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sexta-feira, 30 de junho de 2017

COMO SURGEM OS MONSTROS – SEGUNDO O RAPPA


MONSTRO INVISÍVEL – O RAPPA

Monstro invisível que comanda a horda
Arrasando tudo o que é de praxe
Eu tô laje acima, no cerol que traz a vida pra baixo
Brilhante idéia de uma cabeça nervosa
Grafitando um outro muro de raiva
Eles já sabiam, mas deixaram a sina guiar a sorte

Um bandido, um assaltante, um trombadinha... Quando se tornam visíveis para a sociedade em geral?
Quando estão em gestação (nas lajes dos barracos em favelas, por exemplo), ou quando comandam sua hordas em ações que têm a sociedade como vítima (por exemplo, sendo o dono do muro grafitado com ódio)?
A sociedade se importa com a “vitimização” apenas quando ela é a vítima?  A sociedade já sabia onde a gestação iria terminar, mas preferiu “deixar a sina guiar a sorte”?

Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história, ela comungar
Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história, ela comungar
Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história, ela comungar
Vejo a minha história com a sua comungar

Onde ocorrerá a comunhão de histórias? Num assalto, no sinal mais próximo da sua casa?

Poço lado e sujo, cria do descaso
Alimentando folhas em branco e preto
Outra epidemia desanima quem convive com medo
Botões e atalhos amplificam a distância
E a preguiça de estar lado a lado veste a armadura
Esse é o poder solitário

Trágica infraestrutura urbana, que cria verdadeiras pocilgas batizadas de bairros. Esgoto a céu aberto, lixões clandestinos, rios poluídos... crias do descaso oficial.
Como dizia John Locke, nascemos folhas em branco, prontas para serem escritas. O ambiente em que vivemos influencia diretamente a história que será desenrolada. Folha tem cor? Se é branco ou negro, a folha se torna diferente?
Epidemias de dengue, cólera, febre amarela... os lixões que se tornaram muitas cidades poderiam oferecer algo diferente.
Botões e atalhos... ou seriam oportunidades e faltas de oportunidades? Enfim, coisas que aumentam as distâncias psicológicas, pois as geográficas são as mesmas.
A preguiça, ou o desânimo de se sentir parte de uma sociedade, cria facções e grupos que se enfrentam e se vêem como inimigos eternos.
O poder solitário que nunca deixa o poder do coletivo se manifestar.

Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história, ela comungar
Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história, ela comunga
Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história, ela comungar
Vejo a minha história com a sua comungar

Monstro invisível que comanda a horda
Arrasando tudo o que é de praxe
Eu tô laje acima, no cerol que trás a vida pra baixo
Brilhante idéia de uma cabeça nervosa
Grafitando um outro muro de raiva
Eles já sabiam, mas deixaram a sina guiar a sorte

Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história, ela comungar
Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história, ela comungar (2x)

Comungar, comungar, comungar, comungar, comungar
Vejo a história, ela comungar
Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história, ela comungar
Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história ela comungar

Comungar, comungar, comungar, comungar, ei (2x)

Monstro invisível arrasando tudo como é de praxe
Tudo como é de praxe, é de praxe
Eu tô laje acima e o cerol que traz a vida pra baixo, pra baixo, pra baixo, pra baixo



Rubem L. de F. Auto 

ENTRE UM SINAL VERMELHO E OUTRO, UM ASSALTO POR AMOR


INTERVALO ENTRE CARROS – O RAPPA

Ela molhada espera o busu
Na calçada parada mas não passa nenhum
Só, sempre só
No ponto de ônibus

Cena cotidiana, uma garota num ponto de ônibus. Quem será?

Ela se safa de qualquer um
Caô com ela não rola nenhum
Só, sempre só
No ponto de ônibus

Ela tem a malícia necessária para afastar os mais abusados, comum a meninas que crescem em ambientes vulneráveis.

Ela enfrenta como fez Ogum
Rainha do asfalto derruba um por um
Só, sempre só
No ponto de ônibus

Uma pequena metáfora com um Deus africano, deus guerreiro. Faz analogia com os desafios da vida.

Não é bonita nem grande
No rosto escorre uma gota d'água
E a alma chora sangue

Nada especial nela, aparentemente guarda mágoas e tristeza dentro de si. Mas tenta esconder tudo isso.

Olho de vidro que te cobre
A ambição é pequena
Alegria de pó

O rapaz que a observa parece ter uma atração muito forte pela garota. Aparentemente os dois não nutrem planos de vida grandiosos.

Uma menina mulher
Que não anda de salto
Sou seu cavaleiro e desde pequeno
Por você planejava assalto

E assim o príncipe-trombadinha pretende conquistar o coração da princesa-pedinte de rua...



Rubem L. de F. Auto

quinta-feira, 29 de junho de 2017

NECESSIDADES BÁSICAS X VONTADES PESSOAIS – A MÚSICA COMIDA E O SOCIALISMO DOS TITÃS


COMIDA - TITÃS

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?

Comer é uma necessidade fisiológica. Trata-se de ingerir elementos químicos que manterão nossos corpos vivos. Mas é só isso mesmo?

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte

Além das necessidades fisiológicas, nós temos mais necessidades? Divertir-se, mover-se com liberdade para onde você deseje, fazer e consumir arte.. tudo isso deve ser tratado como algo além das necessidades básicas? Como algo supérfluo, bens de luxo?

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer

Agora o grito! Não importa o tipo de arte, o tipo de atividade que se encare como diversão. Trata-se de liberdade. É a vontade de complementar a vida com aquilo que nos faz mais humanos e menos escravos das necessidades básicas.

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Pra aliviar a dor

Mais algumas necessidades que deveriam estar no plano mais básico:  a possibilidade de se dedicar à família, tendo tempo suficiente para conviver com ela. Esses momentos contrabalançam as horas dedicadas às obrigações laborais.

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade

O trabalho traz o sustento. Mas a vida vai além disso. Uma vida completa, inteira exige a presença de ambos os elementos. Não deveria haver uma contradição entre eles.

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Pra aliviar a dor

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade

Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
Necessidade

Desejo x necessidade; necessidade x vontade. Comer x viver? Não deveria existir tal oposição.



Rubem L. de F. Auto

A SOCIEDADE É SELVAGEM, SEGUNDO OS PARALAMAS DO SUCESSO


PARALAMAS DO SUCESSO – SELVAGEM

A polícia apresenta suas armas
Escudos transparentes, cassetetes
Capacetes reluzentes
E a determinação de manter tudo
Em seu lugar

A sociedade inconformada começa a demonstrar sua indignação, mas aí as forças policiais avançam, para manter a ordem, isto é, quem está no poder lá permanecerá.

O governo apresenta suas armas
Discurso reticente, novidade inconsistente
E a liberdade cai por terra
Aos pés de um filme de Godard

Em meio a promessas vazias e discursos populistas, os direitos são retirados, cidadãos, violentados e o drama de fundo filosófico que se desenrola poderia ser mais um roteiro de mais um obra do cineasta francês da nouvelle vague.  

A cidade apresenta suas armas
Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos
E o espanto está nos olhos de quem vê
O grande monstro a se criar

As misérias e desigualdades urbanas transformam a paisagem urbana numa panela de pressão no fogo alto. Se não baixar o fogo ela vai explodir...

Os negros apresentam suas armas
As costas marcadas, as mãos calejadas
E a esperteza que só tem quem tá
Cansado de apanhar

Quem poderia ser mais indicado para o papel de “terrorista” social do que aqueles que são os mais violentados por ela?



Rubem L. de F. Auto 

TANTOS PROBLEMAS NO MUNDO, CANTADOS POR BOB MARLEY


So much trouble in the world – Bob Marley

So much trouble in the world
So much trouble in the world

Tantos problemas no mundo
Tantos problemas no mundo


Bless my eyes this morning
Jah sun is on the rise once again
The way earthly thin's are goin'
Anything can happen.

Abençoe meus olhos
O Sol de Jah está surgindo de novo
Pelo modo como os terráqueos estão se comportando
Nada ocorrerá

You see men sailing on their ego trip,
Blast off on their spaceship,
Million miles from reality:
No care for you, no care for me.

Você vê os humanos viajando numa ego trip
Lançados em suas naves espaciais
Milhões de milhas da realidade:
Nenhuma preocupação com você, e nenhuma por mim

So much trouble in the world;
So much trouble in the world.
All you got to do: give a little (give a little),
Give a little (give a little), give a little (give a little)!
One more time, ye-ah! (give a little) Ye-ah! (give a little)
Ye-ah! (give a little) Yeah!

Tantos problemas no mundo
Tantos problemas no mundo
Tudo o que você tem que fazer: dar um pouco, dar um pouco,
Dar um pouco, dar um pouco
Dar um pouco mais de tempo, dar um pouco mais de tempo!

So you think you've found the solution,
But it's just another illusion!
(So before you check out this tide),
Don't leave another cornerstone
Standing there behind, eh-eh-eh-eh!
We've got to face the day;
(Ooh) Ooh-wee, come what may:
We the street people talkin',
Yeah, we the people strugglin'.

Então você acha que encontrou a solução,
Mas é apenas mais uma ilusão!
(Então, antes de você verificar esses obstáculos),
Não deixe outra pedra de canto
Ficar para trás, eh eh eh!
Temos que encarar o dia;
Ooo-wee, venha o que vier:
Nós, as pessoas da rua falando,
Sim, nós, as pessoas que lutam

Now they sitting on a time bomb; (Bomb-bomb-bomb! Bomb-bomb-bomb!)
Now I know the time has come: (Bomb-bomb-bomb! Bomb-bomb-bomb!)
What goes on up is coming on down, (Bomb-bomb-bomb! Bomb-bomb-bomb!)
Goes around and comes around. (Bomb-bomb-bomb! Bomb-bomb-bomb!)

Agora estão sentados sobre uma bomba-relógio (Bomba-bomba!)
Agora sei que a hora chegou:
O que sobe, desce
O que vai, volta

So much trouble in the world;
So much trouble in the world;
So much trouble in the world.
There is so much trouble (so much trouble in the world);
There is so much trouble;
There is so much trouble (so much in the world);
There is so much trouble;
There is so much trouble in the world (so much trouble in the world);
There is (so much in the world);
(So much trouble in the world)



Rubem L. de F. Auto

THE DREAM OF A NEW AMERICA – BAD RELIGION E O PUNK POLÍTICO


NEW AMERICA – BAD RELIGION

Do you know the cost of future misery? Have you lost your sense of
sustainability?
We are just a step away from realizing what we strive to be
But we've got to break out from this insulated blind and lame senility

Você sabe o custo da miséria futura? Você perdeu seu senso de
Sustentabilidade?
Estamos apenas a um passo de realizar o que queremos ser
Mas antes precisamos parar esse senilidade insulada e aleijada

Wake up the new America Wo-oh!
Transcend the mass hysteria Wo-oh!
Change is the thing you're wary of Wo-oh!
We need a new America Wo-oh!

Acorde Nova América Wo-oh!
Transcenda a histeria das massas Wo-oh!
Mudança é o que ansiamos Wo-oh!
Precisamos de uma nova América!

Laurels, human triumph, bestowments from the past
Victories don't mean a thing if they don't last
We are just marching toward extinction with blinders on our
eyes
Jeopardizing everything we've learned and come to realize
You call that wise?

Vitórias, conquistas humanas, concessões do passado
Vitórias não significam nada se elas não forem duradouras
Estamos apenas marchando e direção à extinção com vendas em nossos
Olhos
Destruindo tudo o que conhecemos e fizemos
Você acha isso inteligente?

Open your eyes America Wo-oh!
See through the lies they tell to us Wo-oh!
Confront the fears that worry us Wo-oh!
We need a new America Wo-oh!

Abra seus olhos, América Wo-oh!
Veja além das mentiras que nos contam Wo-oh!
Confronte o medo que nos preocupa Wo-oh!
Precisamos de uma nova América Wo-oh!

We don't have to be afraid to re-invent
We've got to start to build, progress, and implement
For when we take our fill, and never pay the price
We only build ourselves a fleeting, false paradise

You can live in staunch denial and mark me as your enemy
But I'm just a voice among the throng who want a brighter destiny
They say with me

Não precisamos temer nos reinventar
Precisamos começar a construir, progredir, e executar
Porque quando pegamos o que queremos, sem nunca pagar o preço
Nós apenas nos tornamos um vago, falso paraíso

We are the new America Wo-oh!
This is the new America? Wo-oh

Somos a nova América Wo-oh!
Essa é a nova América? Wo-oh!



Rubem L. de F. Auto

quarta-feira, 28 de junho de 2017

A REFORMA EDUCACIONAL DO PINK FLOYD ON THE WALL

A REFORMA EDUCACIONAL DO PINK FLOYD


Another Brick In The Wall / OUTRO TIJOLO NO MURO
Parte1

Daddy's flown across the ocean
Leaving just a memory
Snapshot in the family album
Daddy what else did you leave for me?
Daddy, what'd'ja leave behind for me?
All in all it was just a brick in the wall
All in all it was all just bricks in the wall


Papai, o que mais você deixou para mim?
Papai, o que você deixaria para mim?
No fim, era apenas um tijolo no muro
No fim, tudo eram apenas tijolos no muro

"You! Yes, you behind the bikesheds, stand still lady! "

Você! Sim, você atrás do bicicletário, para aí menina!”

When we grew up and went to school
There were certain teachers who would
Hurt the children in any way they could
(oof!)
By pouring their derision
Upon anything we did
And exposing every weakness
However carefully hidden by the kids
But in the town it was well known
When they got home at night, their fat and
Psychopathic wives would thrash them
Within inches of their lives

Quando nós crescemos e fomos à escola
Havia alguns professores que
Machucavam as crianças de todas as formas que podiam
(uf!)
Pondo seus escárnios
Sobre qualquer coisa que fizéssemos
E expondo todas as fraquezas
Embora as escondêssemos cuidadosamente
Mas na cidade isso era bem conhecido
Quando eles chegavam a casa à noite, suas esposas
Gordas e psicopatas os fariam se sentir um lixo
Em cada polegada de suas vidas

Parte 2

We don't need no education
We dont need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave them kids alone
Hey! Teachers! Leave them kids alone!
All in all it's just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall

Nós não precisamos de nenhuma educação
Nós não precisamos de controles mentais nenhuns
Sem sacarmos maldosos nas salas de aula
Professores, deixe-as, deixe as crianças em paz
Hey! Professores! Deixe-as em paz
No fim, é apenas outro tijolo no muro
No fim, vocês são apenas outro tijolo no muro

We don't need no education
We don't need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave us kids alone
Hey! Teachers! Leave us kids alone!
All in all it's just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall

"Wrong, Guess again!
If you don't eat yer meat, you can't have any pudding
How can you have any pudding if you don't eat yer meat?
You! Yes, you behind the bikesheds, stand still laddie! "

“Errado, tente de novo!
Se você não comer sua carne, não terá pudim
Como você quer um pudim se não come a carne?
Você! Sim, você atrás do bicicletário, parada aí menina!”

Parte 3

I don't need no arms around me
And I don't need no drugs to calm me
I have seen the writing on the wall
Don't think I need anything at all

Eu não preciso de braços que me apertem
E eu não preciso de drogas que me acalmem
Eu vi os escritos no muro
Não pense que preciso de qualquer coisa

No! Don't think I'll need anything at all
All in all it was all just bricks in the wall
All in all you were all just bricks in the wall

Não! Não pense que precisarei de alguma coisa a mais
E no fim, eram tudo apenas tijolos no muro
No fim, vocês são apenas tijolos no muro

Obs: O muro a que se refere a música é o muro do conhecimento. Por mais que o professor tenha amplos conhecimentos, ele pode adicioonar apenas mais um tijolo ao murto do conhecimento dos alunos. A reforma educacional proposta buscava deixar os alunos mais livres para irem atrás do conhecimento que desejavam obter. Essa música foi a base da reforma educacional no Reino Unido nos anos 1970.


Rubem L. de F. Auto

terça-feira, 27 de junho de 2017

GABRIEL, O PENSADOR E A REFORMA EDUCACIONAL


ESTUDO ERRADO – GABRIEL O PENSADOR

– Atenção pra chamada! Aderbal?
- Presente!
- Aninha?
- Eu!
- Breno?
- Aqui!
- Carol?
- Presente!
- Douglas?
- Alô!
- Fernandinha?
- Tô aqui.
- Geraldo?
- Eu!
- Itamarzinho?
- Faltou.
- Juquinha?

Hora da chamada... J

Eu tô aqui pra quê?
Será que é pra aprender?
Ou será que é pra sentar, me acomodar e obedecer?

Ensinar que existem regras que devem ser obedecidas é o mesmo que ensinar a cumprir todas as regras? Talvez o limite seja definido pelo senso crítico. Talvez...

Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater
Sem recreio de saco cheio porque eu não fiz o dever
A professora já tá de marcação porque sempre me pega
Disfarçando, espiando, colando toda prova dos colegas
E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo

A educação se resume a um embate entre professores e alunos?

E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo
Eu quero jogar botão, vídeo-game, bola de gude
Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e "estude!"

Diversão intercalada com estudos... Não seria possível transformar o estudo na própria diversão?

Então dessa vez eu vou estudar até decorar cumpádi
Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde
Ou quem sabe aumentar minha mesada
Pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?)
Não. De mulher pelada

Então o ato de estudar com mais afinco e melhorar as notas é apenas uma solução para apaziguar momentaneamente os ânimos dos pais. Isto é, novamente o aprendizado é um mero adorno.

A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada
E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa pirralhada!)

O aprendizado pode ser adquirido por outras vias, que não a escola. Por exemplo, um passeio com os pais – xiiiiiii, eles chegam muito tarde e muito cansados do trabalho. Ah, o cinema. Bons filmes educam. Mas menores de idade não entram desacompanhados...

A rua é perigosa então eu vejo televisão
(Tá lá mais um corpo estendido no chão)

Que medo da TV! Aliás, medo da sociedade...

Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei nem o que é inflação
- Ué não te ensinaram?
- Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil
Em vão, pouco interessantes, eu fico pu..

Ensinar e preparar para a vida. Algo muito distante de quem pretende ensinar apenas seguindo o livro-texto.

Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio
(Vai pro colégio!!)
Então eu fui relendo tudo até a prova começar
Voltei louco pra contar:

Tá de saco cheio? Então decora tudo. Mas decora perto da prova. Quando vocês esquecer, acabou a prova... nota 10 sem ter entendido nada! Show de bole, né?

Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem, tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)

Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi

Decoreba: esse é o método de ensino
Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino

Existe alguma preocupação com o fato de que alunos decoram, fazem a prova mas nada entendem? Sim? Então porque não fazem avaliações que evitem que esses alunos tirem boas notas? Ah, tá. Se não, não passarão no vestibular...

Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos
Desse jeito até história fica chato

Como ouvi uma vez, um professor tem que ser muito incompetente para deixar fazer de história uma matéria chata.

Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo
Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo
Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente
Eu sei que ainda não sou gente grande, mas eu já sou gente
E sei que o estudo é uma coisa boa
O problema é que sem motivação a gente enjoa
O sistema bota um monte de abobrinha no programa
Mas pra aprender a ser um ingonorante (...)

Decore, não pense nas causas e conseqüências e aprenda o máximo de bobagens possível. Ao fim, você será um brasileiro-modelo...

Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu dormir)
Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre
Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste
- O que é corrupção? Pra que serve um deputado?
Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso!
Ou que a minhoca é hermafrodita
Ou sobre a tênia solitária.
Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...)

Que tal, em vez de um professor, se você tivesse um orientador que o aproximasse do conhecimento que o atrai?

Vamos fugir dessa jaula!
"Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?)
Não. A aula
Matei a aula porque num dava
Eu não aguentava mais
E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais
Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam
(Esse num é o valor que um aluno merecia!)
Íííh... Sujô (Hein?)
O inspetor!
(Acabou a farra, já pra sala do coordenador!)
Achei que ia ser suspenso mas era só pra conversar
E me disseram que a escola era meu segundo lar
E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente
Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre!
Então eu vou passar de ano
Não tenho outra saída
Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida
Discutindo e ensinando os problemas atuais
E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais

Considerando a velocidade atual das mudanças, nenhum conhecimento será estático.

Com matérias das quais eles não lembram mais nada
E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada

Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem, tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)

Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi

Encarem as crianças com mais seriedade
Pois na escola é onde formamos nossa personalidade

Complementando: é onde se forma a futura sociedade.

Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância, a exploração, e a indiferença são sócios
Quem devia lucrar só é prejudicado
Assim vocês vão criar uma geração de revoltados
Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio
Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio

Juquinha você tá falando demais assim eu vou ter que lhe deixar sem recreio!
Mas é só a verdade professora!
Eu sei, mas colabora se não eu perco o meu emprego



Rubem L. de F. Auto

MÁGICO DE OZ – UM DRAMA BRASILEIRO


O MÁGICO DE OZ – RACIONAIS MCs

Aquele moleque, que sobrevive como manda o dia a dia
Tá na correria, como vive a maioria
Preto desde nascença, escuro de sol
Eu tô pra vê ali igual, no futebol
Sair um dia das ruas é a meta final
Viver decente, sem ter na mente o mal

Personagem cotidiano: brasileiro, adolescente, pobre, preto, bom de bola, vive nas ruas, pedinte... e lutando para não começar a cometer crimes. Mas é difícil. Parece que tudo conspira para transformá-lo num ladrãozinho, maloqueiro etc.

Tem o instinto que a liberdade deu
Tem a malicia, que cada esquina deu
Conhece puta, traficante e ladrão
Toda raça, uma par de alucinado e nunca embaçou
Confia neles mais do que na polícia
Quem confia em polícia? Eu não sou louco

E assim nosso personagem toma suas primeiras “aulas de viver”. Suas companhias não são estimulantes, mas são quem ele conhece. E mais: essas pessoas o protegem, o entendem, são capazes de oferecer algum carinho. Bem diferente do restante da sociedade, que passa querendo matá-lo, violentá-lo ou levá-lo preso

A noite chega e o frio também
Sem demora, ai a pedra
O consumo aumenta a cada hora
Pra aquecer ou pra esquecer
Viciar, deve ser pra se adormecer
Pra sonha, viajar, na paranoia, na escuridão
Um poço fundo de lama, mais um irmão

Finalmente chega a noite: fome, frio, sujeira... nesse ambiente ele vai ter de adormecer. Como? Só estiver totalmente drogado.

Não quer crescer, ser fugitivo do passado
Envergonhar-se se aos 25 ter chegado
Queria que Deus ouvisse a minha voz
E transformasse aqui num Mundo Mágico de Oz

Se envelhecer, provavelmente viverá como um presidiário contumaz. Se morrer, ao menos terá seguido a trajetória da maioria que conheceu. Enfim, no momento só resta rezar e torcer para que alguém o ouça...

Queria que Deus ouvisse a minha voz (que Deus ouvisse a minha voz)
Num Mundo Mágico de Oz (um Mundo Mágico de Oz) (2x)

Um dia ele viu a malandragem com o bolso cheio
Pagando a rodada, risada e vagabunda no meio
A impressão que dá, é que ninguém pode parar
Um carro importado, som no talo
Homem na Estrada, eles gostam
Só bagaceira só, o dia inteiro só
Como ganha o dinheiro?
Vendendo pedra e pó
Rolex, ouro no pescoço à custa de alguém
Uma gostosa do lado, pagando pau pra quem?
A polícia passou e fez o seu papel
Dinheiro na mão, corrupção a luz do céu
Que vida agitada, hein? Gente pobre tem
Periferia tem. Você conhece alguém?

Finalmente, o tráfico. Qual o modelo de sucesso, de pessoa bem sucedida? Um traficante ou um bandido, com dinheiro para beber a noite inteira, rodeados por interesseiros, cercados por mulheres, dirigindo carros (ouvindo Racionais J)ou motos... difícil tirar esse objetivo de sua vida: ser igual a eles.
Perigo? Há, mas ele vê como o suborno é capaz de minimizar os riscos. E assim ele aprende a única coisa que o ensinam.

Moleque novo que não passa dos 12
Já viu, viveu, mais que muito homem de hoje
Vira a esquina e para em frente a uma vitrine
Se vê, se imagina na vida do crime
Dizem que quem quer segue o caminho certo
Ele se espelha em quem tá mais perto

Viver nas ruas significa viver o tempo todo olhando para vitrines, produtos de consumo de aparência apelativa. Incrível, mas viver nas ruas aproxima as pessoas do capitalismo...

Pelo reflexo do vidro ele vê
Seu sonho no chão se retorcer
Ninguém liga pro moleque tendo um ataque
"Foda-se, quem morrer dessa porra de crack."
Relacione os fatos com seu sonho
Poderia ser eu no seu lugar
Das duas uma, eu não quero desandar
Por aqueles manos que trouxeram essa porra pra cá
Matando os outros, em troca de dinheiro e fama
Grana suja, como vem, vai, não me engana
Queria que Deus ouvisse a minha voz
E transformasse aqui num Mundo Mágico de Oz

O garoto vê o amigo, viciado em crack, tendo uma overdose. O que ocorre? Simples, menos um “bandidinho” no mundo. Dane-se!
Interessante que ele tem a consciência de que o consumo de crack dá mais poder aos traficantes. E ele não quer isso. Sabe também que aquilo mata muito facilmente, quem vende poderia ser acusado de homicídio... Mas nada pode fazer, exceto rezar...

Queria que Deus ouvisse a minha voz (que Deus ouvisse a minha voz)
Num Mundo Mágico de Oz (um Mundo Mágico de Oz) (2x)

Ei mano, será que ele terá uma chance?
Quem vive nessa porra, merece uma revanche
É um dom que você tem de viver
É um dom que você recebe pra sobreviver

Boa pergunte: quem vive esse inferno na Terra a vida inteira, merece uma vida melhor n`outro Plano! É uma questão de justiça.

História chata, mas cê tá ligado
Que é bom lembrar: quem entra, é um em cem pra voltar
Quer dinheiro pra vender? Tem um monte aí
Tem dinheiro, quer usar? Tem um monte aí
Tudo dentro de casa vira fumaça, é foda
Será que Deus deve estar aprovando minha raça?
Só desgraça gira em torno daqui

Agora o ponto gira em torno do crack. Vicia muito rapidamente, é difícil largar. Se quiser vender, as vagas estão abertas. Se quiser comprar, a oferta é quase infinita.
Acabou o dinheiro? Venda o que é menos importante, isto é, tudo!
Tanta à sua volta só pode ser maldição! Quem supera isso merece um reconhecimento divino sim.

Falei do JB ao Piqueri, Mazzei
Rezei para o moleque que pediu
"Qualquer trocado, qualquer moeda
Me ajuda tio..."
Pra mim não faz falta, uma moeda não neguei
Não quero saber, o que que pega se eu errei
Independente, a minha parte eu fiz
Tirei um sorriso ingênuo, fiquei um terço feliz

Mesmo sendo avisado de que o dinheiro da esmola pode virar cola, é difícil negar uma ajuda a quem vive o inferno diariamente.

Se diz que moleque de rua rouba
O governo, a polícia, no Brasil quem não rouba?
Ele só não tem diploma pra roubar
Ele não esconde atrás de uma farda suja
É tudo uma questão de reflexão irmão
É uma questão de pensar

Sem mais... disse tudo. Se o exemplo educa, somos a nação dos bandidos. A diferença é que alguns roubam para ter o que comer, outros roubam para comprar apartamento em NY...

A polícia sempre dá o mau exemplo
Lava a minha rua de sangue, leva o ódio pra dentro
Pra dentro de cada canto da cidade
Pra cima dos quatro extremos da simplicidade

Embora muitos vejam apenas o órgão policial trabalhando e executando suas funções, o excesso de violência traz o ensinamento de que a violência é natural e de que derramar sangue faz parte da paisagem.

A minha liberdade foi roubada
Minha dignidade violentada
Que nada dos manos se ligar
Parar de se matar
Amaldiçoar, levar pra longe daqui essa porra
Não quero que um filho meu um dia Deus me livre morra
Ou um parente meu acabe com um tiro na boca
É preciso eu morrer pra Deus ouvir minha voz
Ou transformar aqui no Mundo Mágico de Oz?

Resumindo: eu só queria bater asas e voar embora desse lugar amaldiçoado.

Queria que Deus ouvisse a minha voz (que Deus ouvisse a minha voz)
Num Mundo Mágico de Oz (um Mundo Mágico de Oz) (2x)

Jardim Filhos da Terra e tal
Jardim Hebron, Jaçanã e Jova Rural
Piqueri, Mazzei, Nova Galvão
Jardim Corisco, Fontális e então
Campo Limpo, Guarulhos, Jardim Peri
JB, Edu Chaves e Tucuruvi
Alô Doze, Mimosa, São Rafael
Zaki Narchi, tem um lugar no céu

Exemplos de nomes de bairros que sofrem do mesmo mal.

Às vezes eu fico pensando
Se Deus existe mesmo, morô?
Porque meu povo já sofreu demais
E continua sofrendo até hoje
Só que ai eu vejo os moleque nos farol, na rua
Muito louco de cola, de pedra
E eu penso que poderia ser um filho meu, morô?
Mas aí, eu tenho fé
Eu tenho fé... em Deus

Boa pergunta. Difícil crer, mas há quem consiga...



Rubem L. de F. Auto