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sexta-feira, 29 de junho de 2018

TREM DE DOIDO, SÔ! CLUBE DA ESQUINA



TREM DE DOIDO – LÔ BORGES; LETRA DE MÁRCIO BORGES

Quando existia o Hospital Colônia de Barbacena, maior hospício do Brasil e mais insalubre do que Campo de Concentração de prisioneiros de guerra – tinha 200 vagas, mas chegou a abrigar mais de 5 mil infelizes almas -, o encaminhamento dos doentes se dava, em geral, por meio de trens. Daí surgiu a expressão “trem de doido”.
Os “doidos” vinham de toda parte, e sua internação, após um Decreto de Getúlio Vargas, carecia apenas da apresentação de um Atestado Médico. Milhares de denúncias revelavam que muitos daqueles pacientes eram alcóolatras, esposas traídas e internados para que seu marido se casasse com a amante, moradores de rua, mães solteiras e muitos outros que somente enlouqueceram após aportarem naquela “sucursal do inferno”, como foi chamado num matéria jornalística.
A letra da canção abaixo, gravada no disco Clube da Esquina, fala de mudanças e usa o hospício mineiro como metáfora.


Noite azul, pedra e chão
Amigos num hotel
Muito além do céu
Nada a temer, nada a conquistar
Depois que este trem começa a andar, andar
Deixando pelo chão os ratos mortos na praça
Do mercado

É sabido que os membros do Clube da Esquina deixaram sua Minas natal em direção ao Rio de Janeiro num trem. Os dois primeiros versos parecem descrever uma noite enluarada, um quarto de hotel, onde os amigos da banda se aglomeravam. Os versos seguintes falam do sonho que tinham de fazerem sucesso no distante (horas de viagem de trem) Rio de Janeiro (cidade grande se comparada à recentemente construída Belo Horizonte).
Os versos que falam dos ratos na praça do Mercado fazem referência aos locais boêmios que os músicos frequentavam em BH.

Quero estar onde estão
Os sonhos desse hotel
Muito além do céu
Nada a temer, nada a combinar
Na hora de achar o meu lugar no trem
E não sentir pavor dos ratos soltos na praça
Minha casa

Os dois primeiros versos dessa estrofe falam da ansiedade de chegar ao almejado destino: RJ. Os seguintes, falam da coragem necessária para aquela mudança. A palavra trem parece assumir outra conotação, talvez se referindo ao lugar que desejavam ocupar no cenário musical brasileiro.
Os ratos agora estão na casa que ficou para trás. Casa é a mesma BH, mas tratada agora como lar, com mais afeto.

Não precisa ir muito além dessa estrada
Os ratos não sabem morrer na calçada
É hora de você achar o trem
E não sentir pavor dos ratos soltos na casa
Sua casa

O primeiro verso, aqui, faz uma espécie de conselho para que outros sigam o exemplo dado pelos jovens músicos. Os ratos, aqui, fazem referência Às pessoas, que não sabem morrer no mesmo local onde nasceram. Elas morrem nas ruas, em movimento, seguindo para um destino.  
Achar o trem seria o mesmo que buscar seu destino, seguir seus desejos e instinto.
Os dois últimos falam dos medos, das incertezas que temos de tomarmos grandes decisões.

Quero estar onde estão
Os sonhos desse hotel
Muito além do céu
Nada a temer, nada a combinar
Na hora de achar o meu lugar no trem
E não sentir pavor dos ratos soltos na praça
Minha casa

Não precisa ir muito além dessa estrada
Os ratos não sabem morrer na calçada
É hora de você achar o trem
E não sentir pavor dos ratos soltos na casa
Sua casa


Rubem L. de F. Auto

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