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terça-feira, 7 de agosto de 2018

CHOROS RECITADOS E POEMAS CHORADOS



O choro é um estilo musical instrumental por excelência. Mas isso não significa que seja refratário à ideia de receber uma bela letra. Ainda no século XIX, o poeta Catulo da Paixão Cearense produziu letras para muitos choros, famosos à época, como os de Francisco Callado, Ernesto Nazareth e outros, embora não tivesse qualquer instrução em música.

Um dos exemplos mais emblemáticos foi o que se deu com a obra-prima de Pixinguinha: Carinhoso. Composta quando o maior dos chorões tinha apenas 26 anos, a melodia ficou guardada na gaveta, pois o autor a considerava muito moderna, seguindo uma estrutura diferente da tradicional.

A música foi gravada em 1928, apenas. A reação inicial foi de escândalo: foi considerada “jazzística” demais. Logo após, Braguinha, também conhecido como João de Barro, parceiro de Noel Rosa, pôs letra na canção.

O próximo desafio seria encontrar um cantor para registrar a obra. Mas ninguém se prontificou à tarefa. Só em 1937, um cantor em início de carreira aceitou o desafio. Seu nome era Orlando Silva, e o disco que produziu trazia de um lado Carinhoso; do outro, Rosa. Foi sucesso absoluto.

Outros grandes nomes da música e da poesia prestaram a tarefa semelhante às obras de Pixinguinha. Vinicius de Morais produziu letra para “Lamento”, Hermínio Bello de Carvalho, para “Fala baixinho”, Paulo César Pinheiro, para “Ingênuo”. A vitória do Brasil na Copa Sulamericana de 1919, por 1x0 contra o Uruguai na final, foi homenageada por Pixinguinha e Benedito Lacerda com o choro “1x0”. Agora recebia letra de Nelson Angelo, de fato uma narração de uma partida de futebol.

Quanto às interpretações, a Rainha do Choro, Ademilde Fonseca, delineou o estilo que seria seguido por cantores posteriores, ao gravar “Tico-tico no fubá”, “Brasileirinho” e “Delicado”. Nara Leão, em 1960, daria sua contribuição ao estilo ao registrar “Apanhei-te cavaquinho” e “Odeon”; Chico Buarque e Francis Hime fariam o mesmo em “Caro amigo”; Raul Seixas deu seu naco ao cantar a sua “Sessão das dez”; e Arnaldo Antunes e Marisa Monte, que deram voz a “De mais ninguém”.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Almanaque do choro: a história do chorinho...”

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