O passado glorioso da China imperial é extenso e
relativamente conhecido. Desde os tempos do império romano a Rota da Seda,
ligando ocidente e oriente na Eurásia, trazia com seus comerciantes mercadorias
desejadas por reis e aristocratas: especiarias, seda, porcelana... Em troca,
ouro e prata eram despachados noutro sentido.
Mas a revolução industrial e suas máquinas maravilhosas
inverteram profundamente o equilíbrio de forças, levando à invasão da China e seu
retalhamento entre os vencedores (Reino Unido, França, Alemanha, EUA e outros).
E assim o Império do Meio inaugurava o século XX
completamente destroçada. Em apenas 10 anos o imperador foi derrubado,
revolucionários nacionalistas e comunistas dividiram o país em duas bandas em um
pé de guerra incessante, e senhores da guerra tomaram os cabrestos do que um
dia fora um país.
Em 1911 foi iniciada uma Revolução liderada por Sun Yat-Sem,
que morreria em 1925. Ele pretendia iniciar uma nova República no norte da
China, mas morreu sem ver seu sonho realizado. Yat-Sem foi sucedido por Chinag
Kai-chek, militar e nacionalista, que tinha nos comunistas seus maiores
inimigos desde 1921, quando o Partido Comunista Chinês foi criado. Estava
inaugurada a Guerra Civil chinesa: a cada revolta urbana promovida pelos
comunistas, Kai-chek respondia com força máxima.
Já próximo ao final da década de 1920, as fileiras
comunistas viam o surgimento de um novo líder, Mao Zedong (mais tarde conhecido
como Mao Tsé-Tung). Liderando um sem número de camponeses, fundam uma nova
República numa região montanhosa no interior da China, chamada Jiangxi: a
República Soviética da China.
Mas os nacionalistas de Kai-chek não permitiram sua
existência. Os comunistas tiveram de recuar e esse retorno ficou conhecido como
a Longa Marcha de 1934-1935: foram mais de 10 mil quilômetros de caminhada, ao
longo dos quais apenas metade dos 10 mil homens que a iniciaram chegaram ao
destino, a cidade de Yunnan, no noroeste da China.
A Guerra Civil somente foi suspensa durante a invasão
japonesa de 1937, um dos primeiros episódios da II Guerra Mundial. Diante do
inimigo comum, comunistas e nacionalistas somaram esforços. Após a derrota
japonesa no confronto, a Guerra Civil foi retomada e, em 1º de outubro de 1949,
os vitoriosos comunistas inauguraram a República Popular da China, com sede em
Pequim. Chiang Kai-chek e seus nacionalistas foram expulsos e se estabeleceram
na ilha de Taiwan, onde criaram uma República da China “alternativa” e capitalista.
Inicialmente, Mao obteve apoio da URSS, mas já no final da
década de 1950 os dois pareciam relativamente distantes. A Guerra Fria, assim,
tomou forma de triângulo, especialmente após a China explodir sua primeira
bomba atômica, em 1964. A década de 1970 viu a distensão entre a China e os EUA,
num movimento que pretendia isolar a URSS.
Mao defendia a ideia de revolução permanente, pois cria que cada
revolução acelerava os processos transformadores, necessários para recuperar terreno
e se aproximar das potências mundiais. Dois dos episódios mais marcantes
durante sua presidência foram o Grande Salto Adiante e a Revolução Cultural.
O Grande Salto Adiante, de 1958-1961, visava à modernização
cultural e econômica do país. Embora tenha exibido resultados impressionante,
como a superação da produção de aço do Reino Unido e a criação de inúmeros
novas indústrias no país, a resistência de membros do governo e as divergências
com a URSS, que levaram à retirada de seu apoio à China, tudo somada a
colheitas ruins no período, levaram mais de 20 milhões de chineses à fome.
Essa tragédia humanitária, somada aos massacres de
oposicionistas, levou Mao ao enfraquecimento político. Sua resposta veio na
forma da Revolução Cultural. Milhões de jovens que compunham sua Guarda
Vermelha se agitaram no sentido de recuperar a ideologia que norteava a
Revolução Comunista no seu nascedouro. Todos os que demonstravam discordância
eram expostos a críticas públicas, sofriam atos de violência e eram enviados
para as zonas rurais, onde o labor no campo iria livrá-los do pensamento
pequeno burguês e elitista. Milhares de membros do partido, administradores de
fábricas, cientistas, professores, técnicos, dentre outros, foram vítimas dessa
política. Os excessos levaram o exército a interferir contra a Guarda Vermelha,
mas não a fez cessar completamente.
Mao morreu em 1976, quando ainda se viam sinais da sua
conturbada Revolução Cultural. Foi sucedido pelo modernizador Deng Xiaoping – não
sem antes vencer uma dura disputa com a chamada “Gangue dos 4”, grupo liderado
pela viúva de Mao -, antigo aliado e também vítima da Revolução Cultural,
quando se pôs contra as ordens de Mao.
Em 1978, Deng expôs a ideia que orientaria sua presidência,
conhecidas como 4 modernizações: na agricultura, na indústria, na defesa
nacional e na ciência e tecnologia. Isso significava abertura econômica para o
ocidente, mas manutenção do poder político do Partido Comunista. Empresas
capitalistas se instalaram em zonas específicas, no papel tanto de fornecedoras
de novas tecnologias como de parceiros comerciais.
A década de 1980 veria uma primeira consequência das políticas
modernizantes de Deng: os confrontos na Praça Tianamen, em 1989. Após perceberem
as evoluções econômicas pós-abertura, estudantes passaram a exigir maior
abertura politica – aproveitando também o movimento iniciado por Gorbatchev na
URSS. Mas Deng não pretendia ceder a esses protestos e a revolta foi reprimida
violentamente, como mostraram as imagens que rodaram o mundo.
Embora a questão dos direitos humanos seja até hoje motivo
de críticas por muitos, a economia cresceu nesse tempo todo a um ritmo de tirar
o fôlego, levando à instalação local de milhares de fabricantes europeias e
norte-americanas. Os preços baixos dessas mercadorias, conseguidos em grande
parte pelos salários depreciados dos trabalhadores locais, possibilitou um
crescimento espantoso da economia nos países ricos sem preocupações quanto à
pressão inflacionária. Surgiu então uma outra preocupação: matérias-primas em
quantidade suficiente e disponível. Para tanto, a China aumentou
vertiginosamente sua presença na África.
As preocupações quanto às atitudes dos EUA, eventualmente
belicosas contra a China, foram amenizadas pela aquisição de trilhões de
dólares do Tesouro americano pelo Banco Central chinês, tornando a China o
maior credor do maior devedor do Planeta.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: “50 Ideias de história do mundo...”
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