O século IV a.C. marcou o período da criatividade no teatro
grego. A cidade de Atenas é considerada o berço da tragédia como forma
artística no século V, dando origem a dramaturgos que atingiram a áurea de
imortais: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, dentre muitos outros.
No século IV, as cidades gregas não mediam esforços na
construção de teatros. O teatro de Dionísio, ao pé da Acrópole, em Atenas,
construído em pedra, em lugar de madeira, é um exemplo. Assim como o teatro de
pedra de Epidauro, ainda em funcionamento, é outro. Pode-se citar ainda o magnânimo
teatro de Megalópolis, para 20 mil espectadores bem acomodados. A cidade
siciliana de Segesta também exemplificava a realidade de que cada grande cidade
grega possuía pólo menos um teatro nos estertores do século IV.
As peças ali encenadas eram muito variadas, mas é conhecido
o imenso interesse nas remontagens de clássicos do século precedente. De
qualquer maneira houve uma profusão de novas obras, como as de Astidamia, o moço,
autor de algo em torno de 240 peças e provavelmente parente do monumental
Ésquilo.
As grandes peças eram exportadas para todo o mundo grego de
então, chegando à Itália e à Sicília. Atores e autores ocupavam o altar das
estrelas, conformavam-se em sindicatos e possuíam até mesmo fãs-clubes. Os mais
famosos atuavam até como embaixadores ou emissários diplomáticos, representando
suas cidades em negociações internacionais. Foi o caso de um ator chamado
Neoptólemo (filho de Aquiles, o semideus grego), que representou Atenas em 348
a.C., por conta de negociações envolvendo o rei da Macedônia, Filipe.
O palco era tão importante quanto a assembléia, no sentido
de fazer as pessoas refletirem sobre o mundo em constante mutação no qual
estavam submersas. Aristófanes ficou marcado por produzir peças cômicas que
refletiam as preocupações mais atuais, como quando escreveu Ecclesiazusae
(Mulheres na Assembléia) , em 395 a.C., quando sua Atenas era arrastada para um
conflito intenso com Esparta. Essa comédia contava uma história segundo a qual
as mulheres de Atenas, observando a bagunça que os homens faziam com os
assuntos municipais, dão um golpe e assumem o poder. Tendo tomado o Poder, elas
passam à criação de uma espécie de Estado comunista: todos serão iguais e terão
acesso a tudo – incluindo parceiros sexuais. Caso um homem quisesse levar uma
bela mulher para sua cama, deveria antes fazer o mesmo com uma feia; e
vice-versa para as mulheres. O final da peça, infelizmente, não é tão feliz
quanto se poderia supor.
Oito anos após, Aristófanes traz à luz outra peça: Riqueza.
Atenas estava entrando num período de crise econômica, a ponto de ter de
estabelecer uma paz com a Pérsia nos termos propostos pela contraparte.
Aristófanes então imagina uma Atenas utópica, em que a riqueza é repartida
igualmente, entre todos, não permitindo que ninguém tenha menos do que precisa.
RUBEM L DE F AUTO
FONTE: LIVRO “DOS DEMOCRATAS AOS REIS: O BRUTAL SURGIMENTO
DE UM NOVO MUNDO...”
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