Embora poucos consigam conceituá-lo, é indiscutível que as
raízes do rock remontam ao blues. Este último é um estilo musical derivado da
cultura afro-americana, cujas sementes foram plantadas nos estados do Alabama,
Mississipi, Lousiana e Geórgia. Ali, nas plantações de algodão do século XIX,
escravos negros entoavam cantos que lhes davam a força necessária para vencer
as longas e extenuantes jornadas de trabalho. A palavra blue, em inglês, além
de significar a cor azul, também traduz o sentimento de tristeza.
Uma outra característica presente no ritmo do blues desde
seu início era a sensualidade e o vigor das danças. As letras das canções, em
geral, falavam de assuntos cotidianos, como religião, amor, sexo, traição,
trabalho etc.
O blues se popularizou logo após o término da Guerra de
Secessão, em 1865. A primeira gravação, segundo a versão mais difundida,
ocorreu no Mississipi, em 1903. O músico em questão era W. C. Handy,
autodeclarado “pai do blues”, e a música se chamava “St. Louis Blues” –
regravado por Louis Armstrong e Glenn Miller.
O primeiro astro do blues atendia por Charley Patton.
Apelidado de “pai do blues do delta”, tornou-se famoso na década de 1920. Sua
popularidade rendeu-lhe uma homenagem de Bob Dylan em “High Water (For Charley
Patton)”. A banda The White Stripes pendurou uma foto do músico no estúdio,
durante a gravação de Icky Thump, buscando a mais genuína inspiração do ritmo.
Muitos outros nomes se sucederam: Son House, Willie Brown,
Leroy Carr, Bo Carter, Silvester Weaver, Blind Willie Johnson e Tommy Johnson.
Inicialmente, as músicas executadas eram composições tradicionais, cuja autoria
era desconhecida, mas eram cantadas há tempos. Algumas dessas canções são
clássicos até hoje, como Catfish Blues, imortalizada na voz e na guitarra de
Jimmi Hendrix; e John The Revelator, gravada por REM e The White Stripes.
Na década de 1930, o blues alcança finalmente a
popularidade. Era comum ver garotos brancos fugindo do olhar vigilante dos pais
para passar algumas horas nos locais frequentados por negros, onde a música
dominante era o blues.
E essa década viu
também o surgimento de uma lenda do blues, cujo nome também estava envolto em
lendas, por exemplo a de que havia feito um pacto com o diabo, o que lhe rendeu
uma habilidade insuperável tocando seu violão. Roberto Johnson foi homenageado,
idolatrado, cantado e citado por alguns dos maiores ídolos do século XX, como
Robert Plant, Jimmy Page, Eric Clapton, Keith Richards, Brian Jones, Rori
Gallagher, Jimi Hendrix, ZZ Top, Lynyard Skynyard, Allman Bothers Band,
Grateful Dead, Red Hot Chilli Peppers e outros.
Robert, posteriormente conhecido como “avô do rock”,
registrou suas principais composições entre 1936 e 1937. Empunhando seu violão,
sua gaita e sua harpa de boca, esse legítimo bluesman viajava por todo o
território do delta (região do delta do rio Mississipi), de ônibus, de trem,
caminhando pelas estradas, o que importava era mostrar sua arte, que
rapidamente elevou-o ao patamar de rei dos cantores do delta.
Sempre que chegava numa cidade, Johnson se punha a tocar por
trocados, em frente de uma barbearia ou de um restaurante. As canções que
executava eram as que lhe pediam, fossem sua sou não, fossem blues ou não.
Aprendia rapidamente qualquer canção de ouvido – especialmente jazz e country
music.
Agradável no palco, Robert criava laços com sua plateia, o
que lhe rendia uma estadia agradável durante o tempo que permanecia nas cidades
que visitava.
Em 1936, Johnson se descolou até a cidade de Jackson, no
Mississipi. Procurava então por H. C. Speir, dono de uma mercearia e conhecido
por procurar pessoas talentosas para agenciar. Speir gostou de Johnson e o
recomendou a Ernie Oertle, que decidiu gravar as canções de Johnson na cidade
de San Antonio, no Texas.
As sessões de gravação ocorreram num quarto de hotel que a
Brunswick Records usava como estúdio temporário. Robert cantava virado para a
parede, por motivos de acústica. Foram três dias, ao longo dos quais Johnson
interpretou 16 canções – além de tomadas alternativas para algumas delas. Não
se sabe quanto Johnson recebeu por esse trabalho, mas era certamente bem mais
do que embolsara a vida toda.
Algumas das músicas gravadas naqueles dias eram Come on in
my kitchen (gravada depois por Fleetwood Mac, George Harrison e outos), Kind
Hearted Woman Blues (gravada por Eric Clapton e Johnny Winter), Dust my Broom
(gravada por ZZ Top e outros) e a icônica Cross Road Blues, imortalizada nas interpretações
das bandas Cream e Rush.
As duas primeiras músicas comercializadas venderam 5 mil
cópias cada.
Em 1937, Johnson retornou ao estúdio, agora na Park Avenue,
508. Foram 11 faixas, dentre elas Stones in my Passway, Me and the Devil e
Hellhound on my Trail. Esta última fala do medo do diabo e é considerada uma
obra-prima do blues.
Seu estilo único, fazendo uso das cordas mais graves para marcar
melhor o ritmo, além do aprumo da técnica de execução e de gravação,
influenciou músicos como Elmore James e Muddy Waters. O blues elétrico de
Chicago, surgido na década de 1950, também foi influenciado pelo estilo de Johnson
de fazer blues.
Robert Johnson morreu com apenas 27 anos de idade (o que o
punha ao lado de ídolos como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian
Jones e muitos outros). Até então já havia lançado sei discos, comercializados sob
a infame e racista classificação de “discos de raça”.
Sua morte ocorreu na cidade de Greenwood, Mississipi,
próximo a um entroncamento (ou crossroads, em inglês). Johnson estava fazendo uma temporada de
apresentações num clube de dança local. A versão mais difundida fala em morte
por envenenamento – provavelmente ofereceram-lhe uma garrafa de uísque
envenenado com estricnina -, após agonizar por três dias.
Dentre muitas das odes a seu nome, Johnson foi homenageado
por Eric Clapton em 2004, com o álbum Me and Mr. Johnson; Bob Dylan lançou
versões de Kind Hearted Wonman Blues, Milkcow`s Claf Blues, Rambling on my
Mind, I`m a Steady Rolling Man; Le Zeppelin gravou Traveling Riverside Blues,
composição que misturava Cross Road Blues e Kind Hearted Woman, e The Lemon
Song; Rolling Stones gravou Love in Vain e Stop Breaking Down; esta última
também gravada pelo The White Stripes; a banda Red Hot Chilli Peppers gravou
They´re Red Hot; Lynyard Skynyard gravou Crossroads em 1976.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Segredos e Lendas do Rock”
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