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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

BRASIL, A ANTROPOLOGIA DO INCOMPREENDIDO – PARTE VII


Ao se deparar com os tupinambás, a impressão dos europeus foi a de que ale povo se alimentava muito bem.

Os índios buscavam seus alimentos na horta, na caça, na pesca, na coleta de raízes, frutos, cipós, sementes, fungos e seivas. Na roça, plantavam mandioca, milho, feijão, batata-doce, batatinha, abóbora, cará, amendoim, maxixe e pimenta. Obtinham também coco, palmito, amêndoas, nozes, arroz aquático ou milho d`água e centenas de frutas tropicais.

Da fauna, os índios obtinham antas, veados, porcos selvagens, onças, cutias, pacas, quatis, macacos, tamanduás, tatus, capivaras, tapitis (coelho-do-mato), aves, cães selvagens, ariranhas, guarás, lagartos, serpentes.

Era comum os indígenas se alimentarem também de gafanhotos, besouros, larvas, tanajuras e içás. Gostavam muito de mel, pois criavam abelhas jataí. Pescavam peixes, rãs, enguias, tartarugas, cágados, cobras, jacarés e caramujos.

Alguns alimentos eram consumidos crus, outros eram cozidos em potes de barros ou eram assados no moquém – espécie de grelha alta, sobre um braseiro. Socavam a carne até ficar farinhenta e, assim, poder ser transportada ou guardada.

Aliás, a farinha era obtida de diversas formas: da carne, do peixe, do milho, da mandioca. A farinha de mandioca poderia virar o bolo mbe`yu, ou beiju.

Do milho cru ou cozido extraíam o acau-jic, ou canjica. A pamuna, ou pamonha; o curau; a pipoka, ou pipoca; e a bebida abati-y.

A pacova, ou banana, era consumida crua, cozida, assada ou como farinha. A água que escorria pelo caule era usada para curar picadas de cobra e de outros insetos.

Foram esses alimentos que permitiram a exploração do interior do país, pois o seu aprendizado foi essencial para os bandeirantes, entradistas, mineradores, tropeiros e boiadeiros.

Os temperos eram muito usados: pimentas e frutos ácidos viravam molho de carne. Pimenta e sal viravam o molho turene. Depois, misturavam o sumo da mandioca. A pimenta vermelha amassada com sal virava o iongue, condimento muito apreciado. Punham o tempero na boca, seguido pelo alimento principal.

Fabricavam um tipo de vinagre, o caiuçái. Retiravam sal de cinzas de palmeiras. Abriam valas no mar, onde a água do mar evaporava, deixando o sal. Plantas cultivadas em hortas proporcionavam sabores e aromas à comida.

As bebidas também eram bem variadas. Na Amazônia, produziam o guaraná. No pantanal, produziam a caá, ou erva-mate. Bebiam o sumo do tronco do jatobazeiro. Produziam o paiaum, ou beiju de milho torrado, dissolvido em água.

Quanto ao vinho, os europeus listaram 32 tipos diferentes, consumidos em festas indígenas. O mais apreciado era o kA-u-i, ou cauim, feito de milho ou de mandioca. O sumo da mandioca misturado com mel produzia o catimpuera. O suco de ananás produzia um vinho doce.

Também bebiam cerveja, consideradas excelentes por Hans Staden. Enfim, já dominavam técnicas de fermentação.

As refeições eram muitas ao longo do dia, sem horários específicos. A comida eram preparada em uma cuia grande, e de lá se retiravam porções em cuias menores ou com as mãos. Comiam em silêncio, acocorados em torno do chefe. Normalmente acompanhavam a comida, água ou suco de frutas, legumes e raízes.
A agricultura era um trabalho penoso. Usavam machados de pedra e de estacas.

O plantio começava pela capichaba, ou derrubada de árvores. Depois, queimavam as árvores derrubadas, formando cinzas. Plantavam no meio das cinzas. O homem derrubava e quimava; a mulher plantava, colhia e transportava os alimentos. Preparavam o terreno no período das secas; plantavam no meio da estação e, depois, esperavam as chuvas.

A mani`oca, ou mandioca, era a principal cultura. Da mandioca amargava, aprenderam a retir o veneno ácido cianídrico. Plantavam também ervas medicinais; as plantas industriais, como o algodão; estimulantes, como fumo, pimenta, cipós entorpecedores; plantas tintoriais, como jenipapo e pau-brasil, urucum.
Organizavam as espécies, de forma a evitar pragas e doenças.

Como os solos não eram adubados, plantavam no local por cinco anos, ao cabo dos quais deveriam se mudar para outro local.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Os povos indígenas no Brasil” 
      

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