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Não Compre, Plante!
Planet Hemp
Se você sobe no morro pra buscar e leva porrada
Se ligue, sangue-bom, tem alguma coisa errada
Não vem com 171, comigo não tem parada errada
O que tenho a lhe dizer eu falo cara a cara
Você já pensou que o problema pode ser você?
Falando sem se informar, você vai se fuder
A cena inicial é
clássica. Um usuário de uma droga ilícita qualquer se dirige ao local onde é
vendida a tal substância: um boca de fumo de uma favela da cidade. O cidadão
terá problemas? Sim, caso seja flagrado por algum policial.
Há solução? A música
propõe que sim.
Você confunde os outros querendo aparecer
Você fala por falar, mas nunca vai me convencer
Você pensa que eu fico louco por fumar uma erva
Ela rompe as minhas barreiras e me deixa com a mente aberta
Quem é você pra falar do meu comportamento?
Cupadi, você não tem base. nem conhecimento
Nessa estrofe a
música trata dos diferentes tipos de usuários – fica claro que a droga em foco
é a maconha. A música dispõe que alguns usuários o são por pura “moda”. Julgam
que a usando serão automaticamente aceitos por grupos sociais.
Mas a letra sugere
que existem outros tipos, como os que usam a droga por seus efeitos
psicodélicos – crê-se que ela permite reflexões mais profundas. Inclusive as
divergências entre ambos parece ser relevante.
O tráfico mata por dia mais ou menos uns seis...
Faça as contas mermão, quantos morrem por mês?
Hoje eu vejo meus amigos de infância e penso:
Os que não estão na prisão.
Estão dentro de um caixão
Agora o foco muda
para a violência envolvida no tráfico de drogas. Os números são tão alarmantes
que parece comum, banal. É a banalização do mal? Sim, e torna novas vítimas
ainda mais aceitáveis.
Então saiba, meu irmão o porquê não legalizam não,
Eles precisam que alguns de nós virem ladrões
Cumpadi, não suba o morro se você não se garante
Como conseguir então?
Agora, uma denúncia.
Por que não regulamentar o comércio dessas substâncias, de forma a deixá-las
fora das atividades marginais? Porque assim dá mais dinheiro, fica restrita a
algumas pessoas, com contatos poderosos e praticamente sem concorrência.
E mais: para que a
atividade ilegal se perpetue, é necessário mão de obra. Portanto quanto mais
criminosos houver, mais pessoas estarão dispostas a se tornar traficantes –
afinal, após uma passagem pela polícia, só resta essa opção de trabalho.
Não compre, plante!(3x)
A solução seria
plantar e colher, na segurança do lar, sem financiar qualquer atividade criminosa.
Só há um detalhe: sem regulação, plantar é tráfico de drogas – é quase
impossível reclassificar a conduta para a de usuário.
Já chega de financiar essa máquina extorsiva,
De um lado o miserável
De outro o policial homicida
Aqui, uma observação
importante: comprar a droga significa financiar uma máquina criminosa, composta
por traficantes e policiais. Ambos obtêm bônus e ônus dessa insanidade
homicida, assim mantida para manter margens de lucro indecentes.
Eu nunca vi um policial trabalhando de verdade
São verdadeiros inimigos da liberdade
Polícia civil e federal só atacam traficante,
Que na verdade são testa-de-ferro de gente importante:
Militares e políticos sempre saem ilesos
Estão envolvidos com o tráfico,
Mas nunca foram presos
A imagem dos
policiais não é muito diferente disso, aos olhos da maior parte da sociedade.
Muitos têm a sensação de que eles só se movimentam se houver a possibilidade de
ganhos financeiros.
A denúncia seguinte
já é um clássico: os ataques da polícia só atingem os pés-descalços. Aqueles
que dispõem de aparato para promover um comércio internacional de toneladas e
toneladas de substâncias ilícitas, quase nunca é pego e nunca é preso.
Enquanto o povo na rua vai sendo maltratado
Ficam mostrando um idiota que foi sequestrado
Que só negou , escravizou, quem sabe até matou
E o pobre que não pediu isso foi quem pagou
Outra denúncia: uma
violência feita contra uma pessoa de classe social elevada tem mais poder de
mobilizar a mídia e a opinião pública do que inúmeras violências praticadas
contra uma imensa massa de pobres.
E continua, pondo o
passado de desmandos praticados por uma classe de privilegiados como uma chaga
a marcar ainda seus descendentes, que agora sofrem com a violência advinda de
anos ou séculos de políticas desumanas e injustas.
Pedem que façam paz, mas sem conveniência
Ensinam as crianças somente a violência
Aí cresce um cidadão sem ter o que comer
Sem nem um pouco de cultura pra poder sobreviver
Outra crítica, agora
contra aqueles que pedem que as pessoas vivam em paz, mas não propõem qualquer
mudança nas políticas sociais.
Impossível exigir um
comportamento civilizado e pacífico de quem vive em meio a locais violentos,
têm pouco o que comer, vivem num barraco dependurado numa encosta de morro, não
receberam qualquer educação formal... é conveniente ser um cidadão exemplar
nessas condições?
A liberdade de expressão é um direito constitucional,
Desde que não me prejudique e não me faça mal
Propaganda enganosa, meu irmão, não se espante
Ouça o que eu tô lhe dizendo:
Agora, a hipocrisia
que mantém esse país como é: o direito à liberdade de expressão é logo
censurado quando agride a opinião do “andar de cima”. Para estes, apenas
opiniões conservadoras, no sentido clássico, de quem quer conservar os valores sociais
como “sempre” foram, são aceitas.
Não importa tanto o
que você faça, mas o que você fala quando há muita gente ouvindo...
Não compre,plante! (x3)
Rubem L. de F. Auto
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