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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

O MUNDO COMO ELE É, É O MUNDO QUE SE NOS IMPÕE – MOTOWN



Julho de 1988, o empresário Bery Gordy decidiu se desfazer de seu velho negócio, a lendária gravadora Motown. A decisão surpreendente poderia suscitar algum motivo oculto, então um jornalista perguntou: “Ao vender a Motown, você se sente um fracassado?”. Gordy não poderia parecer mais surpreso: “Faço parte de um negócio que vale 371 milhões de dólares. O que você acha?”.

A história de Berry Gordy e sua busca pelo sucesso começou há muitas décadas, quando a probabilidade de um negro nos EUA se tornar bem sucedido tendia a zero. Gordy não apenas não seguiu essa sina, como abriu caminho para a música negra e seus artistas maravilhosos: Steve Wonder, Marvin Gaye, Jackson Five, Jay-Z, Kanye West etc.

Gordy abandonou a escola muito cedo em busca de seu sonho: ser boxeador profissional. Venceu oito lutas, perdeu duas, empatou uma, mas não mais longe do que isso. Foi convocado pelo Exército, serviu por dois anos, casou-se, teve um filho e, após o período conscrito, conseguiu um emprego numa gráfica.

A noite de Detroit era agitada e Gordy gostava de passá-la ao som do jazz dos clubes locais. Sua paixão pela música o fez abrir uma loja de discos. Não deu certo. Seu público, operários que labutavam nas montadoras de carro da cidade durante o dia todo, em sua maioria negros, queria relaxar à noite, bebendo em profusão e ouvindo músicas mais agitadas.

Após a experiência fracassada com a loja, Gordy foi trabalhar na linha de montagem do Lincoln Mercury. Enquanto trabalhava e criava melodias mentais para novas canções, leu num anúncio que compositores poderia ganhar até 25 dólares por música.

Foi então que o dono de uma boate pediu-lhe material para ser entregue a seu novo cantor, Jackie Wilson. E Gordy lutara contra Wilson anos antes. Formaram uma dupla e compuseram músicas que fariam sucesso, tornando Wilson um dos artistas ais populares de Detroit.

Após conhecer um cantor aspirante chamado Smokey Robinson, por quem se afeiçoou musicalmente, Gordy mudou o nome da banda de Robinson para The Miracles. Enquanto isso, Gordy fundava a Jobete Publishing e os selos Motown e Tamla. Com isso, cada aspecto da carreira dos músicos ficava sob a batuta da gravadora. Até aulas de etiqueta e bons costumes eram dadas aos novos contratados.

O disco do The Miracles de 1959 vendeu 60 mil cópias – número inimaginável para uma gravadora iniciante. Em 1961, Shop Around, do mesmo grupo, alcançou o primeiro lugar na parada R&B e a vice-liderança nacional. Em setembro do mesmo ano, o grupo The Marvelettes conquistou a liderança nas paradas nacionais com “Please Mr. Postman”.

Gordy trazia em sua mente uma frase emblemática pronunciada por Sam Philips, da Sun Records, a gravadora que lançou Elvis Presley, segundo a qual ele tinha certeza de que se achasse um cantor branco para as músicas negras, faria fortuna. Gordy procurava o oposto, cantores negros para músicas brancas. Seus artistas negros soavam absolutamente brancos. E vendiam muito bem.

Contudo, nas décadas seguintes, gênios musicais como Norman Whitfield, Marvin Gaye, Steve Wonder obrigariam a gravadora a repensar sua estratégia inicial e se tornar o mais importante símbolo da black music, lançando nomes como The Temptations, The Supremes, The Isley Brothers, Diana Ross e muito mais.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “50 fatos que mudaram a história do rock”

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