Pesquisar as postagens

quinta-feira, 5 de julho de 2018

O SOM ALEGRE DO BLUES TRISTE - ROBERT JOHNSON



Embora poucos consigam conceituá-lo, é indiscutível que as raízes do rock remontam ao blues. Este último é um estilo musical derivado da cultura afro-americana, cujas sementes foram plantadas nos estados do Alabama, Mississipi, Lousiana e Geórgia. Ali, nas plantações de algodão do século XIX, escravos negros entoavam cantos que lhes davam a força necessária para vencer as longas e extenuantes jornadas de trabalho. A palavra blue, em inglês, além de significar a cor azul, também traduz o sentimento de tristeza.

Uma outra característica presente no ritmo do blues desde seu início era a sensualidade e o vigor das danças. As letras das canções, em geral, falavam de assuntos cotidianos, como religião, amor, sexo, traição, trabalho etc.

O blues se popularizou logo após o término da Guerra de Secessão, em 1865. A primeira gravação, segundo a versão mais difundida, ocorreu no Mississipi, em 1903. O músico em questão era W. C. Handy, autodeclarado “pai do blues”, e a música se chamava “St. Louis Blues” – regravado por Louis Armstrong e Glenn Miller.

O primeiro astro do blues atendia por Charley Patton. Apelidado de “pai do blues do delta”, tornou-se famoso na década de 1920. Sua popularidade rendeu-lhe uma homenagem de Bob Dylan em “High Water (For Charley Patton)”. A banda The White Stripes pendurou uma foto do músico no estúdio, durante a gravação de Icky Thump, buscando a mais genuína inspiração do ritmo.

Muitos outros nomes se sucederam: Son House, Willie Brown, Leroy Carr, Bo Carter, Silvester Weaver, Blind Willie Johnson e Tommy Johnson. Inicialmente, as músicas executadas eram composições tradicionais, cuja autoria era desconhecida, mas eram cantadas há tempos. Algumas dessas canções são clássicos até hoje, como Catfish Blues, imortalizada na voz e na guitarra de Jimmi Hendrix; e John The Revelator, gravada por REM e The White Stripes.

Na década de 1930, o blues alcança finalmente a popularidade. Era comum ver garotos brancos fugindo do olhar vigilante dos pais para passar algumas horas nos locais frequentados por negros, onde a música dominante era o blues.

E essa década  viu também o surgimento de uma lenda do blues, cujo nome também estava envolto em lendas, por exemplo a de que havia feito um pacto com o diabo, o que lhe rendeu uma habilidade insuperável tocando seu violão. Roberto Johnson foi homenageado, idolatrado, cantado e citado por alguns dos maiores ídolos do século XX, como Robert Plant, Jimmy Page, Eric Clapton, Keith Richards, Brian Jones, Rori Gallagher, Jimi Hendrix, ZZ Top, Lynyard Skynyard, Allman Bothers Band, Grateful Dead, Red Hot Chilli Peppers e outros.

Robert, posteriormente conhecido como “avô do rock”, registrou suas principais composições entre 1936 e 1937. Empunhando seu violão, sua gaita e sua harpa de boca, esse legítimo bluesman viajava por todo o território do delta (região do delta do rio Mississipi), de ônibus, de trem, caminhando pelas estradas, o que importava era mostrar sua arte, que rapidamente elevou-o ao patamar de rei dos cantores do delta.  

Sempre que chegava numa cidade, Johnson se punha a tocar por trocados, em frente de uma barbearia ou de um restaurante. As canções que executava eram as que lhe pediam, fossem sua sou não, fossem blues ou não. Aprendia rapidamente qualquer canção de ouvido – especialmente jazz e country music.

Agradável no palco, Robert criava laços com sua plateia, o que lhe rendia uma estadia agradável durante o tempo que permanecia nas cidades que visitava.

Em 1936, Johnson se descolou até a cidade de Jackson, no Mississipi. Procurava então por H. C. Speir, dono de uma mercearia e conhecido por procurar pessoas talentosas para agenciar. Speir gostou de Johnson e o recomendou a Ernie Oertle, que decidiu gravar as canções de Johnson na cidade de San Antonio, no Texas.

As sessões de gravação ocorreram num quarto de hotel que a Brunswick Records usava como estúdio temporário. Robert cantava virado para a parede, por motivos de acústica. Foram três dias, ao longo dos quais Johnson interpretou 16 canções – além de tomadas alternativas para algumas delas. Não se sabe quanto Johnson recebeu por esse trabalho, mas era certamente bem mais do que embolsara a vida toda.

Algumas das músicas gravadas naqueles dias eram Come on in my kitchen (gravada depois por Fleetwood Mac, George Harrison e outos), Kind Hearted Woman Blues (gravada por Eric Clapton e Johnny Winter), Dust my Broom (gravada por ZZ Top e outros) e a icônica Cross Road Blues, imortalizada nas interpretações das bandas Cream e Rush.

As duas primeiras músicas comercializadas venderam 5 mil cópias cada.

Em 1937, Johnson retornou ao estúdio, agora na Park Avenue, 508. Foram 11 faixas, dentre elas Stones in my Passway, Me and the Devil e Hellhound on my Trail. Esta última fala do medo do diabo e é considerada uma obra-prima do blues.

Seu estilo único, fazendo uso das cordas mais graves para marcar melhor o ritmo, além do aprumo da técnica de execução e de gravação, influenciou músicos como Elmore James e Muddy Waters. O blues elétrico de Chicago, surgido na década de 1950, também foi influenciado pelo estilo de Johnson de fazer blues.

Robert Johnson morreu com apenas 27 anos de idade (o que o punha ao lado de ídolos como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones e muitos outros). Até então já havia lançado sei discos, comercializados sob a infame e racista classificação de “discos de raça”.

Sua morte ocorreu na cidade de Greenwood, Mississipi, próximo a um entroncamento (ou crossroads, em inglês).  Johnson estava fazendo uma temporada de apresentações num clube de dança local. A versão mais difundida fala em morte por envenenamento – provavelmente ofereceram-lhe uma garrafa de uísque envenenado com estricnina -, após agonizar por três dias. 

Dentre muitas das odes a seu nome, Johnson foi homenageado por Eric Clapton em 2004, com o álbum Me and Mr. Johnson; Bob Dylan lançou versões de Kind Hearted Wonman Blues, Milkcow`s Claf Blues, Rambling on my Mind, I`m a Steady Rolling Man; Le Zeppelin gravou Traveling Riverside Blues, composição que misturava Cross Road Blues e Kind Hearted Woman, e The Lemon Song; Rolling Stones gravou Love in Vain e Stop Breaking Down; esta última também gravada pelo The White Stripes; a banda Red Hot Chilli Peppers gravou They´re Red Hot; Lynyard Skynyard gravou Crossroads em 1976.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Segredos e Lendas do Rock”

Nenhum comentário:

Postar um comentário