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sexta-feira, 15 de junho de 2018

CHINA IN BOX – O LONGO SÉCULO XX CHINÊS



O passado glorioso da China imperial é extenso e relativamente conhecido. Desde os tempos do império romano a Rota da Seda, ligando ocidente e oriente na Eurásia, trazia com seus comerciantes mercadorias desejadas por reis e aristocratas: especiarias, seda, porcelana... Em troca, ouro e prata eram despachados noutro sentido.

Mas a revolução industrial e suas máquinas maravilhosas inverteram profundamente o equilíbrio de forças, levando à invasão da China e seu retalhamento entre os vencedores (Reino Unido, França, Alemanha, EUA e outros).

E assim o Império do Meio inaugurava o século XX completamente destroçada. Em apenas 10 anos o imperador foi derrubado, revolucionários nacionalistas e comunistas dividiram o país em duas bandas em um pé de guerra incessante, e senhores da guerra tomaram os cabrestos do que um dia fora um país.

Em 1911 foi iniciada uma Revolução liderada por Sun Yat-Sem, que morreria em 1925. Ele pretendia iniciar uma nova República no norte da China, mas morreu sem ver seu sonho realizado. Yat-Sem foi sucedido por Chinag Kai-chek, militar e nacionalista, que tinha nos comunistas seus maiores inimigos desde 1921, quando o Partido Comunista Chinês foi criado. Estava inaugurada a Guerra Civil chinesa: a cada revolta urbana promovida pelos comunistas, Kai-chek respondia com força máxima.

Já próximo ao final da década de 1920, as fileiras comunistas viam o surgimento de um novo líder, Mao Zedong (mais tarde conhecido como Mao Tsé-Tung). Liderando um sem número de camponeses, fundam uma nova República numa região montanhosa no interior da China, chamada Jiangxi: a República Soviética da China.

Mas os nacionalistas de Kai-chek não permitiram sua existência. Os comunistas tiveram de recuar e esse retorno ficou conhecido como a Longa Marcha de 1934-1935: foram mais de 10 mil quilômetros de caminhada, ao longo dos quais apenas metade dos 10 mil homens que a iniciaram chegaram ao destino, a cidade de Yunnan, no noroeste da China.

A Guerra Civil somente foi suspensa durante a invasão japonesa de 1937, um dos primeiros episódios da II Guerra Mundial. Diante do inimigo comum, comunistas e nacionalistas somaram esforços. Após a derrota japonesa no confronto, a Guerra Civil foi retomada e, em 1º de outubro de 1949, os vitoriosos comunistas inauguraram a República Popular da China, com sede em Pequim. Chiang Kai-chek e seus nacionalistas foram expulsos e se estabeleceram na ilha de Taiwan, onde criaram uma República da China “alternativa” e capitalista.

Inicialmente, Mao obteve apoio da URSS, mas já no final da década de 1950 os dois pareciam relativamente distantes. A Guerra Fria, assim, tomou forma de triângulo, especialmente após a China explodir sua primeira bomba atômica, em 1964. A década de 1970 viu a distensão entre a China e os EUA, num movimento que pretendia isolar a URSS.

Mao defendia a ideia de revolução permanente, pois cria que cada revolução acelerava os processos transformadores, necessários para recuperar terreno e se aproximar das potências mundiais. Dois dos episódios mais marcantes durante sua presidência foram o Grande Salto Adiante e a Revolução Cultural.

O Grande Salto Adiante, de 1958-1961, visava à modernização cultural e econômica do país. Embora tenha exibido resultados impressionante, como a superação da produção de aço do Reino Unido e a criação de inúmeros novas indústrias no país, a resistência de membros do governo e as divergências com a URSS, que levaram à retirada de seu apoio à China, tudo somada a colheitas ruins no período, levaram mais de 20 milhões de chineses à fome.

Essa tragédia humanitária, somada aos massacres de oposicionistas, levou Mao ao enfraquecimento político. Sua resposta veio na forma da Revolução Cultural. Milhões de jovens que compunham sua Guarda Vermelha se agitaram no sentido de recuperar a ideologia que norteava a Revolução Comunista no seu nascedouro. Todos os que demonstravam discordância eram expostos a críticas públicas, sofriam atos de violência e eram enviados para as zonas rurais, onde o labor no campo iria livrá-los do pensamento pequeno burguês e elitista. Milhares de membros do partido, administradores de fábricas, cientistas, professores, técnicos, dentre outros, foram vítimas dessa política. Os excessos levaram o exército a interferir contra a Guarda Vermelha, mas não a fez cessar completamente.    
Mao morreu em 1976, quando ainda se viam sinais da sua conturbada Revolução Cultural. Foi sucedido pelo modernizador Deng Xiaoping – não sem antes vencer uma dura disputa com a chamada “Gangue dos 4”, grupo liderado pela viúva de Mao -, antigo aliado e também vítima da Revolução Cultural, quando se pôs contra as ordens de Mao.  

Em 1978, Deng expôs a ideia que orientaria sua presidência, conhecidas como 4 modernizações: na agricultura, na indústria, na defesa nacional e na ciência e tecnologia. Isso significava abertura econômica para o ocidente, mas manutenção do poder político do Partido Comunista. Empresas capitalistas se instalaram em zonas específicas, no papel tanto de fornecedoras de novas tecnologias como de parceiros comerciais.

A década de 1980 veria uma primeira consequência das políticas modernizantes de Deng: os confrontos na Praça Tianamen, em 1989. Após perceberem as evoluções econômicas pós-abertura, estudantes passaram a exigir maior abertura politica – aproveitando também o movimento iniciado por Gorbatchev na URSS. Mas Deng não pretendia ceder a esses protestos e a revolta foi reprimida violentamente, como mostraram as imagens que rodaram o mundo.

Embora a questão dos direitos humanos seja até hoje motivo de críticas por muitos, a economia cresceu nesse tempo todo a um ritmo de tirar o fôlego, levando à instalação local de milhares de fabricantes europeias e norte-americanas. Os preços baixos dessas mercadorias, conseguidos em grande parte pelos salários depreciados dos trabalhadores locais, possibilitou um crescimento espantoso da economia nos países ricos sem preocupações quanto à pressão inflacionária. Surgiu então uma outra preocupação: matérias-primas em quantidade suficiente e disponível. Para tanto, a China aumentou vertiginosamente sua presença na África.

As preocupações quanto às atitudes dos EUA, eventualmente belicosas contra a China, foram amenizadas pela aquisição de trilhões de dólares do Tesouro americano pelo Banco Central chinês, tornando a China o maior credor do maior devedor do Planeta.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: “50 Ideias de história do mundo...”

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