Pesquisar as postagens

sexta-feira, 18 de maio de 2018

COMÉRCIO INTERAFRICANO: A SUPERFEIRA DO SAHEL E O OURO DE GANA


O local onde se desenvolveram as principais civilizações africanas atende pelo nome de Sahel: é onde se encontram o deserto do Saara e as savanas africanas, isto é, local de encontro dos pastores nômades do deserto com os agricultores sedentários. Inevitável que ali surgisse uma relação de troca comercial complementar.

Pelo Sahel passavam as principais rotas comerciais do deserto, com suas caravanas e cidades intermediárias, que conformavam uma rede comercial imensa. Essa imensa atividade econômica desenvolveu toda uma gama de serviços correlatos: tributos de passagem, hospedagem, serviços de guias, serviços de guarda e proteção etc.

Por exemplo, iam para o Sudão africano o sal, o cobre, artefatos em vidro, pedras raras, perfumes, panos de algodão, tâmaras e espadas. Na direção contrária iam goma, âmbar, pimenta malagueta, marfim, peles e homens escravizados.

O deslocamento se dava por camelo ou no lombo de jumentos. As mercadorias mais valorizadas eram sal, ouro e escravos.

O alicerce sobre o qual se ergueram as grandes civilizações locais foi a tomada de controle sobre as regiões produtoras dessas riquezas. O acesso às salinas, às minas de ouro, o controle sobre cruzamentos de vias comerciais relevantes, verteram para si montantes de recursos que financiaram a criação de centros de poder e formas de Estados.

Exemplo mais dramático era o tráfico de cativos na região subsaariana. Aristocracias guerreiras dominavam e escravizavam outros grupos, que eram posteriormente trocados por mercadorias, em geral ligadas à guerra, como cavalos.

Provavelmente a história do reino de Gana, cujo início teria se dado no século VIII, deu-se nesses termos. Localizado entre o Saara e as cabeceiras dos rios Níger e Senegal, era estratégico para a dominação das rotas de comércio entre o deserto e a savana.

Logo conhecida como “terra do ouro”, controlava o fluxo de ouro que provinha do sul, por um lado, e o fluxo de sal, em sentido inverso. A riqueza que se acumulava necessitava de proteção, o que foi alcançado com a emergência de um poderio militar, além da coordenação administrativa necessária para governar tal território, a cada dia mais complexo.

Crê-se que a primeira dinastia governante do Gana tenha sido de cameleiros do deserto, que se instalaram nos portos do Sahel com vistas ao comércio do ouro. Essa também foi a porta de entrada no Islã na região, como se lê nos textos de viajantes árabes da época.

Interessante notar que o controle administrativo recaía muito mais sobre as pessoas do que sobre o território, isto é, a influência do governante era exercida sobre diversos grupos de súditos, não importando tanto o território que ocupavam. Assim é que cidades distantes, porém importantes centros de comércio, contavam com certa autonomia, mas eram suseranas; por outro lado, a capital Kumbi Saleh era dividida em duas, uma cidade era o centro administrativo do reino de Gana, enquanto a outra metade era um centro de reunião de comerciantes muçulmanos, portanto quase soberana em seus desígnios.

O comércio foi fulcral tanto para o nascimento quanto para a derrocada do reino de Gana. A perda do controle sobre as rotas comerciais cujo monopólio do ouro e da cunhagem de moeda caía agora em mãos de povos islamizados. Já no século XII o resultados desse enfraquecimento era bastante aparente.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Desvendando a história da África”

Nenhum comentário:

Postar um comentário