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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

PORTUGAL PÓS-ARÁBICO – MAS AINDA BASTANTE ARÁBICO


Após invadirem Lisboa e ocuparem a cidade, os cavaleiros estrangeiros mataram o bispo e puseram frente à diocese o padre Gilberto de Hastings.

Até esse momento, os portugueses passaram 370 anos isolados do resto da cristandade. Em razão disso desenvolveram ritos e liturgias próprios e somente lá praticados. Recebeu o nome de Rito Bracarense, permitido pelo vaticano por decreto. Gilberto de Hastings abominava tais ritos e tentou introduzir o rito inglês do Sarum.

Tanto os padres quanto os cavaleiros estrangeiros foram convidados a permanecer naquelas terras. Os monges de Cister, liderados por Bernardo de Clairvaux, ajudaram sobremaneira no re-erguimento do novo domínio.

Os cistecienses, introduziram as mais avançadas técnicas de agronomia e ajudaram a multiplicar as variedade de plantas de toda a Europa. Organizaram as atividades de fundição de ferro, a indústria de construção naval, de pesca, da extração do sal, assim como a salga e seca do bacalhau. A fabricação de compotas e conservas se mantém como eles a criaram. O cristal Atlantis e um tipo de vidro que eles fabricavam e ainda é símbolo de qualidade e beleza imbatíveis. Nos seus domínios, proibiram a escravidão. Criaram escolas públicas que ajudaram a popularizar o latim. O abade da ordem era uma espécie de conselheiro do rei para a assuntos sociais.

A capital do domínio cedido aos cistercienses se localizava entre Alcoa e Baça. Batizaram-na Alcobaça. Ainda existem cerca de duas dezenas dos mosteiros por eles construídos – foram cerca de 340 em toda a Europa. O mais famoso foi o Mosteiro de Alcobaça. No seu interior havia duas capelas, frente a frente: uma com túmulo de D. Pedro I (de Portugal, não do Brasil!) e D. Inês de Castro, sua esposa. Em razão de ter sido um casamento vetado pelo pai, que mandou matar Inês, D. Pedro a embalsamou e a pôs a seu lado. Os cortesãos eram obrigados a beijar-lhe a mão, como se viva fosse.

O rei D. Dinis, alçado ao trono em 1279, mandou construir o claustro principal ao lado da Igreja. Havia ainda a Casa do Capitulo, onde se reunia com seus conselheiros, e uma câmara real, para recepções. Um dos maiores monarcas portugueses, recebeu o título de Rei Lavrador por causa de sua proximidade com os monges cistercienses.

Vendo sua indústria naval se expandir, construtores navais e 30 capitãos de marinha foram importados de Gênova. Dentre eles, Manuel Pessanha, primeiro almirante português. Tnha como missões principais, repelir ataques piratas e proteger o comércio marítimo. Enriqueceu de tal forma que ele e sua família se tornaram banqueiros do rei da Inglaterra.

O sucesso econômico de Portugal permitiu que o país inovasse nos seguros marítimos. Os armadores pagavam taxas devidas à Bolsa de Lisboa, que ressarcia quem sofresse qualquer sinistro.
D. Dinis também fundou o ensino superior em Portugal, recrutando professores de Paris. Mais tarde o campus foi transferido de Lisboa para Coimbra. Também é tido como o fundador da língua portuguesa. Foi Dinis quem determinou que a língua do povo seria o galaico, não mais latim ou borgonhês. Pequenas adaptações a transformaram numa língua distinta, usada por grandes escritores e poetas em obras monumentais.

Também foi Dinis quem garantiu a continuidade dos cavaleiros templários em Portugal. Extinta em toda a Europa por causa das perseguições promovidas pelo rei Filipe IV e pelo Papa Clemente V, nascida a partir de desentendimentos referentes a empréstimos não pagos. Após novo pedido de empréstimo solicitado à Odem, sem que se saldasse o anterior, e diante da recusa, todos os cavaleiros templários em território francês foram presos e seus bens, confiscados (a fortuna incluía cerca de 1/3 dos imóveis de Paris). Monges foram queimados vivos. O papa Clemente V emitiu a bula Pastoralis Praeminentiae, determinando a prisão de templários e diversos países e o confisco de seus bens. Mas isso não teve validade em Portugal.

D. Dinis, minimizou a bula. Portugal necessitava da Ordem para guarnecer suas fronteiras com a Espanha, pontuada por uma infinidade de Castelos. Sua medida foi, abolir a Ordem em Portugal, como mandava o pontífice, e criar uma outra, denominada Ordem de Cristo, cujo grão-mestre e todos os membros eram anteriormente templários. Esta recebeu todos os bens confiscados à precedente. Templários de toda a Europa procurara abrigo na nova Ordem. A sede da Ordem de Cristo foi definida em Tomar.

O estabelecimento da sede atraiu profissionais de diversas atividades: fabricantes de armas, de selas, de roupas, oleiros, moveleiros, fornecedores de utensílio agrícolas... Suas tarefas eram manterem-se como oficiais de cavalaria e treinar lavradores na arte da guerra (incluindo a esgrima).

Tempos depois, a existência de Portugal foi posta à prova nos embates envolvendo D. João, de Castela e D. João, Mestre de Avis. Por volta de 1385, os espanhóis chegaram muito perto de uma vitória, detida apenas pela pouca experiência de seus oficiais. A situação começou a se desequilibrar para o lado português quando da assinatura, em Westminster, um tratado entre D. João, Mestre de Avis, e o rei inglês Ricardo II. É considerado o tratado mais antigo ainda em voga. Por este, a Inglaterra comprometia-se a agir em defesa de Portugal sempre que solicitada, em troca de privilégios comerciais no porto de Lisboa.

Dando prosseguimento aos acordos, Portugal se comprometeu a apoiar a pretensão do duque de Lencastre John of Gaunt ao trono de Castela. Outro acordo definia que Filipa, filha mais velha de Gaunt, casar-se-ia com o Mestre de Avis. Gaunt possuía o maior ducado da Inglaterra e era reconhecido pela suntuosidade das recepções por ele promovidas. Ainda hoje sua família tem assento no Conselho de Ministros.
Gaunt reuniu sua riqueza pessoal a 3 mil libras fornecidas pelo Tesouro inglês e foi atrás de sua ambição. Gaunt conquistou rapidamente Santiago de Compostela. Saudado pelo futuro genro, seus exércitos marcharam juntos em direção a Castela, certos da vitória. No entanto, o calor escaldante os impediu, sem falar na peste, que vitimava seus homens. Vencidos, Gaunt retirou-se para Baiona.

O casamente de Filipa com João deu-se no Porto, co direito a cavalos brancos e tudo. Doan Filipa trouxe um estilo de moralidade até então desconhecido na Corte portuguesa – como a monogamia. Chegou a obrigar amantes a se casarem, após serem flagrados em situação comprometedora. Mestre de Avis também foi o primeiro rei português a reconhecer seus filhos bastardos.

Ao longo de 16 anos, Filipa concebeu 9 filhos, tendo seis deles sobrevividos. O mais velho, D. Duarte, herdou a coroa. O segundo, D. Pedro, freqüentou as melhores universidades européias e trouxe uma quantidade monumental das obras mais importantes de seu tempo a Portugal – como as Viagens de Marco Polo. O terceiro, D. Henrique, tornou-se grão-mestre da Ordem de Cristo.

Foi D. Filipa quem criou o “destino manifesto” português, ao definir que aquela nação estavca vocacionada à conquista do Marrocos e à conversão daqueles infiéis. O primeiro dia da jornada que Henrique imprimiria contra Ceuta foi marcado pelo falecimento de sua mãe. Após beijar a espada embainhada do filho, D. Filipe pronunciou suas últimas palavras: “jure que lavará suas mãos no sangue dos infiéis”. E finalmente morreu.  

    
Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “A primeira aldeia global”

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