja, acompanhado de 150 homens, à região do homicídio, entre Niterói e São Gonçalo atuais. A ordem era para que prendessem os criminosos.

Quando depararam com suspeitos, estes tentaram fugir. Mas um deles, o capitão de cavalos Domingos Morato Roma foi capturado. Após vasculharem a mata do entorno, surpreenderam Don Catarina de Moura, ao lado de um negro, ainda com as mãos sujas de sangue.

Era já de conhecimento amplo que Catarina era a provável mandante do homicídio de Amaro. Importante notar que a ex-esposa de Amaro, Dona Bárbara, já se encontrava presa por ordem do governador.
Como o processo andava a passos de tartaruga, o governador entrou em atrito com o ouvidor-geral Manuel da Costa Mimoso. Aliás, não era a primeira vez de Vahia Monteiro se queixava da lentidão da Justiça do Rio de Janeiro.

As críticas do governador chegaram ao rei, que ordenou ao ouvidor-geral sanar as causas da insatisfação do governador. A resposta do ouvidor-geral foi rápida, na forma de um relatório em que elencava os feitos da Justiça até aquele momento.

Em resumo, o aspecto geral do caso, até o dia de 25 de julho de 1729, era essa: dona Bárbara Barreto fora condenada ao pagamento de 800 mil réis, ao Tribunal da Relação; Catarina falecera na cadeia; Sebastião de Sampaio Sande foi condenado ao pagamento de multa e ao degredo; o crioulo Gerônimo, escravo de Catarina, foi condenado a açoites e ao degredo para a colônia de Sacramento (atual Uruiguai); o outro escravo, João Crioulo, foi condenado à morte por enforcamento. Outros três denunciados foram absolvidos. Seis outros estavam foragidos até então.

Assim se castigava quem fugia do establishment...     


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”     

SOCIEDADE COLONIAL BRASILEIRA – CADA MACACO NO SEU GALHO


A estrutura social do Brasil colonial seguia o modelo colonizador português, excetuados apenas os “índios bravios” e os poucos estrangeiros aqui residentes.

Havia uma minúscula elite, composta por portugueses que possuíam títulos nobiliárquicos concedidos pela metrópole, estrangeiros a serviço da Coroa e por brasileiros, os chamados nobres da terra, igualmente agraciados por títulos em função de seus feitos em terra brasilis.

A esses eram reservados os postos na administração pública, o oficialato militar e cargos eclesiásticos. Eram exemplos de tais postos: ouvidores, desembargadores, diretores de empresas, comandantes, bispos etc.
Aqueles que não possuíam títulos, fossem ricos ou pobres, poderiam obtê-lo (em geral, o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo) por meio do diploma universitário (especialmente o obtido em Coimbra), ou por alcançar alguma conquista excepcional em nome do Rei (podendo ter sido o feito realizado por algum antepassado). O pedido era analisado e poderia ser concedido ou não.

Esse pedido poderia ser feito por qualquer um, até mesmo aqueles preconceituosamente classificados como “gente de infecta nação”: negros, cristãos-novos (em geral, judeus), mouros, ciganos ...

Os índios puderam ser feitos escravos até por volta do século XVII. Desde então restou vedada tal prática, após acordo entre os monarcas português e espanhol. Passaram então à condição de cidadãos vassalos do rei luso.

Existiam aqueles que eram ricos, porém destituídos de títulos. A esses, restava viver de maneira fausta, fazendo questão de assim serem notados. Era essencial a eles possuírem ao menos três residências: uma localizada na cidade, normalmente um sobrado de alto estilo, numa rua central da urbe; uma casa de campo, numa chácara localizada no subúrbio, porém próxima de um centro urbano, onde dispunham de belos jardins, pomares, quartos para hóspedes etc.; e uma casa rural, sede de sua imensa fazenda.

Era igualmente importante contar com uma capela, em pelo menos uma das residências, tanto melhor se fosse reconhecida como hábil à celebração de atos litúrgicos de missa, batizados, casamentos...

Outra ocasião importante para inscrever seu nome na lista de “homens bons” (isto é, habilitados a exercer o cargo de vereador) era o trajeto entre a chácara e a cidade. Era quando se exibiam riqueza e o comportamento nobre: veículos de alto padrão, números de animais, luxuosos arreios, quantidade de escravos a seu dispor, criados e vestimentas que os adornavam...

Na escala social, abaixo dos restritos “elitizados”, encontravam-se os plebeus livres (forros ou libertos). Por algum motivo, haviam escapado do cruel destino da escravidão.

Em 1796, a capitania do Rio de Janeiro contava com 182.757 pessoas: 39,92% brancos; 10,48% pardos libertos; 3,60% pretos livres e 46% escravos (pretos ou pardos). No total, havia cerca de 84 mil escravos.
Outro fator de conformação da sociedade eram as confrarias. Recebiam diversos nomes: irmandades, ordem terceira, maçonaria etc. Exerciam funções culturais, religiosas, de sociabilidade e de proteção aos mais necessitados.

As confrarias ligadas ao exercício de uma profissão procuravam proteger o mercado de trabalho de seus membros. Faziam parte desse grupo as irmandades: de São José (pedreiros, carpinteiros...), de São Jorge (ferreiros, latoeiros...), a dos alfaiates, dos ourives, dos sapateiros etc.

Tais confrarias erigiram as mais belas igrejas do Rio de Janeiro, todas regiamente decoradas.
Era assim que as pessoas garantiam também um enterro digno, com direito à celebração de missas em sua memória, cortejo com acompanhamento do pároco etc.

Essas irmandades também procuravam assegurar a alforria dos membros pretos e pardos.

Em festas e procissões, cada confraria ocupava uma posição no cortejo compatível com sua posição na hierarquia da Igreja.

Os preconceitos consolidados na sociedade transpareciam nos estatutos das confrarias. As de brancos eram vedadas a negros, miscigenados, cristãos-novos, ciganos etc. As de negros eram franqueadas a brancos, mulatos; A Irmandade de Santa Cecília, protetora dos músicos, eram integralmente democrática: entrava qualquer pessoa, fosse músico, amante da música, músico amador...

Intelectuais se organizavam em torno de Academias, literárias ou científicas. Serviam para reuniões, para assistir a uma palestra de um cientista importante, para discussões astronômicas, ministradas por brasileiros ou estrangeiros.

O Rio de Janeiro do século XVIII contava com a Academia dos Felizes, Academia dos Seletos, Academia Científica, Sociedade Literária.

A história do teatro em terra brasilis se iniciou no século XVI, com os autos jesuíticos. As festas públicas ocorridas na cidade tinham uma programação mais ou menos rígida: procissão, espetáculos pirotécnicos, touradas, corrida de argolinhas e teatro. A primeira companhia de teatral data de 29 de novembro de 1719. Tinha como objeto a apresentação de peças religiosas e o presépio natalino.

Em 1748, a cidade contava com uma casa de espetáculos para 332 pessoas e 14 camarotes, localizado na rua da Alfândega. O proprietário desta casa abriu uma segunda, por volta de 1757, ao lado do atual Paço Imperial. O primeiro passou a ser chamado de Ópera Velha, em oposição ao segundo, agora Ópera Nova. O Ópera Velha foi destruído num incêndio em 1769, quando era encenado “Os encantos de Medeia”, de Antônio José da Silva.

Após a chegada da Família Real, em 1808, inaugurou-se um novo teatro, em 1813, localizado na então Praça do Rocio, atual Praça Tiradentes. Com isso, o Ópera Nova foi anexado ao palácio de dom João, nova função do Paço Imperial, anteriormente residência do conde de Bobadela.    

O Concílio de Trento estabelecera, no século XVI, que a educação das crianças era dever de todos os pais católicos, mas, especialmente, do padre da paróquia local. Era importante que se fosse alfabetizado para que se pudesse praticar a fé de maneira correta, conforme a Bíblia e demais livros sagrados. As aulas na cidade do Rio poderiam ser tomadas nas Ordens (franciscanos, carmelitas, beneditinos, orfanato de São Joaquim para os meninos pobres e a dos jesuítas, até 1759, quando foram expulsos. As aulas eram focadas em alfabetização, contar e religião, no entanto apenas para meninos. As freiras do convento da Ajuda e do recolhimento da Santa Casa de Misericórdia ministravam aulas para as meninas.

A partir de 1760, após a extinção compulsória das atividades dos jesuítas em Portugal, nasceu a educação pública. Os professores passaram a ser remunerados pelos cofres Reais, que passaram a ministrar o ensino público e gratuito nos mais diversos níveis: primeiras letras, gramática, latim, grego, retórica, filosofia e, posteriormente, cirurgia e belas-artes.

Arquitetura militar, civil, matemática, ciências naturais, topografia, dentre outras matérias, eram ensinados na Academia de Fortificações do Exército. Atualmente essas funções estão divididas entre a Escola Militar e a Escola de Engenharia.

Profissões como artífices, músicos e artistas eram aprendidas com os mestres, vinculados às irmandades.
A leitura gratuita de livros, jornais e almanaques poderia ocorrer nas bibliotecas das ordens religiosas, nas bibliotecas dos professores, naquelas dos cursos dos mestres de ofícios, além das equivalentes particulares.

Havia diversas livrarias nas cidades. Mas a aquisição de livros poderia ocorrer também pelo correio, encomendados a livreiros em Lisboa.

Quanto aos escravos, sua educação e instrução profissional dependiam do interesse de seu senhor. Se a instrução do escravo permitia aumentar seu nível de produtividade por um lado, por outro aumentava suas chances de se libertar (alforria).     

Os casamentos ocorriam geralmente entre pessoas da mesma classe social e cor de pele, mas não eram raros os inter-raciais. Contudo, eram mais raros os casamentos entre brancas e negros (o oposto era bem mais comum).


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial”