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segunda-feira, 18 de junho de 2018

RUÍNAS DE IMPÉRIOS E O HOLOCAUSTO NEGRO



No final do século XIX, após estudarem as ruínas de um grande complexo real, com suas magníficas torres e seus imponentes muros de pedra, batizado de Grande Zimbábue, os exploradores europeus logo pensaram trata-se de obras de fenícios ou árabes, nunca poderiam conceber que aqueles africanos que os rodeavam teriam sido capazes de tal empreitada.

O mesmo impacto tiveram as belíssimas cabeças de bronze de Ifé, na atual Nigéria. Datadas do período entre os séculos XII ao XVI, superavam praticamente qualquer coisa construída pelos europeus no mesmo período.

Mas as pesquisas arqueológicas só faziam confirmar a existência de reinos prósperos e poderosos na África, no período correspondente à Idade Média europeia. E esses não eram os únicos reinos e impérios subsaarianos erguidos antes da Idade Moderna.

Na verdade, foi na África que surgiram os primeiros ancestrais dos atuais seres humanos, cerca de 4 milhões de anos atrás. Há 2 milhões de anos, bandos de Homo Erectus tomaram outros rumos, migrando para Europa e Ásia.

Os seres humanos modernos, os Homo Sapiens Sapiens, também se originaram na África, cerca de 200 mil anos atrás. Há cerca de 100 mil anos, começaram suas migrações em direção à Europa, Ásia, Austrália e Américas, transformando o mundo num lar.

Cerca de 5 mil anos a.C., o Planeta passou por mudanças climáticas drásticas, que levaram ao surgimento do Deserto do Saara. Esta faixa de terra quase inabitável dividiu os africanos em duas porções de terra, ao norte e ao sul do Deserto.

Os povos ao norte se integraram ao mundo Mediterrâneo e seus arredores. Ali viveram povos que tomaram parte no Antigo Egito, Cartago, Roma, e nos Impérios Árabe e Otomano.  
Os povos ao sul do Deserto (região conhecida como Sahel) viveram sua história independente do que ocorria ao norte. Por volta de 4 mil a.C., agricultores ali se estabeleceram. Cerca de 1.000 a.C, na África Ocidental, desenvolveram a fundição de ferro.

Rotas comerciais ligando o norte, e seus comerciantes nômades, ao sul, habitado por povos da floresta, surgiram e deram origem a assentamentos numerosos. Entre 2 mil e 1.500 anos atrás, outra migração, conhecida como Migração Bantu, levou agricultores da Idade do Ferro a se espalharem pelo sudeste da África Ocidental. Em consequência disso, povos nativos foram deslocados: os pigmeus se refugiaram nas florestas e os povos do sul foram empurrados para o Deserto do Kalahari.

A ligação entre norte e sul do Deserto do Saara nunca fora completamente estanque. O rio Nilo ligava o Egito dos faraós à Núbia (norte do atual Sudão). A Núbia era foi conquistada pelo Egito 2 mil a.C., e sua influência foi tal que alguns dos últimos faraós eram descendentes de núbios.

Esses mesmos núbios fundaram, em 100 d.C., o Império Axum, banhado pelo Mar Vermelho. Este Império se estendeu em direção ao interior do continente, dando forma ao reino da Abissínia, atual Etiópia. Convertido ao cristianismo no 4ª século d.C., manteve-se relativamente preservado até a ocupação italiano entre 1935 e 1941.

Já o islamismo conquistou rapidamente todo o norte da África no século VII d.C., tomou o rumo do sul e no século XI chegou ao Sahel. Com o tempo, a religião árabe chegou aos portos da costa leste da África, como Mombasa, uma das feitorias fundadas por navegadores árabes.

Pois bem, foi a riqueza acumulada por meio do comércio de ouro com os árabes, a partir de portos da costa leste da África, que permitiu o erguimento do Grande Zimbábue, nos séculos XIV e XV. Outros reinos subsaarianos se beneficiaram do comércio de marfim e escravos. Foi o caso do Império de Gana, do Império do Mali, Songhai e Kanem-Bornu. Todos erguidos entre os séculos XIII e XVII.

A partir do século XV, uma hecatombe preparava seus primeiros passos para se abater sobre a África. Portugueses criavam, uma após outra, feitorias na costa atlântica da África. Seguidos por holandeses, franceses e ingleses, desejavam adquirir escravos para suas fazendas na América. Diversos reinos prosperaram à base desse comércio obsceno: Benin, Oyo, Ashanti.

Esta passagem trágica para os africanos ficou conhecida como Holocausto Africano, na qual milhões de seres humanos foram traficados para as Américas, devastando seu continente natal. Destroçada, a África estava agora de portas abertas para o domínio colonial que se lhe abateria no século XIX.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “50 Ideias de História do Mundo...”

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