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terça-feira, 19 de junho de 2018

A PERSONALIDADE AUTORITÁRIA: CARACTERÍSTICA OU DOENÇA?



Terminada a II Guerra Mundial, surgia um questionamento relevante: que tipo de pessoa concordou com a ideologia nazista e tomou parte no holocausto judeu? Um grupo de cientistas sociais liderados por Theodor Adorno publicou suas conclusões no livro “A personalidade autoritária”, em 1950.

O argumento da obra segue mais ou menos essa linha: Os pais promovem o autoritarismo punindo e humilhando seus filhos, intensa e frequentemente, mesmo nas faltas mais insignificantes. Isso leva as crianças e desenvolverem repulsa pelos pais e por todas as figuras de autoridade ou de poder. Mas a criança termina por reprimir esse sentimento de repulsa por temerem inconscientemente mais punições. Ao lado desse conflito, instala-se outro, decorrente da dependência que as crianças têm dos pais, a quem deveriam amar. Resulta disso tudo que o antagonismo reprimido é projetado contra os membros mais fracos da sociedade.

Em geral, pessoas autoritárias são etnocêntricas, no sentido de crerem na superioridade do grupo “racial” ao qual pertencem sobre os demais. Surgem daí sentimentos de brutalidade, agressividade e de preconceito declarado.

O argumento acima exposto sofre duas críticas principais: o comportamento autoritário possui outras origens, também; o comportamento preconceituoso também possui outras influências.

Pois bem. Os cientistas também observaram que pessoas autoritárias evitam situações que os façam encarar ambiguidades ou incertezas; e também repudiam a crença de que uma mesma pessoa pode reunir atributos positivos e negativos, simultaneamente.

Outra característica apontada nas pessoas autoritárias é o desinteresse por questões políticas; são pouco engajados em atividades comunitárias; têm preferência por líderes fortes.

Sendo o comportamento autoritário o objeto do estudo em apreço, nada mais natural do que desenvolver-se uma ferramenta de medida: a mais conhecida é a escala F, publicada nessa obra. Objetivando avaliar o preconceito e o pensamento rígido nas mentes autoritárias, elenca nove fatores e frases comuns que resumem bem o fator avaliado:

- Convencionalismo: “A obediência e o respeito à autoridade são as virtudes mais importantes que as crianças devem aprender”;

- Submissão autoritária: “Os jovens às vezes têm ideias rebeldes, mas, quando crescem, eles devem superar a rebeldia e sossegar.”

- Agressão autoritária: “Dificilmente seria possível esperar que uma pessoa que tem maus modos, maus hábitos e origens ruins conviva com pessoas decentes.”

- Sexo: “Os homossexuais não são muito melhores do que os criminosos e devem ser severamente punidos.”

- Anti-intracepção: “O empresário e o industrial são muito mais importantes para a sociedade do que o artista e o professor.”

- Superstição e estereotipia: “Um dia provavelmente será provado que a astrologia pode explicar muito.”

- Poder e obstinação: “Nenhuma fraqueza ou dificuldade pode nos deter se tivemos força de vontade.”

- Destrutividade e cinismo: “Considerando a natureza humana, sempre haverá guerras e conflitos.”

- Projetividade: “A maioria das pessoas não se dá conta do quanto a nossa vida é controlada por maquinações tramadas em segredo.”


Portanto o autoritarismo é uma síndrome (isto é, doença) atitudinal, que carregada consigo conceitos diferentes, como conservadorismo, dogmatismo, etnocentrismo e preconceito, deflagrada por fatores genéticos/hereditários ou por fatores ambientais, e que leva a uma susceptibilidade generalizada, fazendo o sujeito se sentir ansioso ou ameaçada diante de ambiguidades e incertezas.

As pessoas autoritárias tendem a se sentir inferiores e inseguras, por isso evitam a incerteza e rejeitam pessoas ou coisas que promovam a complexidade, a inovação, a novidade, o risco e a mudança. Obedecem a regras, normas, convenções e, mais relevante, exigem que todas as pessoas façam o mesmo. Evitam conflitos e tomadas de decisão e tendem a ceder seus sentimentos e necessidades pessoais a uma autoridade externa.

Conservadores e autoritários externalizam suas crenças por meio de uma obsessão por dar ordens e por controlar seu mundo e o dos demais. Apreciam deveres, leis, morais, obrigações e regras simples, rígidas e inflexíveis – e isso define o tipo de arte que os atrai e em quem normalmente votam.

Pessoas autoritárias, dogmáticas e intolerantes apresentam características comuns: rejeitam ideias que se opõem às suas; apresentam pouca conectividade entre suas crenças.

Em tempos mais recentes, o autoritarismo mais estudado é o de direita – em oposição ao autoritarismo de fundo stalinista ou trotskista. As conclusões levaram a crer que o autoritarismo de direita se caracteriza por: completa submissão às autoridades; agressividade elevada contra os inimigos dessa autoridade; obediência cega a normas e convenções sociais. São características resultantes dessas pessoas: absolutistas, bullies, dogmáticas, hipócritas e fanáticas. Defendem ardorosamente o punitivismo e não confiam em liberais/libertários (na concepção original dos termos). Não questionam suas ideias e costuma ser incoerentes e contraditórios – embora defendam, por vezes, dois pesos e duas medidas, vêem-se numa posição moralmente superior à dos demais.

Questionários distribuídos a pessoas em avaliações quanto ao grau de dogmatismo dos respondentes trouxeram como exemplos de afirmações típicas as seguintes:

- “Neste nosso mundo complicado, o único jeito de saber o que está acontecendo é contar com a orientação de líderes ou especialistas que podem ser confiáveis.”

- “Existem dois tipos de pessoas nesse mundo: as que são a favor da verdade e as que são contra a verdade.”

- A maioria das pessoas simplesmente não sabe o que é bom para elas.”


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “50 Ideias de Psicologia”

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