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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

ECONOMIA GREGA – CLÁSSICOS E KEYNESIANOS EM ATENAS


Por volta de 350 a.C., a economia ateniense vivia uma grande recessão. A principal fonte de renda vinha da agricultura. A área mais produtiva se situava na Ática, nos arredores de Atenas. A segunda fonte de renda era a manufatura. Artesãos de múltiplas capacitações produziam de tudo – havia cerca de 170 tipos diferentes de bens e serviços.

Outro aspecto relevante da economia grega é a existência de escravos nas mais diversas atividades. A escravidão era tão presente que os escravos tinham preços facilmente calculados.

Mas a atividade econômica mais importante era o comércio. Calcula-se que cerca de metade dos atenienses estava envolvida em algum tipo de comércio. A necessidade de praticar o comércio adveio da notória falta de recursos naturais e alimentícios e quantidade suficiente para garantir a autossuficiência da cidade.

No século IV já se havia desenvolvido um mercado de trocas comerciais complexas e internacionais englobando todo o mundo antigo conhecido. Atenas era a cidade que usava mais intensamente as rotas marítimas. O porto do Pireu era o coração da economia ateniense.

Atenas também exportava muito, especialmente artigos de mesa e bebidas. Alguns eram produzidos visando ao mercado externo. A ilha de Tasos, colônias no sul da Itália e Cartago eram destinos comuns.

Por seu turno, Tasos era conhecida pelo vinho, largamente consumido pelos atenienses mais ricos.  
Outro local onde o comércio se desenvolveu sobremaneira era a colônia de Massalia, modernamente conhecida como Marselha, no sul da França. Seu papel de intermediário na importação de vinhos, destinados a gauleses e celtas residentes no interior da França, já àquela época notórios apaixonados pela bebida – até então importada.

Após fazer fortuna importando vinho, Massalia passou à produção própria. Sua qualidade se destacou de tal maneira que passaram a ser vendidos em ânforas específicas, de modo a destacá-lo dos concorrentes.
Um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento do comércio naquele tempo eram os piratas. A ilha de Melos era conhecida como porto seguro para desembarque de mercadorias contrabandeadas por piratas. A cidade de Zancle, na Sicília, abrigava alguns dos mais sanguinários piratas. A ilha de Egina era procurada pelo seu vibrante mercado negro de produtos roubados.

O fim dessa atividade ilícita era uma utopia, pois a relação entre escravos e autoridades locais era muito complexa, haja vista serem frequentemente contratados para combater desafetos políticos e ajudar a invadir cidades inimigas.

Um grande salto dados pelas atividades comerciais na Grécia antiga era o desenvolvimento de bancos comerciais. No século IV a.C., a cunhagem de moedas era praticada em todas as cidades gregas. O escambo era recusado e as moedas locais somente tinham valor dentro dos seus muros. Fazia-se necessário, portanto, um mecanismo de câmbio. E esse passo não demorou ser dado.

Cambistas estabeleceram bancas nas cidades portuárias do Egeu, onde os comerciantes poderiam trocar suas moedas pelas que desejasse. Com o tempo, passaram a atuar como depositários do dinheiro excedente dos comerciantes. Passo sucessivo, nasceu também o seguro contra perda de cargas, depois se disponibilizaram créditos para aquisição de terras e outros negócios, o crédito para financiamento de exportações... Enfim, nascia o banco da era moderna. Fato é que a palavra grega para banco, trapeza, é a mesma desde então.

Esses cambistas eram estrangeiros, portanto não tinha direitos políticos em Atenas, mas eram prósperos e em número considerável – chegaram à casa dos 10 mil. Receberam, assim, o nome de metecos – também chamados de novos-ricos. A primeira dinastia de ricos banqueiros de Atenas eram os Pasion.

Quando as economias locais ganharam corpo, os saques e invasões a outras cidades deixaram de ser uma fonte viável de arrecadação, dando lugar aos detestáveis impostos. Já em 380 a,.C., Atenas realizara um censo das propriedades fundiárias, visando à cobrança de impostos. Eram igualmente tributadas as atividades de vendas, circulação de mercadorias nos portos, alguns tipos de empregos (como a prostituição), etc.

Já os cidadãos ateninses mais ricos eram obrigados por lei a prtestarem alguns tipos de serviços públicos: financiamento de peças teatrais, aquisição de armas para navios de guerra etc. A atividade de coleta de impostos era terceirizada, mediante licitação.

Por volta de 350 a.C. toda essa engrenagem estava funcionando milimetricamente bem. A população das cidades crescia exponencialmente (Atenas à frente), de modo a fluírem quantidades vultosas de recursos para os cofres públicos. Obras públicas pululavam em Atenas, com teatros, santuários e muralhas fortificadas surgindo a todo instante.

Foi então que tudo entrou em colapso. Guerras, colheitas ruins e disputas internas desarticularam aquela engrenagem tão frágil, a ponto de o declínio parecer irresistível. Com as constantes guerras, o fornecimento de cereais ficou em perigo, haja vista a desarticulação das rotas comerciais. O resultado disso foi uma crise de crédito (ou de confiança). Somando-se às notícias ruins, a produção de prata em Atenas caiu a níveis irrisórios, pondo toda a economia em ruínas.

Para combater aquela crise, Xenofonte, ateniense tornado espartano, que já havia descrito o infortúnio ateniense na batalha de Mantinei, redigiu um texto com recomendações econômicas a Atenas: o Oikonomikos, expressão grega para “questões de casa” - e origem da palavra economia. Ele pensava que os atenienses deveriam retornar aos conceitos básicos de geração de riquezas, procurando a autossuficiência agrícola.

Mais à frente, já em plena crise econômica, Xenofonte elaborou outro texto: o Poroi. Lá, ele analisava a relação entre prosperidade, emprego, consumo e gastos. Concluía que a saída para Atenas era uma solução “keynesiana”: gastar!

Mas o gasto que ele propunha não era com obras ou com os cidadãos comuns, mas de forma a trazer para Atenas as pessoas que ele considerava fundamentais para a economia local: estrangeiros ricos. Dominantes nas atividades bancárias e no comércio em geral, Xenofonte previa que benefícios concedidos a essa classe atrairia outros como eles, de outras cidades. E a oferta que farias seus olhos brilharem era a ambicionada cidadania ateniense: ou seja, trocava-se reputação por dinheiro. Além disso, eram concedidos os melhores assentos em teatros, isenções tributárias etc.

O lema brandido por Atenas em todo o mundo antigo era: “Dê-nos suas riquezas e nós faremos o seu nome imortal como cidadão da maior cidade do mundo.”


Rubem L. de F. Auto        


Fonte: livro “Dos democratas aos reis...”  

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