Segundo os índios que aqui habitavam antes dos europeus, as
doenças eram causadas por espíritos maus, que se apossavam do corpo da vítima.
Curá-la significava afastar tais espíritos, tarefa a cargo do pajé.
Mas, depois de contrair a doença, e não se mostrando bem
sucedida a intervenção anterior, o paciente passava a tratamentos mais
profiláticos: ervas, óleos, amuletos, cantos, música, dança, exorcismo.. até
sessões de pancadaria eram utilizadas.
Ao aspirar o fumo das ervas, os pacientes eram impregnados
por uma sensação de anestesia, o que dava a impressão da cura. Às vezes os
narcóticos eram introduzidos nas narinas dos pacientes.
Conhecer as propriedades medicinais das plantas era o
requisito essencial para ser pajé.
A sangria era uma terapia utilizada amplamente, mediante o
uso de dentes de cutias e quatis, bicos de aves, ferrões de arraia. Cauda de
gambá era usada para acelerar o parto e para aliviar crises renais.
As sessões de espancamento eram a medida desesperada ante o
fracasso das demais: se o paciente está sofrendo, o espírito que se apossou de
si também sofrerá. Portanto, dava-se porrada até ele desistir e procurar outro
corpo.
Uma medida preventiva contra as doenças eram as pinturas
corporais: acreditavam que algumas afastavam os espíritos maus. Usar ossos e
amuletos para proteger cabelos, olhos, ouvidos, boca também era válido afinal
eram essas as portas de entrada dos espíritos malígnos.
Bom, independente da causa mortis, o falecimento representava
a passagem para o mundo onde viviam os ancestrais. Enterrar o ente era algo
bastante reservado: somente o marido poderia enterrar a esposa; abriam-se
exceções a cunhados e irmãos, na falta do cônjuge.
Os índios tapuias praticaram um ritual sinistro durante
algum tempo, conhecido como “enterramento no estômago”: comiam o falecido caso
fosse um índio que se distinguisse por bravura ou outra qualidade. Era uma
maneira de manter suas qualidades no seio da tribo.
Já os índios tupis lavavam o corpo do falecido, cobriam-no
com mel e penas, ou com flocos de algodão, homenageavam-no mediante discursos
que exaltavam seus feitos ao guerrear ou em caça, punham-no em um pote de barro
e o sepultavam em seguida, pela primeira vez. Caso não tivesse manifestado o
desejo de ser enterrado no cemitério da aldeia, a tibicoera, era sepultado
debaixo de sua rede.
O luto por quem se foi durava um mês lunar. Durante este
período, as parentes pintavam seus corpos de preto e cortavam seus cabelos. Já
os homens deixavam seus cabelos crescerem e realizavam a cerimônia de “tirar o
dó”, regada a muita comida, bebida, cantos, danças e histórias sobre o morto.
Passavam então ao segundo sepultamento. Eles limpavam os
ossos e o mudavam de lugar: pretendiam enganar os maus espíritos e os inimigos
de outras tribos. O maior medo era que quebrassem o crânio do falecido o que o
impediria de adentrar o reino dos bravos. Nesta cerimônia eram enterrados junto
ao falecido seu arco, sua flecha, seu tacape, sua rede, sua faca e seu machado.
O local de sepultamento era mantido limpo e, quando se
mudavam, cobriam-no para proteger da ação do tempo.
Mas a glória dos índios residia em seu desempenho em guerra.
Morrer em combate, matar o inimigo eram buscas constantes na vida do indígena.
Até a chegada dos europeus não se guerreava por território
ou por comida. As guerras eram causadas por ofensas, raptos de mulheres, para
conseguir prisioneiros de guerra ou por troféus.
A declaração de guerra era precedida por consulta ao
conselho dos velhos. Após, o pajé consultava os espíritos. Se aprovada a
proposição, nomeavam o chefe daquela guerra; fabricavam as armas (arco, flecha
envenenada, flecha incendiária, tacape, punhais de osso, pedra e madeira,
escudo de couro de anta). Era comum levarem instrumentos musicais para as
batalhas: membi, flauta do osso da canela de um herói, apitos, tambores.
A tática mais comum era uma espécie de blitzkrieg: ataque
fulminante e de surpresa, de maneira a acabar com o combate no mesmo dia.
O avanço dos soldados ocorria em fila, sendo cada homem
seguido por uma mulher, que carregava seus suprimentos militares, alimentos,
remédios etc.
Uma tática de batalha era a queima de pimentas, que
provocava uma fumaceira tal que obrigava o inimigo a abandonar suas posições.
Antes de atacar, os índios pintavam o corpo de vermelho e
preto, cobriam-se com penas, cobriam o rosto com pena de tucano: o objetivo era
causar temor no inimigo.
O vencedor incendiava a taba do vencido e levava a maior
quantidade de prisioneiros. Os demais eram devorados em cerimônias. Quanto mais
inimigos devorados, maior a glória da tribo.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Os povos indígenas do Brasil”
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