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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

BRASIL, A ANTROPOLOGIA DO INCOMPREENDIDO – PARTE VI


Segundo os índios que aqui habitavam antes dos europeus, as doenças eram causadas por espíritos maus, que se apossavam do corpo da vítima. Curá-la significava afastar tais espíritos, tarefa a cargo do pajé.

Mas, depois de contrair a doença, e não se mostrando bem sucedida a intervenção anterior, o paciente passava a tratamentos mais profiláticos: ervas, óleos, amuletos, cantos, música, dança, exorcismo.. até sessões de pancadaria eram utilizadas.

Ao aspirar o fumo das ervas, os pacientes eram impregnados por uma sensação de anestesia, o que dava a impressão da cura. Às vezes os narcóticos eram introduzidos nas narinas dos pacientes.

Conhecer as propriedades medicinais das plantas era o requisito essencial para ser pajé.

A sangria era uma terapia utilizada amplamente, mediante o uso de dentes de cutias e quatis, bicos de aves, ferrões de arraia. Cauda de gambá era usada para acelerar o parto e para aliviar crises renais.

As sessões de espancamento eram a medida desesperada ante o fracasso das demais: se o paciente está sofrendo, o espírito que se apossou de si também sofrerá. Portanto, dava-se porrada até ele desistir e procurar outro corpo.

Uma medida preventiva contra as doenças eram as pinturas corporais: acreditavam que algumas afastavam os espíritos maus. Usar ossos e amuletos para proteger cabelos, olhos, ouvidos, boca também era válido afinal eram essas as portas de entrada dos espíritos malígnos.

Bom, independente da causa mortis, o falecimento representava a passagem para o mundo onde viviam os ancestrais. Enterrar o ente era algo bastante reservado: somente o marido poderia enterrar a esposa; abriam-se exceções a cunhados e irmãos, na falta do cônjuge.

Os índios tapuias praticaram um ritual sinistro durante algum tempo, conhecido como “enterramento no estômago”: comiam o falecido caso fosse um índio que se distinguisse por bravura ou outra qualidade. Era uma maneira de manter suas qualidades no seio da tribo.

Já os índios tupis lavavam o corpo do falecido, cobriam-no com mel e penas, ou com flocos de algodão, homenageavam-no mediante discursos que exaltavam seus feitos ao guerrear ou em caça, punham-no em um pote de barro e o sepultavam em seguida, pela primeira vez. Caso não tivesse manifestado o desejo de ser enterrado no cemitério da aldeia, a tibicoera, era sepultado debaixo de sua rede.

O luto por quem se foi durava um mês lunar. Durante este período, as parentes pintavam seus corpos de preto e cortavam seus cabelos. Já os homens deixavam seus cabelos crescerem e realizavam a cerimônia de “tirar o dó”, regada a muita comida, bebida, cantos, danças e histórias sobre o morto.

Passavam então ao segundo sepultamento. Eles limpavam os ossos e o mudavam de lugar: pretendiam enganar os maus espíritos e os inimigos de outras tribos. O maior medo era que quebrassem o crânio do falecido o que o impediria de adentrar o reino dos bravos. Nesta cerimônia eram enterrados junto ao falecido seu arco, sua flecha, seu tacape, sua rede, sua faca e seu machado.

O local de sepultamento era mantido limpo e, quando se mudavam, cobriam-no para proteger da ação do tempo.

Mas a glória dos índios residia em seu desempenho em guerra. Morrer em combate, matar o inimigo eram buscas constantes na vida do indígena.

Até a chegada dos europeus não se guerreava por território ou por comida. As guerras eram causadas por ofensas, raptos de mulheres, para conseguir prisioneiros de guerra ou por troféus.

A declaração de guerra era precedida por consulta ao conselho dos velhos. Após, o pajé consultava os espíritos. Se aprovada a proposição, nomeavam o chefe daquela guerra; fabricavam as armas (arco, flecha envenenada, flecha incendiária, tacape, punhais de osso, pedra e madeira, escudo de couro de anta). Era comum levarem instrumentos musicais para as batalhas: membi, flauta do osso da canela de um herói, apitos, tambores.

A tática mais comum era uma espécie de blitzkrieg: ataque fulminante e de surpresa, de maneira a acabar com o combate no mesmo dia.

O avanço dos soldados ocorria em fila, sendo cada homem seguido por uma mulher, que carregava seus suprimentos militares, alimentos, remédios etc.

Uma tática de batalha era a queima de pimentas, que provocava uma fumaceira tal que obrigava o inimigo a abandonar suas posições.

Antes de atacar, os índios pintavam o corpo de vermelho e preto, cobriam-se com penas, cobriam o rosto com pena de tucano: o objetivo era causar temor no inimigo.

O vencedor incendiava a taba do vencido e levava a maior quantidade de prisioneiros. Os demais eram devorados em cerimônias. Quanto mais inimigos devorados, maior a glória da tribo.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Os povos indígenas do Brasil”

     

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