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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

BRASIL, A ANTROPOLOGIA DO INCOMPREENDIDO – PARTE II


A vida dos índios no território do atual Brasil tinha como centro da táua, ou taba, ou aldeia. São todas denominações para o conjunto de malocas, a casa típica dos índios. Cada maloca era lar para a família, no sentido mais estendido que se possa imaginar: pai, mãe, filhos, cunhadas, genros, parentes distantes mais velhos, amigos quase-parentes, prisioneiros de guerra... eram comuns mais e uma família coabitando a mesma maloca.

A aldeia típica possuía algo entre 300 a 400 pessoas. Dependendo da quantidade de alimentos disponível na região, reunia entre 4 e 10 malocas. Uma taba com 4 malocas, que possuíssem cem índios em cada, consumia cerca de 400 Kg de alimentos por dia.  

O local escolhido para a construção das malocas deveria possuir alguns pré-requisitos: deveria ser bem ventilado, dar boa vista para a vizinhança, próximo a rios e da mata. A terra deveria permitir o plantio de mandioca e milho.

Além disso, deveria ficar, no mínimo, entre 50 e 90 quilômetros distante da aldeia mais próxima – isso garantia fartura de alimentos para cada aldeia.

Quando uma aldeia se sentia ameaçada por outra tribo, era comum construírem uma cerca de pau a pique, conhecida como caiçara, ao redor da aldeia – a depender do nível da ameaça, poderia construir mais de uma cerca. Entre as cercas, punham estrepes envenenados, escondidos no capim. Usavam também armadilhas contra os inimigos.

O centro da aldeia era conhecido como ocara – uma espécie de praça. Era o local de reunião dos conselheiros, era onde as mulheres preparavam as bebidas usadas em rituais, onde ocorriam grandes festas (como a comemoração pela morte dos prisioneiros de guerra).

A partir da ocara era traçadas trilhas – ou pucus – que levavam à roça, ao local de caças, ao bosque.        
Todo o ambiente que circundava cada taba era chamado de “retama”. Esta é a expressão tupi mais prócima de pátria, país. Tupire-tama era a pátria dos tupis. Tapuiretama era a pátria dos tapuias. Pindóretama, mais tarde aportuguesada para Pindorama, era a região onde abundavam palmeiras.

A expressão taba-y-ara era usada para aqueles que viviam na mesma taba, ou seja, conterrâneo. Çabay-goára era o “estrangeiros”, que habitava outra taba, portanto deveria ser observado de perto.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Os povos indígenas no Brasil”

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