Em seu julgamento no Tribunal de Nuremberg, Adolf Eichmann
se defendeu das acusações desferidas contra si com a seguinte afirmação: “Só estava
cumprindo ordens.”
Quando questionados sobre o massacre de civis inocentes que
perpetraram em My Lai, no Vietnã, os soldados americanos sob o comando do
Tenente Calley alegaram a mesma razão para seus atos.
Pois bem. Agir de modo tresloucado e cruel, como as pessoas
citadas, é uma peculiaridade de homens em situação de guerra ou é algo que pode
ser observado em pessoas comuns, no seu cotidiano? Parece desconcertante, mas um
estudo dos anos 1970 aponta que a resposta a essa pergunta é a segunda opção.
O tal estudo foi conduzido por Stanley Milgram, em 1974, é
causou muita polêmica. Os voluntários eram informados de que se tratava de um
estudo sobre a aprendizagem humana. Um aluno era submetido a um teste de
palavras emparelhadas. A cada erro cometido, o voluntário deveria lhe aplicar choques
elétricos.
Em alguns casos, o aluno chegava a informar o experimentador
de que sofria de problemas cardíacos, ao que o experimentador arguia que ele
não sofreria lesões permanentes por causa dos choques.
A máquina de choques era um dispositivo medonho, com botões
que indicavam choques de 15 a 450 volts, aumentando numa escala de 15 volts
botão a botão. Poderiam-se ver etiquetas com as inscrições: “choque leva”; “choque
intenso” e “Perigo: choque grave”. A última só indicava “XXX”.
Portanto a primeira resposta errada deveria ser punida com
um choque de 15 volts. A segunda merecia um choque de 30 volts, e assim por
diante. Mas nenhum dos voluntários sabia que, na verdade, o aluno do
experimento era um amigo do experimentador e nenhum dos tais choques era real.
Durante os testes, os primeiros choques e até os 75 volts
transcorriam sem sustos. Mas a partir dos 75 volts, o aluno começava a emitir
sons doloridos. Quando já nos 120 volts, o aluno gritava ao voluntário que os
choques estavam doendo muito. Aos 150 volts, o aluno gritava por misericórdia,
pedindo para parar o experimento. Aos 270 volts, os gritos eram agonizantes.
Era o ponto em que se caracterizava um ato de tortura conjunto.
Quando atingiam os 300 volts, o aluno berrava dizendo que já
era incapaz de reconhecer os pares de palavras do desafio. Era quando o
experimentador dizia ao voluntário que este deveria tratar a ausência de
resposta como uma resposta incorreta, portanto deveria desferir mais uma sessão
de choques. Dali em diante o voluntário já não poderia dizer se o aluno estava
vivo, ou não. Embora estivesse claro que o experimento não tinha mais sentido
em continuar, o voluntário ia até o final, quando então era informado de que
deveria continuar usando o último botão para punir os “erros” do aluno.
Durante todo o experimento, os voluntários não eram
impedidos de abandonar a sessão de tortura, embora o aluno estivesse amarrado
na cadeira com eletrodos espalhados por seu corpo.
Dos quarenta voluntários do sexo masculino, vinte e seis não
abandonaram o experimento até o fim. Para o sexo feminino, a proporção foi a
mesma. Só pararam quando o experimentador mandou.
Os estudos posteriores mostraram que os experimentadores
convenciam os voluntários a continuar ao convencê-los de que eram moralmente obrigados
a ir até o final. E o convencimento do voluntário era decorrência do
comportamento impessoal do pesquisador.
Como diria Nietzche, Eichmann era humano, demasiadamente
humano...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “50 Ideias de Psicologia”
Nenhum comentário:
Postar um comentário