No final do século XIX, após estudarem as ruínas de um
grande complexo real, com suas magníficas torres e seus imponentes muros de
pedra, batizado de Grande Zimbábue, os exploradores europeus logo pensaram
trata-se de obras de fenícios ou árabes, nunca poderiam conceber que aqueles
africanos que os rodeavam teriam sido capazes de tal empreitada.
O mesmo impacto tiveram as belíssimas cabeças de bronze de Ifé,
na atual Nigéria. Datadas do período entre os séculos XII ao XVI, superavam
praticamente qualquer coisa construída pelos europeus no mesmo período.
Mas as pesquisas arqueológicas só faziam confirmar a
existência de reinos prósperos e poderosos na África, no período correspondente
à Idade Média europeia. E esses não eram os únicos reinos e impérios
subsaarianos erguidos antes da Idade Moderna.
Na verdade, foi na África que surgiram os primeiros
ancestrais dos atuais seres humanos, cerca de 4 milhões de anos atrás. Há 2
milhões de anos, bandos de Homo Erectus tomaram outros rumos, migrando para
Europa e Ásia.
Os seres humanos modernos, os Homo Sapiens Sapiens, também
se originaram na África, cerca de 200 mil anos atrás. Há cerca de 100 mil anos,
começaram suas migrações em direção à Europa, Ásia, Austrália e Américas,
transformando o mundo num lar.
Cerca de 5 mil anos a.C., o Planeta passou por mudanças
climáticas drásticas, que levaram ao surgimento do Deserto do Saara. Esta faixa
de terra quase inabitável dividiu os africanos em duas porções de terra, ao
norte e ao sul do Deserto.
Os povos ao norte se integraram ao mundo Mediterrâneo e seus
arredores. Ali viveram povos que tomaram parte no Antigo Egito, Cartago, Roma, e
nos Impérios Árabe e Otomano.
Os povos ao sul do Deserto (região conhecida como Sahel)
viveram sua história independente do que ocorria ao norte. Por volta de 4 mil a.C.,
agricultores ali se estabeleceram. Cerca de 1.000 a.C, na África Ocidental, desenvolveram
a fundição de ferro.
Rotas comerciais ligando o norte, e seus comerciantes nômades,
ao sul, habitado por povos da floresta, surgiram e deram origem a assentamentos
numerosos. Entre 2 mil e 1.500 anos atrás, outra migração, conhecida como
Migração Bantu, levou agricultores da Idade do Ferro a se espalharem pelo
sudeste da África Ocidental. Em consequência disso, povos nativos foram
deslocados: os pigmeus se refugiaram nas florestas e os povos do sul foram
empurrados para o Deserto do Kalahari.
A ligação entre norte e sul do Deserto do Saara nunca fora
completamente estanque. O rio Nilo ligava o Egito dos faraós à Núbia (norte do
atual Sudão). A Núbia era foi conquistada pelo Egito 2 mil a.C., e sua
influência foi tal que alguns dos últimos faraós eram descendentes de núbios.
Esses mesmos núbios fundaram, em 100 d.C., o Império Axum,
banhado pelo Mar Vermelho. Este Império se estendeu em direção ao interior do
continente, dando forma ao reino da Abissínia, atual Etiópia. Convertido ao
cristianismo no 4ª século d.C., manteve-se relativamente preservado até a
ocupação italiano entre 1935 e 1941.
Já o islamismo conquistou rapidamente todo o norte da África
no século VII d.C., tomou o rumo do sul e no século XI chegou ao Sahel. Com o
tempo, a religião árabe chegou aos portos da costa leste da África, como
Mombasa, uma das feitorias fundadas por navegadores árabes.
Pois bem, foi a riqueza acumulada por meio do comércio de
ouro com os árabes, a partir de portos da costa leste da África, que permitiu o
erguimento do Grande Zimbábue, nos séculos XIV e XV. Outros reinos subsaarianos
se beneficiaram do comércio de marfim e escravos. Foi o caso do Império de
Gana, do Império do Mali, Songhai e Kanem-Bornu. Todos erguidos entre os séculos
XIII e XVII.
A partir do século XV, uma hecatombe preparava seus
primeiros passos para se abater sobre a África. Portugueses criavam, uma após
outra, feitorias na costa atlântica da África. Seguidos por holandeses,
franceses e ingleses, desejavam adquirir escravos para suas fazendas na
América. Diversos reinos prosperaram à base desse comércio obsceno: Benin, Oyo,
Ashanti.
Esta passagem trágica para os africanos ficou conhecida como
Holocausto Africano, na qual milhões de seres humanos foram traficados para as
Américas, devastando seu continente natal. Destroçada, a África estava agora de
portas abertas para o domínio colonial que se lhe abateria no século XIX.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “50 Ideias de História do Mundo...”
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