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quinta-feira, 9 de agosto de 2018

AIN`T NO RIVER WILD ENOUGH – MARVIN GAYE



“Dos 7 anos até a adolescência, a vida doméstica de Marvin consistiu em uma série de surras brutais”, assim Jeanne definiu a infância do irmão, um dos maiores cantores e compositores de todos os tempos, Marvin Gaye. Filho de um pastor que pregava ardorosamente contra os vícios e pecados, Marvin somente conheceu seu lado mais sombrio, em casa: usava roupas femininas, bebia muito, batia na esposa e nos filhos. Mantinha seu papel de tirano da casa à base de muita violência e intimidação.

Encontrou refúgio na música. Possuindo ouvido absoluto, aprendeu piano e bateria em pouco tempo. Mas seu pai continuava a ignorar seus feitos. Marvin então se alista nas Força Aérea: foi a maneira que encontrou para sair de casa e fugir do seu detestável genitor.

Mas a vida militar não significou qualquer alívio para o rapaz. O tratamento brutal a cargo de coronéis um tanto sádicos fizeram-no fingir-se louco e, assim, dar baixa e um basta naquele sofrimento.

Retornou a sua Washington natal, começou a cantar em bandas locais e logo foi contratado por uma delas, a Moonglows. Por meio de um dos integrantes, o líder Harvey Fuqua, é levado a Detroit para conhecer Berry Gordy, fundador da gravadora Motown.

Foi contratado e permaneceu ali por 22 anos muito bem sucedidos, lançando diversos sucessos – um dos maiores foi o álbum arrasador “What`s Going on?”.

Se o namoro e o casamento com a Motown foram gloriosos, o final da relação foi conturbado. Por volta de 1980, Marvin estava completamente viciado em cocaína, era um consumidor compulsivo de pornografia e ainda devia milhões de dólares em impostos. Conseguiu se mudar para Londres com a namorada – e logo terminaria o relacionamento com essa namorada, por motivos igualmente relacionados a seus vícios.

Foi então que surgiu em sua vida o belga Freddy Cousaert, promotor musical e fã do cantor. Levou-o para morar em sua casa, em Ostend, Bélgica, e o inseriu num programa de recuperação, tanto de sua saúde quanto da sanidade. Gaye passou a ser visto, ineditamente, correndo, fazendo longas caminhadas, passou a dormir cedo...

Ao lado disso, recuperou também sua saúde financeira. A gravadora CBS o contratou, aparou todas as suas pendências com o Fisco americano, e Marvin iniciou os trabalhos de elaboração do seu álbum Midnight Love.

Além disso, o escritor David Ritz começou a escrever sua biografia. Quando Ritz se deparou com a coleção insana de pornografias de Marvin, sugeriu que ele procurasse uma “cura sexual” – ou, em inglês, sexual healing, nome de sua canção de maior sucesso, por meio da qual ganhou dois prêmios Grammy.

Foi quando sua mãe, Alberta, sofreu um derrame. Preocupado, Marvin voltou para casa. Em abril de 1983 iniciou uma turnê e, infelizmente, sofreu uma recaída e voltou a usar cocaína. Nas palavras de um dos contratados, envolvido nos shows: “havia mais cocaína nessa turnê do que em qualquer outra da história do entretenimento.” Em pouco tempo, Marvin era visto em orgias e chegou a ficar apenas de cueca no palco.

Ao fim da turnê, Marvin retornou a Los Angeles, à casa que havia comprado para sua mãe – seus irmãos também moravam ali. Mas, em outubro, o pesadelo recomeçou, quando seu pai voltou a viver com a família.

A partir de então, as brigas com seu pai se tornaram comuns. O pai discordava do comportamento do filho, ao passo que o mesmo chegou a comentar com sua irmã que mataria seu pai caso encostasse suas as mãos nele.

No Natal, um evento inexplicável ocorreu: Marvin presenteou seu pai com uma pistola Smith and Wesson, calibre 38, sem registro.

Os três meses seguintes foram recheados de tensão, brigas e humilhações mútuas. O amor paterno nunca se fez presente, independente das conquistas do filho.

No dia 31 de março, apenas dois dias antes de Gaye completar 45 anos, o pai de Gaye e sua mãe, Alberta, iniciam uma briga. Marvin interveio e fez seu pai recuar. No dia seguinte, o pai inicia outro momento de tensão, quando começa a gritar aos quatro ventos que uma apólice de seguro havia sumido.

Marvin manda o pai entrar no seu quarto. Após resistir, o pai obedece e então Marvin começa a surrá-lo. Sua mãe se desespera e intervém. O pai sai do quarto, Marvin fica com sua mãe no cômodo, quando são surpreendidos com o pai, que volta armado e dispara contra o filho: dois tiros no coração.
Quando os paramédicos chegam, Marvin agonizava, enquanto seu pai estava sentado na varanda, encarando o horizonte. Marvin morreu logo que deu entrada no hospital.

O pai de Marvin Gaye foi acusado inicialmente de homicídio qualificado, mas depois foi reduzida para homicídio culposo. Marvin pai foi levado ao Tribunal do Júri. Em novembro, foi condenado a cinco anos de prisão condicional.

No Tribunal, Marvin pai declararia: “Se fosse possível, eu o traria de volta. Eu tinha medo dele. Pensei que seria ferido. Não sabia o que aconteceria... Sinto muito por tudo o que aconteceu”. Foi sua primeira desculpa após seis meses do homicídio do próprio filho.   


Rubem L. de F. Auto

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