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quinta-feira, 14 de junho de 2018

LÊNIN É DE VÊNUS, STÁLIN É DE MARTE



Karl Marx escreveu toda suas obras tendo em vista uma futura revolução proletária. Se a revolução seria proletária, então seriam necessários milhões deles. Pois bem, onde há proletários? Em economias industrializadas, desenvolvidas. Por esse motivo Marx cria que suas previsões seriam primeiro realizadas na Alemanha. Lá, supunha Marx, a burguesia seria deposta primeiramente, abrindo caminho para que o mesmo ocorresse em outras partes – igualmente ricas e desenvolvidas.

Mas o filósofo alemão não viveu o suficiente para ver sua teoria sendo subvertida por revolucionários russos famélicos e maltrapilhos, profundamente sofridos após a campanha vergonhosa da I Guerra Mundial. A Revolução comunista teve seu estopim na Rússia, na época um Estado feudal, medieval, camponês, que somente poucas décadas antes vira suas primeiras indústrias, em geral adquiridas no exterior, das potências europeias. Era governada pelos Czares, os últimos reis absolutistas, que sobreviveram ao século XIX. Nas palavras de um russo: “Todos os países têm sua Constituição. A nossa é o absolutismo moderado pelo assassinato.”

Até aqueles dias, episódios ocorreram que demonstravam a insatisfação de muitos com a realidade posta: a Revolução Dezembrista de 1825, ou o assassinato de Alexandre II, em 1881, por exemplo. Este último czar foi celebrado como o responsável por abolir o regime de servidão (o escravagismo deles), mas esta medida foi simplesmente ignorada por seus sucessores.

Quando a I Guerra foi declarada, milhões de russos nacionalistas e comprometidos com sua Mãe Rússia se apresentaram para lutar nas fileiras do seu exército. Mas eles seriam liderados por um czar sem compaixão e muito menos capacidade de exercer tal empreitada. O resultado foi que a carnificina europeia foi muito pior do lado russo, e foi essa tragédia que Lênin explorou logo que retornou de seu exílio suíço, em 1917.

Nicolau II levou a nação russa a uma derrota militar quase sem precedentes, ao levar a Rússia à guerra contra o Japão, em 1904-1905. Esta humilhação levou à Revolução de 1905, que descambou em tiros conta manifestantes, motins nas forças armadas, greve geral e rebeliões por toda parte.
A vitória popular foi manifestada na concordância do Czar em formar um Parlamento, chamado Duma, mas logo esse movimento se revelaria uma jogada perspicaz do czar, que aproveitou para identificar seus opositores e massacrá-los.

Como bem dissera Lênin: “Em um país como esse era muito fácil iniciar uma revolução, tão fácil quanto levantar uma pena.”  Enquanto Nicolau enfiava os pés pelas mãos nos campos de batalha da Europa, sua esposa, Alexandra, geria o país com a mesma incapacidade do marido.

Já em 1917 as baixas russas montavam a 8 milhões, somando-se a eles 1 milhão de desertores. Os camponeses se recusavam a enviar alimentos para as cidades, o que provocou fome em larga escala. Não faltava mais nada para o que previra Lênin: em 8 de março de 1917, em Petrogrado, iniciou-se a Revolução Russa.

Soldados e trabalhadores se organizaram num Conselho (Soviete, em russo), que se multiplicaram pelo país. Nicolau ainda tentou uma reação, mandando suas tropas contra os revolucionários, mas o que ele viu foi mais um motim. Em 5 de março, foi obrigado a abdicar do trono, e então foi formado um governo provisório. A partir de então viu-se um embate entre dois grupos, ambos até então do mesmo lado: os bolcheviques (palavra russa para maioria) e os mencheviques (minorias). A discordância deles se devia aos bolcheviques crerem numa Revolução liderada por um grupo de profissionais, enquanto os mencheviques criam ser necessário criar um partido com representação massiva junto à sociedade primeiramente.

Lênin desembarcou em Patrogrado em 16 de abril. Ele era o líder dos bolcheviques, cisão do Partido Operário Social-Democrata Russo desde 1903. Logo de sua chegada, exigiu a transferência do poder do governo provisório para os sovietes. Lênin alegava que o governo provisório não foi capaz de retirar a Rússia definitivamente da I Guerra, não implementou a reforma agrária e não foi capaz de pôr fim à escassez de alimentos.

Após o empoderamento dos sovietes, os bolcheviques conquistaram ampla maioria no soviete de Petrogrado e, em novembro, fizeram a Revolução dentro da Revolução e tomaram o poder.

O novo governo que nascia firmou paz com a Alemanha, em março de 1918. Por outro lado, iniciava-se outra Guerra Civil, desta feita entre o Exército Vermelho, sob a batuta de Leon Trotsky , contra o Exército Branco, antibolchevique e apoiado pelas maiores potências da época. Mas a vitória veio na cor vermelha, em 1920. Mas a máquina russa não parou, diversas regiões do antigo Império foram reconquistadas, e assim nascia a autoproclamada República Socialista Soviética.

Assumindo o governo, Lênin ordenou a desapropriação de latifúndios e distribuição das terras entre os camponeses. Além disso, em razão das infindáveis desavenças internas, Lênin implementou uma espécie de comunismo de guerra, em junho de 1918, quando todas as indústrias foram estatizadas; também ordenou a remessa compulsória de alimentos em poder do campesinato. Os resultados foram desastrosos, afundando o país em uma ainda maior escassez de alimentos. O auge do descontentamento se deu com o motim de Kronstadt, em 1921.    

Lênin teve de reagir, e introduziu a Nova Política Econômica – NEP -, pela qual eram retransferidas para a iniciativa privada diversas das atividades antes estatizadas. Camponeses também foram beneficiados. Agora, finalmente, a Rússia via sua economia decolar.

Lênin morreu em 1924. Imediatamente se iniciou uma disputa que, ainda hoje, mexe com o imaginário de muita gente: Stálin x Trotsky. Foi Trotsky foi expulso do Partido Comunista em 1927, sendo enviado para seu exílio no México, onde foi assassinado. Stálin então jogou no esquecimento os planos de Trotsky de fomentar a Revolução em todo o mundo, limitou seu campo de atuação a seu país, apenas; e fez o mesmo com a NEP de Stalin, ao criar seus planos quinquenais. Por meio destes, a industrialização russa atingiu feitos antes inimagináveis. Por outro lado, no campo, Stálin ordenou a organização coletiva das fazendas, onde os camponeses foram obrigados a laborar, porém sem terem o título de posse dessas terras. Não foram poucas as mortes que se seguiram.

Contudo não houve grandes novidades nesse processo. Já em 1918, Lênin lançou sua polícia secreta, a Tcheka, contra seus opositores, enviando-os todos aos Gulags (campos de trabalho), eventos que se tornaram muito mais frequentes sob Stálin. Os inimigos no campo atendiam por Kulaks, os camponeses ricos, mortos aos milhões. A Ucrânia e o Cazaquistão registraram mais alguns milhões de mortes decorrentes de fome. Entre 1936 e 1938, Stálin ainda promoveu o Grande Expurgo, quando ordenou o assassinato de outros tantos opositores, tanto no Partido quanto no Exército.   
Stálin se manteve no poder até sua morte, em 1953.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “50 Ideias de história do mundo....”

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