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terça-feira, 22 de maio de 2018

VISÃO DO PARAÍSO... PARA UNS; DO INFERNO, PARA OUTROS


O poeta e historiador Alberto da Costa e Silva escreveu um primor a respeito das relações luso-africanas, que descambaram em relações luso-indianas e, finalmente, luso-brasileiras.

Ele alertou para o estranhamento que os africanos sentiram ao avistarem aqueles seres humanos de baixa estatura, de cabelos lisos e longos, de faces rosadas e barbudas, nariz comprido, lábios estreitos e pele desbotada. Pareciam não ter artelhos e seu cheiro era fétido. Os que contraiam escorbuto chegavam desdentados e com a boca sangrando.

Em geral, quem descia à terra nos primeiros contatos eram aqueles que traziam um péssimo aspecto, em geral adoentados, febris e infestados de pulgas e piolhos.

Por outro lado, logo perceberam os africanos que tratavam com gente extremamente curiosa, estavam interessados nos aspectos da região, quais riquezas exploravam, qual religião praticavam. Pareciam frágeis às doenças locais, mas traziam consigo armas que cuspiam fogo e faziam um estrondo como um trovão.
Algumas das mercadorias que ofereciam lhes interessavam, outras não. Moviam–se em embarcações enormes e velozes, chegavam a destinos inimagináveis aos africanos restritos à navegação de cabotagem.
Passaram o século XV quase inteiramente descobrindo a costa atlântica da África. Selaram alianças com alguns povos, entraram em conflito com outros. Muitos desses forasteiros tiveram descendentes mestiços, alguns se enriqueceram, enriqueceram outros comerciantes, reis, por vezes empobreceram outros.
Enriqueceram também a variedade de mercadorias comercializadas localmente, o mesmo fizeram em seu terra natal. Mas retiraram dali muitos de seus filhos, comprados como escravos. Profanaram locais sagrados segundo a religião alheia, queimaram ídolos, introduziram uma nova religião.

Introduziram animais e vegetais europeus ou asiáticos na costa atlântica da África, ergueram cruzes, construíram capelas, fortalezas. As relações daí advindas marcaram as relações futuras de Portugal com o resto do mundo.

Em sua segunda viagem à Índia, o capitão-mor Pedro Álvares Cabral mandou descer a uma praia desconhecida um batel, um barco pequeno que permitia ser aportado em praias rasas. Esse era exatamente o procedimento adotado na exploração da África.

Um negro grumete, um marinheiro de baixa graduação, desembarcou e se dirigiu na língua da Guiné às pessoas que avistava, “de cor baça e de cabelo comprido e corredio, e a figura do rosto coisa mui nova”. O risco e era conhecido e esta forma de contato terminou de maneira trágica em diversas incursões portuguesas na África.

A primeira tentativa foi falha. Tentaram então fazer contato em árabe. Obtiveram igual insucesso.

Logo os portugueses se lembraram da descrição dada pelos castelhanos dos povos que encontraram no Poente, isto é, naquilo que seria batizado de América.

Sim, agora sabiam que estavam na outra margem do Atlântico.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Desvendando a história da África”

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