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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

PIXINGUINHA – O MAESTRO DO CHORO



Em 1897, o casal Alfredo da Rocha Vianna e Raimunda Maria da Conceição deu à luz seu filho caçula. Habitavam um casarão alugado de oito quartos, localizado no bairro carioca do Catumbi. Ali, costumavam se reunir os principais chorões da época, além do sambista Sinhô. Um deles, que também era inquilino da “pensão Vianna” (como era chamada jocosamente), chamava-se Irineu de Almeida, mas era mais conhecido como Irineu Batina: ele foi o principal professor de música do menino que acabara de nascer.

O menino se chamava Alfredo da Rocha Vianna filho, mas passaria à história como Pixinguinha – e elevaria as lições dadas por Seu Irineu a novos patamares.

A origem do apelido é incerta – o próprio não sabia dizer de onde veio. Mas, supõe-se, deve ser por conta de uma “bexiguinhas”, umas bolhas no rosto, que carregou pelo resto da vida devido à varíola que contraíra na infância. A corruptela terminou por se consolidar.

Pixinguinha estreou no mundo da música aos 14 anos, com uma polca: Lata de Leite. Depois, foi levado para a Orquestra do Teatro Rio Branco, substituindo o flautista Antônio Maria Passos. Terminou ficando com a vaga.

Pixinguinha já era conhecido pelo apelido de o “pequeno grande chorão”, que o acompanharia até seu falecimento, em 17 de fevereiro de 1973, na Igreja da Nossa Senhora da Paz, no bairro de Ipanema.
Pixinguinha foi o músico mais importante da MPB na primeira metade do século XX. Para termos em melhor perspectiva, o monumental Villa Lobos indicou Pixinguinha para liderar um grupo formado por Cartola, Donga, Zé da Zilda, Jararaca e Luís Americano, quando gravaram com o maestro inglês radicado nos EUA, Leopold Stokowski.

Aliás, em função de sua erudição, as gravações de choros por Villa deram ao gênero toda uma áurea de respeitabilidade acadêmica.

Pixinguinha também mereceu alguns elogios rasgados do poeta Vinicius de Morais: “É o melhor ser humano que conheço. E olha que o que conheço de gente não é fácil”, “Se eu não tivesse nascido Vinícius, queria ter nascido Pixinguinha”.

O grande maestro Radamés Gnatalli também não poupava adjetivos para qualificar Pixinguinha: “Choro é o gênero mais evoluído da música brasileira. Bom por estar mais elaborado? Não, é porque ele é um sujeito genial...”.

Outro ilustre admirador do músico, Mário de Andrade recolheu um depoimento de Pixinguinha em que ele descrevia uma cerimônia de macumba. Tempos depois, Mário lançava sua obra prima, “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter”, em que figurava um personagem inspirado em Pixinguinha: o filho de Ogum Bexiguento.

A partir da herança dos chorões do século XIX e da tradição afro-brasileira, Pixinguinha produziu a mais completa obra do choro, de todos os tempos. Tocando flauta, atingiu o ápice da história desse instrumento no Brasil. Dentre as obras primas que produziu, estão: “Sofre porque queres”, “Naquele tempo”, “Uma a zero”, “Carinhoso” e “Rosa”.

Além de músico instrumentista, Pixinguinha foi orquestrador, maestro, organizador de grupos musicais. Até então, os maestros eram estrangeiros e reproduziam aqui as regras da música europeia. Ao atuar como arranjador do teatro de revista, das gravações da Odeon e dos inúmeros grupos em que atuou, Pixinguinha percebeu a necessidade de melhor delinear as feições da música popular brasileira.   

Pixinguinha também foi contratado pela gravadora Victor como orquestrador de discos e maestro da Orquestra Victor Brasileira. Foi dali que surgiram as inéditas orquestrações com batida de percussão, fazendo uso de surdos, tamborim, reco-reco e pandeiro. Sua inspiração foi o samba do morro do Estácio de Sá, onde surgiu a primeira escola de samba, a Deixa Falar, de 1928. Assim, ficava para trás o tal do samba-amaxixado, do início do século XX.

O maxixe, que ditava o ritmo dos primeiros sambas, foi o estilo musical mais dançado na virada para o século XX, no Rio. O nome derivava de uma planta rasteira, comumente encontrada nas casas mais simples. As críticas ao maxixe se deviam a seu bailado indecente...

Pixinguinha era um dos convivas da casa da Tia Ciata – lugar onde nasceu o samba seminal “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, em 1916. O local onde se situava a casa da Tia Ciata, o bairro carioca da Cidade Nova, abrigava outras casas igualmente afamadas, como a casa da Tia Prisciliana, mãe de João da Baiana. O bairro era também conhecido como “Pequena África no Brasil”, nome dado por Heitor dos Prazeres.

Em 1910, Pixinguinha fez parte do grupo musical Caxangá, ao lado de Donga e João Pernambuco. Este, com Catulo da Paixão, compôs o clássico “Luar do Sertão”, considerado então o segundo hino nacional.

O gerente do Cine Palais, Issac Frankel, admirou-se do talento de Pixinguinha e Donga. Então, pediu-lhes que formassem um grupo para tocar no cinema que gerenciava. Assim, em 1919, nascia “Os oito batutas”, primeiro grupo de músicos negros a tocar na sala de espera de um cinema destinado à alta sociedade carioca.

O sucesso foi enorme e, em 1922, por intermédio do milionário Arnaldo Guinle, o grupo, agora apenas Os Batutas, pois perdera um integrante, rumaram para a França, quando pela primeira vez se divulgou a música brasileira no exterior.

O retorno do músicos foi um tanto atribulado, por conta da acusação pelos críticos de que teriam sido influenciados pelo jazz americano – de fato, as vestimentas eram influenciadas pelos grupos de jazz, assim como alguns instrumentos que passaram a utilizar.

Em 1968, Pixinguinha, aos 71 anos, foi homenageado no Teatro Municipal do Rio, num show repleto por estrelas da maior grandeza da música brasileira: Jacob do Bandolim, Radamés Gnatalli, Orquestra Sinfônica Nacional.

Em 1974, a Escola de Samba Portela prestou homenagem ao músico por meio do samba-enredo “O mundo melhor de Pixinguinha”.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: “Almanaque do choro: a história do chorinho...”

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