Por volta de 350 a.C., a economia ateniense vivia uma grande
recessão. A principal fonte de renda vinha da agricultura. A área mais produtiva
se situava na Ática, nos arredores de Atenas. A segunda fonte de renda era a
manufatura. Artesãos de múltiplas capacitações produziam de tudo – havia cerca
de 170 tipos diferentes de bens e serviços.
Outro aspecto relevante da economia grega é a existência de
escravos nas mais diversas atividades. A escravidão era tão presente que os
escravos tinham preços facilmente calculados.
Mas a atividade econômica mais importante era o comércio.
Calcula-se que cerca de metade dos atenienses estava envolvida em algum tipo de
comércio. A necessidade de praticar o comércio adveio da notória falta de
recursos naturais e alimentícios e quantidade suficiente para garantir a autossuficiência
da cidade.
No século IV já se havia desenvolvido um mercado de trocas
comerciais complexas e internacionais englobando todo o mundo antigo conhecido.
Atenas era a cidade que usava mais intensamente as rotas marítimas. O porto do
Pireu era o coração da economia ateniense.
Atenas também exportava muito, especialmente artigos de mesa
e bebidas. Alguns eram produzidos visando ao mercado externo. A ilha de Tasos,
colônias no sul da Itália e Cartago eram destinos comuns.
Por seu turno, Tasos era conhecida pelo vinho, largamente
consumido pelos atenienses mais ricos.
Outro local onde o comércio se desenvolveu sobremaneira era
a colônia de Massalia, modernamente conhecida como Marselha, no sul da França.
Seu papel de intermediário na importação de vinhos, destinados a gauleses e
celtas residentes no interior da França, já àquela época notórios apaixonados
pela bebida – até então importada.
Após fazer fortuna importando vinho, Massalia passou à
produção própria. Sua qualidade se destacou de tal maneira que passaram a ser
vendidos em ânforas específicas, de modo a destacá-lo dos concorrentes.
Um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento do comércio
naquele tempo eram os piratas. A ilha de Melos era conhecida como porto seguro
para desembarque de mercadorias contrabandeadas por piratas. A cidade de
Zancle, na Sicília, abrigava alguns dos mais sanguinários piratas. A ilha de
Egina era procurada pelo seu vibrante mercado negro de produtos roubados.
O fim dessa atividade ilícita era uma utopia, pois a relação
entre escravos e autoridades locais era muito complexa, haja vista serem
frequentemente contratados para combater desafetos políticos e ajudar a invadir
cidades inimigas.
Um grande salto dados pelas atividades comerciais na Grécia antiga
era o desenvolvimento de bancos comerciais. No século IV a.C., a cunhagem de
moedas era praticada em todas as cidades gregas. O escambo era recusado e as
moedas locais somente tinham valor dentro dos seus muros. Fazia-se necessário,
portanto, um mecanismo de câmbio. E esse passo não demorou ser dado.
Cambistas estabeleceram bancas nas cidades portuárias do
Egeu, onde os comerciantes poderiam trocar suas moedas pelas que desejasse. Com
o tempo, passaram a atuar como depositários do dinheiro excedente dos
comerciantes. Passo sucessivo, nasceu também o seguro contra perda de cargas,
depois se disponibilizaram créditos para aquisição de terras e outros negócios,
o crédito para financiamento de exportações... Enfim, nascia o banco da era
moderna. Fato é que a palavra grega para banco, trapeza, é a mesma desde então.
Esses cambistas eram estrangeiros, portanto não tinha
direitos políticos em Atenas, mas eram prósperos e em número considerável –
chegaram à casa dos 10 mil. Receberam, assim, o nome de metecos – também chamados
de novos-ricos. A primeira dinastia de ricos banqueiros de Atenas eram os
Pasion.
Quando as economias locais ganharam corpo, os saques e
invasões a outras cidades deixaram de ser uma fonte viável de arrecadação,
dando lugar aos detestáveis impostos. Já em 380 a,.C., Atenas realizara um
censo das propriedades fundiárias, visando à cobrança de impostos. Eram
igualmente tributadas as atividades de vendas, circulação de mercadorias nos
portos, alguns tipos de empregos (como a prostituição), etc.
Já os cidadãos ateninses mais ricos eram obrigados por lei a
prtestarem alguns tipos de serviços públicos: financiamento de peças teatrais, aquisição
de armas para navios de guerra etc. A atividade de coleta de impostos era
terceirizada, mediante licitação.
Por volta de 350 a.C. toda essa engrenagem estava
funcionando milimetricamente bem. A população das cidades crescia
exponencialmente (Atenas à frente), de modo a fluírem quantidades vultosas de
recursos para os cofres públicos. Obras públicas pululavam em Atenas, com
teatros, santuários e muralhas fortificadas surgindo a todo instante.
Foi então que tudo entrou em colapso. Guerras, colheitas
ruins e disputas internas desarticularam aquela engrenagem tão frágil, a ponto
de o declínio parecer irresistível. Com as constantes guerras, o fornecimento
de cereais ficou em perigo, haja vista a desarticulação das rotas comerciais. O
resultado disso foi uma crise de crédito (ou de confiança). Somando-se às
notícias ruins, a produção de prata em Atenas caiu a níveis irrisórios, pondo
toda a economia em ruínas.
Para combater aquela crise, Xenofonte, ateniense tornado
espartano, que já havia descrito o infortúnio ateniense na batalha de Mantinei,
redigiu um texto com recomendações econômicas a Atenas: o Oikonomikos, expressão
grega para “questões de casa” - e origem da palavra economia. Ele pensava que os atenienses deveriam retornar
aos conceitos básicos de geração de riquezas, procurando a autossuficiência
agrícola.
Mais à frente, já em plena crise econômica, Xenofonte
elaborou outro texto: o Poroi. Lá, ele analisava a relação entre prosperidade,
emprego, consumo e gastos. Concluía que a saída para Atenas era uma solução “keynesiana”:
gastar!
Mas o gasto que ele propunha não era com obras ou com os
cidadãos comuns, mas de forma a trazer para Atenas as pessoas que ele
considerava fundamentais para a economia local: estrangeiros ricos. Dominantes
nas atividades bancárias e no comércio em geral, Xenofonte previa que
benefícios concedidos a essa classe atrairia outros como eles, de outras
cidades. E a oferta que farias seus olhos brilharem era a ambicionada cidadania
ateniense: ou seja, trocava-se reputação por dinheiro. Além disso, eram
concedidos os melhores assentos em teatros, isenções tributárias etc.
O lema brandido por Atenas em todo o mundo antigo era: “Dê-nos
suas riquezas e nós faremos o seu nome imortal como cidadão da maior cidade do
mundo.”
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Dos democratas aos reis...”
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