O choro é um estilo musical instrumental por excelência. Mas
isso não significa que seja refratário à ideia de receber uma bela letra. Ainda
no século XIX, o poeta Catulo da Paixão Cearense produziu letras para muitos
choros, famosos à época, como os de Francisco Callado, Ernesto Nazareth e
outros, embora não tivesse qualquer instrução em música.
Um dos exemplos mais emblemáticos foi o que se deu com a
obra-prima de Pixinguinha: Carinhoso. Composta quando o maior dos chorões tinha
apenas 26 anos, a melodia ficou guardada na gaveta, pois o autor a considerava
muito moderna, seguindo uma estrutura diferente da tradicional.
A música foi gravada em 1928, apenas. A reação inicial foi
de escândalo: foi considerada “jazzística” demais. Logo após, Braguinha, também
conhecido como João de Barro, parceiro de Noel Rosa, pôs letra na canção.
O próximo desafio seria encontrar um cantor para registrar a
obra. Mas ninguém se prontificou à tarefa. Só em 1937, um cantor em início de
carreira aceitou o desafio. Seu nome era Orlando Silva, e o disco que produziu
trazia de um lado Carinhoso; do outro, Rosa. Foi sucesso absoluto.
Outros grandes nomes da música e da poesia prestaram a
tarefa semelhante às obras de Pixinguinha. Vinicius de Morais produziu letra para
“Lamento”, Hermínio Bello de Carvalho, para “Fala baixinho”, Paulo César Pinheiro,
para “Ingênuo”. A vitória do Brasil na Copa Sulamericana de 1919, por 1x0
contra o Uruguai na final, foi homenageada por Pixinguinha e Benedito Lacerda
com o choro “1x0”. Agora recebia letra de Nelson Angelo, de fato uma narração
de uma partida de futebol.
Quanto às interpretações, a Rainha do Choro, Ademilde
Fonseca, delineou o estilo que seria seguido por cantores posteriores, ao
gravar “Tico-tico no fubá”, “Brasileirinho” e “Delicado”. Nara Leão, em 1960,
daria sua contribuição ao estilo ao registrar “Apanhei-te cavaquinho” e “Odeon”;
Chico Buarque e Francis Hime fariam o mesmo em “Caro amigo”; Raul Seixas deu
seu naco ao cantar a sua “Sessão das dez”; e Arnaldo Antunes e Marisa Monte,
que deram voz a “De mais ninguém”.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Almanaque do choro: a história do chorinho...”
Nenhum comentário:
Postar um comentário