Terminada a II Guerra Mundial, surgia um questionamento
relevante: que tipo de pessoa concordou com a ideologia nazista e tomou parte
no holocausto judeu? Um grupo de cientistas sociais liderados por Theodor
Adorno publicou suas conclusões no livro “A personalidade autoritária”, em
1950.
O argumento da obra segue mais ou menos essa linha: Os pais
promovem o autoritarismo punindo e humilhando seus filhos, intensa e
frequentemente, mesmo nas faltas mais insignificantes. Isso leva as crianças e
desenvolverem repulsa pelos pais e por todas as figuras de autoridade ou de
poder. Mas a criança termina por reprimir esse sentimento de repulsa por
temerem inconscientemente mais punições. Ao lado desse conflito, instala-se outro,
decorrente da dependência que as crianças têm dos pais, a quem deveriam amar.
Resulta disso tudo que o antagonismo reprimido é projetado contra os membros
mais fracos da sociedade.
Em geral, pessoas autoritárias são etnocêntricas, no sentido
de crerem na superioridade do grupo “racial” ao qual pertencem sobre os demais.
Surgem daí sentimentos de brutalidade, agressividade e de preconceito declarado.
O argumento acima exposto sofre duas críticas principais: o
comportamento autoritário possui outras origens, também; o comportamento
preconceituoso também possui outras influências.
Pois bem. Os cientistas também observaram que pessoas
autoritárias evitam situações que os façam encarar ambiguidades ou incertezas;
e também repudiam a crença de que uma mesma pessoa pode reunir atributos
positivos e negativos, simultaneamente.
Outra característica apontada nas pessoas autoritárias é o
desinteresse por questões políticas; são pouco engajados em atividades
comunitárias; têm preferência por líderes fortes.
Sendo o comportamento autoritário o objeto do estudo em
apreço, nada mais natural do que desenvolver-se uma ferramenta de medida: a
mais conhecida é a escala F, publicada nessa obra. Objetivando avaliar o
preconceito e o pensamento rígido nas mentes autoritárias, elenca nove fatores
e frases comuns que resumem bem o fator avaliado:
- Convencionalismo: “A obediência e o respeito à autoridade
são as virtudes mais importantes que as crianças devem aprender”;
- Submissão autoritária: “Os jovens às vezes têm ideias
rebeldes, mas, quando crescem, eles devem superar a rebeldia e sossegar.”
- Agressão autoritária: “Dificilmente seria possível esperar
que uma pessoa que tem maus modos, maus hábitos e origens ruins conviva com
pessoas decentes.”
- Sexo: “Os homossexuais não são muito melhores do que os
criminosos e devem ser severamente punidos.”
- Anti-intracepção: “O empresário e o industrial são muito
mais importantes para a sociedade do que o artista e o professor.”
- Superstição e estereotipia: “Um dia provavelmente será
provado que a astrologia pode explicar muito.”
- Poder e obstinação: “Nenhuma fraqueza ou dificuldade pode
nos deter se tivemos força de vontade.”
- Destrutividade e cinismo: “Considerando a natureza humana,
sempre haverá guerras e conflitos.”
- Projetividade: “A maioria das pessoas não se dá conta do
quanto a nossa vida é controlada por maquinações tramadas em segredo.”
Portanto o autoritarismo é uma síndrome (isto é, doença) atitudinal,
que carregada consigo conceitos diferentes, como conservadorismo, dogmatismo,
etnocentrismo e preconceito, deflagrada por fatores genéticos/hereditários ou
por fatores ambientais, e que leva a uma susceptibilidade generalizada, fazendo
o sujeito se sentir ansioso ou ameaçada diante de ambiguidades e incertezas.
As pessoas autoritárias tendem a se sentir inferiores e
inseguras, por isso evitam a incerteza e rejeitam pessoas ou coisas que
promovam a complexidade, a inovação, a novidade, o risco e a mudança. Obedecem a
regras, normas, convenções e, mais relevante, exigem que todas as pessoas façam
o mesmo. Evitam conflitos e tomadas de decisão e tendem a ceder seus
sentimentos e necessidades pessoais a uma autoridade externa.
Conservadores e autoritários externalizam suas crenças por meio
de uma obsessão por dar ordens e por controlar seu mundo e o dos demais.
Apreciam deveres, leis, morais, obrigações e regras simples, rígidas e
inflexíveis – e isso define o tipo de arte que os atrai e em quem normalmente
votam.
Pessoas autoritárias, dogmáticas e intolerantes apresentam características
comuns: rejeitam ideias que se opõem às suas; apresentam pouca conectividade
entre suas crenças.
Em tempos mais recentes, o autoritarismo mais estudado é o
de direita – em oposição ao autoritarismo de fundo stalinista ou trotskista. As
conclusões levaram a crer que o autoritarismo de direita se caracteriza por:
completa submissão às autoridades; agressividade elevada contra os inimigos
dessa autoridade; obediência cega a normas e convenções sociais. São características
resultantes dessas pessoas: absolutistas, bullies, dogmáticas, hipócritas e
fanáticas. Defendem ardorosamente o punitivismo e não confiam em
liberais/libertários (na concepção original dos termos). Não questionam suas ideias
e costuma ser incoerentes e contraditórios – embora defendam, por vezes, dois
pesos e duas medidas, vêem-se numa posição moralmente superior à dos demais.
Questionários distribuídos a pessoas em avaliações quanto ao
grau de dogmatismo dos respondentes trouxeram como exemplos de afirmações
típicas as seguintes:
- “Neste nosso mundo complicado, o único jeito de saber o
que está acontecendo é contar com a orientação de líderes ou especialistas que
podem ser confiáveis.”
- “Existem dois tipos de pessoas nesse mundo: as que são a
favor da verdade e as que são contra a verdade.”
- A maioria das pessoas simplesmente não sabe o que é bom
para elas.”
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “50 Ideias de Psicologia”
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