Karl Marx escreveu toda suas obras tendo em vista uma futura
revolução proletária. Se a revolução seria proletária, então seriam necessários
milhões deles. Pois bem, onde há proletários? Em economias industrializadas, desenvolvidas.
Por esse motivo Marx cria que suas previsões seriam primeiro realizadas na
Alemanha. Lá, supunha Marx, a burguesia seria deposta primeiramente, abrindo
caminho para que o mesmo ocorresse em outras partes – igualmente ricas e desenvolvidas.
Mas o filósofo alemão não viveu o suficiente para ver sua
teoria sendo subvertida por revolucionários russos famélicos e maltrapilhos,
profundamente sofridos após a campanha vergonhosa da I Guerra Mundial. A
Revolução comunista teve seu estopim na Rússia, na época um Estado feudal,
medieval, camponês, que somente poucas décadas antes vira suas primeiras
indústrias, em geral adquiridas no exterior, das potências europeias. Era
governada pelos Czares, os últimos reis absolutistas, que sobreviveram ao
século XIX. Nas palavras de um russo: “Todos os países têm sua Constituição. A
nossa é o absolutismo moderado pelo assassinato.”
Até aqueles dias, episódios ocorreram que demonstravam a
insatisfação de muitos com a realidade posta: a Revolução Dezembrista de 1825,
ou o assassinato de Alexandre II, em 1881, por exemplo. Este último czar foi
celebrado como o responsável por abolir o regime de servidão (o escravagismo deles),
mas esta medida foi simplesmente ignorada por seus sucessores.
Quando a I Guerra foi declarada, milhões de russos
nacionalistas e comprometidos com sua Mãe Rússia se apresentaram para lutar nas
fileiras do seu exército. Mas eles seriam liderados por um czar sem compaixão e
muito menos capacidade de exercer tal empreitada. O resultado foi que a
carnificina europeia foi muito pior do lado russo, e foi essa tragédia que
Lênin explorou logo que retornou de seu exílio suíço, em 1917.
Nicolau II levou a nação russa a uma derrota militar quase
sem precedentes, ao levar a Rússia à guerra contra o Japão, em 1904-1905. Esta
humilhação levou à Revolução de 1905, que descambou em tiros conta
manifestantes, motins nas forças armadas, greve geral e rebeliões por toda
parte.
A vitória popular foi manifestada na concordância do Czar em
formar um Parlamento, chamado Duma, mas logo esse movimento se revelaria uma
jogada perspicaz do czar, que aproveitou para identificar seus opositores e
massacrá-los.
Como bem dissera Lênin: “Em um país como esse era muito
fácil iniciar uma revolução, tão fácil quanto levantar uma pena.” Enquanto Nicolau enfiava os pés pelas mãos nos
campos de batalha da Europa, sua esposa, Alexandra, geria o país com a mesma
incapacidade do marido.
Já em 1917 as baixas russas montavam a 8 milhões, somando-se
a eles 1 milhão de desertores. Os camponeses se recusavam a enviar alimentos
para as cidades, o que provocou fome em larga escala. Não faltava mais nada
para o que previra Lênin: em 8 de março de 1917, em Petrogrado, iniciou-se a
Revolução Russa.
Soldados e trabalhadores se organizaram num Conselho
(Soviete, em russo), que se multiplicaram pelo país. Nicolau ainda tentou uma
reação, mandando suas tropas contra os revolucionários, mas o que ele viu foi
mais um motim. Em 5 de março, foi obrigado a abdicar do trono, e então foi
formado um governo provisório. A partir de então viu-se um embate entre dois
grupos, ambos até então do mesmo lado: os bolcheviques (palavra russa para
maioria) e os mencheviques (minorias). A discordância deles se devia aos
bolcheviques crerem numa Revolução liderada por um grupo de profissionais, enquanto
os mencheviques criam ser necessário criar um partido com representação massiva
junto à sociedade primeiramente.
Lênin desembarcou em Patrogrado em 16 de abril. Ele era o
líder dos bolcheviques, cisão do Partido Operário Social-Democrata Russo desde
1903. Logo de sua chegada, exigiu a transferência do poder do governo
provisório para os sovietes. Lênin alegava que o governo provisório não foi
capaz de retirar a Rússia definitivamente da I Guerra, não implementou a
reforma agrária e não foi capaz de pôr fim à escassez de alimentos.
Após o empoderamento dos sovietes, os bolcheviques
conquistaram ampla maioria no soviete de Petrogrado e, em novembro, fizeram a
Revolução dentro da Revolução e tomaram o poder.
O novo governo que nascia firmou paz com a Alemanha, em março
de 1918. Por outro lado, iniciava-se outra Guerra Civil, desta feita entre o
Exército Vermelho, sob a batuta de Leon Trotsky , contra o Exército Branco,
antibolchevique e apoiado pelas maiores potências da época. Mas a vitória veio
na cor vermelha, em 1920. Mas a máquina russa não parou, diversas regiões do
antigo Império foram reconquistadas, e assim nascia a autoproclamada República
Socialista Soviética.
Assumindo o governo, Lênin ordenou a desapropriação de
latifúndios e distribuição das terras entre os camponeses. Além disso, em razão
das infindáveis desavenças internas, Lênin implementou uma espécie de comunismo
de guerra, em junho de 1918, quando todas as indústrias foram estatizadas; também
ordenou a remessa compulsória de alimentos em poder do campesinato. Os
resultados foram desastrosos, afundando o país em uma ainda maior escassez de
alimentos. O auge do descontentamento se deu com o motim de Kronstadt, em 1921.
Lênin teve de reagir, e introduziu a Nova Política Econômica
– NEP -, pela qual eram retransferidas para a iniciativa privada diversas das
atividades antes estatizadas. Camponeses também foram beneficiados. Agora,
finalmente, a Rússia via sua economia decolar.
Lênin morreu em 1924. Imediatamente se iniciou uma disputa
que, ainda hoje, mexe com o imaginário de muita gente: Stálin x Trotsky. Foi
Trotsky foi expulso do Partido Comunista em 1927, sendo enviado para seu exílio
no México, onde foi assassinado. Stálin então jogou no esquecimento os planos
de Trotsky de fomentar a Revolução em todo o mundo, limitou seu campo de
atuação a seu país, apenas; e fez o mesmo com a NEP de Stalin, ao criar seus
planos quinquenais. Por meio destes, a industrialização russa atingiu feitos
antes inimagináveis. Por outro lado, no campo, Stálin ordenou a organização
coletiva das fazendas, onde os camponeses foram obrigados a laborar, porém sem
terem o título de posse dessas terras. Não foram poucas as mortes que se
seguiram.
Contudo não houve grandes novidades nesse processo. Já em
1918, Lênin lançou sua polícia secreta, a Tcheka, contra seus opositores,
enviando-os todos aos Gulags (campos de trabalho), eventos que se tornaram
muito mais frequentes sob Stálin. Os inimigos no campo atendiam por Kulaks, os camponeses
ricos, mortos aos milhões. A Ucrânia e o Cazaquistão registraram mais alguns
milhões de mortes decorrentes de fome. Entre 1936 e 1938, Stálin ainda promoveu
o Grande Expurgo, quando ordenou o assassinato de outros tantos opositores,
tanto no Partido quanto no Exército.
Stálin se manteve no poder até sua morte, em 1953.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “50 Ideias de história do mundo....”
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