A história é bem conhecida: Cristóvão Colombo partiu da
Espanha com destino à Índia, na Ásia. Quando avistar terra firme, não teve
dúvidas: chegamos à Índia e esses que vemos são os índios.
Desfeita a confusão, diversos nomes forma propostos para
designar os habitantes nativos das Américas: negros, porque... bem, não eram
brancos; brasis ou brasilienses, que significava gente da terra do pau-brasil;
ameríndios, isto é, índios americanos; amerígena, que significa originário da América;
ameraba, junção de América e aba, palavra tupi para “homem”. Mas, por fim, foi
a palavra “índio” que se fixou melhor.
Segundo Pero Vaz de Caminha, os nativos tinham pele de cor
avermelhada, altura média de 1,60 m, rosto arredondado, nariz curto e estreito,
lábios finos, cabelos negros, lisos e compridos, pouca barba, dentes sadios. Embora
esta fosse a descrição de um índio tupinambá, os demais não deveriam ser muito
diferentes.
A data da chegada destes povos, porém, a cada dia surpreende
mais pela antiguidade. Em 1986, uma equipe do Museu Paulista, chefiada por
Niéde Guidon, encontrou no sítio arqueológico de Raimundo Nonato, no Piauí, fósseis
datados de 32.160 anos atrás! O fóssil nomeado Luzia, encontrado no início dos
anos 1970 pela missão liderada pela arqueóloga francesa Annette
Laming-Empieraire na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, foi datada entre 11.400
a 16.400 anos atrás.
Um fato é certo: há 10 mil anos todo o continente era
habitado por seres humanos.
Os primeiros americanos tiveram sua origem teorizada em três
linhas de estudos: uma apontava que vieram da África diretamente, pela
Antártida, adentrando a América do Sul pela Terra do Fogo (Argentina e Chile);
outra apontava que teriam vindo pela Polinésia, de ilha em ilha, até a costa do
Pacífico da América do Sul; a terceira, bem mais plausível, apontava a migração
desde a Ásia, cruzando o Estreito de Bhering. Tratavam-se de mongóis que
desceram a costa pacífica, ficando-se em torno de pequenas tribos, formando
culturas e nações distintas.
Após milhares de anos, civilizações bastante avançadas, como
os astecas, maias e incas surgiram. A chegada dos povos indígenas ao território
do atual Brasil se deu via Colômbia, Peru e Bolívia.
Por volta de 1500, havia nos nossos atuais domínios algo em
torno de 1,5 e 2 milhões de habitantes, falantes de mais de 350 línguas
distintas – embora haja quem aponte mais de 9 milhões de índios àquela altura.
Com a chegada dos Europeus, toda a aproximação com os índios
nativos se deu por meio dos jesuítas. Estudando a língua e fazendo um paralelo
com a área geográfica ocupada pelos respectivos falantes, os padres dividiram
todo aquele imenso contingente de pessoas em dois grupos: os tapuias,
habitantes do interior; e os tupis, que habitavam a costa.
Em 1884, Karl Von den Steinen criou uma classificação mais
específica, onde figuravam 4 grupos: tupi-guarani, jê/tapuia,
nuaruaque/naipure, caribe/caraíba. Esta ainda é a classificação mais atual.
Tupis e guaranis têm origem bem próxima: há cerca de 2 mil
anos, quando ainda habitavam a Cordilheira Oriental Colombiana, iniciaram um
processo migratório de duas vias, uma em direção ao leste, outra em direção ao sul.
O grupo que daria origem aos guaranis desceram seguindo o rumo dos rios Madeira
e Guaporé. Os que conformariam os tupis rumaram seguindo as praias oceânicas,
seguindo o rumo dos rios Araguaia e Tocantins.
Mil anos depois, houve finalmente o reencontro daquelas duas
tribos seminais. O reencontro se deu na região entre os rios Tietê e
Paranapanema, agora sob a roupagem distinta das tribos tupi e guarani. No
caminho, diversas outras tribos foram exterminadas: eram os paleoíndios, cuja
cultura segue absolutamente incógnita. Eram nômades, não viviam em malocas,
provavelmente praticavam a antropofagia.
Os tupis se apossaram da área que se estende do sul do Pará
até São Paulo, sempre seguindo pelo litoral. As tribos tupis que habitavam o
nordeste eram: potiguares, tabajaras, caetés, tupiniquins, tupinambás. Do norte
do Paraná ao Espírito Santo se destacam os tamoios, mas o planalto paulista era
dominado pelos guaianás. O Baixo Amazonas tinha os tupis mundurucus e os Parintins.
Essas tribos vivam intermitentes rusgas com os coroados,
goitacás e puris.
Já a região compreendida entre o Paraná e o Rio Grande do
Sul (incluindo o Mato Grosso do Sul, Argentina, Bolívia e Paraguai) era
dominada pelos guaranis, que viviam seus entreveros contra os vizinhos
chiriguanos e outros povos.
O grupo étinoc denominado Jê tinha um subgrupo chamado
tapuia, palavra tupi que significa “não tupi”, ou estrangeiro, bárbaro –
portanto não se sabe como eles mesmo se denominavam. Era tapuias: os caiapós,
goitacás, cariris, aimorés, botocudos, suiás, bugres, coroados e apinajés.
Aruaques e caribes, ou caraíbas, vieram das Antilhas e da
América Central e se estabeleceram no vale amazônico e norte do planalto
Mato-Grossense. A palavra “Karib”, no idioma deles, significa “valentia”, ser
guerreiro, heróis.
No território brasileiro, a língua que prevalecia era o
tupi-guarani. Segundo alguns, tupi e guarani eram a mesma língua, porém em
períodos históricos distintos: o tupi era mais primitivo, monossilábico; o
guarani era mais desenvolvido.
Outra língua bastante difundida era o tupinambá, variante do
tupi que recebeu uma gramática organizada pelos padres Anchieta e Luís
Figueira. Consequentemente tomamos conhecimento de lendas e se desenvolveu toda
uma literatura baseada naqueles contos. Por exemplo a obra “O auto de São
Lourenço”, escrita por Anchieta, que conta sobre o plano do diabo Guaixara de
tomar uma aldeia, embriagando os homens.
E foi justamente o desconhecimento recíproco da língua da
outra aldeia que levou às guerras permanentes entre tupis e tapuias.
À língua tupi foi acrescentado o vocabulário do português,
pelos jesuítas. Esta língua foi chamada de língua brasílica, ou geral, a mais
falada no Brasil até o século XVIII, quando seu ensino e uso foram banidos pela
Coroa.
Contudo, até hoje resquícios remanescem no falar das pessoas
mais humildes. Palavras pronbunciadas erroneamente, como: “paia” no lugar de
palha; ou “fio” em lugar de filho; ou “animar” em vez de animal, refletem a
ausência de determinadas fonemas na língua tupi.
Já a língua tapuia, falada por Cariris, Moxotós, Catolés e
Mossorós se perdeu completamente, permanecendo apenas como nomes dos locais
onde eram mais numerosos.
Interessante notar o caráter melodioso e poético da língua
tupi. Esse traço se nota nos nomes femininos e seus significados reais:
Ibatira, ou Potira, ou Bartira significa “flor”; Moema, ou Coema, é “aurora”;
Iracê, ou Iraci, significa “doçura” – assim como Jandira; Aracê, ou Iracê também
significa “manhã”, “amanhecer”.
O aruaque, falado em toda a atual Flórida, estendendo-se até
as Antilhas, era também falado na região da Bacia Amazônica.
Quanto às centenas de línguas restantes, faladas no nosso
país antes de os europeus aqui chegarem, nada mais resta atualmente.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Os povos indígenas no Brasil”
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