O poeta e historiador Alberto da Costa e Silva escreveu um
primor a respeito das relações luso-africanas, que descambaram em relações
luso-indianas e, finalmente, luso-brasileiras.
Ele alertou para o estranhamento que os africanos sentiram
ao avistarem aqueles seres humanos de baixa estatura, de cabelos lisos e
longos, de faces rosadas e barbudas, nariz comprido, lábios estreitos e pele
desbotada. Pareciam não ter artelhos e seu cheiro era fétido. Os que contraiam
escorbuto chegavam desdentados e com a boca sangrando.
Em geral, quem descia à terra nos primeiros contatos eram
aqueles que traziam um péssimo aspecto, em geral adoentados, febris e
infestados de pulgas e piolhos.
Por outro lado, logo perceberam os africanos que tratavam
com gente extremamente curiosa, estavam interessados nos aspectos da região,
quais riquezas exploravam, qual religião praticavam. Pareciam frágeis às
doenças locais, mas traziam consigo armas que cuspiam fogo e faziam um estrondo
como um trovão.
Algumas das mercadorias que ofereciam lhes interessavam,
outras não. Moviam–se em embarcações enormes e velozes, chegavam a destinos
inimagináveis aos africanos restritos à navegação de cabotagem.
Passaram o século XV quase inteiramente descobrindo a costa
atlântica da África. Selaram alianças com alguns povos, entraram em conflito
com outros. Muitos desses forasteiros tiveram descendentes mestiços, alguns se enriqueceram,
enriqueceram outros comerciantes, reis, por vezes empobreceram outros.
Enriqueceram também a variedade de mercadorias
comercializadas localmente, o mesmo fizeram em seu terra natal. Mas retiraram
dali muitos de seus filhos, comprados como escravos. Profanaram locais sagrados
segundo a religião alheia, queimaram ídolos, introduziram uma nova religião.
Introduziram animais e vegetais europeus ou asiáticos na
costa atlântica da África, ergueram cruzes, construíram capelas, fortalezas. As
relações daí advindas marcaram as relações futuras de Portugal com o resto do
mundo.
Em sua segunda viagem à Índia, o capitão-mor Pedro Álvares
Cabral mandou descer a uma praia desconhecida um batel, um barco pequeno que
permitia ser aportado em praias rasas. Esse era exatamente o procedimento
adotado na exploração da África.
Um negro grumete, um marinheiro de baixa graduação,
desembarcou e se dirigiu na língua da Guiné às pessoas que avistava, “de cor
baça e de cabelo comprido e corredio, e a figura do rosto coisa mui nova”. O
risco e era conhecido e esta forma de contato terminou de maneira trágica em
diversas incursões portuguesas na África.
A primeira tentativa foi falha. Tentaram então fazer contato
em árabe. Obtiveram igual insucesso.
Logo os portugueses se lembraram da descrição dada pelos
castelhanos dos povos que encontraram no Poente, isto é, naquilo que seria
batizado de América.
Sim, agora sabiam que estavam na outra margem do Atlântico.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Desvendando a história da África”
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