Pesquisar as postagens

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

BRASIL, A ANTROPOLOGIA DO INCOMPREENDIDO – PARTE VIII


Os índios conheciam, praticavam e se esmeravam no terreno das artes. Sua aparência, seu corpo eram temas para belos trabalhos artísticos.

Usavam pinturas, tatuagens, pingentes, cintos, colares e pulseiras. Praticavam massagens com óleos perfumados, raspavam pelos, cílios e sobrancelhas. Em cerimônias, usavam diadema de penas e cobriam os ombros e as costas com couros de animais.

Posição especial tinham os bons oradores. Apreciavam ouvir por longos períodos quem falasse bem e tivesse um bom conteúdo a exibir. Exigiam de hóspedes e viajantes relatos detalhados de suas jornadas.
O bom músico também era apreciado. O pretendente a pajé deveria exibir habilidade com a flauta. Os músicos, aliás, eram os únicos que poderiam atravessar territórios inimigos com segurança: bastava tocar para o inimigo se divertir. Os instrumentos eram variados: chocalhos, tambores, flautas, a clarineta de taquara, ou jupurutu.

Os cestos, fabricados pelas mulheres, eram impressionantes. Alcançavam o útil e o belo a um só tempo.
As plumas, influência da quantidade enorme de aves no meio ambiente, eram usadas em mantos, máscaras, cocares. Transmitiam elegância.

Outro tipo de arte muito apreciado por tribos localizadas na Ilha de Marajó, os marajoara, eram as cerâmicas. Eram feitas por artistas especializados. Também se destacavam aí os índios da região de Santarém.

Os corpos eram pintados para proteção contra o sol, contra insetos e contra espíritos maus. A pintura poderia transmitir quem era a pessoa, com se sentia e quais eram suas intenções.

Se o homem pintasse de vermelho os botoques das orelhas então queria ser pai. A pintura do corpo dos homens era tarefa das mulheres; aliás, sua primeira tarefa cotidiana era refazer as pinturas corporais do marido e dos filhos. Como se banhavam pela manhã com argila, que servia como sabão, a pintura do dia anterior saía completamente.

A tinta vermelha vinha do urucum e na hematita. A tinta preta vinha do jenipapo e dos caroços de algodão. O caulim fornecia a cor branca.

Se a ocasião fosse de guerra, a qualidade dos traços melhorava significativamente. Entender a pintura de outro índio era um capítulo essencial na comunicação inter tribal.

O conhecimento relacionado à metalurgia focava mais nas cores dos metais do que no seu uso: o ouro era o Itajubá, ou pedra amarela; itatinga era a prata, ou8 pedra branca; itaúna era o ferro, ou pedra preta.

Também exibiam conhecimentos de astronomia e meteorologia. Nuvens, comportamento dos animais poderiam ajudar a prever as condições meteorológicas do dia seguinte. O ano era marcado pelo aparecimento das estrelas Seichu, atualmente conhecida como constelação das Plêiades. Acompanhavam as estações de acordo com o crescimento das plantas.

Os índios Passes, do Rio Negro, disseram a Von Martius que o Sol se mantinha fico, vendo a Terra girar em seu entorno. Os tupis relacionavam as marés com as fases da Lua, deram nomes a astros e associavam as estações do ano ao aparecimento de certas estrelas.

A matemática, até 1500, era primitiva, pois somente tinham nomes para quantidades até 4. Acima disso era uma quantidade indefinida, muitos. Mas o contato com os europeus os fizeram seguir o processo de criação de números até 1 milhão.

A indústria têxtil fundada pelas mulheres deu origem a tecidos simples para sacolas, aljavas e faixas para ornamentação, tudo à base de algodão.

As inscrições em pedras, chamadas de itaquatiaras, deixam pistas a serem decifradas no futuro.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Os povos indígenas do Brasil”

Nenhum comentário:

Postar um comentário