O Império do Mali teve sua ascensão no século XIII. Invasões
provenientes do norte do continente africano deslocaram o eixo do comércio
transaariano para o sul. As fontes de ouro também se deslocaram para o sul, em
função da perda de controle das fontes mais antigas, conquistadas por outros
povos.
Os governantes do Mali eram originalmente caçadores.
Passaram a controlar as minas de Buré e impor tributos sobre os que desejavam
explorá-las. Foi o exercício desse controle que deu origem às diferentes formas
políticas de grupos existentes nas savanas.
O Império do Mali se conformou a partir de associações cuja
extensão atingia fontes de ouro, portos caravaneiros e as rotas que os uniam.
Estavam aí incluídas as cidades de Gao, Walata, Tombuctu e Djenne, as jazidas
de sal de Tagaza, as minas de cobre de Tadmekka. A riqueza circulava
principalmente ao longo do rio Níger. Relatos de diversos viajantes davam conta
da segurança e da existência de infraestrutura elogiável ao longo das rotas do
Mali.
A cidade de Djenne era produtor agropecuário importante,
ligando a região de savana com a floresta, de onde se extraía a valiosíssima
noz-de-cola. Também foi nessa floresta que os primeiros comerciantes passaram a
trocar sal por ouro. Isso expandiu o império para o sul e ajudou a interiorizar
ainda mais a influência islâmica.
Na verdade, a influência islâmica na região data do século
XI. Comerciantes muçulmanos eram presença constante na corte do imperador
Sundjata Keita. Num império extremamente heterogêneo, o islã foi a amálgama que
uniu a todos e propiciou o surgimento de uma atividade comercial intensa. No
seu momento máximo, a rede comercial atingia o litoral, a floresta, e existiam
diversas companhias comerciais que contavam com escolta e serviço de correio
próprios.
A expansão islâmica em Mali tomou impulso após a viagem do
Mansa Mussa a Meca, em 1325. A quantidade de ouro transportada por sua comitiva
era de tal monta que desvalorizou o preço local do ouro quando chegou ao Egito.
Quando de seu retorno, levou consigo credores, artistas, que
deram origem à elite letrada do império. Em seu auge, o império do Mali atraiu
olhares ambiciosos de nações européias. Algum tempo depois, o eixo comercial
deixou o deserto e passou a ocupar a costa atlântica africana, já no século XV.
A derrocada do império se deveu a diversos fatores: disputas
internas pelo controle da política local, novos inimigos em ascensão,
especialmente na região do Sudão, e o não menos importante descolamento do eixo
das redes comerciais em direção ao litoral atlântico.
Esse descolamento abriu caminho para outra nação africana em
ascensão: o Gâmbia. Devido ao aumento dos riscos da rotas que cortavam o Mali,
houve o deslocamento das mesmas em direção ao Gâmbia. Esta região era, de fato,
parte do império do Mali, então sem a menor importância. Contudo passaram a
comerciar com os portugueses, ainda na segunda metade do século XV. O Gâmbia
tornava-se assim um grande centro de trocas, suplantando a região de comércio
com os muçulmanos.
Os portugueses se esmeraram em conquistar a confiança dos
chefes locais, enviando diversas missões diplomáticas com o fim de estabelecer
laços comerciais. Já no século XVI o declínio do poder local era indisfarçável
e diversos povos foram obrigados, mais uma vez, a se deslocarem para o sul.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Desvendando a história da África”
Nenhum comentário:
Postar um comentário