NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS - JUVENTUDE
Quando eu era um jovem razoavelmente precoce, fiquei
impressionado com a futilidade das esperanças e dos esforços que atormentam
incansavelmente os homens durante toda a sua vida. Além disso, muito cedo
percebi a crueldade dessa busca, que naquele tempo era muito mais
cuidadosamente disfarçada pela hipocrisia e por palavras brilhantes.
Todos estavam condenados a participar dessa busca pela mera
existência dos seus estômagos. O estômago talvez se saciasse com essa
participação, mas não o homem, na medida em que é um ser pensante e dotado de
sentimentos.
A primeira válvula de escape era a religião, implantada nas
crianças pela máquina educadora tradicional. Assim - embora
fosse filho de pais absolutamente não-religiosos (judeus) -, entreguei-me a uma
religiosidade profunda, que terminou abruptamente quando tinha apenas doze
anos. A leitura de livros científicos populares convenceu-me de que a maioria
das histórias da Bíblia não podia ser real.
A conseqüência foi uma orgia positivamente fanática de
livre-pensamento, combinada com a impressão de que a juventude é decididamente
enganada pelo Estado, com mentiras; foi uma descoberta esmagadora. Essa
experiência fez com que passasse a desconfiar de todo tipo de autoridade,
adotando uma atitude cética quanto às convicções vigentes em qualquer ambiente
social específico - uma atitude que jamais abandonei, embora mais tarde tenha sido amenizada por uma visão mais perfeita das
conexões causais. (Albert Einstein)
OBSERVAÇÕES PRÓPRIAS:
MÁQUINA EDUCADORA
TRADICIONAL – O ensino religioso tem a função de trazer a paz espiritual e
princípios morais, ou seria uma ferramenta de controle social, procurando
evitar que as pessoas se revoltem contra as desigualdades e injustiças?
EMBORA MAIS TARDE
TENHA SIDO AMENIZADA (A ATITUDE CÉTICA) POR UMA VISÃO MAIS PERFEITA DAS
CONEXÕES CAUSAIS – Embora a ciência explique muita coisa, não explica tudo
(até mesmo por isso se chama ciência, não religião; e também é esse o motivo por
que se faz ciência sempre, sem previsão de que ela esgote seu objeto de estudo,
em vez de apenas se ler o mesmo livro por toda eternidade), e as incertezas que
surgem ao longo da vida, sem que consigamos explica-las (naquele momento, claro),
adestra o ceticismo, no sentido de que mesmo as explicações que se nos pareçam
mais absurdas, são, eventualmente, plausíveis.
Rubem L. de F. Auto
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