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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

BRASIL, A ANTROPOLOGIA DO INCOMPREENDIDO – PARTE V


As populações indígenas costumavam repartir os trabalhos em funções a serem exercidas de acordo com o sexo, a idade, os costumes locais etc.

As tarefas masculinas incluíam defender a taba, pescar, caçar, levantar a oca, construir armas, construir canoas, recolher lenha. Eram tarefas femininas colher a roça, transportar a colheita, ralar mandioca, debulhar milho, tecer, cozinhar, fazer cerâmicas, manter a oca limpa, preparar bebidas etc.

Trabalhavam juntos na construção da maloca, nas grandes pescarias, quando o homem pescava e a mulher preparava a farinha de pescado imediatamente.

Não compravam ou vendiam qualquer coisa; o trabalho visava a suprir a necessidades diárias, sem a criação de excedentes. Nas palavras de Hans Staden: “Não há bens entre eles”.

Percebendo a surpresa dos primeiros europeus, que aqui pretendiam a criação de riquezas, um chefe tupinambá assim explicou porque não se preocupavam com o futuro: “A terra, que nos forneceu o necessário para a vida, alimentará também os nossos filhos.” A terra pertencia à tribo, não à família.

O sentido de propriedade alcançava apenas alguns pertences, como ferramentas de trabalho.  Além disso, imaginavam que o espírito do proprietário acompanhava seus objetos, daí serem enterrados junto com seu dono.

Para os tupinambás, o mundo havia sido criado por Maíra, ou Maire, ou Maire-monam, ou Maitre-atá. Esta entidade envolvia a Terra, criando e destruindo tudo contido nela. Estava presente nos raios – tupãbaraba – e nos trovões – tupãnanunga. Com o tempo, o nome se modificou para Tupana, nas tribos tupis, e para Tupã, nas tribos guaranis.

Os jesuítas se encarregaram de convencê-los de que Tupã era Deus.

O panteão tupi-guarani ainda contava com Coaraci, que correspondia ao Sol; e com Jaci, a Lua. Havia ainda o Anhangá, que protegia as caças de campo; o Caapora, que fazia o mesmo em relação às caças no mato; Uirapuru, que protegia as aves; Mauiara, fazia o mesmo para os peixes. Jaci, Rudá e Curupira completavam a lista.

Acreditavam também em Sumé, um espírito enviado por Tupã e que trouxera consigo as ramas da mandioca. Regressou prometendo um dia retornar.

Seu paraíso perdido se localizava nos Andes e de tempos em tempos, aos milhares, rumavam para lá, por centenas de quilômetros. Lá, imaginavam haver a “yvy-marã-ey, ou Terra Sem Males: lugar onde não há fome, doenças e mortes.

Em 1549, cerca de 15 mil tupis partiram em direção ao Peru. Desta jornada, apenas 300 chegaram a seu destino nos Andes, onde foram presos, em vez de curtirem seu paraíso terreno.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Os povos indígenas no Brasil”

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