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terça-feira, 21 de agosto de 2018

APPLE RECORDS – A MAÇÃ DOS BESOUROS



Após atingirem o posto de banda mais popular do mundo, os Beatles estavam prontos para investirem mais de 2 milhões de dólares do próprio bolso na realização de um sonho: manter a liberdade total para criar músicas, mas mantendo um estrutura empresarial de apoio.

Criaram então uma empresa: a Apple Records. O nome era referência a um quadro de Henry Matisse, que fazia parte da coleção particular de Paul McCartney. A Apple estava estruturada em 5 departamentos: música, eletrônica, cinema, moda e publicações. O impacto sobre o mercado e sobre os novos artistas, em busca de uma oportunidade, foi tremendo.

Mas os garotos de Liverpool não queriam ver seu empreendimento sendo administrado pelos “engravatados” mercenários da indústria. Puseram na direção velhos amigos dos tempos de infância e pessoas do círculo de confiança.

A gastança que se seguiu deu ao público a ideia de que agora havia uma gravadora disposta a investir em novos e inexperientes músicos, o que levou à formação de filas imensas na porta da sede da empresa, em Londres.

Mas faltava absoluta falta de afinidade com os negócios. O único que procurava parecer um administrador cioso e responsável era Paul, que viu a sangria descontrolada tomando conta da Apple. Embora tenha estancado a saída descontrolada de recursos, os resultados financeiros iniciais eram risíveis: todos os departamentos estavam no vermelho, inclusive aquele dedicado à música.

A bagunça imperava. Viam-se traficantes de drogas procurando clientes dentro da sede da Apple, uma funcionária foi destacada para a função de enrolar baseados e preparar drinks. Havia um funcionário especializado em jogar tarô e indicar qual decisão empresarial deveria ser tomada, orientado pelas cartas. Certa feita, motoqueiros dos Hell`s Angels desembarcaram na frente da sede para cobrar uma promessa feita por George Harrison, quando os encontrou na Califórnia: “Se estiverem em Londres, me liguem!”. Pois bem, eles chegaram e ficaram por lá, até o Beatle os receber. Até uma família de sem tetos da Califórnia invadiu o prédio, procurando ajuda dos roqueiros ingleses.

Mas, se como administradores os quatro eram pífios, como músicos continuavam geniais. E meio à catástrofe empresarial, lançaram um single que trazia Hey Jude e Revolution. Foi a maior vendagem atingida pelo quarteto em seis anos. Mas ainda tiveram de dividir os lucros com a EMI, por força do contrato ainda em vigor. Além disso, mantiveram o trabalho voltado para a finalização de um álbum duplo.

Finalmente, após cinco meses de trabalho duro, veio a público o álbum, laconicamente intitulado “The Beatles”, mas ficaria mais famoso pelo epíteto: Álbum branco. O disco contava com “While My Guitar Gently Weeps”, composta por um inspiradíssimo George Harrison. Mas havia também folk, rock pesado, reggae, uma balada em homenagem aos Beach Boys, country e algumas experimentações de estúdio.

Embora o trabalho final tenha sido de tirar o fôlego, o ambiente em que a banda estava inserida não era dos mais amistosos. Quase todas as faixas foram compostas e executadas sem muita discussão, Yoko Ono incomodava os demais membros da banda por não desgrudar de Lennon. As próprias contribuições de Lennon faziam referência a um relacionamento angustiante, pontuado por momentos de desespero – além das constantes metáforas com a heroína, droga que passara a usar havia pouco tempo.

Com certeza, não fosse tanto talento musical, o desastrado empreendimento teria ido à lona muito cedo.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: O Som da Revolução

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