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sexta-feira, 18 de maio de 2018

ROTAS DE COMÉRCIO: MALI CINTILANTE


O Império do Mali teve sua ascensão no século XIII. Invasões provenientes do norte do continente africano deslocaram o eixo do comércio transaariano para o sul. As fontes de ouro também se deslocaram para o sul, em função da perda de controle das fontes mais antigas, conquistadas por outros povos.

Os governantes do Mali eram originalmente caçadores. Passaram a controlar as minas de Buré e impor tributos sobre os que desejavam explorá-las. Foi o exercício desse controle que deu origem às diferentes formas políticas de grupos existentes nas savanas.

O Império do Mali se conformou a partir de associações cuja extensão atingia fontes de ouro, portos caravaneiros e as rotas que os uniam. Estavam aí incluídas as cidades de Gao, Walata, Tombuctu e Djenne, as jazidas de sal de Tagaza, as minas de cobre de Tadmekka. A riqueza circulava principalmente ao longo do rio Níger. Relatos de diversos viajantes davam conta da segurança e da existência de infraestrutura elogiável ao longo das rotas do Mali.

A cidade de Djenne era produtor agropecuário importante, ligando a região de savana com a floresta, de onde se extraía a valiosíssima noz-de-cola. Também foi nessa floresta que os primeiros comerciantes passaram a trocar sal por ouro. Isso expandiu o império para o sul e ajudou a interiorizar ainda mais a influência islâmica.

Na verdade, a influência islâmica na região data do século XI. Comerciantes muçulmanos eram presença constante na corte do imperador Sundjata Keita. Num império extremamente heterogêneo, o islã foi a amálgama que uniu a todos e propiciou o surgimento de uma atividade comercial intensa. No seu momento máximo, a rede comercial atingia o litoral, a floresta, e existiam diversas companhias comerciais que contavam com escolta e serviço de correio próprios.

A expansão islâmica em Mali tomou impulso após a viagem do Mansa Mussa a Meca, em 1325. A quantidade de ouro transportada por sua comitiva era de tal monta que desvalorizou o preço local do ouro quando chegou ao Egito.

Quando de seu retorno, levou consigo credores, artistas, que deram origem à elite letrada do império. Em seu auge, o império do Mali atraiu olhares ambiciosos de nações européias. Algum tempo depois, o eixo comercial deixou o deserto e passou a ocupar a costa atlântica africana, já no século XV.

A derrocada do império se deveu a diversos fatores: disputas internas pelo controle da política local, novos inimigos em ascensão, especialmente na região do Sudão, e o não menos importante descolamento do eixo das redes comerciais em direção ao litoral atlântico.

Esse descolamento abriu caminho para outra nação africana em ascensão: o Gâmbia. Devido ao aumento dos riscos da rotas que cortavam o Mali, houve o deslocamento das mesmas em direção ao Gâmbia. Esta região era, de fato, parte do império do Mali, então sem a menor importância. Contudo passaram a comerciar com os portugueses, ainda na segunda metade do século XV. O Gâmbia tornava-se assim um grande centro de trocas, suplantando a região de comércio com os muçulmanos.

Os portugueses se esmeraram em conquistar a confiança dos chefes locais, enviando diversas missões diplomáticas com o fim de estabelecer laços comerciais. Já no século XVI o declínio do poder local era indisfarçável e diversos povos foram obrigados, mais uma vez, a se deslocarem para o sul.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Desvendando a história da África”

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