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quinta-feira, 14 de junho de 2018

QUANDO OS INGLESES CORTAVAM CABEÇAS E FAZIAM REVOLUÇÕES



Após a derrota inglesa contra os normandos, ainda nos estertores da Idade Média, foi criado o Parlamento inglês, que não passava de uma reunião de nobres, latifundiários, religiosos e ricos.
Não se poderia dizer que os monarcas não fossem autocráticos, mas o eram dentro dos limites constitucionais da Magna Carta e das demais leis aprovadas pelo Parlamento. O principal obstáculo no caminho dos reis eram os aumentos de impostos, que somente poderiam ser postos em execução se aprovados pelo Parlamento – que era composto justamente pelos que pagariam esses tributos. Essa verba financiaria as guerras, os palácios... Mas o rei tinha um trunfo: o Parlamento só se reunia se convocado pelo rei.

Já nos tempos de Elizabeth I se acumulavam tensões entre o Parlamento e a Coroa, mas a rainha queria evitar problemas e contornava o quanto podia os focos de tensão. Contudo, seu filho, Jaime I, fora educado para crer que Deus lhe concedera a Coroa. Logo que iniciou seu reinado entrou em choque com o Parlamento, que fez valer sua autoridade concedida pela Magna Carta. Mas Jaime apelou para a venda de monopólios e de títulos públicos, arrecadando assim o montante que desejava, sem precisar de recorrer aos aumentos de impostos.

Pois bem, o cenário pioraria ainda mais com a assunção do trono pelo filho de Jaime, o rei Carlos I. Além de crer na origem divina do seu poder real, era vaidoso e orgulhoso ao ponto de não suportar quaisquer criticas. O católico Carlos assumiu a Coroa em 1625, quando o Parlamento era dominado por protestantes. Se a essa altura Carlos já convivia com a antipatia dos parlamentares por sua esposa, uma princesa católica francesa, os problemas se avolumaram quando os parlamentares recusaram sua cerimônia religiosa de posse.

Carlos desejava reinar sozinho, mas a falta de recursos em Caixa o levou a convocar o Parlamento em 1628 e solicitar uma majoração dos impostos.  A consequência desse ato foi a promulgação da Petição de Direito: estavam recusados os aumentos de impostos sem aprovação do Parlamento e ainda se condenavam diversas atitudes despóticas do rei.  

Foi então que Carlos novamente procurou exercer seu poder sozinho novamente, período esse denominado de Reinado Pessoal (ou Tirania dos Onze Anos). Esse intervalo terminou em 1640, quando Carlos tentou forçar a nomeação de bispos católicos aos escoceses protestantes. A resposta popular veio na forma de uma revolta armada.

Cofres esvaziados novamente, Carlos foi obrigado a convocar o tão odiado Parlamento.
Reunido em 1640, o período denominado de Parlamento Longo obteve vitórias clamorosas contra o empedernido rei: por exemplo, agora o Parlamento seria convocada pelo menos uma vez a cada 3 anos; também estava vetada a dissolução do mesmo sem seu próprio consentimento.

Mas, em 1642, o Parlamento fez um movimento falho: exigiu o controle sobre o exército. A resposta do rei veio na forma de uma marcha de mais de 400 soldados em direção à Câmara dos Comuns , resultando na prisão de 5 líderes. Embora tenha conseguido fugir, a cisão resultou na criação de dois lados, realistas e parlamentaristas, que entraram em guerra aberta: era a Guerra Civil inglesa, também chamada de Revolução Gloriosa, que se estenderia até 1651. Embora nascida no coração da Inglaterra, essa Guerra terminou por arrastar escoceses e irlandeses consigo.

Carlos foi perseguido e finalmente capturado em 1646 e seu julgamento por traição ocorreu em 1649. Considerado culpado, foi decapitado: foi a primeira vez que um monarca era derrubado após ser julgado e condenado pelo povo, representado pelo Parlamento – em vez do que ocorria até então, quando os reis eram depostos por seus rivais dinásticos.

Na sequência, o Parlamento declarou extinta a monarquia inglesa e a transformação da Inglaterra em uma Commonwealth (Comunidade inglesa).

Mas o exército imprimiria algumas mudanças nesse cenário. Seu general mais respeitado, Oliver Cromwell, que lutou ao lado dos parlamentaristas na Guerra Civil, achava o Parlamento por demais conservador. Então, em 1653, reuniu sua tropa e marchou sobre a Câmara dos Comuns, expulsando todos os seus membros. Após, foi nomeado lorde protetor – tornava-se a maior autoridade da nação.
Cromwell morreu em 1658, foi sucedido por seu filho, mas este foi incapaz de reunir a força política de seu pai. Foi quando Carlos II, filho do rei decapitado, retornou à Inglaterra, em 1660, e assumiu o trono inglês.

A Restauração da monarquia não representou qualquer solução para os problemas daqueles anos. Primeiro porque Carlos II tinha consciência de sua fraqueza política e evitou o quanto pode abordar os grandes problemas constitucionais. Segundo, porque seu filho, o católico Jaime II, que subiu ao trono em 1685, e que não tinha o menor pudor com o exercício do poder e deixou seus súditos protestantes com a ligeira impressão de que pretendia reintroduzir sua fé compulsoriamente no país e reinar despoticamente como seu equivalente francês, daria início a mais uma crise.

Em 1688, uma comitiva de nobres procurou Guilherme de Orange, genro de Jaime, e o convidou a invadir a ilha inglesa. Guilherme reuniu 12 mil soldados e procedeu à invasão, não sem antes declarar que respeitaria “as liberdades da Inglaterra e a religião protestante”.

Jaime fugiu para a França em 1689, a Coroa então foi oferecida ao vitorioso Guilherme e à sua esposa, Maria, filha de Jaime e protestante. Mas antes deveria aceitar a Declaração de Direitos, que impunha os limites do poder monárquico e definia direitos e deveres dos súditos.

A Revolução Gloriosa instituiu a monarquia constitucional na Inglaterra, mas seria ingênuo dizer que o Poder foi transferido finalmente para as mãos do povo, haja vista o Parlamento ainda ser governado por uma pequena elite aristocrática e latifundiária.  Somente 200 anos mais tarde e ao cabo de inúmeras revoltas populares o Poder assumiria traços realmente democráticos, com um poder representativo.  


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “50 Ideias de História do Mundo que você precisa conhecer”

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