Até a Idade Média européia, as referências que existiam
sobre negros se baseavam ou em preceitos bíblicos – eram referenciados como
filhos de Cam - e nos textos Greco-romanos. Mas o comércio atlântico trouxe
outra referência, mais real.
No Museu do Prado, em Madri, existem diversos quadros
contendo pessoas negras. Um deles é o quadro Adoração dos Reis Magos, de Hans
Memling e Jerônimo Bosch. Bosch produziu ainda O Jardim das Delícias, contendo
também diversos negros – além de animais africanos como elefantes, girafas e
outros.
Alberto Durer retratou um negro em 1508 e uma negra, em
1521. Esta última teve como modelo Catarina, doméstica do português João
Brandão.
Muita informação sobre populações habitantes do interior da
África surgiram no encalço do comércio mediterrâneo. Essa experiência foi se
acumulando desde a tomada pelos portugueses da cidade de Ceuta, em 1415, até o
término do périplo africano, em 1498. Essa jornada foi marcada pela passagem do
Cabo Bojador, em 1434; e pela chegada à Guiné e ao Cabo Verde, na década
seguinte. A Costa da Malagueta
foi alcançada em 1470.
Em 1482 ergueram a fortaleza d`El Mina. Ainda naquela
década, Diogo Cão navegou pela Rio Zaire, enquanto Bartolomeu Dias chegava ao
extremo sul do continente.
Finalmente, em 1497, Vasco da Gama legou padrões ao longo da
costa africana, antes de desembarcar na Índia. Diversos contatos com povos
africanos foram travados, embora muitas vezes com resultados trágicos. Já nessa
época se tornou comum o comércio de escravos, mas a escala era minúscula se
comparada àquela após a conquista da América.
Mesmo após terem travado contato com agentes da Guiné, as
hostilidades contra os portugueses eram constantes. Somente após o português
Diogo Gomes adentrar a região da Senegâmbia as relações comerciais com Portugal
se tornaram constantes, especialmente na região do Rio Gâmbia, o Casamansa, o
São Domingos e o Rio Grande.
A chegada dos portugueses coincide historicamente com o
declínio do império de Mali e a ascensão do império Songai, mas é difícil
estabelecer uma correlação confiável entre esses fenômenos.
A exploração da Guiné se fez por Portugal em parceria com a
iniciativa provada: o comerciante português Fernão Gomes recebeu do Rei D.
Afonso V o monopólio comercial da Guiné. Desde o início este monopólio
enfrentou a concorrência de castelhanos, levando a capturas de embarcações e
enforcamento da tripulação. Mais tarde foi a vez dos flamencos enfrentarem o
monopólio lusitano.
Somente após a assinatura de um tratado luso-castelhano em
1479, ratificado em 1480 pelos reis, o cenário se tornou menos caótico. Em
1481, o papa Xisto IV emitiu a bula papal Aeterni Regis, no qual ficava
ratificada a divisão entre territórios de influência exclusiva de Portugal e da
Espanha. Foi então que Portugal decidiu pela construção de um forte no litoral
que explorava.
Mas a construção imprescindia de um acordo com líderes
locais. Tal entendimento foi conquistado e a fortaleza de São Jorge da Mina foi
erguida em poucas semanas. Daí em diante os portugueses barganharam por
vantagens comerciais – além de se lançarem à odioso prática da conversão ao
cristianismo.
Foram inevitáveis e cada vez mais comuns conflitos com povos
locais, levando à recusa absoluta de tolerar estrangeiros no seu litoral. A
permanência desses europeus necessitou da adoção de costumes locais, isto é, os
portugueses se africanizaram na chamada Costa da Mina; dessa forma conseguiram
se manter intermediando o comércio de riquezas africanas.
Outra saída encontrada foi a aliança com povos vizinhos,
como os de Eguafo e Fetu. Com a alinça com os ntotila do Congo, em 1482, os
portugueses conseguiram fazer parte de uma imensa rede comercial africana.
Mercadorias européias e africanas eram trocadas intensamente a partir de então.
A navegação portuguesa levou esse comércio a atingir proporções
intercontinentais. Foi inevitável a reorganização social em diversas partes do
continente surgida com essa inédita atividade comercial.
No entanto, a aliança entre Portugal e os povos do Congo
terminou de maneira trágica, quando foram atacados por outros povos,
solicitaram ajuda a seu aliado europeu, que respondeu com a mais cínica
omissão.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Desvendando a história da África”
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