Após atingirem o posto de banda mais popular do mundo, os
Beatles estavam prontos para investirem mais de 2 milhões de dólares do próprio
bolso na realização de um sonho: manter a liberdade total para criar músicas,
mas mantendo um estrutura empresarial de apoio.
Criaram então uma empresa: a Apple Records. O nome era
referência a um quadro de Henry Matisse, que fazia parte da coleção particular
de Paul McCartney. A Apple estava estruturada em 5 departamentos: música,
eletrônica, cinema, moda e publicações. O impacto sobre o mercado e sobre os novos
artistas, em busca de uma oportunidade, foi tremendo.
Mas os garotos de Liverpool não queriam ver seu
empreendimento sendo administrado pelos “engravatados” mercenários da
indústria. Puseram na direção velhos amigos dos tempos de infância e pessoas do
círculo de confiança.
A gastança que se seguiu deu ao público a ideia de que agora
havia uma gravadora disposta a investir em novos e inexperientes músicos, o que
levou à formação de filas imensas na porta da sede da empresa, em Londres.
Mas faltava absoluta falta de afinidade com os negócios. O
único que procurava parecer um administrador cioso e responsável era Paul, que
viu a sangria descontrolada tomando conta da Apple. Embora tenha estancado a saída
descontrolada de recursos, os resultados financeiros iniciais eram risíveis:
todos os departamentos estavam no vermelho, inclusive aquele dedicado à música.
A bagunça imperava. Viam-se traficantes de drogas procurando
clientes dentro da sede da Apple, uma funcionária foi destacada para a função
de enrolar baseados e preparar drinks. Havia um funcionário especializado em
jogar tarô e indicar qual decisão empresarial deveria ser tomada, orientado
pelas cartas. Certa feita, motoqueiros dos Hell`s Angels desembarcaram na
frente da sede para cobrar uma promessa feita por George Harrison, quando os
encontrou na Califórnia: “Se estiverem em Londres, me liguem!”. Pois bem, eles
chegaram e ficaram por lá, até o Beatle os receber. Até uma família de sem tetos
da Califórnia invadiu o prédio, procurando ajuda dos roqueiros ingleses.
Mas, se como administradores os quatro eram pífios, como
músicos continuavam geniais. E meio à catástrofe empresarial, lançaram um
single que trazia Hey Jude e Revolution. Foi a maior vendagem atingida pelo
quarteto em seis anos. Mas ainda tiveram de dividir os lucros com a EMI, por
força do contrato ainda em vigor. Além disso, mantiveram o trabalho voltado
para a finalização de um álbum duplo.
Finalmente, após cinco meses de trabalho duro, veio a
público o álbum, laconicamente intitulado “The Beatles”, mas ficaria mais famoso
pelo epíteto: Álbum branco. O disco contava com “While My Guitar Gently Weeps”,
composta por um inspiradíssimo George Harrison. Mas havia também folk, rock
pesado, reggae, uma balada em homenagem aos Beach Boys, country e algumas
experimentações de estúdio.
Embora o trabalho final tenha sido de tirar o fôlego, o
ambiente em que a banda estava inserida não era dos mais amistosos. Quase todas
as faixas foram compostas e executadas sem muita discussão, Yoko Ono incomodava
os demais membros da banda por não desgrudar de Lennon. As próprias
contribuições de Lennon faziam referência a um relacionamento angustiante,
pontuado por momentos de desespero – além das constantes metáforas com a
heroína, droga que passara a usar havia pouco tempo.
Com certeza, não fosse tanto talento musical, o desastrado
empreendimento teria ido à lona muito cedo.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: O Som da Revolução
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