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terça-feira, 3 de julho de 2018

O CLUBE MINEIRO DOS AMIGOS DA CANETA



CLUBE DA ESQUINA II

Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem se lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço
Aço, aço, aço, aço, aço, aço

Aqui ocorre uma metáfora entre as palavras moço e estrada. Ambos traduzem a ideia de mudança, busca de novos objetivos, novos rumos.
Viagem de ventania traz a ideia de mudanças profundas, não apenas cosméticas.
Os versos finais traduzem a ideia de não arrependimento. O personagem portanto se lança sobre o destino que almeja encontrar.

Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos
Calmos, calmos, calmos

Quem sonha são as pessoas. Não importa tanto a idade, mas a capacidade de sonhar. E de lutar por seus sonhos. Ainda que isso signifique enfrentar os gases lacrimogênios lançados pelas forças policiais, a serviço das forças conservadoras, isto é, aqueles que estão no poder.
Os dois versos finais fazem referência à luta pelos sonhos, sem desespero. Lutar até o final!

E lá se vai
Mais um dia

E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração na curva
De um rio, rio, rio, rio, rio

A guerra é composta de batalhas. O fim de uma abre caminho para a próxima. Basta aguardar (contar compasso) e confiar em si mesmo.  
Chama sem pavio não tem um limite; pode queimar, teoricamente, para sempre.
Tudo pode servir como inspiração para uma nova canção, triste ou alegre.
No fim, uma metáfora com um rio, que deposita sedimentos nas suas margens, especialmente onde o rio faz curva. Um coração, nessas condições, recebe mais “sedimentos” deixados pela vida.
Impossível não pensar que a palavra “rio” faz analogia com “Rio de Janeiro”, cidade onde se desenrolou a carreira do Clube e de seus membros, além de principal locus das lutas anti-regime militar.

E lá se vai
Mais um dia

E lá se vai
Mais um dia

E o rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio-fio
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente, gente
Gente, gente, gente, gente, gente

E lá se vai
Vai
Vai
Vai

Os primeiros versos trazem a figura imagética de multidões bradando palavras de ordem, em manifestações populares, pelas ruas da cidade (provavelmente, Rio).
A expressão “pessoas na esquina”, paradas e conversando,  trazia em si o temor de ser “levado para averiguação”, numa delegacia, ou pior do que isso. Mas e se houvesse 1 milhão de pessoas naquela esquina: seria possível leva-las todas para averiguação?
Foi o aumento das fileiras contra o Regime que pôs fim ao mesmo: e lá se vai, vai, vai... Esta canção é de 1978.


Rubem L. de F. Auto


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