Após invadirem Lisboa e ocuparem a cidade, os cavaleiros
estrangeiros mataram o bispo e puseram frente à diocese o padre Gilberto de
Hastings.
Até esse momento, os portugueses passaram 370 anos isolados
do resto da cristandade. Em razão disso desenvolveram ritos e liturgias
próprios e somente lá praticados. Recebeu o nome de Rito Bracarense, permitido
pelo vaticano por decreto. Gilberto de Hastings abominava tais ritos e tentou
introduzir o rito inglês do Sarum.
Tanto os padres quanto os cavaleiros estrangeiros foram
convidados a permanecer naquelas terras. Os monges de Cister, liderados por
Bernardo de Clairvaux, ajudaram sobremaneira no re-erguimento do novo domínio.
Os cistecienses, introduziram as mais avançadas técnicas de
agronomia e ajudaram a multiplicar as variedade de plantas de toda a Europa.
Organizaram as atividades de fundição de ferro, a indústria de construção
naval, de pesca, da extração do sal, assim como a salga e seca do bacalhau. A
fabricação de compotas e conservas se mantém como eles a criaram. O cristal
Atlantis e um tipo de vidro que eles fabricavam e ainda é símbolo de qualidade
e beleza imbatíveis. Nos seus domínios, proibiram a escravidão. Criaram escolas
públicas que ajudaram a popularizar o latim. O abade da ordem era uma espécie
de conselheiro do rei para a assuntos sociais.
A capital do domínio cedido aos cistercienses se localizava
entre Alcoa e Baça. Batizaram-na Alcobaça. Ainda existem cerca de duas dezenas
dos mosteiros por eles construídos – foram cerca de 340 em toda a Europa. O
mais famoso foi o Mosteiro de Alcobaça. No seu interior havia duas capelas,
frente a frente: uma com túmulo de D. Pedro I (de Portugal, não do Brasil!) e
D. Inês de Castro, sua esposa. Em razão de ter sido um casamento vetado pelo
pai, que mandou matar Inês, D. Pedro a embalsamou e a pôs a seu lado. Os
cortesãos eram obrigados a beijar-lhe a mão, como se viva fosse.
O rei D. Dinis, alçado ao trono em 1279, mandou construir o
claustro principal ao lado da Igreja. Havia ainda a Casa do Capitulo, onde se
reunia com seus conselheiros, e uma câmara real, para recepções. Um dos maiores
monarcas portugueses, recebeu o título de Rei Lavrador por causa de sua
proximidade com os monges cistercienses.
Vendo sua indústria naval se expandir, construtores navais e
30 capitãos de marinha foram importados de Gênova. Dentre eles, Manuel
Pessanha, primeiro almirante português. Tnha como missões principais, repelir
ataques piratas e proteger o comércio marítimo. Enriqueceu de tal forma que ele
e sua família se tornaram banqueiros do rei da Inglaterra.
O sucesso econômico de Portugal permitiu que o país inovasse
nos seguros marítimos. Os armadores pagavam taxas devidas à Bolsa de Lisboa,
que ressarcia quem sofresse qualquer sinistro.
D. Dinis também fundou o ensino superior em Portugal,
recrutando professores de Paris. Mais tarde o campus foi transferido de Lisboa
para Coimbra. Também é tido como o fundador da língua portuguesa. Foi Dinis
quem determinou que a língua do povo seria o galaico, não mais latim ou
borgonhês. Pequenas adaptações a transformaram numa língua distinta, usada por
grandes escritores e poetas em obras monumentais.
Também foi Dinis quem garantiu a continuidade dos cavaleiros
templários em Portugal. Extinta em toda a Europa por causa das perseguições
promovidas pelo rei Filipe IV e pelo Papa Clemente V, nascida a partir de desentendimentos
referentes a empréstimos não pagos. Após novo pedido de empréstimo solicitado à
Odem, sem que se saldasse o anterior, e diante da recusa, todos os cavaleiros
templários em território francês foram presos e seus bens, confiscados (a
fortuna incluía cerca de 1/3 dos imóveis de Paris). Monges foram queimados
vivos. O papa Clemente V emitiu a bula Pastoralis Praeminentiae, determinando a
prisão de templários e diversos países e o confisco de seus bens. Mas isso não
teve validade em Portugal.
D. Dinis, minimizou a bula. Portugal necessitava da Ordem
para guarnecer suas fronteiras com a Espanha, pontuada por uma infinidade de Castelos.
Sua medida foi, abolir a Ordem em Portugal, como mandava o pontífice, e criar
uma outra, denominada Ordem de Cristo, cujo grão-mestre e todos os membros eram
anteriormente templários. Esta recebeu todos os bens confiscados à precedente.
Templários de toda a Europa procurara abrigo na nova Ordem. A sede da Ordem de
Cristo foi definida em Tomar.
O estabelecimento da sede atraiu profissionais de diversas
atividades: fabricantes de armas, de selas, de roupas, oleiros, moveleiros,
fornecedores de utensílio agrícolas... Suas tarefas eram manterem-se como oficiais
de cavalaria e treinar lavradores na arte da guerra (incluindo a esgrima).
Tempos depois, a existência de Portugal foi posta à prova
nos embates envolvendo D. João, de Castela e D. João, Mestre de Avis. Por volta
de 1385, os espanhóis chegaram muito perto de uma vitória, detida apenas pela
pouca experiência de seus oficiais. A situação começou a se desequilibrar para
o lado português quando da assinatura, em Westminster, um tratado entre D.
João, Mestre de Avis, e o rei inglês Ricardo II. É considerado o tratado mais
antigo ainda em voga. Por este, a Inglaterra comprometia-se a agir em defesa de
Portugal sempre que solicitada, em troca de privilégios comerciais no porto de
Lisboa.
Dando prosseguimento aos acordos, Portugal se comprometeu a
apoiar a pretensão do duque de Lencastre John of Gaunt ao trono de Castela.
Outro acordo definia que Filipa, filha mais velha de Gaunt, casar-se-ia com o
Mestre de Avis. Gaunt possuía o maior ducado da Inglaterra e era reconhecido
pela suntuosidade das recepções por ele promovidas. Ainda hoje sua família tem
assento no Conselho de Ministros.
Gaunt reuniu sua riqueza pessoal a 3 mil libras fornecidas
pelo Tesouro inglês e foi atrás de sua ambição. Gaunt conquistou rapidamente Santiago
de Compostela. Saudado pelo futuro genro, seus exércitos marcharam juntos em direção
a Castela, certos da vitória. No entanto, o calor escaldante os impediu, sem
falar na peste, que vitimava seus homens. Vencidos, Gaunt retirou-se para
Baiona.
O casamente de Filipa com João deu-se no Porto, co direito a
cavalos brancos e tudo. Doan Filipa trouxe um estilo de moralidade até então
desconhecido na Corte portuguesa – como a monogamia. Chegou a obrigar amantes a
se casarem, após serem flagrados em situação comprometedora. Mestre de Avis também
foi o primeiro rei português a reconhecer seus filhos bastardos.
Ao longo de 16 anos, Filipa concebeu 9 filhos, tendo seis
deles sobrevividos. O mais velho, D. Duarte, herdou a coroa. O segundo, D.
Pedro, freqüentou as melhores universidades européias e trouxe uma quantidade
monumental das obras mais importantes de seu tempo a Portugal – como as Viagens
de Marco Polo. O terceiro, D. Henrique, tornou-se grão-mestre da Ordem de
Cristo.
Foi D. Filipa quem criou o “destino manifesto” português, ao
definir que aquela nação estavca vocacionada à conquista do Marrocos e à
conversão daqueles infiéis. O primeiro dia da jornada que Henrique imprimiria
contra Ceuta foi marcado pelo falecimento de sua mãe. Após beijar a espada
embainhada do filho, D. Filipe pronunciou suas últimas palavras: “jure que
lavará suas mãos no sangue dos infiéis”. E finalmente morreu.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “A primeira aldeia global”
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