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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

VILA ISABEL E O APANHADO DE QUATRO SÉCULOS DE MISCIGENAÇÕES


Quatro Séculos de Modas e Costumes – MARTINHO DA VILA


A Vila desce colorida
Para mostrar no carnaval
Quatro séculos de modas e costumes
O moderno e o tradicional
Negros, brancos, índios
Eis a miscigenação
Ditando a moda
Fixando os costumes
Os rituais e a tradição

E surgem tipos brasileiros
Saveiros e batedor
O carioca e o gaúcho
Jangadeiro e cantador

Lá vem o negro
Vejam as mucamas
Também vem com o branco
Elegantes damas

Desfilas modas no Rio
Costumes do norte
E a dança do sul
Capoeira, desafios
Frevos e maracatu

Laiaraiá, ô
Laiaraiá

Festa da menina-moça
Na tribo dos carajás
Candomblés lá da Bahia
Onde baixam os orixás

É a Vila que desce!


RUBEM L. DE F. AUTO


terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

NAZISMO, CENSURA E O MEDO DO KING KONG


Estavam os onze homens numa sala de cinema de Berlim, durante o período governado pelos nazista. Alguns eram membros do partido nazista, outros eram profissionais que de uma maneira ou outra auxiliavam o governo com seus conhecimentos.

Ernst Seeger, chefe da censura, liderava as discussões. Perto dele, um produtor, um filósofo, um arquiteto e um pastor, seus assistentes. Completavam o elenco, um representante de uma companhia alemã de distribuição de filmes e duas testemunhas arroladas.

O filme em tela era King Kong, uma produção norte-americana recentemente aportada na Alemanha. Aquela exibição especial se iniciou por um texto lido pelo representante da companhia de distribuição, que pretendia deixar claro aos oficiais nazistas que se tratava de mera ficção, motivada por puro entretenimento. Passaram ao filme em si, durante o qual se ouviam comparações com A Bela e A Fera; ao cabo, iniciaram-se discussões sobre a adequação ou não de se permitir sua exibição na Alemanha.

Seeger passou a palavra ao professor Zeiss, do Ministério da Saúde, com a indagação acerca do seu potencial prejudicial à saúde dos espectadores. Dr. Zeiss iniciou sua resposta indagando sobre a nacionalidade da companhia distribuidora. Ao saber que era uma empresa alemã, berrou a todos os presentes: “Estou espantado e chocado que uma companhia alemã tenha ousado buscar permissão para um filme que só pode ser prejudicial à saúde de seus espectadores. Ele não só é meramente incompreensível como é, na verdade, uma impertinência exibir um filme desses, pois ele não é nada mais do que um ataque aos nervos do povo alemão!”

Após uns instantes de silencia, dr. Zeiss voltou à carga, mas agora focado em sua área de especialização: “É uma provocação aos nossos instintos raciais mostrar uma mulher loira de tipo germânico na mão de um macaco. Isso ofende os sentimentos raciais saudáveis do povo alemão. A tortura a que essa mulher é exposta, seu medo mortal... e as outras coisas horríveis que alguém só poderia imaginar num frenesi alcoólico são prejudiciais à saúde da Alemanha.”

Completou seu discurso apavorado, assim: “Meu julgamento não tem nada a ver com as façanhas técnicas do filme, que eu reconheço que há. Nem me importo com o que outros países pensem que seja bom para seu povo. Para o povo alemão, esse filme é intolerável.”

Por sua vez, dr. Schultz, médico psiquiatra, defendeu argumentos mais comedidos e equilibrados: “Em cada uma das instâncias em que o filme potencialmente parece perigoso, ele é na verdade meramente ridículo. Não devemos esquecer que estamos lidando com um filme americano produzido para espectadores americanos, e que o público alemão é consideravelmente mais crítico. Mesmo que se admita que o seqüestro de uma mulher loira por uma besta lendária é um assunto delicado, isso ainda não vai além dos limites do permissível.”

E assim arrematou sua exposição:”Psicopatas ou mulheres que poderiam ser lançados ao pânico pelo filme, não devem fornecer os critérios para essa decisão.”

Pouco antes dessa discussão acalorada, todas as instituições culturais alemãs foram postas sob o guarda-chuva do Ministério da Propaganda, área de atuação do todo-poderoso Joseph Goebbels. Ninguém sabia muito bem o que poderia ou não ser feito, mas também sabiam que não poderiam cair em desgraça com o Ministro. Seeger, precavido, pediu então que o próprio Ministério se manifestasse sobre o caso. A resposta seria analisada numa próxima reunião, marcada para a semana seguinte.

Apesar da recomendação do Ministério da Saúde pela não exibição do filme, o Ministério da Propaganda não viu qualquer risco à “raça” alemã, que o filme provocar. Depois, então, a reunião foi remarcada.
Inicialmente decidiu-se pôr um título alemão ao filme, de modo a deixar claro para o público que se tratava de uma obra de ficção. Decidiu-se então pelo seguinte título prolífico: A Fábula de King Kong, um Filme Americano de Truque e Sensação.

Seeger então passou a ler um resumo da obra em apreço: “Numa ilha ainda não descoberta nos Mares do Sul, animais de tempos pré-históricos ainda não conseguem existir: um gorila de 15 metros de altura, serpentes do mar, dinossauros de vários tipos, um pássaro gigante e outros. Fora desse império pré-histórico, separados por um muro, vivem negros que oferecem sacrifícios humanos ao gorila, King Kong. Os negros raptam a estrela loira de uma expedição de filmagem na ilha e a dão de presente a King Kong no lugar de uma mulher de sua própria raça. A tripulação do navio invade o império do gorila e trava terríveis batalhas com as bestas pré-históricas, a fim de sobreviver. Eles capturam o gorila depois de deixá-lo inconsciente com uma bomba de gás e o levam para Nova York. O gorila foge durante uma exibição, todos correm em pânico e um trem que passa por um elevado é descarrilado. O gorila então escala um arranha-céu com sua garota-boneca na mão, e alguns aviões conseguem derrubá-lo de lá.”

Lido o minucioso resumo, Seeger informou a todos que o Ministério da Propaganda não vira qualquer empecilho à exibição por motivos relacionados à “raça” alemã. Restava então analisar seu impacto sobre a saúde do povo.

Seeger manteve suas considerações a respeito da pureza racial. Dizia que o próprio excerto do discurso que fizera ainda há pouco, “no lugar de uma mulher da sua própria raça”, remetia ao famoso discurso de Thomas Jefferson, de 150 anos antes, quando este entendia que a preferência dos homens negros por mulheres brancas era tão uniforme “como a preferência do Orangotango pelas mulheres negras em detrimento daquelas de sua própria espécie.”

Interessante notar que esse argumento exposto por oficiais alemães era semelhante à propaganda de americanos e ingleses durante a I Guerra Mundial, quando soldados alemães eram retratados como gorilas selvagens que ameaçavam as puras e inocentes mulheres brancas. O ódio contra propagandas como essa ajudaram a engrossar as fileiras nazistas durante a II Guerra.

Embora o dr. Zeiss continuasse crítico, vendo  eventual insalubridade trazida pelo filme, a comissão rejeitou seus argumentos, por achar que “o efeito geral desse típico filme americano de aventura no espectador alemão é meramente prover entretenimento kitsch, de modo que não se deve esperar nenhum efeito incurável ou persistente na saúde do espectador normal.” O filme foi aprovado, mas com cortes de alguns trechos, como os close-ups do gorila segurando a mocinha aos berros na sua mão – Zeiss via aí eventual efeito danoso à saúde do povo. A cena do trem descarrilando também foi cortada, por “abalar a confiança das pessoas nesse importante meio de transporte público.”

O filme estreou nas salas alemãs em 10 de dezembro de 1933, recebendo imediatas resenhas nos principais jornais. O jornal nazista Volkischer Boebachter criticou o uso da expressão Fábula: “Tudo o que sabemos é que quando nós, alemães, ouvimos a bela palavra “fábula”, imaginamos algo bem diferente desse filme.”

Ao fim, soube-se que o próprio Hitler tinha King Kong como um dos seus filmes preferidos. Talvez fosse a imagem do ser poderoso que tinha sua amada indefesa na palma de suas mãos...   


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “A colaboração: o pacto entre Hollywood e o nazismo”


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

PLANOS DE DEUS PARA QUEM PROCURA CONFUSÃO – DRAKE


GOD`S PLAN

[Intro]
Yeah, they wishin' and wishin' and wishin' and wishin'
They wishin' on me, yuh

[Verse 1]
I been movin' calm, don't start no trouble with me
Tryna keep it peaceful is a struggle for me
Don't pull up at 6 AM to cuddle with me
You know how I like it when you lovin' on me
I don't wanna die for them to miss me
Yes, I see the things that they wishin' on me
Hope I got some brothers that outlive me
They gon' tell the story, shit was different with me

[Chorus 1]
God's plan, God's plan
I hold back, sometimes I won't, yuh
I feel good, sometimes I don't, ayy, don't
I finessed down Weston Road, ayy, 'nessed
Might go down a G.O.D., yeah, wait
I go hard on Southside G, yuh, wait
I make sure that north-side eat

[Post-Chorus]
And still
Bad things
It's a lot of bad things
That they wishin' and wishin' and wishin' and wishin'
They wishin' on me
Bad things
It's a lot of bad things
That they wishin' and wishin' and wishin' and wishin'
They wishin' on me
Yuh, ayy, ayy
[Verse 2]
She said, "Do you love me?" I tell her, "Only partly"
I only love my bed and my momma, I'm sorry
Fifty Dub, I even got it tatted on me
81, they'll bring the crashers to the party
And you know me
Turn the O2 into the O3, dog
Without 40, Oli, there’d be no me
Imagine if I never met the broskies

[Chorus 2]
God's plan, God's plan
I can't do this on my own, ayy, no, ayy
Someone watchin' this shit close, yep, close
I've been me since Scarlett Road, ayy, road, ayy
Might go down as G.O.D., yeah, wait
I go hard on Southside G, ayy, wait
I make sure that north-side eat, yuh

[Post-Chorus]
And still
Bad things
It's a lot of bad things
That they wishin' and wishin' and wishin' and wishin'
They wishin' on me
Yeah, yeah
Bad things
It's a lot of bad things
That they wishin' and wishin' and wishin' and wishin'
They wishin' on me
Yeah

É isso, eles querem e querem e querem me foder

Eu tava tranqüilo, não comece a me perturbar
Tentar manter tudo calmo é um desafio para mim
Não me acorde às 6 da manhã para me afagar
Você sabe como eu gosto disso, quando você me ama
Não quero morrer, para eles depois sentirem minha falta
Sim, eu sei as coisas que eles desejam para mim
Espero ter amigos que continuem vivos após minha morte
Eles contarão a história, a merda que aconteceu comigo foi diferente

Planos de Deus, planos de Deus
Eu resisto, às vezes não
Sinto-me bem, às vezes não
Eu andei por toda a Weston Road, de cabo a cabo
Poderia descer como um Deus, espere
Eu vou fundo em Southside G, espere
Eu me asseguro de que North-side esteja bem

E mais
Coisas ruins
É muita coisa ruim
Que eles desejam e desejam e desejam
Para mim
Coisas ruins
(...)

Eles perguntou: “Você me ama?” Eu lhe disse: “Em parte, sim”
Eu só amo minha cama e minha mãe, foi mal
Fifty Dub, eu até o tatuei em mim
81, eles vão trazer o “atirador” para a festa
E você me conhece
Transformei o O2 em O3, parceiro
Sem o “40”, Oli, eu não existiria
Imagine se nunca tivesse encontrado esses caras

Planos de Deus, planos de Deus
Não posso fazer isso sozinho
Alguém assistindo essa merda de perto, de perto
Eu sou eu desde Scarlet Road
Deveria descer como Deus, espere
Vou fundo em Southside G, espee
Procuro saber se northside está bem

E mais
Coisas ruins
É muita coisa ruim
Que desejam para mim
Que desejam para mim
(...)


Rubem L. de F. Auto


GUERRAS DE FRONTEIRAS – MUROS ABAIXO, REFUGIADOS EM ALTA


BORDERS WAR – SEPULTURA

Where am I to go? What do I have to do?
Borders all around me, there's no chance for a choice
Born in this world in a war stricken land
I will do what I have to do and go where I can

Aonde irei? O que tenho que fazer?
Fronteiras ao meu redor, sem chances de escolher
Nascido neste mundo, numa terra tomada pela guerra
Farei o tenho que fazer, irei aonde tenho de ir

The walls that we build we are taking them down
Imaginary lines of corruption and greed
The walls that we build we are taking them down
Overpopulation isn't just an excuse

Os muros que construímos, derrubaremos
Linhas imaginárias de corrupção e ganância
Os muros que construímos, derrubaremos
A superpopulação já não é uma desculpa

Searching for a place where I can have my own rights
Everywhere around me there's death in the air
I wanna find a way to make a change in my life
I will do what I have to do and fight till the end

Procurando um lugar onde posso ter meus próprios direitos
Em todos os lugares há cheiro de morte no ar
Quero encontrar um jeito de mudar minha vida
Farei o que tenho que fazer, e lutar até o fim

The walls that we build we are taking them down
Imaginary lines that won't allow us to live
The walls that we build we are taking them down
Denying all the rules and all their abuse

O muro que construímos, derrubaremos (...)

No, no - it won't be this way
No, no - can't be their way
Pride, pride - they won't blur our pride
I, I - must stay alive

Não, não – não será assim
Não, não – não pode ser do jeito que eles querem
Orgulho, orgulho – não borrarão nossa honra
Eu, eu – tenho que continuar vivo

Looking for the ground to build a home that is safe
They make the planet small and they have no control
Everywhere you go they have an eye on your steps
I will run where I have to run and hide where I can

Procurando um lugar para construir um lar seguro
Fazem o planeta menor, mas não têm o controle
Em todos os lugares, eles estão de olho nos seus passos
 Correrei para onde tenho vontade de ir, e me esconderei onde puder

The walls that we build we are taking them down
Exploring different fields so we grow in our hearts
The walls that we build we are taking them down
Exploiting all the lies to defend our own kind

Os muros que construímos, derrubaremos (...)

No, no - it won't be this way
No, no - can't be their way
Pride, pride - they won't blur our pride
I, I - must stay alive

Border wars

Guerras de fronteiras

One more crime
Crossing lines
Trapped inside
State of mind
Never blind
Fate untied

Mais um crime
Atravessando o limite
Aprisionado lá dentro
Estado de espírito
Nunca cego
Destino sem amarras

No, no - it won't be this way
No, no - can't be their way
Pride, pride - they won't blur our pride
I, I - must stay alive

Border wars

One more crime
Crossing lines
Trapped inside
State of mind
Never blind
Fate untied


Rubem L. de F. Auto


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

PUXEM MINHAS CORDAS, SOU MARIONETE


Pull My Strings – DEAD KENNEDYS

I'm tired of self respect
I can't afford a car
I wanna be a prefab superstar
I wanna be a tool
Don't need no soul
Wanna make big money
Playing rock and roll

Estou cansado de respeito próprio
Não consigo comprar um carro
Quero ser um ídolo pré-fabricado
Quero ser uma ferramenta
Não preciso de alma
Quero fazer muita grana
Tocando rock`n roll

I'll make my music boring
I'll play my music slow
I ain't no artist, I'm a businessman
No ideas of my own
I won't offend
Or rock the boat
Just sex and drugs
And rock and roll

Vou tocar minha música chata
Vou tocá-la lentamente
Não sou artista, sou um homem de negócios
Sem idéias próprias
Não vou ofender
Ou incomodar as pessoas
Apenas sexo e drogas
E rock`n roll

Drool, drool, drool, drool, drool, drool…my payola!
Drool, drool, drool, drool, drool, drool…my payola!

Invejem ... eu paguei o suborno!

You'll pay ten bucks to see me
On a fifteen foot high stage
Fatass bouncers kickin' the shit
Out of kids who try to dance
And if my friends say
I've lost my guts
I'll laugh and say
That's rock and roll

Você vai pagar 5 dólares para me ver
Num palco grande de 15 metros
Seguranças bundões acalmando a confusão
Criada pelos jovens tentando dançar
E se meus amigos dizem
Que perdi meu brio
Vou rir e dizer
Isso é rock`n roll

But there's just one problem

Mas há um problema

Is my cock big enough?
Is my brain small enough?
For you to make me a star?
Give me a toot
And I'll sell you my soul
Pull my strings and I'll go far

Meu pau é grande o suficiente?
Meu cérebro é pequeno o suficiente?
Para que você me transforme num ídolo?
Me dê um pouco de pó (cocaína)
E te vendo minha alma
Puxe minhas cordas e eu vou longe

Give me a toot
And I'll sell you my soul
Pull my strings and I'll go far
And when I'm rich
And meet Bob Hope
We'll shoot some golf
And shoot some dope

Me dê um pouco de pó
E te vendo minha alma
Puxe minhas cordas e eu vou longe
E quando estiver rico
E encontrar-me com Bob Hope
Vamos jogar uma partida de golf
E “fazer a cabeça”

Is my cock big enough?
Is my brain small enough?
For you to make me a star?
Give me a toot
And I'll sell you my soul
Pull my strings and I'll go far

Meu pau ...

(Everybody put the hands together)

Todos, ponham as mãos juntas

Is my cock big enough?
Is my brain small enough?
For you to make me a star?

(Everybody singing one time)

Is my cock big enough?
Is my brain small enough?
For you to make me a star?

(Shut up and dance, everybody!)

Calem-se e dancem, todos!

Is my cock big enough?
Is my brain small enough?
For you to make me a star?
Give me a toot
And I'll sell you my soul
Pull my strings and I'll go far

(One more time!)

De novo!

Give me a toot
And I'll sell you my soul
Pull my strings and I'll go far

And drool, drool, drool, drool, drool, drool…my payola!
Drool, drool, drool, drool, drool, drool…my payola!


Rubem L. de F. Auto


A SOCIEDADE EM QUE NÃO SE VIVE SÓBRIO


DRUG ME – DROGUEM-ME
DEAD KENNEDYS

I don't want to think
Don't make me care
I wanna melt in with the group
I need the balls
To leap out of my shell
And let go with my friends

Eu não quero pensar
Não me deixem preocupado
Quero me arrastar para dentro do grupo
Preciso de coragem
Para pular para fora da minha concha
E curtir com meus amigos

Can't come up with anything
I want to do
I need a project
I can finish
My brain needs some stimulation

Não consigo fazer nada
Que quero fazer
Preciso de um projeto
Que possa dar conta
Meu cérebro precisa de estímulo

Drug me
Drug me
Drug me
Drug me

Droguem-me...

I'm so fucking tired
I gotta stay awake
I'm runnin' late
I gotta make it thru the day
And make my time go by

Tô tão cansado
Tenho que ficar acordado
Estou atrasado
Tenho que fazer isso ao longo do dia
E fazer meu dia passar logo

TV and the stereo
And girls are lots of fun
I want the max
I relate better loaded
Gotta see that movie stoned

A TV e o aparelho de som
E as garotas estão se divertindo
Quero o máximo
Relaciono melhor se chapado
Quero assistir àquele filme doidão

Drug me
Drug me
Drug me
Drug

Droguem-me

Drug me with natural vitamin C
Drug me with pharmaceutical speed
Drug me with your sleeping pills
Drug me with your crossword puzzles
Drug me with your magazines
Drug me with your fuck machines

Droguem-me com vitamina C
Droguem-me com fármacos
Droguem-me com suas pílulas para dormir
Droguem-me com suas palavras cruzadas
Droguem-me com suas revistas
Droguem-me com suas máquinas de foder

With a fountain of fads
More rock and roll ads
Drug me
Drug me
Drug me me me

Com uma fonte de modas
Com mais comerciais de rock`n roll
Droguem-me...

Finally off of work
Unwind and watch
The ball game at the bar
Another potato chip weekend
Is here at last

Finalmente saí do trabalho
Sem avisar e sem ser visto
O jogo no bar
Outro fim de semana na frente da TV
Chegou, finalmente

Go away, go away
Go away, go away
Go away leave me alone
So I can't see myself

Vão embora, vão embora
Deixem-me sozinho
Assim, fico inconsciente

Drug me
Drug me
Drug me
Drug me


Rubem L. de F. Auto

DEAD KENNEDYS E A POLÍTICA PAUPEROFÓBICA DE EXTERMÍNIO DOS POBRES


KILL THE PORR – MATEM OS POBRES
DEAD KENNEDYS

Efficiency and progress is ours once more
Now that we have the neutron bomb
It's nice and quick and clean and gets things done
Away with excess enemy
With no less value to property
No sense in war but perfect sense at home...

Eficiência e progresso são nossos novamente
Agora que temos a bomba de nêutrons
É bonito e rápido e limpo e resolve o problema
Sem mais um monte de inimigos
Que desprezam o valor da propriedade
Sem sentido numa guerra, mas faz todo sentido em casa ...

The sun beams down on a brand new day
No more welfare tax to pay
Unsightly slums gone up in a flashing light
Jobless millions whisked away
At last we have more room to play
All systems go to kill the poor tonight

O sol ilumina um novo dia
Sem mais impostos para sustentar um welfare state
Favelas antes inexistentes são erguidas na velocidade da luz
Milhões de desempregados se embebedam
Ao menos temos mais espaço para disponível
Todo o sistema irá matar os pobres nessa noite

Gonna
Kill Kill Kill Kill
Kill the poor...tonight

Matarão, matarão, matarão os pobres hoje à noite

Behold the sparkle of champagne
The crime rate's gone
Feel free again
O' life's a dream with you, Miss Lily White
Jane Fonda's on thre screen today
Convinced the liberals it's okay
So let's get dressed and dance away the night

Atenção no estouro do champagne
Os índices de crimes se foram
Sintam-se livre de novo
Oh, a vida é um sonho ao seu lado, Miss Lily White
Jane Fonda esteve na TV hoje
Convenceu os liberais que está tudo bem
Então, vamos nos vestir e dançar a noite toda



Rubem L. de F. Auto

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

99 PROBLEMAS: MELHOR DO QUE 100


99 PROBLEMS – JAY Z

If you're having girl problems I feel bad for you son
I got ninety nine problems but a bitch ain't one
I got the rap patrol on the gat patrol
Foes that want ta make sure my casket's closed
Rap critics that say he's "Money Cash Hoes"
I'm from the hood, stupid?what type of facts are those?
If you grew up with holes in your zapatos
You'd celebrate the minute you was having dough
I'm like "Fuck critics" you can kiss my whole asshole
If you don't like my lyrics, you can press fast forward?
Got beef with radio if I don't play they show
They don't play my hits, well, I don't give a shit, so
Rap mags try and use my black ass
So advertisers can give 'em more cash for ads, fuckers
I don't know what you take me as
Or understand the intelligence that Jay-Z has
I'm from rags to riches, niggas I ain't dumb
I got ninety nine problems but a bitch ain't one, hit me
Ninety nine problems but a bitch ain't one
If you having girl problems I feel bad for you son
I got ninety nine problems but a bitch ain't one, hit me
Year's '94 and my trunk is raw
In my rear view mirror is the motherfucking law
I got two choices y'all, pull over the car or, hmm,
Bounce on the devil, put the pedal to the floor
Now I ain't trying to see no highway chase with Jake
Plus I got a few dollars I could fight the case
So I, pull over to the side of the road
I heard "Son, do you know why I'm stopping you for?"
Cause I'm young and I'm black and my hat's real low
Or do I look like a mind reader, sir? I don't know
Am I under arrest or should I guess some mo?
"Well you was doing fifty-five in the fifty-four", uh huh
"License and registration and step out of the car
"Are you carrying a weapon on you, I know a lot of you are"
I ain't stepping out of shit, all my papers legit
"Well do you mind if I look around the car a little bit?"
Well my glove compartment is locked, so is the trunk and the back
And I know my rights so you goin' need a warrant for that
"Aren't you sharp as a tack? You some type of lawyer or something?
"Somebody important or something?"
Child, I ain't passed the bar, but I know a little bit
Enough that you won't illegally search my shit
"Well we'll see how smart you are when the K-9 come"
I got ninety nine problems but a bitch ain't one, hit me
Ninety nine problems but a bitch ain't one
If you having girl problems I feel bad for you son
I got ninety nine problems but a bitch ain't one, hit me
Ninety nine problems but a bitch ain't one
If you having girl problems I feel bad for you son
I got ninety nine problems but a bitch ain't one, hit me
Now once upon a time not too long ago
A nigga like myself had to strong arm a ho
This is not a ho in the sense of having a pussy
But a pussy having no goddamn sense try and push me
I tried to ignore 'em, talk to the Lord
Pray for 'em, cause some fools just love to perform
You know the type, loud as a motorbike
But wouldn't bust a grape in a fruit fight
The only thing that's goin' happen is I'ma get to clapping and
He and his boys goin' be yapping to the captain
And there I go trapped in the Kit Kat again
Back through the system with the riff raff again
Fiends on the floor scratching again
Paparazzi's with they cameras, snapping them
D.A. tried to give a nigga shaft again
Half a mil for bail cause I'm African
All because this fool was harassing them
Trying to play the boy like he's saccharine
But ain't nothing sweet 'bout how I hold my gun
I got ninety nine problems being a bitch ain't one, hit me
Ninety nine problems but a bitch ain't one
If you having girl problems I feel bad for you son
I got ninety nine problems but a bitch ain't one, hit me
Ninety nine problems but a bitch ain't one
If you having girl problems I feel bad for you son
I got ninety nine problems but a bitch ain't one, hit me
Having girl problems I feel bad for you son
I got ninety nine problems and a bitch ain't one
You're crazy for this one, Rick, it's your boy
Se você está tendo problemas com garotas, sinto muito por você, garoto
Eu tenho 99 problemas, mas uma puta não é um deles

Eu tenho uma patrulha de rappers atrás de mim
Caras que querem ter certeza de que fecharam meu caixão
Críticos do rap que dizem que eu sou um “Caça Níqueis”
Eu sou rico, idiota? O que você está falando?
Se você tivesse crescido com buracos nos seus sapatos
Você comemoraria quando as coisas melhorassem
Eu penso agora “fodam-se os críticos”, vocês podem beijar minha bunda
Se não gostam de minhas letras, podem pular a faixa ?
Tive problemas com as rádios, se eu não fizesse o que eles queriam
Eles não tocam meus hits, bem, tô cagando
Revistas de rap tentam e usam meu rabo preto
Assim, os anunciantes dão mais dinheiro a eles em troca de anúncios, filhos da puta
Não sei o que vocês pensam de mim
Ou se entendem a inteligência de Jay Z
Saí da merda para a riqueza, negões, não sou otário
Tenho 99 problemas, mas uma vagabunda não é um deles, sacou?
99 problemas, mas uma puta não é um deles
Se você está com problemas com garotas, sinto muito
Tenho 99 problemas, mas uma cadela não é um deles, entendeu?
Ano de 1994 e meu porta-malas tá cheio e drogas
No meu retrovisor, vejo os fdp da lei
Tenho duas chances, ouçam, desligar o carro, ou, hmmm
Abraçar o capeta, pisar no acelerador até o fim
Agora já não quero tentar ver uma caçada pelas rodovias atrás do cara problemático
Mais, tenho alguns dólares para enfrentar a bronca
Então paro no acostamento
Ouvi: “Filho, você sabe por que estou parando você?”
Porque sou jovem e negro, e não sou muito educado
Ou pareço ler mentes, senhor? Não sei
Estou preso ou devo esperar algo mais?
“Bom, você estava a 55 na pista de 54”, uh uh”Carteira de motorista e documentos e saia do carro
“Você tem alguma arma com você, conheço bem vocês”
Eu não saí de porra nenhuma, todos os meus documentos em dia
“Bom, você se importa se eu der uma olhadinha no carro?”
Bem, meu porta-luvas está fechado, assim como o porta-malas
E conheço meus direitos, portanto você precisa de um mandado para isso
“Você é afiado como uma farpa, não? Você é advogado, ou algo assim?
Alguém importante, assim ?”
Cara, não fiz direito, mas sei um pouquinho
O bastante para você não agir ilegalmente comigo
“Bem, veremos o quanto você é esperto quando o cachorro chegar”
Tenho 99 problemas, mas uma puta não é um deles, entendeu?
99 problemas...
Se você tem problemas com garotas, lamento
...

Agora, era uma vez, não muito tempo atrás
Um negro como eu teve de usar a força contra uma mulherzinha
Não uma mulherzinha no sentido de ter uma boceta
Mas um cara sem bom senso, que tentava me deixar irritar
Tentei ignorá-los, falar com Deus
Rezar por eles, porque uns babacas adoram aparecer
Você conhece o tipo, barulhento como uma moto
Mas não lançaria uma uva numa guerra de frutas
A única coisa que vai acontecer é que eu vou dar uns tiros e
Ele e seus amigos vão denunciar à polícia
E então lá vou pra cadeia de novo
De volta ao sistema, com os pobretões de novo
Viciados esparramados no chão, se cortando
Policiais fotografando tudo, como paparazzi
O promotor sacaneou o negro novamente
Meio milhão de fiança, por que sou Africano
Tudo porque este idiota fazia piada com eles
Tentando me enganar passando a mão na minha cabeça
Mas não tem nada de doce no modo como seguro minha arma
...
Você enlouqueceu nesse som, Rick, o filho é seu.








Rubem L. de F. Auto

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

MENOS VALIA A MAIS-VALIA: TAIGUARA


Mais-Valias – Taiguara

Mais valia eu ter-te amado
Que ter-te explorado tanto
Mais valia o meu passado a teu lado
Do que mais luxo e mais encanto
Fiz do meu lar uma empresa
Fiz brilhar meu colarinho
E hoje o que resta é tristeza
E a certeza de que eu não quero
Estar sozinho
E o que foi festa é despesa
Na mesa em que mais valia
O teu carinho

Pr'a que é que eu quis mais dinheiro?
Se quanto mais possuía
Mais me via interesseiro
E, no meu cativeiro,
Mais eu te perdia...
Fiz Capital, te explorando
Fiz o mal, nos separando
E hoje aqui estou derrotado,
Um ladrão desalmado
Que acabou chorando

E hoje aqui estou fracassado.
Um patrão desarmado
Que acabou pagando.


RUBEM L. DE F. AUTO


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

ÍNDIOS, TRAÍDOS E ESCRAVIZADOS


Os primeiros contatos entre os índios americanos e os europeus, em terras futuramente chamadas de Brasil, deram-se de maneira surpreendentemente pacífica. Os índios os receberam com cortesia e afeto, dançaram juntos, os portugueses foram convidados à taba, convidaram os índios a subirem nas embarcações. Nos anos seguintes, os muitos náufragos surgidos nas praias foram salvos e acolhidos por índios, muitos inclusive receberam ofertas generosas de esposas.

Mas o bom clima não durou muito. Os homem europeu era produto de séculos de guerras, doenças, pragas. Eram pessoas embrutecidas e tinham a certeza indelével de que o mais forte e mais bem armado tem o direito se submeter o mais fraco, o que incluía o direito de impor sua língua, suas crenças, sua visão de mundo.

Além disso, os europeus haviam sido contaminados pela doença da ganância desmedida. As possibilidades de ganhos incomensuráveis por meio da exploração das riquezas encontradas no continente recentemente conquistado, como madeiras nobres e metais valiosos, transformaram o americano nativo em apenas mais um bem a ser explorado.

A primeira fase do trágico contato se deu no âmbito da exploração comercial do pau-brasil. Os índios foram a força de trabalho que cortava as árvores, as transportavam no braço até as praias e recebiam o pagamento: ferramentas de metias, espelhos, retalhos de tecidos etc.

Embora fossem claramente super-explorados, o trabalho era livre; o índio poderia aceitar ou recusar-se. Porém, em 1532, o rei português João III decidiu tomar as rédeas de seus novos domínios. Instaurou o sistema de capitanias hereditárias, distribuindo terras imensas a fidalgos de sua escolha, que recebiam a incumbência de abrir estradas, erguer povoações e instalar engenhos de açúcar.

O grande obstáculo antevisto foi a ausência de mão-de-obra em quantidade suficiente para tanto. A fase seguinte da exploração, portanto, foi marcada pela compra de índios, feitos prisioneiros por tribos inimigas: eram enviados para trabalho escravo nos campos e nas oficinas.

As possibilidades de ganhos decorrentes de guerras, aprisionamentos de inimigos e posterior comercialização destes com os portugueses levaram ao aumento significativo das guerras indígenas. A idealização do índio como um bárbaro, em ser sem alma, fez dos índios alvos de todo tipo de perseguição: expedições lideradas por indígenas aliados caçavam índios para escravizar.

Os números alcançaram um nível alarmante, a ponto de, em 1537, o papa Paulo III ter proclamado que os índios possuíam alma, sim, portanto não poderiam ser feitos escravos.   

Foram os índios também aliados fundamentais nas campanhas portuguesas para expulsar daqui franceses, espanhóis, holandeses. Os índios aliados forma essenciais para manter estes domínios livre de outras tribos, não aliadas dos portugueses. Reforçavam as frentes indígenas os mamelucos, filhos de brancos com mães índias.

Portanto os 2 primeiros séculos da ocupação do Brasil foram laborados por mãos indígenas, fosse no campo, fosse na guerra, fosse conduzindo o gado pelo sertão, ou descobrindo novas minas de ouro.
Mas, durante esse processo, houve a completa destruição do mundo pré-cabralino. Por volta de 1600, os tupinambás foram destruídos como nação indígena. A oposição levantada pelos jesuítas a tal genocídios levou à expulsão dos religiosos, em 1641, de São Paulo.

Os índios não se comportaram de maneira passiva frente ao holocausto que se armava contra si. Lutaram, atacaram, mataram, devoraram inimigos, em meio a guerras maçadas pela ferocidade desmedida de ambos os lados.

Em 1775, o marquês de Pombal declarou que todos os índios estavam livres desde aquele momento, mas fez-se ouvidos moucos a tais ordens. Em 18108, por exemplo, mal ocorrera o desembarque da família Real no Brasil e expediu-se Carta Régia ordenando o extermínio completo dos índios botocudos, em Minas Gerais. E dos caingangues, em São Paulo.

Em meio a essa insana matança, surgiu uma nova profissão: o bugreiro, profissional especialista em matar índios, cujos serviços foram bastante disputados por mais de um século.

Apenas em 1910 surgiu uma voz decisiva em favor dos povos americanos originais: Cândido Mariano da Silva Rondon, militar que se posicionou em favor dos índios e que pagou caro por fazê-lo no âmbito de uma instituição que representava a ideologia dominante, a do homem branco dominador.

De qualquer forma, já não eram muito numerosos àquela altura.

Atualmente, a herança indígena que necessariamente permanece se encontra em nomes, como Araci, Jandira, Jurema, Moema, Ubirajara; em sobrenomes como Borborema, Capanema, Bocaiúva, Cotegipe; em nome de frutas como ananás, caju, pitanga, pitomba; em nomes de animais, como capivara, sabiá, sagüi, sucuri; em nomes de lugares, como Anhangabaú, Goiás, Corumbá, Cataguases, Cuiabá, Curitiba, Garanhuns, Guaíba, Paranapanema; e, claro, na cozinha, onde as índias das malocas deram origem a pratos como beiju, barreado, canjica, cambuquira, curau, paçoca, pamonha, pipoca, nas farinhas, como a de tapioca, a de milho, a de peixe ou a de banana. Mercados em diversas partes do país ainda vendem ervas medicinais segundo suas propriedades, descobertas há muitos e muitos séculos pelos competentes e curiosos pajés.


Rubem L. de F. Auto     


Fonte: livro “Os povos indígenas no Brasil”

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

BRASIL, A ANTROPOLOGIA DO INCOMPREENDIDO – PARTE VIII


Os índios conheciam, praticavam e se esmeravam no terreno das artes. Sua aparência, seu corpo eram temas para belos trabalhos artísticos.

Usavam pinturas, tatuagens, pingentes, cintos, colares e pulseiras. Praticavam massagens com óleos perfumados, raspavam pelos, cílios e sobrancelhas. Em cerimônias, usavam diadema de penas e cobriam os ombros e as costas com couros de animais.

Posição especial tinham os bons oradores. Apreciavam ouvir por longos períodos quem falasse bem e tivesse um bom conteúdo a exibir. Exigiam de hóspedes e viajantes relatos detalhados de suas jornadas.
O bom músico também era apreciado. O pretendente a pajé deveria exibir habilidade com a flauta. Os músicos, aliás, eram os únicos que poderiam atravessar territórios inimigos com segurança: bastava tocar para o inimigo se divertir. Os instrumentos eram variados: chocalhos, tambores, flautas, a clarineta de taquara, ou jupurutu.

Os cestos, fabricados pelas mulheres, eram impressionantes. Alcançavam o útil e o belo a um só tempo.
As plumas, influência da quantidade enorme de aves no meio ambiente, eram usadas em mantos, máscaras, cocares. Transmitiam elegância.

Outro tipo de arte muito apreciado por tribos localizadas na Ilha de Marajó, os marajoara, eram as cerâmicas. Eram feitas por artistas especializados. Também se destacavam aí os índios da região de Santarém.

Os corpos eram pintados para proteção contra o sol, contra insetos e contra espíritos maus. A pintura poderia transmitir quem era a pessoa, com se sentia e quais eram suas intenções.

Se o homem pintasse de vermelho os botoques das orelhas então queria ser pai. A pintura do corpo dos homens era tarefa das mulheres; aliás, sua primeira tarefa cotidiana era refazer as pinturas corporais do marido e dos filhos. Como se banhavam pela manhã com argila, que servia como sabão, a pintura do dia anterior saía completamente.

A tinta vermelha vinha do urucum e na hematita. A tinta preta vinha do jenipapo e dos caroços de algodão. O caulim fornecia a cor branca.

Se a ocasião fosse de guerra, a qualidade dos traços melhorava significativamente. Entender a pintura de outro índio era um capítulo essencial na comunicação inter tribal.

O conhecimento relacionado à metalurgia focava mais nas cores dos metais do que no seu uso: o ouro era o Itajubá, ou pedra amarela; itatinga era a prata, ou8 pedra branca; itaúna era o ferro, ou pedra preta.

Também exibiam conhecimentos de astronomia e meteorologia. Nuvens, comportamento dos animais poderiam ajudar a prever as condições meteorológicas do dia seguinte. O ano era marcado pelo aparecimento das estrelas Seichu, atualmente conhecida como constelação das Plêiades. Acompanhavam as estações de acordo com o crescimento das plantas.

Os índios Passes, do Rio Negro, disseram a Von Martius que o Sol se mantinha fico, vendo a Terra girar em seu entorno. Os tupis relacionavam as marés com as fases da Lua, deram nomes a astros e associavam as estações do ano ao aparecimento de certas estrelas.

A matemática, até 1500, era primitiva, pois somente tinham nomes para quantidades até 4. Acima disso era uma quantidade indefinida, muitos. Mas o contato com os europeus os fizeram seguir o processo de criação de números até 1 milhão.

A indústria têxtil fundada pelas mulheres deu origem a tecidos simples para sacolas, aljavas e faixas para ornamentação, tudo à base de algodão.

As inscrições em pedras, chamadas de itaquatiaras, deixam pistas a serem decifradas no futuro.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Os povos indígenas do Brasil”

BRASIL, A ANTROPOLOGIA DO INCOMPREENDIDO – PARTE VII


Ao se deparar com os tupinambás, a impressão dos europeus foi a de que ale povo se alimentava muito bem.

Os índios buscavam seus alimentos na horta, na caça, na pesca, na coleta de raízes, frutos, cipós, sementes, fungos e seivas. Na roça, plantavam mandioca, milho, feijão, batata-doce, batatinha, abóbora, cará, amendoim, maxixe e pimenta. Obtinham também coco, palmito, amêndoas, nozes, arroz aquático ou milho d`água e centenas de frutas tropicais.

Da fauna, os índios obtinham antas, veados, porcos selvagens, onças, cutias, pacas, quatis, macacos, tamanduás, tatus, capivaras, tapitis (coelho-do-mato), aves, cães selvagens, ariranhas, guarás, lagartos, serpentes.

Era comum os indígenas se alimentarem também de gafanhotos, besouros, larvas, tanajuras e içás. Gostavam muito de mel, pois criavam abelhas jataí. Pescavam peixes, rãs, enguias, tartarugas, cágados, cobras, jacarés e caramujos.

Alguns alimentos eram consumidos crus, outros eram cozidos em potes de barros ou eram assados no moquém – espécie de grelha alta, sobre um braseiro. Socavam a carne até ficar farinhenta e, assim, poder ser transportada ou guardada.

Aliás, a farinha era obtida de diversas formas: da carne, do peixe, do milho, da mandioca. A farinha de mandioca poderia virar o bolo mbe`yu, ou beiju.

Do milho cru ou cozido extraíam o acau-jic, ou canjica. A pamuna, ou pamonha; o curau; a pipoka, ou pipoca; e a bebida abati-y.

A pacova, ou banana, era consumida crua, cozida, assada ou como farinha. A água que escorria pelo caule era usada para curar picadas de cobra e de outros insetos.

Foram esses alimentos que permitiram a exploração do interior do país, pois o seu aprendizado foi essencial para os bandeirantes, entradistas, mineradores, tropeiros e boiadeiros.

Os temperos eram muito usados: pimentas e frutos ácidos viravam molho de carne. Pimenta e sal viravam o molho turene. Depois, misturavam o sumo da mandioca. A pimenta vermelha amassada com sal virava o iongue, condimento muito apreciado. Punham o tempero na boca, seguido pelo alimento principal.

Fabricavam um tipo de vinagre, o caiuçái. Retiravam sal de cinzas de palmeiras. Abriam valas no mar, onde a água do mar evaporava, deixando o sal. Plantas cultivadas em hortas proporcionavam sabores e aromas à comida.

As bebidas também eram bem variadas. Na Amazônia, produziam o guaraná. No pantanal, produziam a caá, ou erva-mate. Bebiam o sumo do tronco do jatobazeiro. Produziam o paiaum, ou beiju de milho torrado, dissolvido em água.

Quanto ao vinho, os europeus listaram 32 tipos diferentes, consumidos em festas indígenas. O mais apreciado era o kA-u-i, ou cauim, feito de milho ou de mandioca. O sumo da mandioca misturado com mel produzia o catimpuera. O suco de ananás produzia um vinho doce.

Também bebiam cerveja, consideradas excelentes por Hans Staden. Enfim, já dominavam técnicas de fermentação.

As refeições eram muitas ao longo do dia, sem horários específicos. A comida eram preparada em uma cuia grande, e de lá se retiravam porções em cuias menores ou com as mãos. Comiam em silêncio, acocorados em torno do chefe. Normalmente acompanhavam a comida, água ou suco de frutas, legumes e raízes.
A agricultura era um trabalho penoso. Usavam machados de pedra e de estacas.

O plantio começava pela capichaba, ou derrubada de árvores. Depois, queimavam as árvores derrubadas, formando cinzas. Plantavam no meio das cinzas. O homem derrubava e quimava; a mulher plantava, colhia e transportava os alimentos. Preparavam o terreno no período das secas; plantavam no meio da estação e, depois, esperavam as chuvas.

A mani`oca, ou mandioca, era a principal cultura. Da mandioca amargava, aprenderam a retir o veneno ácido cianídrico. Plantavam também ervas medicinais; as plantas industriais, como o algodão; estimulantes, como fumo, pimenta, cipós entorpecedores; plantas tintoriais, como jenipapo e pau-brasil, urucum.
Organizavam as espécies, de forma a evitar pragas e doenças.

Como os solos não eram adubados, plantavam no local por cinco anos, ao cabo dos quais deveriam se mudar para outro local.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Os povos indígenas no Brasil” 
      

BRASIL, A ANTROPOLOGIA DO INCOMPREENDIDO – PARTE VI


Segundo os índios que aqui habitavam antes dos europeus, as doenças eram causadas por espíritos maus, que se apossavam do corpo da vítima. Curá-la significava afastar tais espíritos, tarefa a cargo do pajé.

Mas, depois de contrair a doença, e não se mostrando bem sucedida a intervenção anterior, o paciente passava a tratamentos mais profiláticos: ervas, óleos, amuletos, cantos, música, dança, exorcismo.. até sessões de pancadaria eram utilizadas.

Ao aspirar o fumo das ervas, os pacientes eram impregnados por uma sensação de anestesia, o que dava a impressão da cura. Às vezes os narcóticos eram introduzidos nas narinas dos pacientes.

Conhecer as propriedades medicinais das plantas era o requisito essencial para ser pajé.

A sangria era uma terapia utilizada amplamente, mediante o uso de dentes de cutias e quatis, bicos de aves, ferrões de arraia. Cauda de gambá era usada para acelerar o parto e para aliviar crises renais.

As sessões de espancamento eram a medida desesperada ante o fracasso das demais: se o paciente está sofrendo, o espírito que se apossou de si também sofrerá. Portanto, dava-se porrada até ele desistir e procurar outro corpo.

Uma medida preventiva contra as doenças eram as pinturas corporais: acreditavam que algumas afastavam os espíritos maus. Usar ossos e amuletos para proteger cabelos, olhos, ouvidos, boca também era válido afinal eram essas as portas de entrada dos espíritos malígnos.

Bom, independente da causa mortis, o falecimento representava a passagem para o mundo onde viviam os ancestrais. Enterrar o ente era algo bastante reservado: somente o marido poderia enterrar a esposa; abriam-se exceções a cunhados e irmãos, na falta do cônjuge.

Os índios tapuias praticaram um ritual sinistro durante algum tempo, conhecido como “enterramento no estômago”: comiam o falecido caso fosse um índio que se distinguisse por bravura ou outra qualidade. Era uma maneira de manter suas qualidades no seio da tribo.

Já os índios tupis lavavam o corpo do falecido, cobriam-no com mel e penas, ou com flocos de algodão, homenageavam-no mediante discursos que exaltavam seus feitos ao guerrear ou em caça, punham-no em um pote de barro e o sepultavam em seguida, pela primeira vez. Caso não tivesse manifestado o desejo de ser enterrado no cemitério da aldeia, a tibicoera, era sepultado debaixo de sua rede.

O luto por quem se foi durava um mês lunar. Durante este período, as parentes pintavam seus corpos de preto e cortavam seus cabelos. Já os homens deixavam seus cabelos crescerem e realizavam a cerimônia de “tirar o dó”, regada a muita comida, bebida, cantos, danças e histórias sobre o morto.

Passavam então ao segundo sepultamento. Eles limpavam os ossos e o mudavam de lugar: pretendiam enganar os maus espíritos e os inimigos de outras tribos. O maior medo era que quebrassem o crânio do falecido o que o impediria de adentrar o reino dos bravos. Nesta cerimônia eram enterrados junto ao falecido seu arco, sua flecha, seu tacape, sua rede, sua faca e seu machado.

O local de sepultamento era mantido limpo e, quando se mudavam, cobriam-no para proteger da ação do tempo.

Mas a glória dos índios residia em seu desempenho em guerra. Morrer em combate, matar o inimigo eram buscas constantes na vida do indígena.

Até a chegada dos europeus não se guerreava por território ou por comida. As guerras eram causadas por ofensas, raptos de mulheres, para conseguir prisioneiros de guerra ou por troféus.

A declaração de guerra era precedida por consulta ao conselho dos velhos. Após, o pajé consultava os espíritos. Se aprovada a proposição, nomeavam o chefe daquela guerra; fabricavam as armas (arco, flecha envenenada, flecha incendiária, tacape, punhais de osso, pedra e madeira, escudo de couro de anta). Era comum levarem instrumentos musicais para as batalhas: membi, flauta do osso da canela de um herói, apitos, tambores.

A tática mais comum era uma espécie de blitzkrieg: ataque fulminante e de surpresa, de maneira a acabar com o combate no mesmo dia.

O avanço dos soldados ocorria em fila, sendo cada homem seguido por uma mulher, que carregava seus suprimentos militares, alimentos, remédios etc.

Uma tática de batalha era a queima de pimentas, que provocava uma fumaceira tal que obrigava o inimigo a abandonar suas posições.

Antes de atacar, os índios pintavam o corpo de vermelho e preto, cobriam-se com penas, cobriam o rosto com pena de tucano: o objetivo era causar temor no inimigo.

O vencedor incendiava a taba do vencido e levava a maior quantidade de prisioneiros. Os demais eram devorados em cerimônias. Quanto mais inimigos devorados, maior a glória da tribo.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Os povos indígenas do Brasil”

     

BRASIL, A ANTROPOLOGIA DO INCOMPREENDIDO – PARTE V


As populações indígenas costumavam repartir os trabalhos em funções a serem exercidas de acordo com o sexo, a idade, os costumes locais etc.

As tarefas masculinas incluíam defender a taba, pescar, caçar, levantar a oca, construir armas, construir canoas, recolher lenha. Eram tarefas femininas colher a roça, transportar a colheita, ralar mandioca, debulhar milho, tecer, cozinhar, fazer cerâmicas, manter a oca limpa, preparar bebidas etc.

Trabalhavam juntos na construção da maloca, nas grandes pescarias, quando o homem pescava e a mulher preparava a farinha de pescado imediatamente.

Não compravam ou vendiam qualquer coisa; o trabalho visava a suprir a necessidades diárias, sem a criação de excedentes. Nas palavras de Hans Staden: “Não há bens entre eles”.

Percebendo a surpresa dos primeiros europeus, que aqui pretendiam a criação de riquezas, um chefe tupinambá assim explicou porque não se preocupavam com o futuro: “A terra, que nos forneceu o necessário para a vida, alimentará também os nossos filhos.” A terra pertencia à tribo, não à família.

O sentido de propriedade alcançava apenas alguns pertences, como ferramentas de trabalho.  Além disso, imaginavam que o espírito do proprietário acompanhava seus objetos, daí serem enterrados junto com seu dono.

Para os tupinambás, o mundo havia sido criado por Maíra, ou Maire, ou Maire-monam, ou Maitre-atá. Esta entidade envolvia a Terra, criando e destruindo tudo contido nela. Estava presente nos raios – tupãbaraba – e nos trovões – tupãnanunga. Com o tempo, o nome se modificou para Tupana, nas tribos tupis, e para Tupã, nas tribos guaranis.

Os jesuítas se encarregaram de convencê-los de que Tupã era Deus.

O panteão tupi-guarani ainda contava com Coaraci, que correspondia ao Sol; e com Jaci, a Lua. Havia ainda o Anhangá, que protegia as caças de campo; o Caapora, que fazia o mesmo em relação às caças no mato; Uirapuru, que protegia as aves; Mauiara, fazia o mesmo para os peixes. Jaci, Rudá e Curupira completavam a lista.

Acreditavam também em Sumé, um espírito enviado por Tupã e que trouxera consigo as ramas da mandioca. Regressou prometendo um dia retornar.

Seu paraíso perdido se localizava nos Andes e de tempos em tempos, aos milhares, rumavam para lá, por centenas de quilômetros. Lá, imaginavam haver a “yvy-marã-ey, ou Terra Sem Males: lugar onde não há fome, doenças e mortes.

Em 1549, cerca de 15 mil tupis partiram em direção ao Peru. Desta jornada, apenas 300 chegaram a seu destino nos Andes, onde foram presos, em vez de curtirem seu paraíso terreno.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Os povos indígenas no Brasil”

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

BRASIL, A ANTROPOLOGIA DO INCOMPREENDIDO – PARTE IV


O casamento entre indígenas ocorria em meio a uma cerimônia muito simples. Em geral, apenas após o primeiro filho a união se realizava plenamente.

Quando a menina passava ser considerada mulher, atava a seu braço e à cintura uma fio de algodão colorido. Pronto, um ano depois já poderia se casar.

Já os homens passavam à maturidade mediante cerimônia mais complexa. Após os 25 anos, apenas após ter lutado uma guerra, ter feito prisioneiros e tê-los matado e devorado poderia o infante cogitar casar-se. Cria-se que o homem sem esses predicados poderia vir a ser um “mebeque”, isto é, pessoa mole, medrosa, covarde, tímida, enfim, uma desonra para a tribo.

Escolhida uma esposa, o pretendente então oferecia seus serviços ao pai da noiva. O pai então levava o pedido do jovem ao conselho tribal, que deliberava acerca das qualidades do jovem: se reprovado, deveria abandonar a aldeia.

Se aceito, passava a algumas provas, como testes físicos, sofria chicotadas dadas pelos homens da tribo, sem poder reclamar, dentre outras provas.

Após casado, era comum o sogro cortar o punho da rede onde dormiam os recém-casados, de madrugada, dando um tombo no casal. Criam que esse ritual evitava que os filhos nascessem com rabo.

Quando a mulher engravidava, declarava-se puruabare: já não poderia comer caças de fêmeas, nem comer frutos ácidos, nem raízes, nem certos peixes.

Nascido o filho, o casal então se mudava para a maloca do sogro: agora era considerado um continuador da família.

O nascimento do filho era uma festa. O pai ajudava no parto, as amigas da mãe davam o primeiro banho na criança, o peitan (bebê). Se menina, recebia um colar de dentes de capivara: pensavam que isso daria uma bela dentadura à menina, o que era um forte atrativo feminino. Após, a mãe recebia um cesto e punha a criança dentro. Assim, três dias depois já voltava aos trabalhos.

Os meninos eram presenteados com unhas de onça e garras de gavião (ou águia). Assim, criam, o menino (guri, ou uuri, isto é, bagre novo) se tornaria um homem de corajoso, respeitado. O pai amarrava nos punhos de sua rede miniaturas de tacape, arco e flecha. No outro lado, ervas. Eram os símbolos de trabalho, honra e ódio tribal.

O pai deitava na rede para o ritual do choco, ou couvade: deitado na rede, em jejum, esperava o umbigo do recém nascido cair.

Os filhos cresciam em harmonia, sem castigos nem repreensões: a educação se deva pelo exemplo e participação. Ao fim da infância, davam-se os rituais de iniciação à juventude. Era quando os jovens recebiam um tembetá (ou metara) no lábio inferior. Este era o símbolo da virilidade. Mas os lábios eram furados aos seis anos, como aviso ao curumim para que se preparasse para a entrada na juventude.  
Já o ritual feminino variava de tribo para tribo. Algumas sofriam cortes no corpo, para que o sangue novo jorrasse. Outras eram isoladas e, em jejum, ouviam as idosas revelarem-lhe as belezas e as obrigações de ser mulher. Algumas meninas eram isoladas durante um ano, reclusas em suas ocas.

A mulher era um ser a ser protegido, sempre. Sem elas não haveria tribo, nem família. Todos deveriam proteger as mulheres.

A mulher servia ao marido, cuidava dos filhos, da maloca, semeava e colhia, e seguia os homens na caça e na guerra. Mesmo aquelas que dividiam seu esposo com outras, eram dedicadas e ternas.

Comerciantes franceses testemunharam invejosos como viviam os trabalhadores que carregavam as toras de pau-brasil.  Quando paravam para descansar, eram cobertos de carinhos de suas mulheres. Elas também embalavam suas redes, davam-lhe alimentos na boca e faziam carinhos ao som de músicas. Daí a sensação de que os índios eram muito ciumentos com suas esposas.

As mulheres que revelassem algum dote especial, como profecia ou premonição, eram consideradas sobrenaturais e recebiam privilégios diversos.

As idosas deveriam educar os jovens, manter as tradições e preparar as bebidas usadas em rituais.
As solteiras usavam cabelos soltos. As casadas, os cortavam na altura da orelha, poliam os dentes incisivos e arrancavam pestanas e sobrancelhas.

Dentre os índios, a velhice se iniciava aos quarenta anos. Os velhos eram cobertos de honras e respeito: eram servido primeiro nas festas, seus pés eram lavados pelas jovens, que também tiravam ossos e espinhos da comida a eles servidas. Não precisavam mais trabalhar.

Eram eles que detinham o poder político e elaboravam as táticas de guerra. Eram também eles que passavam oralmente as tradições, lendas e crenças que tentavam explicar a origem da vida, da morte e dos fenômenos naturais.

As cerimônias eram coordenadas pelas “uainuy”. Elas detinham o segredo do preparo de bebidas alucinógenas, preparavam a carne do prisioneiro a ser executado, choravam mortos. Também ajudavam a preparar as jovens para a vida adulta.

Quanto à Justiça, um viajante europeu relatou que “se um deles é ferido, o ofensor recebe dos parentes do ofendido ofensa igual e no mesmo lugar do corpo”. O assassino então recebia o repúdio de todos da tribo e deixava a taba; ou passava a prestar à família do morto os serviços antes executados pelo índio que ele matou.

Os casos mais graves eram solucionados pelo conselho tribal.

O líder da tribo era chamado “morubixaba”, ou tuxaua, ou cacique. Todos esses nomes significam “o principal”. Não havia eleição, posse, juramento. O grupo simplesmente aceitava a liderança do mais capacitado.

Alçado à posição de liderança, o índio deveria reafirmar suas capacidades a todo momento. A posição estava sempre em aberto e outro poderia vir a ocupá-la.

O índio mais estável em seu cargo era o pajé, quem detinha o poder mágico-místico. Ele previa o futuro, previa doenças, curava pessoas. Era fruto de longo trabalho e aprendizagem.

Havia também o nheengaba, ou conselho de anciãos. Formado por membros com mais de 40 anos, também não eram eleitos: eram escolhidos por suas qualidades. Atuavam na mudança de taba, nas guerras, na execução de prisioneiros, impediam e aprovavam casamentos.

Já nos assuntos de família, o chefe era a autoridade soberana.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Os povos indígenas no Brasil”