As populações indígenas costumavam repartir os trabalhos em
funções a serem exercidas de acordo com o sexo, a idade, os costumes locais
etc.
As tarefas masculinas incluíam defender a taba, pescar,
caçar, levantar a oca, construir armas, construir canoas, recolher lenha. Eram
tarefas femininas colher a roça, transportar a colheita, ralar mandioca,
debulhar milho, tecer, cozinhar, fazer cerâmicas, manter a oca limpa, preparar
bebidas etc.
Trabalhavam juntos na construção da maloca, nas grandes
pescarias, quando o homem pescava e a mulher preparava a farinha de pescado
imediatamente.
Não compravam ou vendiam qualquer coisa; o trabalho visava a
suprir a necessidades diárias, sem a criação de excedentes. Nas palavras de
Hans Staden: “Não há bens entre eles”.
Percebendo a surpresa dos primeiros europeus, que aqui
pretendiam a criação de riquezas, um chefe tupinambá assim explicou porque não
se preocupavam com o futuro: “A terra, que nos forneceu o necessário para a
vida, alimentará também os nossos filhos.” A terra pertencia à tribo, não à
família.
O sentido de propriedade alcançava apenas alguns pertences,
como ferramentas de trabalho. Além
disso, imaginavam que o espírito do proprietário acompanhava seus objetos, daí serem
enterrados junto com seu dono.
Para os tupinambás, o mundo havia sido criado por Maíra, ou
Maire, ou Maire-monam, ou Maitre-atá. Esta entidade envolvia a Terra, criando e
destruindo tudo contido nela. Estava presente nos raios – tupãbaraba – e nos
trovões – tupãnanunga. Com o tempo, o nome se modificou para Tupana, nas tribos
tupis, e para Tupã, nas tribos guaranis.
Os jesuítas se encarregaram de convencê-los de que Tupã era
Deus.
O panteão tupi-guarani ainda contava com Coaraci, que
correspondia ao Sol; e com Jaci, a Lua. Havia ainda o Anhangá, que protegia as
caças de campo; o Caapora, que fazia o mesmo em relação às caças no mato;
Uirapuru, que protegia as aves; Mauiara, fazia o mesmo para os peixes. Jaci,
Rudá e Curupira completavam a lista.
Acreditavam também em Sumé, um espírito enviado por Tupã e
que trouxera consigo as ramas da mandioca. Regressou prometendo um dia retornar.
Seu paraíso perdido se localizava nos Andes e de tempos em
tempos, aos milhares, rumavam para lá, por centenas de quilômetros. Lá,
imaginavam haver a “yvy-marã-ey, ou Terra Sem Males: lugar onde não há fome,
doenças e mortes.
Em 1549, cerca de 15 mil tupis partiram em direção ao Peru.
Desta jornada, apenas 300 chegaram a seu destino nos Andes, onde foram presos,
em vez de curtirem seu paraíso terreno.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Os povos indígenas no Brasil”
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