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segunda-feira, 21 de maio de 2018

A ÁFRICA ENCONTRA A EUROPA


Até a Idade Média européia, as referências que existiam sobre negros se baseavam ou em preceitos bíblicos – eram referenciados como filhos de Cam - e nos textos Greco-romanos. Mas o comércio atlântico trouxe outra referência, mais real.

No Museu do Prado, em Madri, existem diversos quadros contendo pessoas negras. Um deles é o quadro Adoração dos Reis Magos, de Hans Memling e Jerônimo Bosch. Bosch produziu ainda O Jardim das Delícias, contendo também diversos negros – além de animais africanos como elefantes, girafas e outros.
Alberto Durer retratou um negro em 1508 e uma negra, em 1521. Esta última teve como modelo Catarina, doméstica do português João Brandão.

Muita informação sobre populações habitantes do interior da África surgiram no encalço do comércio mediterrâneo. Essa experiência foi se acumulando desde a tomada pelos portugueses da cidade de Ceuta, em 1415, até o término do périplo africano, em 1498. Essa jornada foi marcada pela passagem do Cabo Bojador, em 1434; e pela chegada à Guiné e ao Cabo Verde, na década seguinte. A Costa da Malagueta 
foi alcançada em 1470.

Em 1482 ergueram a fortaleza d`El Mina. Ainda naquela década, Diogo Cão navegou pela Rio Zaire, enquanto Bartolomeu Dias chegava ao extremo sul do continente.

Finalmente, em 1497, Vasco da Gama legou padrões ao longo da costa africana, antes de desembarcar na Índia. Diversos contatos com povos africanos foram travados, embora muitas vezes com resultados trágicos. Já nessa época se tornou comum o comércio de escravos, mas a escala era minúscula se comparada àquela após a conquista da América.

Mesmo após terem travado contato com agentes da Guiné, as hostilidades contra os portugueses eram constantes. Somente após o português Diogo Gomes adentrar a região da Senegâmbia as relações comerciais com Portugal se tornaram constantes, especialmente na região do Rio Gâmbia, o Casamansa, o São Domingos e o Rio Grande.

A chegada dos portugueses coincide historicamente com o declínio do império de Mali e a ascensão do império Songai, mas é difícil estabelecer uma correlação confiável entre esses fenômenos.
A exploração da Guiné se fez por Portugal em parceria com a iniciativa provada: o comerciante português Fernão Gomes recebeu do Rei D. Afonso V o monopólio comercial da Guiné. Desde o início este monopólio enfrentou a concorrência de castelhanos, levando a capturas de embarcações e enforcamento da tripulação. Mais tarde foi a vez dos flamencos enfrentarem o monopólio lusitano.

Somente após a assinatura de um tratado luso-castelhano em 1479, ratificado em 1480 pelos reis, o cenário se tornou menos caótico. Em 1481, o papa Xisto IV emitiu a bula papal Aeterni Regis, no qual ficava ratificada a divisão entre territórios de influência exclusiva de Portugal e da Espanha. Foi então que Portugal decidiu pela construção de um forte no litoral que explorava.

Mas a construção imprescindia de um acordo com líderes locais. Tal entendimento foi conquistado e a fortaleza de São Jorge da Mina foi erguida em poucas semanas. Daí em diante os portugueses barganharam por vantagens comerciais – além de se lançarem à odioso prática da conversão ao cristianismo.
Foram inevitáveis e cada vez mais comuns conflitos com povos locais, levando à recusa absoluta de tolerar estrangeiros no seu litoral. A permanência desses europeus necessitou da adoção de costumes locais, isto é, os portugueses se africanizaram na chamada Costa da Mina; dessa forma conseguiram se manter intermediando o comércio de riquezas africanas.

Outra saída encontrada foi a aliança com povos vizinhos, como os de Eguafo e Fetu. Com a alinça com os ntotila do Congo, em 1482, os portugueses conseguiram fazer parte de uma imensa rede comercial africana. Mercadorias européias e africanas eram trocadas intensamente a partir de então. A navegação portuguesa levou esse comércio a atingir proporções intercontinentais. Foi inevitável a reorganização social em diversas partes do continente surgida com essa inédita atividade comercial.

No entanto, a aliança entre Portugal e os povos do Congo terminou de maneira trágica, quando foram atacados por outros povos, solicitaram ajuda a seu aliado europeu, que respondeu com a mais cínica omissão.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Desvendando a história da África”

          

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