CLUBE DA ESQUINA II
Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem se lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço
Aço, aço, aço, aço, aço, aço
Aqui ocorre uma metáfora
entre as palavras moço e estrada. Ambos traduzem a ideia de mudança, busca de
novos objetivos, novos rumos.
Viagem de ventania
traz a ideia de mudanças profundas, não apenas cosméticas.
Os versos finais
traduzem a ideia de não arrependimento. O personagem portanto se lança sobre o
destino que almeja encontrar.
Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos
Calmos, calmos, calmos
Quem sonha são as
pessoas. Não importa tanto a idade, mas a capacidade de sonhar. E de lutar por
seus sonhos. Ainda que isso signifique enfrentar os gases lacrimogênios
lançados pelas forças policiais, a serviço das forças conservadoras, isto é, aqueles
que estão no poder.
Os dois versos finais
fazem referência à luta pelos sonhos, sem desespero. Lutar até o final!
E lá se vai
Mais um dia
E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração na curva
De um rio, rio, rio, rio, rio
A guerra é composta
de batalhas. O fim de uma abre caminho para a próxima. Basta aguardar (contar
compasso) e confiar em si mesmo.
Chama sem pavio não
tem um limite; pode queimar, teoricamente, para sempre.
Tudo pode servir como
inspiração para uma nova canção, triste ou alegre.
No fim, uma metáfora
com um rio, que deposita sedimentos nas suas margens, especialmente onde o rio
faz curva. Um coração, nessas condições, recebe mais “sedimentos” deixados pela
vida.
Impossível não pensar
que a palavra “rio” faz analogia com “Rio de Janeiro”, cidade onde se
desenrolou a carreira do Clube e de seus membros, além de principal locus das
lutas anti-regime militar.
E lá se vai
Mais um dia
E lá se vai
Mais um dia
E o rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio-fio
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente, gente
Gente, gente, gente, gente, gente
E lá se vai
Vai
Vai
Vai
Os primeiros versos
trazem a figura imagética de multidões bradando palavras de ordem, em
manifestações populares, pelas ruas da cidade (provavelmente, Rio).
A expressão “pessoas
na esquina”, paradas e conversando, trazia em si o temor de ser “levado para
averiguação”, numa delegacia, ou pior do que isso. Mas e se houvesse 1 milhão de
pessoas naquela esquina: seria possível leva-las todas para averiguação?
Foi o aumento das
fileiras contra o Regime que pôs fim ao mesmo: e lá se vai, vai, vai... Esta
canção é de 1978.
Rubem L. de F. Auto
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