Ao se deparar com os tupinambás, a impressão dos europeus
foi a de que ale povo se alimentava muito bem.
Os índios buscavam seus alimentos na horta, na caça, na
pesca, na coleta de raízes, frutos, cipós, sementes, fungos e seivas. Na roça,
plantavam mandioca, milho, feijão, batata-doce, batatinha, abóbora, cará,
amendoim, maxixe e pimenta. Obtinham também coco, palmito, amêndoas, nozes,
arroz aquático ou milho d`água e centenas de frutas tropicais.
Da fauna, os índios obtinham antas, veados, porcos
selvagens, onças, cutias, pacas, quatis, macacos, tamanduás, tatus, capivaras,
tapitis (coelho-do-mato), aves, cães selvagens, ariranhas, guarás, lagartos,
serpentes.
Era comum os indígenas se alimentarem também de gafanhotos,
besouros, larvas, tanajuras e içás. Gostavam muito de mel, pois criavam abelhas
jataí. Pescavam peixes, rãs, enguias, tartarugas, cágados, cobras, jacarés e
caramujos.
Alguns alimentos eram consumidos crus, outros eram cozidos
em potes de barros ou eram assados no moquém – espécie de grelha alta, sobre um
braseiro. Socavam a carne até ficar farinhenta e, assim, poder ser transportada
ou guardada.
Aliás, a farinha era obtida de diversas formas: da carne, do
peixe, do milho, da mandioca. A farinha de mandioca poderia virar o bolo mbe`yu,
ou beiju.
Do milho cru ou cozido extraíam o acau-jic, ou canjica. A pamuna,
ou pamonha; o curau; a pipoka, ou pipoca; e a bebida abati-y.
A pacova, ou banana, era consumida crua, cozida, assada ou
como farinha. A água que escorria pelo caule era usada para curar picadas de
cobra e de outros insetos.
Foram esses alimentos que permitiram a exploração do
interior do país, pois o seu aprendizado foi essencial para os bandeirantes,
entradistas, mineradores, tropeiros e boiadeiros.
Os temperos eram muito usados: pimentas e frutos ácidos viravam
molho de carne. Pimenta e sal viravam o molho turene. Depois, misturavam o sumo
da mandioca. A pimenta vermelha amassada com sal virava o iongue, condimento
muito apreciado. Punham o tempero na boca, seguido pelo alimento principal.
Fabricavam um tipo de vinagre, o caiuçái. Retiravam sal de
cinzas de palmeiras. Abriam valas no mar, onde a água do mar evaporava,
deixando o sal. Plantas cultivadas em hortas proporcionavam sabores e aromas à
comida.
As bebidas também eram bem variadas. Na Amazônia, produziam
o guaraná. No pantanal, produziam a caá, ou erva-mate. Bebiam o sumo do tronco
do jatobazeiro. Produziam o paiaum, ou beiju de milho torrado, dissolvido em
água.
Quanto ao vinho, os europeus listaram 32 tipos diferentes,
consumidos em festas indígenas. O mais apreciado era o kA-u-i, ou cauim, feito
de milho ou de mandioca. O sumo da mandioca misturado com mel produzia o
catimpuera. O suco de ananás produzia um vinho doce.
Também bebiam cerveja, consideradas excelentes por Hans
Staden. Enfim, já dominavam técnicas de fermentação.
As refeições eram muitas ao longo do dia, sem horários
específicos. A comida eram preparada em uma cuia grande, e de lá se retiravam porções
em cuias menores ou com as mãos. Comiam em silêncio, acocorados em torno do
chefe. Normalmente acompanhavam a comida, água ou suco de frutas, legumes e
raízes.
A agricultura era um trabalho penoso. Usavam machados de
pedra e de estacas.
O plantio começava pela capichaba, ou derrubada de árvores.
Depois, queimavam as árvores derrubadas, formando cinzas. Plantavam no meio das
cinzas. O homem derrubava e quimava; a mulher plantava, colhia e transportava
os alimentos. Preparavam o terreno no período das secas; plantavam no meio da
estação e, depois, esperavam as chuvas.
A mani`oca, ou mandioca, era a principal cultura. Da
mandioca amargava, aprenderam a retir o veneno ácido cianídrico. Plantavam
também ervas medicinais; as plantas industriais, como o algodão; estimulantes,
como fumo, pimenta, cipós entorpecedores; plantas tintoriais, como jenipapo e
pau-brasil, urucum.
Organizavam as espécies, de forma a evitar pragas e doenças.
Como os solos não eram adubados, plantavam no local por
cinco anos, ao cabo dos quais deveriam se mudar para outro local.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Os povos indígenas no Brasil”
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