Após a derrota inglesa contra os normandos, ainda nos
estertores da Idade Média, foi criado o Parlamento inglês, que não passava de
uma reunião de nobres, latifundiários, religiosos e ricos.
Não se poderia dizer que os monarcas não fossem autocráticos,
mas o eram dentro dos limites constitucionais da Magna Carta e das demais leis
aprovadas pelo Parlamento. O principal obstáculo no caminho dos reis eram os
aumentos de impostos, que somente poderiam ser postos em execução se aprovados
pelo Parlamento – que era composto justamente pelos que pagariam esses
tributos. Essa verba financiaria as guerras, os palácios... Mas o rei tinha um
trunfo: o Parlamento só se reunia se convocado pelo rei.
Já nos tempos de Elizabeth I se acumulavam tensões entre o
Parlamento e a Coroa, mas a rainha queria evitar problemas e contornava o
quanto podia os focos de tensão. Contudo, seu filho, Jaime I, fora educado para
crer que Deus lhe concedera a Coroa. Logo que iniciou seu reinado entrou em
choque com o Parlamento, que fez valer sua autoridade concedida pela Magna
Carta. Mas Jaime apelou para a venda de monopólios e de títulos públicos, arrecadando
assim o montante que desejava, sem precisar de recorrer aos aumentos de
impostos.
Pois bem, o cenário pioraria ainda mais com a assunção do
trono pelo filho de Jaime, o rei Carlos I. Além de crer na origem divina do seu
poder real, era vaidoso e orgulhoso ao ponto de não suportar quaisquer criticas.
O católico Carlos assumiu a Coroa em 1625, quando o Parlamento era dominado por
protestantes. Se a essa altura Carlos já convivia com a antipatia dos
parlamentares por sua esposa, uma princesa católica francesa, os problemas se
avolumaram quando os parlamentares recusaram sua cerimônia religiosa de posse.
Carlos desejava reinar sozinho, mas a falta de recursos em
Caixa o levou a convocar o Parlamento em 1628 e solicitar uma majoração dos
impostos. A consequência desse ato foi a
promulgação da Petição de Direito: estavam recusados os aumentos de impostos sem
aprovação do Parlamento e ainda se condenavam diversas atitudes despóticas do
rei.
Foi então que Carlos novamente procurou exercer seu poder
sozinho novamente, período esse denominado de Reinado Pessoal (ou Tirania dos
Onze Anos). Esse intervalo terminou em 1640, quando Carlos tentou forçar a
nomeação de bispos católicos aos escoceses protestantes. A resposta popular
veio na forma de uma revolta armada.
Cofres esvaziados novamente, Carlos foi obrigado a convocar o
tão odiado Parlamento.
Reunido em 1640, o período denominado de Parlamento Longo
obteve vitórias clamorosas contra o empedernido rei: por exemplo, agora o
Parlamento seria convocada pelo menos uma vez a cada 3 anos; também estava
vetada a dissolução do mesmo sem seu próprio consentimento.
Mas, em 1642, o Parlamento fez um movimento falho: exigiu o
controle sobre o exército. A resposta do rei veio na forma de uma marcha de
mais de 400 soldados em direção à Câmara dos Comuns , resultando na prisão de 5
líderes. Embora tenha conseguido fugir, a cisão resultou na criação de dois
lados, realistas e parlamentaristas, que entraram em guerra aberta: era a
Guerra Civil inglesa, também chamada de Revolução Gloriosa, que se estenderia
até 1651. Embora nascida no coração da Inglaterra, essa Guerra terminou por
arrastar escoceses e irlandeses consigo.
Carlos foi perseguido e finalmente capturado em 1646 e seu
julgamento por traição ocorreu em 1649. Considerado culpado, foi decapitado:
foi a primeira vez que um monarca era derrubado após ser julgado e condenado
pelo povo, representado pelo Parlamento – em vez do que ocorria até então,
quando os reis eram depostos por seus rivais dinásticos.
Na sequência, o Parlamento declarou extinta a monarquia
inglesa e a transformação da Inglaterra em uma Commonwealth (Comunidade
inglesa).
Mas o exército imprimiria algumas mudanças nesse cenário.
Seu general mais respeitado, Oliver Cromwell, que lutou ao lado dos
parlamentaristas na Guerra Civil, achava o Parlamento por demais conservador.
Então, em 1653, reuniu sua tropa e marchou sobre a Câmara dos Comuns,
expulsando todos os seus membros. Após, foi nomeado lorde protetor – tornava-se
a maior autoridade da nação.
Cromwell morreu em 1658, foi sucedido por seu filho, mas
este foi incapaz de reunir a força política de seu pai. Foi quando Carlos II,
filho do rei decapitado, retornou à Inglaterra, em 1660, e assumiu o trono
inglês.
A Restauração da monarquia não representou qualquer solução
para os problemas daqueles anos. Primeiro porque Carlos II tinha consciência de
sua fraqueza política e evitou o quanto pode abordar os grandes problemas constitucionais.
Segundo, porque seu filho, o católico Jaime II, que subiu ao trono em 1685, e
que não tinha o menor pudor com o exercício do poder e deixou seus súditos
protestantes com a ligeira impressão de que pretendia reintroduzir sua fé compulsoriamente
no país e reinar despoticamente como seu equivalente francês, daria início a
mais uma crise.
Em 1688, uma comitiva de nobres procurou Guilherme de
Orange, genro de Jaime, e o convidou a invadir a ilha inglesa. Guilherme reuniu
12 mil soldados e procedeu à invasão, não sem antes declarar que respeitaria “as
liberdades da Inglaterra e a religião protestante”.
Jaime fugiu para a França em 1689, a Coroa então foi
oferecida ao vitorioso Guilherme e à sua esposa, Maria, filha de Jaime e
protestante. Mas antes deveria aceitar a Declaração de Direitos, que impunha os
limites do poder monárquico e definia direitos e deveres dos súditos.
A Revolução Gloriosa instituiu a monarquia constitucional na Inglaterra, mas seria ingênuo dizer que o Poder foi transferido finalmente para as mãos do povo, haja vista o Parlamento ainda ser governado por uma pequena elite aristocrática e latifundiária. Somente 200 anos mais tarde e ao cabo de inúmeras revoltas populares o Poder assumiria traços realmente democráticos, com um poder representativo.
A Revolução Gloriosa instituiu a monarquia constitucional na Inglaterra, mas seria ingênuo dizer que o Poder foi transferido finalmente para as mãos do povo, haja vista o Parlamento ainda ser governado por uma pequena elite aristocrática e latifundiária. Somente 200 anos mais tarde e ao cabo de inúmeras revoltas populares o Poder assumiria traços realmente democráticos, com um poder representativo.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “50 Ideias de História do Mundo que você
precisa conhecer”
Nenhum comentário:
Postar um comentário